Bandeiras de Portugal e do Partido Nacional Renovador (PNR), símbolos da Frente Nacional, cabeças rapadas e cartazes apelando ao repatriamento dos imigrantes e ao orgulho nacionalista, saudações nazis e o hino nacional, várias vezes repetidos, marcaram a manifestação de extrema-direita que ontem à tarde se realizou entre a Praça do Martim Moniz e o Rossio.
Com cerca de 300 pessoas, segundo a polícia, e quase mil nas contas do PNR, esta foi, em qualquer dos casos, a maior concentração pública de sempre deste tipo no País. Já na Praça do Rossio, esteve a um passo de degenerar no confronto físico, quando populares gritaram palavras de ordem como "fascistas" e "25 de Abril sempre". A tensão começava a subir, com gritos desencontrados de ambos os lados, e só a actuação do Corpo de Intervenção da PSP e polícias com cães o impediram. Distúrbios houve apenas poucos minutos depois, já na Rua do Carmo. O Corpo de Intervenção actuou para proteger dois indivíduos perseguidos por alguns manifestantes e acabou por agredir um repórter fotográfico, quando dispersava as pessoas que tinham acorrido ao local.
Contradição. Grupos de jovens, alguns apoiantes envergonhados e outros tantos curiosos começaram a concentrar-se no Martim Moniz às 13.30, antes da hora marcada para o início do protesto. Cabeças-rapadas ostentando bandeiras portuguesas e cruzes suásticas tatuadas nos braços começavam já, por essa altura, a estender no chão as primeiras faixas que davam o mote à manifestação "Isto é nosso", "Não existem direitos iguais quando és um alvo por seres branco" e "Imigrantes igual a crime". Palavras de ordem em evidente contradição com as declarações dos dirigentes do PNR, da Causa Identitária e da própria Frente Nacional, presentes na manifestação, que recusaram ser conotados com atitudes racistas e xenófobas.
"Não somos racistas, como andam aí a dizer, mas não aceitamos que haja ruas de Lisboa onde os portugueses não podem estar em segurança porque estão nas mãos de mafias e de traficantes", afirmava José Pinto Coelho, dirigente do PNR. Garantindo que a manifestação não era convocada pelo seu partido, este designer gráfico, de 44 anos, dava no entanto a cara pe- lo protesto. "Estamos aqui para apoiar esta manifestação da Frente Nacional, da qual estamos próximos", explicava Pinto Coelho. E sublinhava ainda "Temos que reagir à criminalidade. Esta é uma manifestação pacífica e é só o começo. É natural que façamos mais manifestações destas no futuro."
Mário Machado, da Frente Nacional, e um dos organizadores da marcha, foi mais longe. Sem meias palavras, mas recusando a classificação de racista, garantia "Imigração e criminalidade andam quase sempre de mãos dadas e não temos de ter medo de chamar as coisas pelos nomes". Para este dirigente, que reclama o orgulho de ser branco, a solução é só uma. "O Governo tem de expatriar os imigrantes. A nacionalidade herda-se, não se compra." Quanto à criminalidade, o seu movimento "espera que o governo passe a considerar imputáveis os menores a partir dos 12 anos, porque há miúdos dessa idade que andam aí a roubar".
Antes de iniciarem a curta marcha até ao Rossio, os manifestantes - "não só skinheads, deve haver apenas 30 ou 40 no meio de 300 pessoas", dizia Mário Machado - fizeram um minuto de silêncio "pelos portugueses mortos na África do Sul e pelos portugueses que sofrem na linha de Sintra e que têm medo de sair de casa".
Faltavam poucos minutos para as 15.00 quando os manifestantes saíram do Martim Moniz, acompanhados de perto pela polícia.
Aos gritos de "Portugal", empunhando cartazes com as palavras de ordem "Imigração igual a colonização" e "Sampaio na Cova da Moura, portugueses no Martim Moniz" e fazendo a espaços saudações de braço estendido, os manifestantes, homens jovens na maioria, percorreram em poucos minutos a distância entre as duas praças. Foi já no Rossio, onde alguns populares os apelidaram de "fascistas" e gritaram "25 de Abril sempre" que os ânimos começaram a aquecer. Um indivíduo cabo-verdiano chegou a envolver-se numa discussão acesa com alguns manifestantes e só a pronta intervenção policial, que formou uma barreira entre opositores, evitou confrontos.
Questionado sobre o gesto de braço estendido feito várias vezes pelos manifestantes, Pinto Coelho recusou que isso fosse uma saudação nazi. "É uma saudação nacionalista, da Mocidade Portuguesa". Reconheceu, porém, "incómodo" pela situação, porque "vai ser aproveitada pela comunicação social".
No final, o comandante Oliveira Pereira, do Comando Metropolitano da PSP, estava satisfeito. "Correu genericamente bem, não fizemos detenções", afirmou. Sobre a agressão ao repórter fotográfico, desvalorizou-a, justificando a situação pela necessidade de actuação da polícia no momento.
Racismo, Xenofobia, Simbolos Nazis e as 'autoridades' satisfeitas. Grande país. Que é feito da Constituição Portuguesa?
domingo, junho 19, 2005
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2 comentários:
Eles andem aí... sempre andaram, nós é que teimamos em não os ver...
Eles sempre andaram aí...om descaramento e a impunidade com que hoje se fazem manifestações deste tipo é que é arrepiante. E revelador sobre os governantes que temos.
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