quarta-feira, abril 05, 2006

A "Pirataria"

Porque isto merece ser divulgado:

rip & burn

O senhor Eduardo Simões, Secretário-geral da Associação Fonográfica Portuguesa promete, no jornal Expresso do passado sábado, apresentar queixas-crime contra cidadãos que tenham utilizado programas de partilha de música, Peer to Peer ou comummente conhecidos por P2P.

Pois senhor Eduardo Simões, chamo-me João Oliveira Santos (joaoliveirasantos@gmail.com para as demais informações que necessite para levar avante esse seu tão sublime propósito!) e desde há anos que sou “cliente” desse P2P. É verdade, confesso integralmente e sem reservas que fui um utilizador do saudoso Napster, mudando-me depois para o Kazaa e estando hoje completamente "agarrado" ao eMule. A propósito esse eMule está agora mesmo a trazer-me um álbum de Uri Caine, mas não sei se fará o seu género. Depois, quando me contactar e se pretender, eu mando-lhe...

Pois esta é a minha confissão: Confesso que tenho terabytes de música. Tenho músicas até vir a mulher da fava-rica! Umas que ouço quase todos os dias, outras que ouço raramente e outras que as tenho apenas por ter, porque sou preguiçoso e tenho pena de as deitar fora. Por outro lado, não só empresto essas carradas de música (não todas, por limitação de espaço do meu pc mas uma grande parte delas, as que ouço com maior frequência) como procuro sistematicamente mais fontes para esse meu vício. De vez em quando, gosto tanto de uma ou outra música que as chego mesmo a comprar! E digo-lhe já, que vai ser preciso mexer um bocadinho mais esse seu cuzinho que adivinho gordo, para me barrar o P2P. Vou continuar neste meu vício e até já iniciei na coisa a minha filha mais velha, que assim já sabe procurar a sua Madonna e os foleiros dos D’zert.

Devo dizer-lhe que não tenho o prazer de o conhecer (de contrário garanto-lhe que me lembraria) e por isso não entendo de todo, essa animosidade que guarda contra mim. Queixas-crime!? Música «ilegal»!? Não entendo porque é que diz que a música que ouço não é «legal» (experimente dizer isso com sotaque brasileiro e vai ver que lhe soa melhor!) Também não entendo o folheto explicativo que a sua associação entendeu lançar, nem o tom contraceptivo e profiláctico da mesma, supostamente para alertar os “adultos” (eu sou adulto, não sou é idiota, caraças!) sobre os perigos dos serviços P2P, designadamente a possibilidade de descarregar conteúdo pernicioso, pornográfico e ofensivo. E se eu lhe disser senhor Eduardo Simões, que são exactamente os seus amigos, dessas suas Associações manhosas a que o meu amigo pertence, esses senhores que se dizem o último bastião, os cavaleiros protectores dos direitos dos autores e dos artistas e da dita música «legal», quem está a inundar a rede com ficheiros de conteúdo pernicioso, pornográfico e ofensivo. São os seus amigos, os da indústria fonográfica, os que papam a maior fatia do bolo (quanto ganha um autor por comparação com a editora?) que não conseguindo licitamente estancar o fenómeno (leia-se manter o statu quo) o fazem de forma ilícita. Já agora e por falar em conteúdo pernicioso, devo avisá-lo que considero esse seu discurso do «ilegal» completamente boçal e salazarento e essa sua postura arrogante altamente perniciosa, pelo que vou tentar manter as suas palavras e o seu folheto bem longe das minhas filhas, adultos, amigos e de todos os cidadãos que conseguir.

Não vou teorizar sobre o direito de propriedade. Quando estudei direito dizia-se que a propriedade, paradigma do direito, continha em si três outros direitos, o ius utendi, o ius fruendi e o ius abutendi ou ius disponendi ie, o direito de usar, o direito de gozar ou usufruir e ainda o direito de dispor do bem, ou seja vender ou simplesmente transmiti-lo sem contraprestação, dá-lo. Bem sei que nestas matérias imperará uma outra propriedade, a intelectual, que nascendo da primeira apresentará contudo ligeiras nuances, mas da mãe, da original que lhe deu origem, convirá não perder o rumo!

