Bioteca
Uma empresa de biotecnologia apresentou-se ontem como a primeira com laboratório em Portugal para conservar as células estaminais do cordão umbilical e investigar nesta área, com a qual espera ganhar um milhão de euros no próximo ano. A Bioteca desenvolve a sua actividade no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, onde oferece infra-estruturas (laboratório) para a implementação da tecnologia de criopreservação de células estaminais do cordão umbilical, que são uma esperança para a regeneração de tecidos afectados por várias doenças.
http://lua.weblog.com.pt/
domingo, setembro 18, 2005
Novos horizontes
Cientistas criam spray para tratar queimaduras
Uma nova técnica para o tratamento de queimaduras à base de um dispositivo em spray criado na Austrália e desenvolvido na Grã-Bretanha pode significar tratamentos mais rápidos e efectivos para as vítimas.
O novo método utiliza amostras de tecido saudável, tal como a prática tradicional, mas mistura-o numa solução que é borrifada na queimadura do paciente. O novo tratamento pode cobrir áreas maiores, de forma mais rápida e com menos cicatrizes.
O método actual de tratamento para queimaduras sérias é usar partes não afectadas de tecido do paciente, expandi-las mecanicamente e cobrir as partes queimadas como se fosse uma espécie de remendo que, com o tempo, se funde com a pele do resto do corpo.
http://lua.weblog.com.pt/
Uma nova técnica para o tratamento de queimaduras à base de um dispositivo em spray criado na Austrália e desenvolvido na Grã-Bretanha pode significar tratamentos mais rápidos e efectivos para as vítimas.
O novo método utiliza amostras de tecido saudável, tal como a prática tradicional, mas mistura-o numa solução que é borrifada na queimadura do paciente. O novo tratamento pode cobrir áreas maiores, de forma mais rápida e com menos cicatrizes.
O método actual de tratamento para queimaduras sérias é usar partes não afectadas de tecido do paciente, expandi-las mecanicamente e cobrir as partes queimadas como se fosse uma espécie de remendo que, com o tempo, se funde com a pele do resto do corpo.
http://lua.weblog.com.pt/
quinta-feira, setembro 15, 2005
Ainda o 11 de Setembro
Quatro anos depois o terrorismo tornou-se mundial, a guerra alastrou ao Médio Oriente e o confronto é directo, como queria Bin Laden e provavelmente também Bush. Quatro anos depois temos leis mais restritivas, menos liberdades e maior controlo policial, como queria Bush e provavelmente também Bin Laden. Quatro anos depois os ocidentais têm medo que uma bomba lhes rebente no subsolo e os orientais que uma lhes caia em cima, tornou-se normal dizermos que "estamos em guerra", tornou-se moda desejarmos "líderes fortes" em vez de mais Democracia; no ocidente a Esquerda está em crise, no oriente toda a Democracia está em crise, os fundamentalistas islâmicos e cristãos ganham terreno; a economia está em recessão (menos na América), o petróleo triplicou de preço, os texanos e os sauditas estão ricos; a Europa está mais fraca e dividida, a América mais arrogante e o Irão mais isolado. Quatro anos depois Bin Laden e Bush são os grandes vencedores e nós, o povo que não se reconhece, os perdedores. O projecto Bin Laden e o projecto Bush são curiosamente coincidentes: Bin Laden quer expulsar os americanos da Arábia, provocar regimes islamitas e, numa segunda fase, eventualmente lançar a jihad mundial- para isso, nada melhor que uma América arrogante; Bush quer expandir ao limite o poder da América, ou melhor, daquilo que a América é símbolo e guardião, a fase imperial do capitalismo- para isso, nada melhor que uma ameaça. Infelizmente para todos nós, o mundo está pior desde o 11 de Setembro, mas não para todos: menos para aqueles que partilham os projectos de Bush ou Bin Laden.
no http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/
no http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/
Em 11 de Setembro choveu em Santiago
"Vale a pena morrer pelas coisas sem as quais não vale a pena viver."
(Salvador Allende)
Es posible que silencien las radios, y me despido de ustedes. Quizás sea ésta la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes (...)
Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor.(...)
Estas son mis últimas palabras, teniendo la certeza de que el sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, habrá una sanción moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
11 de Setembro de 1973. Extractos do último discurso do Presidente chileno Salvador Allende, barricado no Palácio Presidencial de La Moneda e sob ataque das tropas revoltosas de Pinochet, poucas horas antes de morrer.
(visto em http://lapipe.blogspot.com/)
(Salvador Allende)
Es posible que silencien las radios, y me despido de ustedes. Quizás sea ésta la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes (...)
Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor.(...)
Estas son mis últimas palabras, teniendo la certeza de que el sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, habrá una sanción moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.
11 de Setembro de 1973. Extractos do último discurso do Presidente chileno Salvador Allende, barricado no Palácio Presidencial de La Moneda e sob ataque das tropas revoltosas de Pinochet, poucas horas antes de morrer.
(visto em http://lapipe.blogspot.com/)
9/11
Assisti a tudo, como toda a gente, pela tv. As explosões cinematográficas, os corpos a cair no vazio, a derrocada impensável, as nuvens de pó, cinza e restos humanos. Assisti a tudo, com o mesmo assombro e mágoa — repito: o mesmo assombro e mágoa — das pessoas que depois daquelas 3000 mortes, depois daquela destruição absurda, depois daquela cobardia miserável (feita em nome de uma fé que não merece tão desprezíveis prosélitos) vieram dizer-me que viraram à direita por causa deste novo inimigo invisível do séc. XXI: o terrorismo. Pois em boa verdade vos digo que eu virei ainda mais à esquerda, pelas mesmíssimas razões. Isto é, por saber que este novo inimigo é também o meu inimigo. Com uma diferença: quem virou à direita acredita que a actual resposta ao terror (com psicoses colectivas e guerras injustificadas que não abolem a ameaça, antes a agravam) vai trazer mais liberdade ao mundo; enquanto eu suspeito que o terrorismo foi apenas o pretexto ideal, o álibi caído do céu para tornar o nosso mundo ainda mais paranóico, controlado e à mercê dos grandes interesses económicos ultra-liberais do que já era. E num mundo assim, parece-me óbvio que ser de esquerda, resistente à vaga de fundo que pretende arrancar de uma só vez direitos e garantias — tanto sociais como civis — arduamente conquistados durante o séc. XX, é, mais do que um dever, um imperativo ético.
(no 'Blogue de Esquerda) http://bde.weblog.com.pt
(no 'Blogue de Esquerda) http://bde.weblog.com.pt
Campanha
Coordenada em Portugal pela organização não governamental OIKOS, a campanha «Pobreza Zero», que tem como objectivo mobilizar a sociedade civil para a luta contra a pobreza global, começou em Lisboa no dia 1 de Julho com a distribuição de pulseiras brancas e com a colocação de faixas. A concentração de despertadores frente ao Palácio de São Bento* é mais uma das acções de sensibilização para a luta contra a pobreza e insere-se na segunda semana da Banda Branca, que se prolonga até ao dia 14 com actividades em Lisboa e que coincide com a cimeira da ONU de Nova Iorque.
Ainda no âmbito da campanha «Pobreza Zero», realizaram-se no dia 14 de Agosto no Estádio de Alvalade, em Lisboa - durante o concerto dos U2 - , várias acções de divulgação da iniciativa e o vocalista do grupo irlandês apelou publicamente para o combate à pobreza. A iniciativa conta também com o apoio de várias personalidades portuguesas ligadas às artes plásticas, música, teatro, comunicação social e ciência, que nas suas áreas profissionais desenvolvem acções de luta contra a pobreza. A fadista Mariza, a pianista Maria João Pires, a apresentadora de televisão Catarina Furtado e o actor Diogo Infante são algumas das personalidades que dão a cara pela campanha.
