crónicas do mundo


domingo, julho 01, 2007

Já não é vergonha
Vasco Pulido Valente
Público

Depois do "caso Charrua" (que, para espanto de quem se julga num país democrático, acabou mesmo condenado), aparece agora um novo caso. As circunstâncias são parecidas. Parece que o médico António Salgado de Almeida, vereador da CDU, durante um fim-de-semana, resolveu pôr numa parede do Centro de Saúde de Vieira do Minho uma entrevista do ministro Correia de Campos. Nessa entrevista, Correia de Campos dizia que, no caso de ter a vida em risco, não iria a um Centro. O crime estava em que, por baixo desta declaração, alguém escrevera "Façam como ele. Vão a uma urgência de Braga" ou coisa equivalente. Aqui apareceu uma figura já típica do regime, o denunciante, na previsível pele de "um membro do PS". O denunciante fotografou a entrevista, agora promovida a "cartaz", "pediu o Livro Amarelo para fazer um queixa" e comunicou o escândalo à autoridade política, ou seja, à Administração Regional de Saúde (ARS/Norte). A directora do Centro de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, não sabia do cartaz. Mas, quando soube, "repreendeu" o médico (não se percebe muito bem porquê). Infelizmente, a ARS/Norte não se deu por satisfeita. A "repreensão" não bastava para um acto tão grave. A ARS/Norte queria esmagar o celerado; queria nomeadamente que Maria Celeste Cardoso instaurasse um processo disciplinar ao médico. E, como ela se recusou, foi demitida por um ofício de Correia de Campos. Para tudo ser perfeito, Maria Celeste Cardoso é casada com um PSD, vice-presidente da Câmara de Vieira do Minho, e o Governo nomeou para a substituir um vereador ("independente") do PS de Ponte de Barca. A moral da história é simples: o PS, que os portugueses se habituaram a ver como o defensor da liberdade e da democracia, não passa hoje de um partido intolerante e persecutório, que age por denúncia (aqui como na DREN) e tem uma rede potencial de esbirros, pronta a punir e a liquidar qualquer português por puro delito de opinião. Pior ainda, personagens como Correia de Campos colaboram pessoalmente nesta lamentável empresa de intimidação. Não admira. Nem o eng. Sócrates nem o dr. Cavaco manifestamente compreendem que a repressão da dissidência e da crítica começa a corromper o regime e torna inevitável o futuro "saneamento" dos "saneadores". O silêncio de cima encoraja o miserável trabalho de baixo. Em Portugal, a colaboração do Estado com os pequenos pides do PS já não é uma vergonha.

sábado, fevereiro 03, 2007

A promoção de Portugal como o país da mão-de-obra barata feita pelo ministro da Economia nada tem de novo, há décadas que os políticos deste país o fazem. O mesmo não se pode dizer de o ministro ter acrescentado que os trabalhadores portugueses além de ganharem pouco são mansos, mas não me parece que as palavra do ministro mereçam muita atenção, trata-se de uma figura anedótica da governação portuguesa, todos os governos têm os seus bobos, em vez de questionarmos Sócrates pelas suas políticas vamos batendo no bobo da corte.

Mas é muito grave que um governo supostamente de esquerda estruture os seus projectos num modelo económico assente em salários miseráveis, quando um membro do governo diz as potenciais investidores estrangeiros que venham para Portugal porque cá os salários são baixos está a partir do pressuposto de que essa realidade é para manter, as decisões dos investidores são adoptadas tendo em conta cenários que vão para além do longo prazo.

Isso significa que Sócrates e o seu governo ainda não entenderam que enquanto este país apostar na mão-de-obra barata não sairá do círculo vicioso do subdesenvolvimento, passadas décadas a economia portuguesa ainda não conseguiu romper com o modelo económico herdado do salazarismo. Quando Pinho garante aos empresários chineses que os trabalhadores portugueses são mansos está, afinal, a dizer que a democracia e o discurso político de Sócrates conseguiu a paz social, algo que a ditadura não conseguiu com meios policiais.

