segunda-feira, agosto 08, 2005

Quando Freitas do Amaral deu aquela controvertida entrevista ao DN, a tal do «Never say never», ficou toda a gente escandalizada com as afirmações do ministro acerca dos níveis de corrupção em Portugal, os quais poderiam aferir-se pelo padrão angolano. Muito inconveniente, de facto. Agora que o mensalão brasileiro tresanda, e não tarda temos aí uma delegação da CPI a fazer perguntas pouco próprias a uns senhores que não estão habituados ao crivo da opinião pública e às regras de transparência das sociedades evoluídas, tais afirmações começam a fazer sentido. Não é preciso fazer parte do inner circle de Freitas para perceber que não é pessoa de mandar bocas à toa, ainda para mais na qualidade de MNE. Só ainda não se percebeu o timing. Lá chegaremos. Ou muito me engano, ou a CPI é capaz de dar uma ajudinha. Se vier a saber-se que não houve um, mas vários jantares (e almoços) ao mais alto nível, a coisa fica preta. Em tudo isto, uma lição: o desassombro dos media brasileiros. A coisa é com eles, a gente sabe. Mas a conexão portuguesa é bem cabeluda. Talvez fosse altura de puxar uns cordelinhos. O problema é que isso não faz parte da «nossa» tradição jornalística. Quando as Polícias e o MP dão uma mãozinha, há manchetes e sangue. Caso contrário, faz-se edit às «notícias» de agência. O Brasil foi capaz de impugnar um Presidente. Lembram-se? Collor de Mello foi destituído, impedido de concorrer a cargos elegíveis e de exercer cargos públicos durante oito anos, tendo sido acusado de formação de quadrilha e corrupção. Por este andar, o Brasil prepara-se para repetir a dose. Certo, nós por cá ainda não chegámos... ao Brasil. De todo. Mas era bom ver os media com outra genica.

(Eduardo Pitta em 'Da Literatura')

http://daliteratura.blogspot.com/

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