Segundo uma das coordenadoras do projecto, «há pessoas que vivem com menos de um euro por dia», adiantando que em Portugal esta situação não se verifica, existindo «uma pobreza escondida e não uma pobreza extrema». Na opinião de Joana Pires, «os países mais ricos podem reservar 0,7 por cento do rendimento nacional bruto para os países pobres, mas Portugal não está a prestar essa ajuda», alertou.
A mesma responsável acrescentou ainda que Portugal deveria ajudar os países que foram ex-colónias portuguesas e onde existem situações de pobreza extrema, nomeadamente na Guiné-Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe.
A campanha «Pobreza Zero» é promovida pelas Nações Unidas e por diversas organizações não-governamentais de desenvolvimento, estando a decorrer paralelamente em vários países.
* Às zero horas de sábado (passado) apoiantes da campanha «Pobreza Zero» foram ao Palácio de São Bento, em Lisboa, despertar o primeiro-ministro, José Sócrates, para ajudar os mais carenciados.
A iniciativa, repetida em 75 países diferentes, visa «despertar o primeiro-ministro para a luta contra a pobreza no mundo e para que esta questão passe a ser prioritária na sua agenda política e na discussão do orçamento de Estado». O protesto decorreu três dias depois de ter sido divulgado o relatório do Desenvolvimento Humano de 2005 da ONU, que alerta para a morte de cerca de 900 mil crianças por mês devido à pobreza.
(Expresso on-line) via http://quandooblogbatemaisforte.blogspot.com/
Ainda no âmbito da campanha «Pobreza Zero», realizaram-se no dia 14 de Agosto no Estádio de Alvalade, em Lisboa - durante o concerto dos U2 - , várias acções de divulgação da iniciativa e o vocalista do grupo irlandês apelou publicamente para o combate à pobreza. A iniciativa conta também com o apoio de várias personalidades portuguesas ligadas às artes plásticas, música, teatro, comunicação social e ciência, que nas suas áreas profissionais desenvolvem acções de luta contra a pobreza. A fadista Mariza, a pianista Maria João Pires, a apresentadora de televisão Catarina Furtado e o actor Diogo Infante são algumas das personalidades que dão a cara pela campanha.
Segundo uma das coordenadoras do projecto, «há pessoas que vivem com menos de um euro por dia», adiantando que em Portugal esta situação não se verifica, existindo «uma pobreza escondida e não uma pobreza extrema». Na opinião de Joana Pires, «os países mais ricos podem reservar 0,7 por cento do rendimento nacional bruto para os países pobres, mas Portugal não está a prestar essa ajuda», alertou.
A mesma responsável acrescentou ainda que Portugal deveria ajudar os países que foram ex-colónias portuguesas e onde existem situações de pobreza extrema, nomeadamente na Guiné-Bissau, Angola e São Tomé e Príncipe.
A campanha «Pobreza Zero» é promovida pelas Nações Unidas e por diversas organizações não-governamentais de desenvolvimento, estando a decorrer paralelamente em vários países.
* Às zero horas de sábado (passado) apoiantes da campanha «Pobreza Zero» foram ao Palácio de São Bento, em Lisboa, despertar o primeiro-ministro, José Sócrates, para ajudar os mais carenciados.
A iniciativa, repetida em 75 países diferentes, visa «despertar o primeiro-ministro para a luta contra a pobreza no mundo e para que esta questão passe a ser prioritária na sua agenda política e na discussão do orçamento de Estado». O protesto decorreu três dias depois de ter sido divulgado o relatório do Desenvolvimento Humano de 2005 da ONU, que alerta para a morte de cerca de 900 mil crianças por mês devido à pobreza.
(Expresso on-line) via http://quandooblogbatemaisforte.blogspot.com/
Desenvolvimento
Segundo o mais recente índice de desenvolvimento da ONU, Portugal volta a descerna lista dos países desenvolvidos (foi ultrapassado pela Eslovénia) e, segundo estes números, a sociedade portuguesa tem um desequilíbrio entre ricos e pobres semelhante ao dos Estados Unidos. Os 10% mais ricos consomem uma riqueza 15 vezes superior à dos 10% mais pobres ("D. Notícias").
Os fervorosos defensores do neoliberalismo à la americana devem estar contentes com esta aproximação. Finalmente estamos a ter menos Estado e os resultados já estão á vista...
visto no 'Satyricon'
http://satiro.blogspot.com/
Os fervorosos defensores do neoliberalismo à la americana devem estar contentes com esta aproximação. Finalmente estamos a ter menos Estado e os resultados já estão á vista...
visto no 'Satyricon'
http://satiro.blogspot.com/
terça-feira, setembro 06, 2005
Lisboa
“Lisboa podia ser uma das cidades mais bonitas da Europa. Não é nem quer ser monumental. Não tem grandes catedrais, não é rica na arquitectura contemporânea, não é rasgada por avenidas imponentes, tem poucos jardins e menos museus. Tem a luz, uma vida nocturna que causa inveja às grandes cidades europeias, e tem a possibilidade de se ver a si própria, de se contemplar.Lisboa podia ser uma dos melhores lugares para viver, na Europa. Mas não é. Porque recebeu vagas de migração interna que a levaram a um crescimento desordenado e caótico. Porque, entregue à especulação imobiliária, expulsou a sua população para a periferia. Porque foi tomada pelos automóveis e desprezou o transporte público. Porque viu a sua memória destruída pela incúria.”
Começam assim as 211 páginas do programa eleitoral da candidatura de Sá Fernandes, esta tarde apresentado aos lisboetas e à imprensa.
A ler, no http://troll-urbano.weblog.com.pt/ , a opinião de Isabel Faria sobre esta candidatura. Que seria a minha, se ainda votasse em Lisboa... :(
Começam assim as 211 páginas do programa eleitoral da candidatura de Sá Fernandes, esta tarde apresentado aos lisboetas e à imprensa.
A ler, no http://troll-urbano.weblog.com.pt/ , a opinião de Isabel Faria sobre esta candidatura. Que seria a minha, se ainda votasse em Lisboa... :(
segunda-feira, setembro 05, 2005
VHS
Do blog 'lilás com gengibre':
Se não sabem o que fazer com os VHS que se acumulam em casa e que, invariavelmente, foram substituídos pelos DVDs, há uma solução. O Instituto Português de Oncologia (IPO) está a angariar filmes VHS para os doentes da unidade de transplantes que estão em isolamento - crianças e adultos que precisam de um transplante de medula e de estar ocupados durante o tempo de internamento.O IPO aceita todos os géneros de filmes, mas a preferência vai para a «comédia». Afinal, rir é sempre um bom remédio! As cassetes de vídeo ou DVDs antigos podem ser enviados para:Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil
Rua Professor Lima Basto 1093 Lisboa Codex
Se não sabem o que fazer com os VHS que se acumulam em casa e que, invariavelmente, foram substituídos pelos DVDs, há uma solução. O Instituto Português de Oncologia (IPO) está a angariar filmes VHS para os doentes da unidade de transplantes que estão em isolamento - crianças e adultos que precisam de um transplante de medula e de estar ocupados durante o tempo de internamento.O IPO aceita todos os géneros de filmes, mas a preferência vai para a «comédia». Afinal, rir é sempre um bom remédio! As cassetes de vídeo ou DVDs antigos podem ser enviados para:Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil
Rua Professor Lima Basto 1093 Lisboa Codex
Gota a gota
Gota a gota perdemos vidas*
(...) É prática comum recusarem-se dadores de sangue apenas porque são homens gays. Como se existissem ainda grupos de risco e não comportamentos de risco. Como se as DSTs tivessem orientação sexual. Como se a sida em Portugal não tivesse maior incidência entre a população hetero.Um outro amigo meu, depois de reclamar, foi mesmo aconselhado pela pessoa de serviço a omitir a sua orientação sexual, desculpando-se com "você tem razão, mas são as ordens que temos...". Ordens do Instituto Português do Sangue. É inadmissível, é idiota, é irresponsável e é inconstitucional. Mais uma vez, a homofobia encontrou formas de matar. Porque há quem precise do sangue do meu amigo.Por enquanto, há pelo menos uma coisa que podemos todos e todas fazer: aderir à Campanha "Gota a gota perdemos vidas*", das Panteras Rosa. Espreitem em http://www.panterasrosa.com/sangue.html e, depois de lerem tudo, enviem o vosso protesto para as entidades responsáveis. Está lá tudo no site e não custa nada.