O ministro Manuel Pinho deveria demitir-se, não por aquilo que disse mas por o dizer de uma forma que fez de nós idiotas. Que ganhamos mal todos sabemos, mas um ministro ir para a China dizer que somos mansos já é demais.

a ler n'o Jumento

terça-feira, janeiro 23, 2007

SIM

sábado, janeiro 20, 2007

o aborto e os impostos

E que tal contribuir com os meus impostos para:
- pagar os actos médicos que implicam trazer ao mundo crianças não desejadas e rejeitadas pelos pais?- pagar os anos de institucionalização das mesmas em colégios e centros de acolhimento? ou, então,- pagar as contas de hospital, muitas vezes os enterros, destas crianças, quando são deixadas a cargo dos tais pais contrariados que, em combinação com personalidades disfuncionais, alcoolismo, drogas e crueldade pura, as negligenciam, maltratam fisica e psicologicamente e, por vezes, as matam?- pagar a diária da prisão (consta que é um balúrdio...) destes pais que maltratam, quando a Justiça, por acaso, é mais ou menos justa e os consegue alcançar?- pagar a alimentação, o vestuário, a educação especial, as televisões e as playstation de adolescentes grávidas que brincam às bonecas em casas de acolhimento e às quais não foi dada qualquer hipótese de escolha? E que passarão os anos seguintes das suas vidas a viver à custa do Estado, até não saberem fazer outra coisa que não sorver subsídios?- pagar a liberdade, sempre vinda antes de tempo, dos pais maltratantes, com subsídios de "desemprego", de "exclusão", ou lá o que é, e pagar-lhes a renda vitalícia do realojamento no bairro social?
(e é que não saíamos daqui...)
Olhem, filhos, gastar os meus impostos a alimentar os podres de um sistema que, basicamente, se está a cagar para o destino das criancinhas, uma vez fora do útero, e que permite que andem em bolandas de sofrimentos vários, isso é que NÃO, OBRIGADA. Tenham juízo (ou, ao menos tenham bom-senso nas mensagens ridículas e demagógicas que escolhem para os vossos mupis e outdoors.
escrito por vieira do mar, na controversa maresia (clicar no texto)
O mistério dos preços da electricidade e dos combustíveis

José Gomes Ferreira
Sic Online

Começo por confessar: não conheço muito em pormenor a regulação do mercado da electricidade, tal como imagino que muitos jornalistas, apesar de especializados na área económica, também não conheçam profundamente esta matéria bastante complexa. Mas há factos que só podem ter uma interpretação: durante muito tempo, várias entidades andaram a esconder a realidade aos consumidores portugueses de energia, seja de electricidade, gás ou outros combustíveis. Factos: a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos propôs ao Governo, no final do ano passado, um aumento de 15,7 por cento no preço da electricidade para os consumidores domésticos. O presidente da ERSE era Jorge Vasconcelos. Primeiro, o Governo entrou em contradições. Depois anunciou que o aumento máximo não podia ultrapassar os seis por cento. Zangado, Jorge Vasconcelos viria a bater com a porta porque estava em causa a independência do regulador do mercado. Na altura, comentei na antena da SIC que a questão de fundo, que ninguém queria discutir em Portugal, era a elevada margem de lucro dos produtores de electricidade. Lembrei que, em Espanha, o também elevado aumento do preço da electricidade proposto pelo regulador tinha sido evitado pelo Governo de Madrid, porque se sentou à mesa com os produtores e convenceu-os a reduzirem as suas margens. Lembrei que os lucros da EDP iam atingir um valor recorde em 2006, tal como os da Galpenergia, num ano em que o preço do crude tinha disparado. Isto é, os consumidores de electricidade, gás, gasolina e gasóleo estavam a ser duplamente penalizados. Na altura, sobre estas observações, fez-se um silêncio incómodo. Nem EDP, nem Galpenergia, nem Governo, nem reguladores, ninguém disse uma palavra. Apenas recebi um telefonema de um responsável de uma produtora de electricidade, para uma conversa em off, dizendo-me que eu não tinha razão. Mas não quis prestar declarações públicas... Já no início deste ano, o Governo disse que era necessário investigar a eventual concertação dos preços dos combustíveis e a Autoridade da Concorrência anunciou a abertura de uma investigação. A mesma entidade publicou entretanto um relatório a dar conta da coincidência de preços dos combustíveis e a dizer que os preços do gás engarrafado em Portugal - antes de impostos - são muito elevados face a outros países europeus. Esta quarta-feira, o presidente da ERSE foi ao Parlamento dizer que o aumento das tarifas eléctricas para os consumidores domésticos em 2007 podia ter sido inferior a 6 por cento e que o Governo podia ter negociado com os produtores uma redução dos proveitos. Disse também que "todos os Governos, sem excepção, desde 1997 até hoje, beneficiaram os produtores de electricidade à custa dos consumidores". Finalmente, Jorge Vasconcelos pôs o dedo na ferida. Ainda bem que o fez. Mas fê-lo quando já não é presidente da ERSE. Não podia ter levantado a questão antes, quando propôs os tais 15,7 por cento de aumento da electricidade? E o Ministério da Economia, de que está à espera para lançar a discussão sobre este assunto em Portugal?

