quarta-feira, julho 20, 2005

E os cidadãos só se lembram de processar as tabaqueiras...

Existem 28 mil pacemakers com problemas de fabrico implantados em doentes de todo o mundo, de nove tipos de aparelhos fabricados entre 1997 e 2000 pela empresa norte-americana Guident. O número de portugueses com estes dispositivos defeituosos - que podem provocar complicações cardíacas graves -, rondará "algumas centenas", afirmou ontem ao DN o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia. Manuel Carrageta acrescentou que os hospitais estão a fazer o levantamento e vão contactar os doentes para substituir o aparelho. Contudo, a Guident recusou-se ontem a adiantar informações.

A empresa anunciou ter detectado problemas em pacemakers de uma geração anterior que não são comercializados há quatro anos. Um material que serve para selar hermeticamente o dispositivo deteriora-se com o passar do tempo, "provocando uma concentração de humidade superior ao normal". Foram identificados 69 casos em que os pacemakers falharam depois de 44 meses de funcionamento. Um deles poderá mesmo ter levado à morte de um paciente.

Aquele que é o segundo maior fabricante mundial de aparelhos para o coração adianta ainda que houve 20 registos de perda de estimulação cardíaca, incluindo cinco doentes que registaram síncopes e pré-sincopes que tiveram de ser hospitalizados.

Os vários hospitais portugueses que fazem esta intervenção estão a recolher informação sobre os doentes que podem ter os modelos com defeito para depois procederem à sua substituição. É o caso de Santa Marta, que já identificou 85 pacientes. Os modelos em causa são o Pulsar Max, Pulsar, Discovery, Meridian, Pulsar II, Discovery II, Virtus Plus II, Intelis e Contak TR. Ao todo, foram comercializados 78 mil, existindo ainda 28 mil implantados em doentes, 18 mil só nos Estados Unidos. No site da empresa estão ainda disponíveis os lotes em causa.

A Guident anunciou que, até ao final do ano, vai substituir gratuitamente os pacemaker e reembolsará os doentes afectados em cerca de dois mil euros. Mas Manuel Carrageta considera que isto não chega. "Há também as despesas de hospitalização e trabalho médico. O Ministério da Saúde devia tomar uma posição sobre a questão". Mesmo porque estas representam metade do custo de uma cirurgia deste tipo, que ronda os cinco mil euros.

Em Portugal, a fiscalização deste tipo de aparelhos está a cargo do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge. Contudo, ontem, até ao fecho desta edição, não foi possível obter qualquer esclarecimento por parte do organismo.

(DN online)

Sem comentários:

Arquivo do blogue