Para a norte-americana Susan Meiselas, este "era um país pequeno que era enorme". Por ser desconhecido. Para o checo Josef Koudelka, que em 1971 foi detido quando acompanhava uma peregrinação de ciganos a Fátima, regressar foi uma "grande oportunidade para redescobrir Portugal e ver o quanto mudou". Para o brasileiro Miguel Rio Branco, que fez por cá a escola primária, o convite foi uma motivação para procurar as raízes que perdeu. Três fotógrafos da Magnum com olhares distintos sobre a mesma realidade aceitaram o desafio feito, em 2004, pelo CCB. Eis o que viram.
Susan Meiselas: Três semanas na Cova da Moura revelaram a Susan Meiselas (Maryland, 1948) que há muito mais naquele bairro do que a má fama associada à criminalidade e tráfico de droga. "Colaboração é a palavra certa", resumiu ontem a fotógrafa na conferência de imprensa. Os habitantes deixaram-na ver como vivem. Fotografar um beijo, um encontro nocturno na esquina do costume, as tralhas que se amontoam numa existência de precariedade. Retratos de cores vivas que, no CCB, não dissimulam o que encontrou.
Com o apoio no terreno da associação Moinho da Juventude, Meiselas quis retribuir a dádiva. E das polaroids que foi fazendo com quem estabeleceu relações resolveu organizar uma exposição. No bairro. Chamou-lhe Nós Kasa e mostra em cordas de roupa, até 17 de Julho, rostos de quem ali mora.
Josef Koudelka: Os portugueses "são mais ricos do que eram antes. E muitas das paisagens têm sido destruídas, como em todo o lado", concluiu o fotógrafo checo (Morávia, 1938), após seis semanas que se saldaram em 12 mil quilómetros percorridos de Norte a Sul. Para «P.P» -o célebre Prague Photographer, que assim assinou e deu a conhecer ao mundo a invasão de Praga pelos tanques soviéticos, em 1968 -, este regresso soube a surpresa mas também ao reencontro com o "prazer" de voltar a fotografar "com a luz que aqui existe".
No Porto, captou uma das mais belas imagens jamais feitas sobre a Ponte D. Luíz I. Um olhar mágico sobre o monumento em obras que emerge da bruma do Douro. Na Granja captou a textura das ondas e nas areias do Guincho os "esqueletos" das passadeiras de madeira no Inverno. Ainda fotografa gente, mas só as grandes panorâmicas de paisagem o levam já a imprimir. Sempre a preto e branco.
Miguel Rio Branco: Vidros embaciados, bancos de igreja, o coração que a pedra parece ter dado a si própria, as castanhas assadas a saltar da casca. Santos de altar e personagens de pintura, calçadas e portas, paredes de cal comida e roupa estendida ao vento. Assim são os polípticos de Miguel Rio Branco (Las Palmas, 1946), o único dos três fotógrafos que não pode estar presente na apresentação. É o Portugal que emocionadamente reencontrou, com a paleta sépia das imagens que se confundem na (e com a) memória.
(DN online)
quinta-feira, junho 30, 2005
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