Protesta!
visto no http://gengibrelilas.blogspot.com/
(...) É prática comum recusarem-se dadores de sangue apenas porque são homens gays. Como se existissem ainda grupos de risco e não comportamentos de risco. Como se as DSTs tivessem orientação sexual. Como se a sida em Portugal não tivesse maior incidência entre a população hetero.Um outro amigo meu, depois de reclamar, foi mesmo aconselhado pela pessoa de serviço a omitir a sua orientação sexual, desculpando-se com "você tem razão, mas são as ordens que temos...". Ordens do Instituto Português do Sangue. É inadmissível, é idiota, é irresponsável e é inconstitucional. Mais uma vez, a homofobia encontrou formas de matar. Porque há quem precise do sangue do meu amigo.Por enquanto, há pelo menos uma coisa que podemos todos e todas fazer: aderir à Campanha "Gota a gota perdemos vidas*", das Panteras Rosa. Espreitem em http://www.panterasrosa.com/sangue.html e, depois de lerem tudo, enviem o vosso protesto para as entidades responsáveis. Está lá tudo no site e não custa nada.
Protesta!
visto no http://gengibrelilas.blogspot.com/
E a música de New Orleans
Uma herança musical debaixo de água
Texto de Chet Flippo
Colaborador da Billboard (traduzido à pressa) por Nuno Ferreira em http://www.estradasperdidas.blogspot.com/
Para já,daquilo que sabemos, o que sobreviveu dos locais musicais e do material de arquivo musical, especialmente gravações em fita e documentos originais, só podemos esperar que não se esteja perante um desastre cultural total, ao mesmo tempo que se vive uma tragédia humana sem precedentes.A história da música na “Crescent City” é incrivelmente rica e mantem-se inultrapassada por qualquer outra cidade norte-americana. O Dixieland jazz, o rithm and blues, a funk, backbeat, o zydeco, a cajun, jazz, blues e tudo o resto, a música de New Orlenas é uma mistura excêntrica de diferentes estilos. Uma mistura do Velho Mundo com o Novo Mundo, de África com a Europa e o velho Sul, é uma música que não tem fronteiras.Fazer uma lista de todos os grandes músicos da área de New Orleans ou que fizeram dela a sua casa, é como ler poesia: Louis Armstrong, King Oliver,Kid Ory, Professor Longhair, Aaron Neville, The Meters, The Wild Tchoupitoulas, The Neville Brothers, Fats Domino, Dr John, Huey “Piano” Smith & The Clowns,Frankie Ford, Clarence “Frogman” Henry, Jimmy Clanton,Bobby Charles, Ernie K-Doe, Larry Williams, Shirley & Lee, Guitar Slim, the Spiders, Earl King, "Snooks" Eaglin, Chris Kenner, Joe Jones, Barbara George, Jessie Hill, Johnny Adams, Eddie Bo, Bobby Marchan, Lloyd Price, Smiley Lewis, Roy Brown, Lee Dorsey, Irma Thomas, Champion Jack Dupree, the Preservation Hall Jazz Band, Pete Fountain, Wynton Marsalis, Rockin' Dopsie, Rockin' Sidney, the Olympia Brass Band, Johnny Adams, Jimmy C. Newman, Doug Kershaw, the Dixie Cups e muitos muitos mais.Não existe dúvida que, hoje, a música de New Orleans é mais “ontem” do que “agora”. Mas o “ontem” é tão significativo e tão memorável que tendemos a não avaliar bem o que se está a passar hoje.As minhas memórias musicais são hoje até mais queridas sabendo que não poderei regressar à cidade que existiu. Nuca esquecerei os dias que passei no Royal Orleans Hotel com os Rolling Stones quando se preparavam para uma tournée pelos Estados Unidos em 1975. Tive a possibilidade de os ouvir falar do seu entusiasmo pela música de New Orleans e as suas raízes.Não consigo imaginar nunca voltar ao Tipitina’s, onde passei muitas noites. Tudo pode ter desaparecido,juntamente com o mundo da Bourbon Street, o Brass Rail Club, Dave Bartholomew, Cossimo Matassa, Allen Toussaint, Ace Records, Storyville, a Louis Armstrong Society, a Funky Butt Hall, Marshall Sehorn, o Preservation Hall, o Sea-Saint Recording Studio. Um mundo que provavelmente nunca veremos outra vez.O que vai acontecer ao incomparavel New Orleans Jazz & Heritage Festival? É demasiado cedo para o saber. E o Mardi Gras? Desaparecerá?O que sera dos músicos, dos clubes de New Orleans? Uma cidade musical foi silenciada.É muito perturbador saber, também, que vários músicos,incluindo Irma Thomas, estão desaparecidos em New Orleans.Partilhem uma lágrima e uma oraçção pela sobrevivência da grande herança musical de New Orleans.
Texto de Chet Flippo
Colaborador da Billboard (traduzido à pressa) por Nuno Ferreira em http://www.estradasperdidas.blogspot.com/
Para já,daquilo que sabemos, o que sobreviveu dos locais musicais e do material de arquivo musical, especialmente gravações em fita e documentos originais, só podemos esperar que não se esteja perante um desastre cultural total, ao mesmo tempo que se vive uma tragédia humana sem precedentes.A história da música na “Crescent City” é incrivelmente rica e mantem-se inultrapassada por qualquer outra cidade norte-americana. O Dixieland jazz, o rithm and blues, a funk, backbeat, o zydeco, a cajun, jazz, blues e tudo o resto, a música de New Orlenas é uma mistura excêntrica de diferentes estilos. Uma mistura do Velho Mundo com o Novo Mundo, de África com a Europa e o velho Sul, é uma música que não tem fronteiras.Fazer uma lista de todos os grandes músicos da área de New Orleans ou que fizeram dela a sua casa, é como ler poesia: Louis Armstrong, King Oliver,Kid Ory, Professor Longhair, Aaron Neville, The Meters, The Wild Tchoupitoulas, The Neville Brothers, Fats Domino, Dr John, Huey “Piano” Smith & The Clowns,Frankie Ford, Clarence “Frogman” Henry, Jimmy Clanton,Bobby Charles, Ernie K-Doe, Larry Williams, Shirley & Lee, Guitar Slim, the Spiders, Earl King, "Snooks" Eaglin, Chris Kenner, Joe Jones, Barbara George, Jessie Hill, Johnny Adams, Eddie Bo, Bobby Marchan, Lloyd Price, Smiley Lewis, Roy Brown, Lee Dorsey, Irma Thomas, Champion Jack Dupree, the Preservation Hall Jazz Band, Pete Fountain, Wynton Marsalis, Rockin' Dopsie, Rockin' Sidney, the Olympia Brass Band, Johnny Adams, Jimmy C. Newman, Doug Kershaw, the Dixie Cups e muitos muitos mais.Não existe dúvida que, hoje, a música de New Orleans é mais “ontem” do que “agora”. Mas o “ontem” é tão significativo e tão memorável que tendemos a não avaliar bem o que se está a passar hoje.As minhas memórias musicais são hoje até mais queridas sabendo que não poderei regressar à cidade que existiu. Nuca esquecerei os dias que passei no Royal Orleans Hotel com os Rolling Stones quando se preparavam para uma tournée pelos Estados Unidos em 1975. Tive a possibilidade de os ouvir falar do seu entusiasmo pela música de New Orleans e as suas raízes.Não consigo imaginar nunca voltar ao Tipitina’s, onde passei muitas noites. Tudo pode ter desaparecido,juntamente com o mundo da Bourbon Street, o Brass Rail Club, Dave Bartholomew, Cossimo Matassa, Allen Toussaint, Ace Records, Storyville, a Louis Armstrong Society, a Funky Butt Hall, Marshall Sehorn, o Preservation Hall, o Sea-Saint Recording Studio. Um mundo que provavelmente nunca veremos outra vez.O que vai acontecer ao incomparavel New Orleans Jazz & Heritage Festival? É demasiado cedo para o saber. E o Mardi Gras? Desaparecerá?O que sera dos músicos, dos clubes de New Orleans? Uma cidade musical foi silenciada.É muito perturbador saber, também, que vários músicos,incluindo Irma Thomas, estão desaparecidos em New Orleans.Partilhem uma lágrima e uma oraçção pela sobrevivência da grande herança musical de New Orleans.
