sábado, setembro 03, 2005

Divisões raciais e de classe em Nova Orleães postas a nú pelo Katrina

Um excelente artigo do José Pestana, da Agência Lusa, sobre o caos em Nova Orleães e as questões de raça e classe.



A calamidade causada pelo furacão Katrina trouxe à superfície as divisões raciais e de classe que continuam a ser uma característica da sociedade norte-americana.





Se é verdade que as câmaras de televisão podem distorcer a verdade ao concentrarem-se num aspecto de uma realidade mais vasta, em Nova Orleães não se pode contornar o facto de serem negros e pobres a esmagadora maioria dos deslocados que não têm para onde ir. Centenas, senão milhares, de norte-americanos de todas as raças perderam os seus haveres e familiares em várias zonas do Alabama e Mississipi, mas são as imagens da cidade de Nova Orleães com milhares de negros isolados, desesperados e em alguns casos a pilharem lojas, farmácias e lojas de armas de fogo que têm enchido os noticiários das cadeias de televisão, fazendo lembrar cenas até agora vistas em locais distantes como a Libéria.

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Isto reflecte claramente a pobreza da população negra nas grandes zonas urbanas dos Estados Unidos, tornada mais visível em Nova Orleães por ser uma das cidades norte-americanas onde a maioria da população é negra e onde 33 por cento da população total vive na pobreza. "Nova Orleães é uma cidade dividida em duas: uma relativamente rica, pequena, e bonita, que é predominantemente branca, e outra que é pobre, grande e feia e é quase totalmente negra", escreveu o comentarista Eugene Robinson.

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Dados estatísticos indicam, com efeito, que 67 por cento por cento da população de Nova Orleães é de raça negra. Das sete zonas mais afectadas pelas inundações, cinco são de maioria negra e a pobreza, aí, abrange 34,6% da população, segundo as estatísticas oficiais. Estes números, no entanto, não reflectem os altos níveis de pobreza em certos "bairros negros" da cidade afectados pelas cheias. Na zona central da cidade (Central City) que está debaixo de água, 87 por cento da população é de raça negra e 50 por cento vive na pobreza. Na zona de "Lower Ninth Ward" 98 por cento da população é negra e 36 por cento vive na pobreza. Em "Bywater" 61 por cento da população é negra e 39 por cento é pobre.

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A única excepção nesta tendência é o bairro de Gentilly Terrace onde 70 por cento da população é negra e o nível de pobreza é de 16%, um nível muito abaixo do dos outros bairros de maioria negra mas mesmo assim acima da média nacional de pobreza de 12,4 por cento.

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Quando se compara este quadro com o dos "bairros brancos" afectados pelas cheias, as diferenças são notórias. Assim, por exemplo, no bairro de Lakeview, submerso pelas águas, 94 por cento da população é branca mas apenas 5 por cento é considerada pobre. Houve destruição nessa zona mas os habitantes há muito que estavam em segurança noutras partes do estado ou do país, beneficiando de uma maior mobilidade dada pela sua maior riqueza e demonstrando que, ao contrário do mito, as tragédias naturais não tratam todos por igual. "Esta catástrofe serviu para deitar luz sobre a miséria e constitui um comentário infeliz sobre raça e classe," escreveu o comentarista Bob Faw


visto no '2+2=5'

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