A utilidade do descrédito
A maior notoriedade que os casos de conflitos de interesses e práticas políticas de ética duvidosa têm registado não expressa, forçosamente, um acréscimo, em frequência ou intensidade, desses mesmos comportamentos. Pelo contrário, é possível fazer uma leitura mais positiva e conceber que a tolerância e o silêncio sobre estes assuntos começam a deixar de ser dominantes. A sociedade começa, finalmente, a perder o receio de manifestar publicamente o seu desconforto.
Este é o lado positivo. O lado negativo é que, não havendo responsabilização de todos os que comprovadamente incorrem nestes actos, generaliza-se um sentimento de impunidade. Nada de novo, aliás. Trata-se de algo que se verifica nos mais variados cenários. Sem determinismos, claro, mas igualmente sem ingenuidades. Generalizando-se esse sentimento de impunidade, duas consequências podem surgir em simultâneo. Desde logo, aí sim, uma tendência para aumentarem esses mesmos comportamentos. Em segundo lugar, fruto do péssimo exemplo, uma tendência para aumentarem os incumprimentos para com o Estado, tantas vezes confundido com os homens que, mal ou bem, o representam. E como o descrédito do Estado serve perfeitamente os interesses dos ultra-liberais, daí a defender-se novamente a alienação das suas funções sociais básicas, quer no campo da prestação de serviços quer no campo da regulação e intervenção na economia, irá um pequeno passo. Um pequeno passo que, bem vistas as coisas, acaba também por não ser propriamente novo.
em http://vivaespanha.blogspot.com
segunda-feira, agosto 08, 2005
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