Não é natural
(...) Alguém disse na televisão que estamos a assistir ao maior desastre natural da História americana. Não é exacto. Salvo situações de guerra, como Hiroxima ou Nagasáqui, os estragos e as consequências da passagem do Katrina pela Louisiana, o Alabama e o Mississipi, representam o maior desastre urbano da História, americana ou outra. Não vale a pena iludir a realidade: o que está a acontecer em New Orleans é mais devastador que o 11 de Setembro. Mário Rui Carvalho, repórter de imagem da CBS, e testemunha no terreno, foi claro: «New Orleans, como cidade, acabou.» Com a cidade à mercê de gangs, e a polícia militar com ordem para matar, e milhares de pessoas ainda encurraladas em sótãos e telhados, e 300 mil habitantes a aguardar evacuação, mais a fome (só ontem chegaram mantimentos e medicamentos em larga escala) e a insalubridade, não se pode falar de desastre natural. Como lembra o repórter da CBS: «As pessoas foram deixadas a morrer nas auto-estradas. Não é uma figura de estilo, as pessoas morreram a tentar fugir.» Isto será tudo menos natural.
http://daliteratura.blogspot.com/
http://daliteratura.blogspot.com/
ghetos e apartheid
American Apartheid
As imagens que nos chegam de Nova Orleães são esclarecedoras: em 2005, nos EUA, as vítimas do furacão Katrina são, quase só, americanos negros.1. Quando não são negros são, por exemplo, brancos pobres e velhos. Um deles justificava-se perante as câmaras quando questionado sobre os motivos por que não tinha abandonado a cidade: “estamos no fim do mês, tenho só 4 dólares no bolso, não podia pôr suficiente gasolina no carro para escapar até um lugar seguro”. As imagens da fuga da cidade na véspera do furacão ajudam a explicar o que se passou: as auto-estradas estavam engarrafadas com viaturas particulares repletas de pessoas e de bagagem. Ou seja, foi dada ordem de evacuação da cidade mas não foram disponibilizados meios para essa evacuação, pelo que a sua concretização dependeu, sobretudo, dos recursos de que cada um dispunha. Os pobres ficaram e foram apanhados pelo furacão.Quando, em Portugal, se ouvem as vozes arrogantes dos neoliberais nacionais clamando, muitas vezes sem critério, por menos Estado, é bom que nos lembremos do que aconteceu em Nova Orleães em 2005, onde o Estado da mais poderosa nação do mundo se DEMITIU de ajudar os mais fracos a escapar à calamidade: provavelmente porque esta não é já uma tarefa que Bush entenda corresponder às funções centrais do Estado.2. E os que ficaram foram, sobretudo, negros. Não porque fossem negros na mesma proporção os habitantes de Nova Orleães. Mas porque nos EUA os negros estão sobre-representados entre os pobres e entre os que vivem nas áreas degradadas dos centros urbanos, enquanto os brancos se instalam em proporções crescentes nos novos subúrbios. Este padrão de segregação residencial, em termos simultaneamente classistas e raciais, está na origem do título do mais famoso livro de Douglas S. Massey (com Nancy Denton): American Apartheid. Nele se argumenta, através de uma minuciosa análise dos dados censitários, que “a segregação residencial é a característica estrutural da sociedade americana responsável pela perpetuação da pobreza urbana e uma das causas fundamentais da desigualdade racial nos Estados Unidos” (p. viii). Segundo os dados analisados, nas zonas degradadas de Nova Orleães eram negros quase 70% dos seus habitantes.Quando, em Portugal, os sectores multiculturalistas de diversos quadrantes se unem para, irresponsavelmente, defender a requalificação dos guetos da Grande Lisboa em lugar de um realojamento desconcentrado, recomenda-se, com urgência, a leitura do livro de Massey. E, em tempo de eleições autárquicas, importa confrontar os candidatos com os problemas da guetização e os modos de os enfrentar.
http://ocanhoto.blogspot.com/
As imagens que nos chegam de Nova Orleães são esclarecedoras: em 2005, nos EUA, as vítimas do furacão Katrina são, quase só, americanos negros.1. Quando não são negros são, por exemplo, brancos pobres e velhos. Um deles justificava-se perante as câmaras quando questionado sobre os motivos por que não tinha abandonado a cidade: “estamos no fim do mês, tenho só 4 dólares no bolso, não podia pôr suficiente gasolina no carro para escapar até um lugar seguro”. As imagens da fuga da cidade na véspera do furacão ajudam a explicar o que se passou: as auto-estradas estavam engarrafadas com viaturas particulares repletas de pessoas e de bagagem. Ou seja, foi dada ordem de evacuação da cidade mas não foram disponibilizados meios para essa evacuação, pelo que a sua concretização dependeu, sobretudo, dos recursos de que cada um dispunha. Os pobres ficaram e foram apanhados pelo furacão.Quando, em Portugal, se ouvem as vozes arrogantes dos neoliberais nacionais clamando, muitas vezes sem critério, por menos Estado, é bom que nos lembremos do que aconteceu em Nova Orleães em 2005, onde o Estado da mais poderosa nação do mundo se DEMITIU de ajudar os mais fracos a escapar à calamidade: provavelmente porque esta não é já uma tarefa que Bush entenda corresponder às funções centrais do Estado.2. E os que ficaram foram, sobretudo, negros. Não porque fossem negros na mesma proporção os habitantes de Nova Orleães. Mas porque nos EUA os negros estão sobre-representados entre os pobres e entre os que vivem nas áreas degradadas dos centros urbanos, enquanto os brancos se instalam em proporções crescentes nos novos subúrbios. Este padrão de segregação residencial, em termos simultaneamente classistas e raciais, está na origem do título do mais famoso livro de Douglas S. Massey (com Nancy Denton): American Apartheid. Nele se argumenta, através de uma minuciosa análise dos dados censitários, que “a segregação residencial é a característica estrutural da sociedade americana responsável pela perpetuação da pobreza urbana e uma das causas fundamentais da desigualdade racial nos Estados Unidos” (p. viii). Segundo os dados analisados, nas zonas degradadas de Nova Orleães eram negros quase 70% dos seus habitantes.Quando, em Portugal, os sectores multiculturalistas de diversos quadrantes se unem para, irresponsavelmente, defender a requalificação dos guetos da Grande Lisboa em lugar de um realojamento desconcentrado, recomenda-se, com urgência, a leitura do livro de Massey. E, em tempo de eleições autárquicas, importa confrontar os candidatos com os problemas da guetização e os modos de os enfrentar.
http://ocanhoto.blogspot.com/
O papel do Estado
Quanto custa o subfinanciamento do Estado?
