sábado, dezembro 03, 2005

Homofobia e hipocrisia

Texto do blog 'Em Chávena Fria':

Como é do conhecimento geral, a Escola Secundária António Sérgio, em Vila Nova de Gaia, proibiu qualquer manifestação de afecto entre alunos. Esta medida surge em resposta ao namoro de duas alunas. Uma medida anti-abraço, anti-afectos, com vigilância permanente. Uma medida que, segundo o Presidente do Conselho Executivo, quer implementar a decência. Decência numa cabeça podre. Tão podre que indigna qualquer pessoa. As alunas têm o apoio da Associação de Estudantes e dos restantes colegas. Parece que só na cabeça dos alunos reina a “decência” de valores e atitudes.
Não nos podemos deixar de escandalizar. A medida é homofóbica e coberta por uma hipocrisia tremenda e nojenta.
Não sabemos que medidas tomou o Ministério da Educação. Sabemos que o Bloco de Esquerda fez um requerimento à Ministra da Educação.
Na nossa opinião, há uma medida a ser tomada: instauração de um processo disciplinar a professores e à auxiliar que insultou uma das raparigas. Podem ler aqui a carta aberta ao executivo da referida escola escrita pela Equipa do Projecto Educação e pela Direcção da rede ex aequo.

http://emchavenafria.blogspot.com/

Mário Cesariny de Vasconcelos

Prémio Vida Literária e Ordem da Liberdade.

Finalmente.

Fernando Pessoa




13 de junho de 1888 - 30 de novembro de 1935

Memória e vergonha

Direita da moda

A história de uma certa direita portuguesa em liberdade é trágica. Para não dizer cómica. Nunca se livrou da tutela ideológica e psicológica de Salazar. E como foi apanhada de calças na mão no 25 de Abril, a primeira coisa que fez, à bomba e nos bastidores, foi defender os seus privilégios. Com a demissão de responsabilidades por parte de uns, a corrupção de outros e a reciclagem de vários adversários de caminho, lá conseguiu. Sempre abençoada pelo divino Espírito Santo e pelo outro, cá na terra. Alguma arraia-miúda, nem sempre ignorante, mas sempre sabuja, fez o servicinho sujo. Sem praticamente sentar o rabinho no banco dos réus.

Com o passar do tempo, a democracia revelou-se um bom negócio para a direita portuguesa. Sem a maçada das prisões, da censura, da ausência de liberdades e da repressão - coisas que, à luz dos critérios eurocratas de hoje, significariam uma despesona e engordariam o défice – a direita refez-se, recompôs-se, endireitou-se.

Com falinhas mansas, proclamações diárias de fidelidade à democracia e ao mercado, a direita portuguesa recuperou facilmente os cordelinhos da nação. E onde lhe faltou arte, engenho ou, pura e simplesmente, teve pudor e vergonha, contou sempre com a prestimosa ajuda do PS. Se a sua memória não fosse selectiva, Mário Soares lembrar-se-ia certamente disto.

Entretanto, eis que desponta uma nova geração.

A intelectualidade de direita está na moda, nos blogues, nos jornais, na capa das revistas. Metaforicamente, também chegou ao poder. Polémicos, irreverentes, aparentemente indomáveis, são os novos gurus. Não querem sequer fazer justiça. Só dizer mal dela nas horas de tédio. E falar de filosofia entre biquinis. Para isso e por isso, dizem as coisas originais de sempre, aprendidas com a velha guarda da direita escrivona: Portugal não presta, os portugueses são uma tribo inqualificável, os governantes deviam estar todos presos, as guerras lá longe são todas justas... e vamos jantar que se faz tarde, que isto de chocar e pasmar dá muito trabalho e apetite.

A direita portuguesa já tinha governantes, gestores e jovens empreendedores. Agora, pelos vistos, descobriu-se que também sabe escrever. Não é novidade, mas agradece-se o lembrete. O que eu pergunto é se essa direita terá memória. E vergonha. Dava jeito.


(Miguel Carvalho)


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