sexta-feira, maio 20, 2005

As mulheres e a Ciência

Cientistas portuguesas unem-se: Associação pioneira quer combater fraca presença de mulheres no topo das carreiras


Em 2002, 58% dos diplomados na UE eram mulheres, mas só 14% estavam no topo da carreira
Portugal tem uma das mais elevadas taxas europeias de mulheres diplomadas em áreas científicas. Ainda assim, são muito poucas as que atingem lugares de topo na progressão da carreira. Para inverter o cenário, um grupo de especialistas das mais diversas áreas apresentou ontem, em Lisboa, a primeira Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas, a Amonet - o nome da deusa do Baixo Egipto, que soprava sabedoria aos governantes.

Como explicou ao DN Lídia Ferreira, professora de Física Nuclear no Instituto Superior Técnico e uma das sócias fundadoras, Portugal era, até agora, um dos poucos países da Europa sem uma associação deste género. Para colmatar a "lacuna" e dar visibilidade ao que de melhor se faz em ciência a nível nacional, o grupo de cientistas portuguesas uniu forças e criou a associação, que conta já com 62 membros - alguns deles homens -, vindos "um pouco de todo o País".

"Há um fraco aproveitamento de pessoas qualificadas em Portugal. Não se percebe como, dos 40 mil licenciados no desemprego, 24 mil são mulheres", comentou Lídia Ferreira, explicando que o problema não está na falta de competências, mas antes na "mentalidade", que é urgente mudar. Sobretudo numa altura em que é Bruxelas a chamar a atenção para o fenómeno.

Segundo Marina Marchetti, da Unidade de Mulheres e Ciência da Direcção-geral da Investigação da Comissão Europeia (CE), em 2002 -e no sector público -, 58% dos licenciados eram mulheres, mas apenas 14% ocupavam lugares de topo na carreira científica. "Em Portugal, como na Finlândia, essa percentagem atinge já os 20%, mas isso é ainda muito pouco", afirmou ao DN a representante europeia, explicando aquilo a que chama o "tecto de vidro" "todas conseguem entrar, mas há algo que as impede de chegar ao topo". Um efeito que a CE pretende combater, começando por fazer subir até aos 40% a presença feminina nos comités de avaliação. "Um alvo ainda longe de alcançar".

As discrepâncias entre os géneros são também visíveis a nível do financiamento de projectos, no âmbito do Sexto Programa-Quadro da CE. Segundo Marina Marichetti, presente na cerimónia de apresentação da Amonet, apenas 15% dos coordenadores dos projectos financiados são mulheres.

Elaborar estudos que contribuam para a concretização da igualdade entre os géneros, promover o debate sobre os direitos das mulheres cientistas e incentivar os jovens a optar por cursos da área científica são algumas das propostas da nova associação. Aberta a ambos os sexos e a todas as nacionalidades, a Amonet prevê várias categorias de membros, estando os efectivos reservados a mulheres cientistas, "com grau académico superior" e experiência há mais de cinco anos. Porque, como lembrou Lígia Amâncio, outra das fundadoras, "mais mulheres para a ciência significa mais ciência para o País".

(DN online)


1 comentário:

Avó do Miau disse...

Gostei muito do seu blog.

www.amar-ela.blogspot.com

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