A ressaca do neoliberalismo pode ser gigantesca. O que aconteceu em New Orleans, como lembrou o Rui Pena Pires, mostra os efeitos das teorias do Estado minimalista. Em artigo reproduzido no International Herald Tribune, Paul Krugman liga directamente a incapacidade de evitar a pilhagem de Bagdad e a de evacuar e assistir a cidade devastada pela natureza. Um Estado que se desresponsabiliza do destino das pessoas, abandonou uma das suas tarefas mais nobres.O Estado subfinanciado sai barato a todos excepto aos que morrem desnecessariamente por causa disso.
visto em http://ocanhoto.blogspot.com/
A ressaca do neoliberalismo pode ser gigantesca. O que aconteceu em New Orleans, como lembrou o Rui Pena Pires, mostra os efeitos das teorias do Estado minimalista. Em artigo reproduzido no International Herald Tribune, Paul Krugman liga directamente a incapacidade de evitar a pilhagem de Bagdad e a de evacuar e assistir a cidade devastada pela natureza. Um Estado que se desresponsabiliza do destino das pessoas, abandonou uma das suas tarefas mais nobres.O Estado subfinanciado sai barato a todos excepto aos que morrem desnecessariamente por causa disso.
visto em http://ocanhoto.blogspot.com/
American Way of Life
Miséria e morte na América
No rescaldo a quente e ainda incrédulo dos efeitos do Katrina, do morticínio em larga escala, dos caos e devastação que provocou, avoluma-se a crítica e a identificação de falhas e faltas. O rol é extenso: subestimação do impacte e das consequências destrutivas de um furacão de magnitude superior como o Katrina, prevenção inapropriada, planos de emergência e evacuação inadequados, fragilidades nos sistemas de diques e represas e de bombagem das águas do lago Pontchartrain e do rio Mississipi, alertas e auxílios tardios, coordenação deficiente, incapacidade de mobilizar rapidamente meios para acudir às populações em risco de vida, aos desalojados, deslocados, em fuga, a caminho de lugar incerto, sem alimentos e água potável dias a fio.
Discussão, revolta e apuramento de responsabilidades nos diferentes níveis de administração deixarei para outros. Não quero precipitar-me para balanços e conclusões, correr o risco de parecer procurar gratificação em exercícios vácuos sobre tanta desgraça, desolação e exaspero.
Há um só aspecto que quero abordar.
Mais do a que negligências de vária ordem corrigíveis a partir da presente experiência dramática (e traumática), a inesperada (e gigantesca) dimensão da catástrofe humanitária ter-se-á devido acima de tudo a uma espécie de autismo – um racismo tão radical quão institucionalizado em que classe e cor da pele convergem – que leva a sociedade americana de um modo geral a ignorar por completo os mais miseráveis dos seus infelizes. Em especial nos Estados do Sul, logo nos dois mais atingidos pela fúria do Katrina: Luísiana e Mississipi, há gente, quase toda negra, absolutamente indigente, espalhada por povoados e casario dispersos. Essa gente, frequentemente analfabeta ou quase, sem recursos ou dinheiro para nada, a viver muitas vezes na normalidade sem energia eléctrica, sem acesso a bens de consumo e a cuidados de saúde, excluída até das configurações mais simples da sociedade da informação e do entretenimento, nem terá entrevisto (ou seja: ouvido falar d)o que lá vinha, nem se terá posto o dilema de ficar ou abalar (mas para onde?).A Grande, Poderosa e Rica América possui, como não se encontra em lado nenhum da Europa comunitária, extensas bolsas de pobreza extrema, liminar, bolsas constituídas por autênticos párias, proscritos, intocáveis. Isolados, lazarentos, pretos, não votam, não contam, não existem. Ou só existem, tarde demais, no momento em que os seus corpos aparecem a flutuar, semi-putrefactos, em estados variáveis de decomposição, nas águas fétidas que submergem parcialmente Nova Orleães ou nos charcos, pauis e pequenas lagoas que as águas do Golfo do México deixaram para trás ao recuar – felizmente, ao menos isso, tem prevalecido a decência de não os transformar em (sórdido) objecto mediático. Esse ostracismo por omissão, é componente intrínseca do American Way of Life, que as políticas neo-liberais dos últimos anos mais não fizeram que acentuar. Shan’t we ever forget it.
visto no http://bombyx-mori.blogspot.com/
No rescaldo a quente e ainda incrédulo dos efeitos do Katrina, do morticínio em larga escala, dos caos e devastação que provocou, avoluma-se a crítica e a identificação de falhas e faltas. O rol é extenso: subestimação do impacte e das consequências destrutivas de um furacão de magnitude superior como o Katrina, prevenção inapropriada, planos de emergência e evacuação inadequados, fragilidades nos sistemas de diques e represas e de bombagem das águas do lago Pontchartrain e do rio Mississipi, alertas e auxílios tardios, coordenação deficiente, incapacidade de mobilizar rapidamente meios para acudir às populações em risco de vida, aos desalojados, deslocados, em fuga, a caminho de lugar incerto, sem alimentos e água potável dias a fio.
Discussão, revolta e apuramento de responsabilidades nos diferentes níveis de administração deixarei para outros. Não quero precipitar-me para balanços e conclusões, correr o risco de parecer procurar gratificação em exercícios vácuos sobre tanta desgraça, desolação e exaspero.
Há um só aspecto que quero abordar.
Mais do a que negligências de vária ordem corrigíveis a partir da presente experiência dramática (e traumática), a inesperada (e gigantesca) dimensão da catástrofe humanitária ter-se-á devido acima de tudo a uma espécie de autismo – um racismo tão radical quão institucionalizado em que classe e cor da pele convergem – que leva a sociedade americana de um modo geral a ignorar por completo os mais miseráveis dos seus infelizes. Em especial nos Estados do Sul, logo nos dois mais atingidos pela fúria do Katrina: Luísiana e Mississipi, há gente, quase toda negra, absolutamente indigente, espalhada por povoados e casario dispersos. Essa gente, frequentemente analfabeta ou quase, sem recursos ou dinheiro para nada, a viver muitas vezes na normalidade sem energia eléctrica, sem acesso a bens de consumo e a cuidados de saúde, excluída até das configurações mais simples da sociedade da informação e do entretenimento, nem terá entrevisto (ou seja: ouvido falar d)o que lá vinha, nem se terá posto o dilema de ficar ou abalar (mas para onde?).A Grande, Poderosa e Rica América possui, como não se encontra em lado nenhum da Europa comunitária, extensas bolsas de pobreza extrema, liminar, bolsas constituídas por autênticos párias, proscritos, intocáveis. Isolados, lazarentos, pretos, não votam, não contam, não existem. Ou só existem, tarde demais, no momento em que os seus corpos aparecem a flutuar, semi-putrefactos, em estados variáveis de decomposição, nas águas fétidas que submergem parcialmente Nova Orleães ou nos charcos, pauis e pequenas lagoas que as águas do Golfo do México deixaram para trás ao recuar – felizmente, ao menos isso, tem prevalecido a decência de não os transformar em (sórdido) objecto mediático. Esse ostracismo por omissão, é componente intrínseca do American Way of Life, que as políticas neo-liberais dos últimos anos mais não fizeram que acentuar. Shan’t we ever forget it.
visto no http://bombyx-mori.blogspot.com/
domingo, setembro 04, 2005
(...)poucos dias depois de consumada a retirada dos colonatos da faixa de Gaza, o Governo de Sharon anunciava a intensificação de um megacolonato na Cisjordânia. Se era precisa uma prova de que a retirada de Gaza não faz parte de uma súbita conversão de Israel ao "roteiro para paz" na Palestina, ela aí está. Infelizmente, só podem surpreender-se os crédulos.