sexta-feira, janeiro 05, 2007

a propósito do referendo do aborto

O comentário de João Pinto e Castro no http://blogoexisto.blogspot.com/:
O argumento a favor do "não" descambou recentemente do discutível mas respeitável plano da defesa da vida para um outro mais mesquinho de defesa do bolso do contribuinte. Para além de os custos médios de um aborto apresentados por Maria José Nogueira Pinto serem completamente fantasiosos, faltaria ainda saber se, mesmo numa perspectiva de mero cálculo económico, não se revelarão ainda maiores os custos de tratamento de mulheres vítimas de abortos clandestinos feitos em precárias condições de higiene e segurança. Mas é claro que, quando António Borges, com aquele seu arzinho de quem percebe de tudo menos do que interessa, explica aos alunos que na ideia dele todos somos, que, por cada 2,6 abortos há uma operação que deixa de se fazer, a gente entende que o que está em causa é outra coisa.A insensibilidade revelada pelos que assim argumentam face aos sofrimentos provocados pelo aborto clandestino é, afinal, da mesma natureza que aquela que incita a populaça a recusar que o "seu dinheiro", o dinheiro "dos seus impostos", alimente, por exemplo, programas de rendimento mínimo garantido. Admito que esta inflexão táctica renda votos aos partidários do não; mas parece-me que se trata de um argumento indigno pelo que revela de cego egoismo social e, afinal, de desprezo pela vida de pessoas que se encontram, de facto, vivas.

quarta-feira, abril 05, 2006

Não apaguem a memória

A imobiliária que negoceia o condomínio de luxo da António Maria Cardoso, antiga sede da PIDE-DGS, apresenta, como mais-valia, o carácter histórico do edifício. Curiosamente, a versão da história termina em 1640, como poderão verificar visitando a página Paço do Duque.
Porque nunca é demais recordar:
Movimento 'Não apaguem a memória'
No passado dia 5 de Outubro, um conjunto de cidadãos reuniu-se junto à antiga Sede da PIDE/DGS, reafirmando o protesto público contra a conversão daquele edifício em condomínio fechado e contra o apagamento da memória do fascismo e do sofrimento causado aos portugueses. No local, ficou então uma faixa com os nomes de muitos dos que foram assassinados pela ditadura que oprimiu Portugal durante quase 50 anos.
É finalidade desta iniciativa cívica continuar essa acção, convertendo-a no impulso simbólico dum vasto movimento de cidadãos, plural e aberto, de exigência da salvaguarda, investigação e divulgação da memória do fascismo e da resistência, como responsabilidade do Estado, do conjunto dos poderes públicos e da sociedade.
http://maismemoria.org/




A "Pirataria" - II

comentários e reacções

Purple escreveu:

Ora muito bem dito.
Levem-me a mim, também, que saco música. Levem-me a mim. Prendam-me, porque multas não pagarei. Ponham-me lá dentro e deixem ficar cá fora os assassinos, os traficantes e os violadores porque é em mim que reside todo o mal da sociedade.

Prendam-me!