Não resisto a perguntar ao senhor Eduardo Simões e aos amiguinhos dele o que me impedirá de emprestar, a conhecidos e mesmo a desconhecidos os CDs* que acabei de comprar? São meus, faço com eles o que eu quiser. E se para tanto os deixar numa pasta do meu computador ao invés de os entregar em mão a essas pessoas, qual é a diferença!? Os meus CDs (e bato-me também pela desprotecção dos CDs) copio-os as vezes que entender necessárias (o gang a que pertenço diz queimar Cds, do inglês burn) e ninguém tem nada com isso! Claro que não é para vender - aí meu amigo estaremos de acordo, persiga-se esses bandidos! Mas já pensou que em vez de perder tempo no encalço dos piratas, devia antes repensar a margem ou não estando para isso, a estrutura dos custos de produção dos CDs!? Estou seguro que quer do lado das receitas, como na vertente dos custos encontraria muita gordura! Mas como lhe dizia, naturalmente que não queimo CDs para os vender. Eu queimo os meus CDs para os poder ouvir onde quiser, para os ouvir nos meus carros ou no meu barco, nas minhas casas de campo ou de praia, no meu abrigo de montanha, nos meus sistemas hi-fi cá em casa, ou no meu escritório, et cetera, et cetera. E guardo-os, aos CD’s, depois de copiados para formato digital (nós dizemos ripar, do inglês rip) numa pasta do meu pc, que partilho com um grupo de tipos e tipas que, tal como eu, gostam de música.
Bem sei que já lhe terei feito muitas perguntas e agora o senhor secretário-geral da AFP deve estar atarefadíssimo a reunir espiões, polícias, investigadores, juízes e carcereiros para estraçalharem todos os criminosos infames que, como eu, usam o tal perigosíssimo P2P. Mas senhor Eduardo Simões acorde! O mundo mudou! Isto é uma verdade em todos os sectores de actividade, porque é que a indústria fonográfica insiste em tirar os proveitos da globalização mantendo a lógica de mercado tradicional? Não me responda senhor, que esta minha pergunta é retórica!

O álbum de música, seja em cassete, CD ou noutro suporte tradicional, assente no modelo de artista tradicional, sujeito a um trabalho de produção e de distribuição tradicionais para um consumo igualmente tradicional, se ainda não acabou é, definitivamente, uma espécie ameaçada de extinção!

O mundo funciona como um enorme ecossistema e existem apenas três alternativas para qualquer espécie em extinção: migrar, adaptar-se ou morrer.
Boa sorte!


* Questão bem diferente é o de surgirem na rede P2P filmes e álbuns que nem sequer chegaram ao mercado! Mas mesmo nesse caso aconselho que tente falar novamente com os seus amigos da indústria fonográfica e cinematográfica, que ao que parece não conseguem guardar um segredo!

Felix Oberholzer-Gee, Professor da Harvard Business School e o Professor Koleman Strumpf da Universidade da Carolina do Norte defendem, com base no estudo por eles efectuado no Outono/Inverno de 2002, que mesmo a pirataria pouco influi nas vendas de CDs quando comparam os volumes de download de faixas musicais com a venda de álbuns em CD.

Há muitas formas de compensar artistas. Ver por todos a Electronic Frontier Foundation.

no turno da noite

(bolds meus)

3 comentários:

Anónimo disse...

Dou-lhe razão e já tinha dito a vários amigos (as) que não fazia tensão de modificar os meus hábitos pk não faço negócio com eles.Tem toda a razão!!!!

Living Place disse...

"Cum Caneco", sim senhor e como diz o meu filho na brincadeira: Muito bem dizido!

Anónimo disse...

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