De facto, a decisão unilateral de desmantelar os esparsos colonatos da pequena e superpovoada faixa de terra entre Israel e o mar Mediterrâneo não foi produto de uma repentina benevolência do Governo israelita nem em relação à comunidade internacional, que pressiona Israel para a descolonização dos territórios ocupados, nem muito menos em relação aos palestinianos. Como foi devidamente explicado, Gaza custava a Israel mais do que valia. Garantir a segurança de alguns escassos milhares de colonos judeus, em uns poucos colonatos espalhados no meio de mais de dois milhões de palestinianos, era demasiado exigente em termos militares e financeiros. É certo que, com essa retirada, Sharon, que foi ele mesmo outrora o instigador da política de colonização judaica dos territórios ocupados, provocou a ira e o ódio dos colonos e o fanatismo dos fundamentalistas religiosos, partidários do Grande Israel, desde o Mediterrâneo ao Jordão. Mas tal utopia revelou-se em qualquer caso impossível, face à radical hostilidade encontrada e à desigual taxa de crescimento da população judaica e palestiniana, trazendo a prazo a certeza de uma maioria palestiniana dentro desse espaço. Excluída a possibilidade da sua deportação maciça para os países árabes vizinhos, como sucedeu no início da formação do Estado judaico - "solução final" que, porém, continua a ser acarinhada pelos extremistas do Grande Israel -, a opção realista só pode estar numa separação territorial que permita uma separação populacional.
Gaza foi o primeiro território a ser deixado para essa missão de "reserva de palestinianos". Ora, ao contrário do que sucedeu em Gaza, onde a colonização sempre fora reduzida, na Cisjordânia ela não tem cessado de se intensificar sob o Governo de Sharon. São regulares as notícias de ampliação dos colonatos existentes ou do estabelecimento de novos assentamentos israelitas. O mesmo se passa em Jerusalém. Trata-se em geral de colonatos contíguos com o território israelita, quase contínuos entre si, portanto muito mais fáceis de defender e de integrar do que os de Gaza. A construção do muro de separação - cuja edificação avançou, apesar da sua patente ilegalidade, como foi reconhecido pelo Tribunal Internacional de Justiça, na Haia - pretendeu dar ares de carácter definitivo a uma nova fronteira rasgada bem dentro dos territórios ocupados, colocando "do lado de Israel" uma parte considerável da Cisjordânia, incluindo seguramente as suas melhores terras.É bom de ver que, nos projectos israelitas, a política de retirada de Gaza não é em nada contraditória com a intensificação da colonização na Cisjordânia. Pelo contrário, é instrumental. Do que se trata é de trocar objectivos revelados impossíveis - a anexação e colonização integral da Palestina - por um objectivo menos ambicioso, mas, julga Sharon, com melhores possibilidades de ser realizado. Mas é esse plano viável?
Só o seria, se os palestinianos o aceitassem sem resistência como facto consumado. Contudo, estas quatro décadas de ocupação violenta deveriam já ter convencido toda a gente de que tal não é possível. Por maior que seja o poderio militar dos ocupantes, o certo é que nas condições da Palestina, onde à humilhação da ocupação e da opressão se juntam as divisões éticas e religiosas dos dois povos, não faz sentido esperar a rendição e a aceitação do Diktat israelita. Nenhuma potência ocupante tem direito a esperar a aceitação da ocupação, seja na Palestina, no Iraque ou em Timor. A força pode conter ou mesmo eliminar transitoriamente a resistência. Mas basta um pequeno rastilho para que a insurreição retome a sua dinâmica própria.
Por este motivo, são tão irrealistas as exigências israelitas de fim da resistência palestiniana, como a intenção de levar a cabo pela força o projecto de anexação territorial, o qual só pode prometer a continuação indefinida do conflito, até que, como sucedeu agora com Gaza, Telavive se convença de que a paz só pode ser alcançada mediante a troca do reconhecimento do Estado palestiniano, nas fronteiras dos territórios ocupados (incluindo Jerusalém Oriental), com a segurança das fronteiras internacionalmente reconhecidas do próprio Estado de Israel. A frustração do projecto de colonização judaica e de anexação definitiva de todos os territórios ocupados -, eis porventura a grande consequência da manifesta impossibilidade de subjugar a resistência palestiniana ao longo de todos estes anos de política de ocupação e opressão nos territórios ocupados. O problema está em que Israel não admitiu até agora nunca trocar a paz pelo regresso às fronteiras territoriais de 1967. O mais próximo que esteve foi nas frustradas negociações de Camp David, onde, contudo, ficou aquém de ceder na questão da divisão de Jerusalém, questão inegociável para os palestinianos e que ditou (juntamente com a questão dos refugiados) o lamentável fracasso dessa cimeira, realizada sob os auspícios do presidente Clinton.
Enquanto houver em Israel quem pense em anexar definitivamente uma parte da Palestina ocupada, estarão legitimados também os sectores extremistas palestinianos que se recusam a aceitar a própria existência de Israel e não discriminam nos meios para o revelar. A referida troca - que, aliás, é a única solução conforme com o direito internacional e com as resoluções das Nações Unidas sobre a questão - juntamente com um compromisso equitativo na questão dos refugiados - abdicando os palestinianos do direito de regresso, a troco de adequada compensação pelos suas terras e haveres deixados em Israel (não vai pagar o Governo israelita generosíssimas compensações aos colonos forçados a abandonar a faixa de Gaza?) - são as únicas bases realistas em que pode assentar uma solução justa para o problema palestiniano.
Independentemente da retirada de Gaza, é legítimo e devido exigir à Autoridade Palestiniana que combata as acções terroristas e as facções extremistas que as praticam. Mas a renúncia ao terrorismo não pode significar pedir aos palestinos em geral, nem à Autoridade Palestiniana em especial, que abdiquem de todas as formas de luta contra a ocupação israelita. É evidente que, se o fizessem, estariam a aceitar irremediavelmente a anexação em curso. As potências ocupantes e coloniais tendem sempre a generalizar o conceito de terrorismo, para designar todas as acções de luta contra elas (recorde-se o que sucedeu entre nós com a guerra colonial, onde as forças nacionalistas eram geralmente apodadas de "terroristas", sem distinção da natureza das suas acções). Ora, nem tudo na resistência palestiniana é terrorismo, noção que tem a ver necessariamente com o ataque a civis. Não é terrorismo, porém, a desobediência civil, a Intifada das pedras, o ataque, mesmo armado, a objectivos militares ou das forças de segurança, ou a estabelecimentos, equipamentos e infra-estruturas do ocupante, etc. Tal como Israel recorre à violência para tentar consumar a sua anexação dos territórios ocupados, é mais do que legítimo ripostar com idênticos meios para repelir a ocupação. Estender o conceito de terrorismo a todas as formas de resistência é uma operação intelectualmente pouco honesta e politicamente inconsequente.Parece evidente, em qualquer caso, que a intensificação da colonização israelita constitui no actual contexto uma qualificada e arrogante "provocação", que não pode esperar a passividade do lado palestiniano. Por isso, para além de Gaza resta todo o conflito para resolver, sem fim à vista.