Prendam-me porque eu, vil demónio, prejudico os autores, porque ouço a música deles sem a pagar. Como ouviria num qualquer rádio, se as rádios por cá passassem mais vezes BOA música
. Prendam-me porque eu saco álbums que raramente encontro em lojas em Portugal e porque para pagar taxa alfandegária me bastou uma vez. Prendam-me porque o meu primeiro álbum dos dEUS é um CD-R da BASF. E o meu primeiro álbum dos Gomez e dos Dresden Dolls também. Prendam-me porque, claramente, os prejudiquei, mesmo tendo adquirido depois a sua discografia completa e ido assistir aos seus concertos em Portugal. Eu não mereço a liberdade! Prendam-me porque guardo uma música ao invés de apenas a ouvir legalmente, em sites, e com a mesma qualidade, como a posso ouvir no pandora.com ou no last.fm... Prendam-me porque eu, mãos largas como sou, permito que outros ouçam a mesma música que eu gosto. Prendam-me de uma vez por todas antes que eu conheça mais música que as nossas rádios de merda não passam e as nossas lojas não vendem. Prendam-me, metam-me na prisão e deitem a chave fora, porque a culpa é minha. A culpa do poder de compra de um português não lhe permitir comprar o mesmo número de CDs que um Norueguês pode comprar. Porque a culpa é minha, de um CD ser considerado um artigo de luxo e ter um imposto como tal. Prendam-me, porque eu sou daqueles que justifica a ínfima taxa que a SPA cobra por cada suporte virgem (seja CD, DVD, K7, papel branco) partindo do pressuposto que tal suporte será utilizado para fazer pirataria. Prendam-me. Sou mau. Sou má pessoa. Sou eu que dou royalties de merda aos artistas, mesmo que depois, gostando, pague 30 ou 40 Euros para ir ver um concerto deles. Prendam-me, porque sou eu, confesso, que deixei de comprar os cds originais da Ágata, dos Diapasão, do Nel Monteiro, do Iran Costa, e do raio que o parta. Sou má pessoa, confesso!


gohan escreveu:

Eu confesso-me culpado. Sou culpado de tirar música da internet para a ouvir as vezes que possa. Sou culpado de não comprar as músicas em lojas online que só permitem 10 cópias e cada vez que formato o pc, gasto 2 dessas cópias, quando a 10 for feita, a música já não pode ser ouvida.Sou culpado por ter 20 cds no meu pc e só ter comprado 5 deles, pelos quais paguei 18 euros por cada um.
Sou culpado de ir aos concertos de artistas que conheci na internet. Sou culpado de dar dinheiro aos músicos nos concertos e não comprar os seus cds porque só gosto de 2 ou 3 músicas.Sou culpado de ouvir música sem pagar à industria fonográfica para os seus dirigentes comprarem aviões, barcos, férias na patagónia, etc etc etc. Sou culpado por não pagar para as empresas explorarem os artistas até ao osso e depois os largarem no mundo para ver se eles sobrevivem sozinhos. Se sobreviverem então vão-lhe oferecer mais uns cêntimos por cada cd vendido.Disto tudo confesso-me culpado. E ainda me considero culpado por adquirir cds/dvds virgens pelos quais pago o valor e uma taxa para o que vou gravar neles (já supondo que vou usá-los para a pirataria) e, os quais, são fabricados em fábricas das mesmas empresas fonográficas que dizem que os piratas são o "cancro da sociedade". Os lucros deles continuam em valores ao bom estilo de bancos. Eles não perdem nada. Quem perde são os artistas. Mas são estas empresas que se queixam e depois puxam os artistas para este mundo. Quando os artistas sabem que 35% dos que vão aos seus concertos pagarem o bilhete, nunca compraram um cd deles. Mas estão ali a vê-los cantar. Estão ali a apoiá-los.

