Por serem tão bons, texto e imagem literalmente roubados do 'Tugir':
"Godot, o candidato presidencial da esquerda
A esquerda está a perder, isto é se não perdeu já, o comboio presidencial.
Criam-se conjecturas, avança o deputado ou o Ministro?
O deputado manifestou disponibilidade e até agora apenas os mudos lhe respondem. O Ministro não se prenunciou e, quanto a mim, é melhor nem dizer nada. Mais vale um bom Ministro que um candidato perdedor, de acordo a máxima de um pássaro na mão do que dois a voar.
No caso do deputado, seria interessante ter um Presidente poeta, nesta pátria de poetas. Se a Checoslováquia e depois a República Checa já teve um Presidente dramaturgo, um defensor da Liberdade, e o Chefe de Estado conseguiu dar uma enorme projecção ao país, pela carreira profissional do seu Presidente, por que não Portugal ter um homem de letras como Chefe de Estado?
Que diferença! Entre um tecnocrata e um homem de letras. A forma como a política é exercida por cada um é da noite para o dia. Um sabe que para trabalhar apenas lhe basta a secretária e que lhe cheguem os dados necessários para fazer o seu serviço. O outro, para trabalhar, precisa, indispensavelmente, de ir à rua, sentir o que nela se passa, ouvir, falar, em suma, dialogar, para depois expressar o ponto de vista.
O Ministro tem surpreendido pela positiva. Confesso. Coloquei algumas reticências no início, não quanto à competência pessoal, essa jamais estaria em causa, mas quanto à pasta, muito por causa de um eixo indispensável para os Assuntos Externos portugueses: o Atlântico norte. Esta semana ficou patente na capital norte-americana que há posições que se alteram (como sempre). Um nas palavras, os outros nos actos. Ambos alteraram de posição e convergem no mesmo objectivo. Porém, o passado ideológico conta. Duas décadas em política não são nada. E quem se recorda, a maioria dos eleitores, pode entender ser incompreensível apostar numa corrida na pista completamente diferente daquela que foi percorrida, sem sucesso, há 20 anos.
Os dois dariam excelentes Presidentes. Disso não tenho dúvidas. Só que se a discussão fosse entre estes dois senhores, tudo estaria bem, para a esquerda. Todavia a esquerda perdeu três anos. Abriu e entregou à direita um caminho triunfal. Hoje, a direita, sem candidato assumido na praça pública, praticamente tem a corrida presidencial assegurada.
O candidato da esquerda já devia estar no terreno. A falar com e do país. A desmantelar uma candidatura que praticamente nada fez mas que surge como imbatível, fruto de três anos consecutivos a passar a mensagem: o nosso candidato é o melhor. Sabe-se, diz-nos o adágio, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. E o furo, no eleitorado, está feito e bem aberto, com poucas probabilidade de ser fechado ou confrontado por outra candidatura.
Recorde-se, foram três anos ao longo dos quais se foi consolidando uma candidatura sem o candidato nunca ter expresso uma palavra. Há ano e meio havia uma pessoa que queria dar o salto em Lisboa. Pretendia, então, o inquilino do edifício público próximo da Praça do Comércio saltar para Belém. O mundo dá muitas voltas e no meio do percurso, entre o Terreiro do Paço e Belém fica São Bento. Numa reviravolta inesperada, o salto foi mais curto. E como fui curto, também foi de pouca duração. Constatou-se (para os que ainda duvidavam das capacidades da personalidade) que havia mais barriga do que olhos. Quando o estômago não está preparado para trabalhos de maior carga este não aguenta. E não resistiu. Num dia tinha tudo e noutro nada.
É bem certo que em política muito muda. O último ano é prova disso. Até Janeiro muito pode acontecer, contudo no caso presidencial duvido que haja significativas alterações. Ao candidato (da direita) ainda não assumido, basta-lhe seguir com precauções, aliás precaução é palavra e princípio característico da personalidade referida, para que a candidatura tenha uma maioria absoluta na primeira volta.
A esquerda despede o tempo, pensando que este poderá jogar a seu favor. Mas o tempo não joga. E quanto mais adiar uma candidatura, mais favorece o candidato que não se assume. E não se assumirá, pelo menos enquanto não houver adversário para esgrimir no campo político e enquanto o adversário não o incomodar. Para quê gastar energia?
Por este andar e com esta atitude seria mais sensato, à esquerda, propor uma cerimónia de passagem administrativa no Palácio Ratton em meados de Janeiro de 2006.
Umas fatias de bolo-rei acompanhadas de um Porto de honra, ficaria muito mais barato aos cofres nacionais que realizar uma campanha.
Se a esquerda perder as presidenciais, como tudo indica, pode agradecer a si mesma.
Talvez Godot venha a ser o candidato presidencial da esquerda. Para já é o único que se perfila."
domingo, julho 17, 2005
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