Linha de água
O estado a que está a chegar o exercício da política é preocupante. A prática política, tal como tem vindo a ser feita, ganhou uma conotação extremamente negativa. O descrédito instalou-se e ameaça conduzir a uma perspectiva nihilista generalizada. Para o eleitorado, a classe política, na sua generalidade, deixa de merecer confiança. Por arrasto, todo o sistema político sofre também um descrédito e as instituições deixam de merecer respeito. Perdem-se os pontos de referência e as escalas de valores porque, em última análise, resulta tudo no mesmo, quaisquer que sejam os partidos no poder e os detentores efectivos dos cargos.Esta generalização, como todas as generalizações, não é correcta nem justa. Mas cada nova suspeita, cada caso de negligência ou incompetência, cada caso de favorecimento, contribui para o avolumar desta percepção e essa é uma realidade tão incontornável quanto perigosa.A sombra que paira sobre a classe política tende a afastar os mais competentes e sérios. Por exclusão, sendo estes menos, sobram mais dos outros. Não é justo afirmar que a classe política é, no seu todo, ou sequer na sua maioria, incompetente ou desonesta. Mas pode esperar-se que o estigma que a vai cercando impeça a aproximação de caras e ideias novas. Um fenómeno que tende a agravar-se com as redes de influências e de interesses características dos aparelhos partidários, as quais tendem, naturalmente, a salvaguardar-se e a cristalizar as estruturas vigentes. Existe, neste momento, uma necessidade urgente de transparência e ética na prática política. O fantasma da ingovernabilidade já paira no ar, tal como já se levantam vozes que questionam a legitimidade e a longevidade desta República. Duas visões que são, no mínimo, precipitadas. O problema não está tanto no sistema político quanto nos seus representantes. Encontrem-se formas de responsabilizar e manter afastados os maus exemplos e todo o sistema respirará melhor. Não havendo dúvidas sobre o diagnóstico actual, resta ainda um problema nada negligenciável. Este reside no facto ter de se conseguir impor parâmetros éticos fundamentais sem abrir espaço ao aproveitamento populista e demagógico que o tema facilmente suscita. Ninguém pretende que o remédio saia pior que a doença.
em http://vivaespanha.blogspot.com
Lamentavelmente, é muito ténue a linha que nos separa da procura de um remédio pior que a doença. Estão a criar-se condições para que engrosse o número daqueles que clamam por um 'salvador da pátria'. A memória é curta e o desconhecimento da História leva a que o risco não seja negligenciável. Temo que sejamos poucos a recordar o que estes 'Messias' têm feito pelos 'rebanhos' que por eles anseiam.
(Nota: percebi hoje como se inserem links no texto; é tão fácil que vou ali pintar a minha cara de preto e já volto... :/ )
segunda-feira, agosto 08, 2005
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