Boss, do renas e veados propõe:

A campanha de intimidação da indústria fonográfica portuguesa está pelo menos a resultar junto dos jornalistas. "Roubam"? Sem umas aspas sequer? Notar ainda que a esmagadora maioria dos mp3 a circular na net não poderiam nunca ser adquiridos legalmente pois ninguém os vendia. Alguém comprava um cd, transformava o seu conteúdo em mp3 e partilhava-o gratuitamente na net - era, é, este o sistema. Chamar "roubo" a isto é no mínimo abusivo e insultuoso para as pessoas. (...) Resta ainda saber quantas leis não serão violadas para que a indústria fonográfica tenha acesso aos dados privados dos internautas e às informações sobre as suas alegadas acções on-line. Da minha parte iniciei um boicote total à indústria fonográfica, i.e., nem um tostão em cds ou mp3 pagos enquanto persistir esta campanha de intimidação e insulto a quem ouve música. Ouve-se o que já se tem e para as novidades há a rádio (apesar dela própria estar "manipulada" pelos interesses da referida indústria).

A "Pirataria"

Porque isto merece ser divulgado:

rip & burn

O senhor Eduardo Simões, Secretário-geral da Associação Fonográfica Portuguesa promete, no jornal Expresso do passado sábado, apresentar queixas-crime contra cidadãos que tenham utilizado programas de partilha de música, Peer to Peer ou comummente conhecidos por P2P.

Pois senhor Eduardo Simões, chamo-me João Oliveira Santos (joaoliveirasantos@gmail.com para as demais informações que necessite para levar avante esse seu tão sublime propósito!) e desde há anos que sou “cliente” desse P2P. É verdade, confesso integralmente e sem reservas que fui um utilizador do saudoso Napster, mudando-me depois para o Kazaa e estando hoje completamente "agarrado" ao eMule. A propósito esse eMule está agora mesmo a trazer-me um álbum de Uri Caine, mas não sei se fará o seu género. Depois, quando me contactar e se pretender, eu mando-lhe...

Pois esta é a minha confissão: Confesso que tenho terabytes de música. Tenho músicas até vir a mulher da fava-rica! Umas que ouço quase todos os dias, outras que ouço raramente e outras que as tenho apenas por ter, porque sou preguiçoso e tenho pena de as deitar fora. Por outro lado, não só empresto essas carradas de música (não todas, por limitação de espaço do meu pc mas uma grande parte delas, as que ouço com maior frequência) como procuro sistematicamente mais fontes para esse meu vício. De vez em quando, gosto tanto de uma ou outra música que as chego mesmo a comprar! E digo-lhe já, que vai ser preciso mexer um bocadinho mais esse seu cuzinho que adivinho gordo, para me barrar o P2P. Vou continuar neste meu vício e até já iniciei na coisa a minha filha mais velha, que assim já sabe procurar a sua Madonna e os foleiros dos D’zert.

Devo dizer-lhe que não tenho o prazer de o conhecer (de contrário garanto-lhe que me lembraria) e por isso não entendo de todo, essa animosidade que guarda contra mim. Queixas-crime!? Música «ilegal»!? Não entendo porque é que diz que a música que ouço não é «legal» (experimente dizer isso com sotaque brasileiro e vai ver que lhe soa melhor!) Também não entendo o folheto explicativo que a sua associação entendeu lançar, nem o tom contraceptivo e profiláctico da mesma, supostamente para alertar os “adultos” (eu sou adulto, não sou é idiota, caraças!) sobre os perigos dos serviços P2P, designadamente a possibilidade de descarregar conteúdo pernicioso, pornográfico e ofensivo. E se eu lhe disser senhor Eduardo Simões, que são exactamente os seus amigos, dessas suas Associações manhosas a que o meu amigo pertence, esses senhores que se dizem o último bastião, os cavaleiros protectores dos direitos dos autores e dos artistas e da dita música «legal», quem está a inundar a rede com ficheiros de conteúdo pernicioso, pornográfico e ofensivo. São os seus amigos, os da indústria fonográfica, os que papam a maior fatia do bolo (quanto ganha um autor por comparação com a editora?) que não conseguindo licitamente estancar o fenómeno (leia-se manter o statu quo) o fazem de forma ilícita. Já agora e por falar em conteúdo pernicioso, devo avisá-lo que considero esse seu discurso do «ilegal» completamente boçal e salazarento e essa sua postura arrogante altamente perniciosa, pelo que vou tentar manter as suas palavras e o seu folheto bem longe das minhas filhas, adultos, amigos e de todos os cidadãos que conseguir.