(Público, Terça-feira, 30 de Agosto de 2005)
visto no 'Aba da Causa'
De facto, a decisão unilateral de desmantelar os esparsos colonatos da pequena e superpovoada faixa de terra entre Israel e o mar Mediterrâneo não foi produto de uma repentina benevolência do Governo israelita nem em relação à comunidade internacional, que pressiona Israel para a descolonização dos territórios ocupados, nem muito menos em relação aos palestinianos. Como foi devidamente explicado, Gaza custava a Israel mais do que valia. Garantir a segurança de alguns escassos milhares de colonos judeus, em uns poucos colonatos espalhados no meio de mais de dois milhões de palestinianos, era demasiado exigente em termos militares e financeiros. É certo que, com essa retirada, Sharon, que foi ele mesmo outrora o instigador da política de colonização judaica dos territórios ocupados, provocou a ira e o ódio dos colonos e o fanatismo dos fundamentalistas religiosos, partidários do Grande Israel, desde o Mediterrâneo ao Jordão. Mas tal utopia revelou-se em qualquer caso impossível, face à radical hostilidade encontrada e à desigual taxa de crescimento da população judaica e palestiniana, trazendo a prazo a certeza de uma maioria palestiniana dentro desse espaço. Excluída a possibilidade da sua deportação maciça para os países árabes vizinhos, como sucedeu no início da formação do Estado judaico - "solução final" que, porém, continua a ser acarinhada pelos extremistas do Grande Israel -, a opção realista só pode estar numa separação territorial que permita uma separação populacional.
Gaza foi o primeiro território a ser deixado para essa missão de "reserva de palestinianos". Ora, ao contrário do que sucedeu em Gaza, onde a colonização sempre fora reduzida, na Cisjordânia ela não tem cessado de se intensificar sob o Governo de Sharon. São regulares as notícias de ampliação dos colonatos existentes ou do estabelecimento de novos assentamentos israelitas. O mesmo se passa em Jerusalém. Trata-se em geral de colonatos contíguos com o território israelita, quase contínuos entre si, portanto muito mais fáceis de defender e de integrar do que os de Gaza. A construção do muro de separação - cuja edificação avançou, apesar da sua patente ilegalidade, como foi reconhecido pelo Tribunal Internacional de Justiça, na Haia - pretendeu dar ares de carácter definitivo a uma nova fronteira rasgada bem dentro dos territórios ocupados, colocando "do lado de Israel" uma parte considerável da Cisjordânia, incluindo seguramente as suas melhores terras.É bom de ver que, nos projectos israelitas, a política de retirada de Gaza não é em nada contraditória com a intensificação da colonização na Cisjordânia. Pelo contrário, é instrumental. Do que se trata é de trocar objectivos revelados impossíveis - a anexação e colonização integral da Palestina - por um objectivo menos ambicioso, mas, julga Sharon, com melhores possibilidades de ser realizado. Mas é esse plano viável?
Só o seria, se os palestinianos o aceitassem sem resistência como facto consumado. Contudo, estas quatro décadas de ocupação violenta deveriam já ter convencido toda a gente de que tal não é possível. Por maior que seja o poderio militar dos ocupantes, o certo é que nas condições da Palestina, onde à humilhação da ocupação e da opressão se juntam as divisões éticas e religiosas dos dois povos, não faz sentido esperar a rendição e a aceitação do Diktat israelita. Nenhuma potência ocupante tem direito a esperar a aceitação da ocupação, seja na Palestina, no Iraque ou em Timor. A força pode conter ou mesmo eliminar transitoriamente a resistência. Mas basta um pequeno rastilho para que a insurreição retome a sua dinâmica própria.
Por este motivo, são tão irrealistas as exigências israelitas de fim da resistência palestiniana, como a intenção de levar a cabo pela força o projecto de anexação territorial, o qual só pode prometer a continuação indefinida do conflito, até que, como sucedeu agora com Gaza, Telavive se convença de que a paz só pode ser alcançada mediante a troca do reconhecimento do Estado palestiniano, nas fronteiras dos territórios ocupados (incluindo Jerusalém Oriental), com a segurança das fronteiras internacionalmente reconhecidas do próprio Estado de Israel. A frustração do projecto de colonização judaica e de anexação definitiva de todos os territórios ocupados -, eis porventura a grande consequência da manifesta impossibilidade de subjugar a resistência palestiniana ao longo de todos estes anos de política de ocupação e opressão nos territórios ocupados. O problema está em que Israel não admitiu até agora nunca trocar a paz pelo regresso às fronteiras territoriais de 1967. O mais próximo que esteve foi nas frustradas negociações de Camp David, onde, contudo, ficou aquém de ceder na questão da divisão de Jerusalém, questão inegociável para os palestinianos e que ditou (juntamente com a questão dos refugiados) o lamentável fracasso dessa cimeira, realizada sob os auspícios do presidente Clinton.
Enquanto houver em Israel quem pense em anexar definitivamente uma parte da Palestina ocupada, estarão legitimados também os sectores extremistas palestinianos que se recusam a aceitar a própria existência de Israel e não discriminam nos meios para o revelar. A referida troca - que, aliás, é a única solução conforme com o direito internacional e com as resoluções das Nações Unidas sobre a questão - juntamente com um compromisso equitativo na questão dos refugiados - abdicando os palestinianos do direito de regresso, a troco de adequada compensação pelos suas terras e haveres deixados em Israel (não vai pagar o Governo israelita generosíssimas compensações aos colonos forçados a abandonar a faixa de Gaza?) - são as únicas bases realistas em que pode assentar uma solução justa para o problema palestiniano.
Independentemente da retirada de Gaza, é legítimo e devido exigir à Autoridade Palestiniana que combata as acções terroristas e as facções extremistas que as praticam. Mas a renúncia ao terrorismo não pode significar pedir aos palestinos em geral, nem à Autoridade Palestiniana em especial, que abdiquem de todas as formas de luta contra a ocupação israelita. É evidente que, se o fizessem, estariam a aceitar irremediavelmente a anexação em curso. As potências ocupantes e coloniais tendem sempre a generalizar o conceito de terrorismo, para designar todas as acções de luta contra elas (recorde-se o que sucedeu entre nós com a guerra colonial, onde as forças nacionalistas eram geralmente apodadas de "terroristas", sem distinção da natureza das suas acções). Ora, nem tudo na resistência palestiniana é terrorismo, noção que tem a ver necessariamente com o ataque a civis. Não é terrorismo, porém, a desobediência civil, a Intifada das pedras, o ataque, mesmo armado, a objectivos militares ou das forças de segurança, ou a estabelecimentos, equipamentos e infra-estruturas do ocupante, etc. Tal como Israel recorre à violência para tentar consumar a sua anexação dos territórios ocupados, é mais do que legítimo ripostar com idênticos meios para repelir a ocupação. Estender o conceito de terrorismo a todas as formas de resistência é uma operação intelectualmente pouco honesta e politicamente inconsequente.Parece evidente, em qualquer caso, que a intensificação da colonização israelita constitui no actual contexto uma qualificada e arrogante "provocação", que não pode esperar a passividade do lado palestiniano. Por isso, para além de Gaza resta todo o conflito para resolver, sem fim à vista.
(Público, Terça-feira, 30 de Agosto de 2005)
visto no 'Aba da Causa'
Louisiana
What has happened down here is the winds have changed
Clouds roll in from the north and it starts to rain
Rained real hard and rained for a real long time
Six feet of water in the streets of Evangeline
The river rose all day
The river rose all night
Some people got lost in the flood
Some people got away alright
The river has busted through clear down to Plaquemines
Six feet of water in the streets of Evangeline
Louisiana, Louisiana
They're tryin' to wash us away
They're tryin' to wash us away
Louisiana, Louisiana
They're tryin' to wash us away
They're tryin' to wash us away
(...)
(Randy Newman)
Clouds roll in from the north and it starts to rain
Rained real hard and rained for a real long time
Six feet of water in the streets of Evangeline
The river rose all day
The river rose all night
Some people got lost in the flood
Some people got away alright
The river has busted through clear down to Plaquemines
Six feet of water in the streets of Evangeline
Louisiana, Louisiana
They're tryin' to wash us away
They're tryin' to wash us away
Louisiana, Louisiana
They're tryin' to wash us away
They're tryin' to wash us away
(...)