Não vou teorizar sobre o direito de propriedade. Quando estudei direito dizia-se que a propriedade, paradigma do direito, continha em si três outros direitos, o ius utendi, o ius fruendi e o ius abutendi ou ius disponendi ie, o direito de usar, o direito de gozar ou usufruir e ainda o direito de dispor do bem, ou seja vender ou simplesmente transmiti-lo sem contraprestação, dá-lo. Bem sei que nestas matérias imperará uma outra propriedade, a intelectual, que nascendo da primeira apresentará contudo ligeiras nuances, mas da mãe, da original que lhe deu origem, convirá não perder o rumo!

Não resisto a perguntar ao senhor Eduardo Simões e aos amiguinhos dele o que me impedirá de emprestar, a conhecidos e mesmo a desconhecidos os CDs* que acabei de comprar? São meus, faço com eles o que eu quiser. E se para tanto os deixar numa pasta do meu computador ao invés de os entregar em mão a essas pessoas, qual é a diferença!? Os meus CDs (e bato-me também pela desprotecção dos CDs) copio-os as vezes que entender necessárias (o gang a que pertenço diz queimar Cds, do inglês burn) e ninguém tem nada com isso! Claro que não é para vender - aí meu amigo estaremos de acordo, persiga-se esses bandidos! Mas já pensou que em vez de perder tempo no encalço dos piratas, devia antes repensar a margem ou não estando para isso, a estrutura dos custos de produção dos CDs!? Estou seguro que quer do lado das receitas, como na vertente dos custos encontraria muita gordura! Mas como lhe dizia, naturalmente que não queimo CDs para os vender. Eu queimo os meus CDs para os poder ouvir onde quiser, para os ouvir nos meus carros ou no meu barco, nas minhas casas de campo ou de praia, no meu abrigo de montanha, nos meus sistemas hi-fi cá em casa, ou no meu escritório, et cetera, et cetera. E guardo-os, aos CD’s, depois de copiados para formato digital (nós dizemos ripar, do inglês rip) numa pasta do meu pc, que partilho com um grupo de tipos e tipas que, tal como eu, gostam de música.
Bem sei que já lhe terei feito muitas perguntas e agora o senhor secretário-geral da AFP deve estar atarefadíssimo a reunir espiões, polícias, investigadores, juízes e carcereiros para estraçalharem todos os criminosos infames que, como eu, usam o tal perigosíssimo P2P. Mas senhor Eduardo Simões acorde! O mundo mudou! Isto é uma verdade em todos os sectores de actividade, porque é que a indústria fonográfica insiste em tirar os proveitos da globalização mantendo a lógica de mercado tradicional? Não me responda senhor, que esta minha pergunta é retórica!

O álbum de música, seja em cassete, CD ou noutro suporte tradicional, assente no modelo de artista tradicional, sujeito a um trabalho de produção e de distribuição tradicionais para um consumo igualmente tradicional, se ainda não acabou é, definitivamente, uma espécie ameaçada de extinção!

O mundo funciona como um enorme ecossistema e existem apenas três alternativas para qualquer espécie em extinção: migrar, adaptar-se ou morrer.
Boa sorte!


* Questão bem diferente é o de surgirem na rede P2P filmes e álbuns que nem sequer chegaram ao mercado! Mas mesmo nesse caso aconselho que tente falar novamente com os seus amigos da indústria fonográfica e cinematográfica, que ao que parece não conseguem guardar um segredo!

Felix Oberholzer-Gee, Professor da Harvard Business School e o Professor Koleman Strumpf da Universidade da Carolina do Norte defendem, com base no estudo por eles efectuado no Outono/Inverno de 2002, que mesmo a pirataria pouco influi nas vendas de CDs quando comparam os volumes de download de faixas musicais com a venda de álbuns em CD.

Há muitas formas de compensar artistas. Ver por todos a Electronic Frontier Foundation.

no turno da noite

(bolds meus)

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