(Randy Newman)
Choque tecnológico
Que choque tecnológico se pode implementar quando 80% da população não completou sequer o ensino secundário?
Boa pergunta. Feita pelo Miguel, no 'viva espanha'.
Apronfundando a leitura, ficamos a saber que:
A percentagem de portugueses que completou o ensino secundário não era só a mais baixa da UE em 2002. De facto, nem sequer havia nada parecido nos restantes países. Os valores mais próximos do nacional eram os da Espanha e da Itália, qualquer uma delas, ainda assim, com mais de 40%. A percentagem portuguesa em 2002 – 20,6% – era mesmo inferior à percentagem espanhola em 1992 – 24% – e neste período aumentou apenas 0,7 pontos percentuais. Uma realidade demasiado má para ser ignorada ou tolerada.
Números que arrepiam
Em 2002, Portugal apresentava uma taxa de população com o ensino secundário completo de 20,6% – a mais baixa da UE. A média europeia estava nos 64,6%, enquanto, a título comparativo, a Espanha registava 41,6% e a Alemanha registava 83%. Não explica tudo, mas explica muita coisa.
Boa pergunta. Feita pelo Miguel, no 'viva espanha'.
Apronfundando a leitura, ficamos a saber que:
A percentagem de portugueses que completou o ensino secundário não era só a mais baixa da UE em 2002. De facto, nem sequer havia nada parecido nos restantes países. Os valores mais próximos do nacional eram os da Espanha e da Itália, qualquer uma delas, ainda assim, com mais de 40%. A percentagem portuguesa em 2002 – 20,6% – era mesmo inferior à percentagem espanhola em 1992 – 24% – e neste período aumentou apenas 0,7 pontos percentuais. Uma realidade demasiado má para ser ignorada ou tolerada.
Números que arrepiam
Em 2002, Portugal apresentava uma taxa de população com o ensino secundário completo de 20,6% – a mais baixa da UE. A média europeia estava nos 64,6%, enquanto, a título comparativo, a Espanha registava 41,6% e a Alemanha registava 83%. Não explica tudo, mas explica muita coisa.
Já nem são precisas bombas (!)
Rumor de atentado suicida em Bagdade faz 650 mortos
O último balanço feito pelo Ministério do Interior iraquiano dá conta de 650 mortos esta manhã em Bagdade. A maioria morreu afogada ou espezinhada quando começou a circular um rumor de um atentado suicida.
O grupo de peregrinos xiitas atravessava uma ponte na capital iraquiana quando surgiu o rumor de que entre eles se encontravam dois kamikaze, de acordo com informações de uma fonte dos serviços de segurança iraquianos, citada pela agência France Press.
Em declarações à agência Reuters, o porta-voz do Ministério do Interior iraquiano informou que 650 pessoas morreram afogadas no rio Tigre ou espezinhadas pelas outras pessoas em pânico. A barreira de segurança da ponte cedeu com a pressão da multidão tomada pelo pânico.
(Sic on-line)
O último balanço feito pelo Ministério do Interior iraquiano dá conta de 650 mortos esta manhã em Bagdade. A maioria morreu afogada ou espezinhada quando começou a circular um rumor de um atentado suicida.
O grupo de peregrinos xiitas atravessava uma ponte na capital iraquiana quando surgiu o rumor de que entre eles se encontravam dois kamikaze, de acordo com informações de uma fonte dos serviços de segurança iraquianos, citada pela agência France Press.
Em declarações à agência Reuters, o porta-voz do Ministério do Interior iraquiano informou que 650 pessoas morreram afogadas no rio Tigre ou espezinhadas pelas outras pessoas em pânico. A barreira de segurança da ponte cedeu com a pressão da multidão tomada pelo pânico.
(Sic on-line)
A Ficção e a Realidade
Nos EUA, toda a gente continua a ver demasiado os filmes produzidos pela sua própria indústria cinematográfica e a acreditar num país que é ficção. Se não estão preparados para um furacão que até nem atingiu áreas habitadas com a sua máxima força, como poderão alguma vez sobreviver a uma guerra no seu território?
Não fora o enorme drama humano no Mississipi e na Louisiana, e eu diria que o que por lá se está a passar é patético, se tivermos em conta que o país é uma potência militar e económica. E, no entanto, o Katrina foi só o início de algo que não se sabe onde irá parar, porque as emissões de CO2 para a atmosfera continuarão a crescer.
Julgo que depois de passada esta fase, e resolvida a situação de todos os que agora sofrem, será de recordar que o Protocolo de Quioto foi liminarmente recusado pela administração que governa o país.
(visto no 'viagens em terra alheia')
Não fora o enorme drama humano no Mississipi e na Louisiana, e eu diria que o que por lá se está a passar é patético, se tivermos em conta que o país é uma potência militar e económica. E, no entanto, o Katrina foi só o início de algo que não se sabe onde irá parar, porque as emissões de CO2 para a atmosfera continuarão a crescer.
Julgo que depois de passada esta fase, e resolvida a situação de todos os que agora sofrem, será de recordar que o Protocolo de Quioto foi liminarmente recusado pela administração que governa o país.
(visto no 'viagens em terra alheia')
sábado, setembro 03, 2005
No delta do Mississipi
O delta do Mississipi, pântano gigante, terra do aligator e da serpente deve estar a passar por uma experiência difícil de descrever.
Para trás terão ficado os mais carenciados do Cajun. Gentes que só visitando aquelas paragens se pode saber que existem num País de que falamos sempre com a ideia de New York.
No delta, no pântano, a paredes meias com New Orleans, terra do Tabasco e do Jazz, vivem milhares de pessoas que nada têm a ver com esses Estados-Unidos de que se fala, que subsistem com muito pouco, que se exprimem num dialecto entre o inglês e o francês, que na época da caça vivem do enforcamento dos crocodilos, dos tours-safari feitos em velhas lanchas de desembarque pelo alagado.
Que será feito de toda essa gente, americanos como os outros, se nem água têm para beber numa terra perigosa, quase submersa?
Que se passa com a maior potência do Mundo que tarda em salvar os seus?
Que incompreensível é este Mundo em que vivemos!
visto no 'Tugir'
Para trás terão ficado os mais carenciados do Cajun. Gentes que só visitando aquelas paragens se pode saber que existem num País de que falamos sempre com a ideia de New York.
No delta, no pântano, a paredes meias com New Orleans, terra do Tabasco e do Jazz, vivem milhares de pessoas que nada têm a ver com esses Estados-Unidos de que se fala, que subsistem com muito pouco, que se exprimem num dialecto entre o inglês e o francês, que na época da caça vivem do enforcamento dos crocodilos, dos tours-safari feitos em velhas lanchas de desembarque pelo alagado.
Que será feito de toda essa gente, americanos como os outros, se nem água têm para beber numa terra perigosa, quase submersa?
Que se passa com a maior potência do Mundo que tarda em salvar os seus?
Que incompreensível é este Mundo em que vivemos!
visto no 'Tugir'
Calamidade e desigualdade
No meio do caos e da devastação da maior tragédia urbana de que há memória não podemos vestir a máscara da solidariedade hipócrita quando ela só nos serve para não pensar, para tratar tudo como uma inevitabilidade. Temos de questionar. Temos de afirmar que está tragédia é um retrato da falência da América. Temos de dizer que esta tragédia põe a nú as brutais assimetrias sociais de uma sociedade: os ricos fugiram, os pobres, os milhares de pobres, não puderam fugir, e são eles que sobrevivem no meio do lixo, dos escombros, da urina e das fezes do Dome, são eles que fogem dos tiros, são eles que atiram, são eles que tentam salvar os filhos, os pais, os avós, que passam fome e sede. E são milhares, milhões, como sabe toda a gente que se informa sobre o que são realmente os Estados Unidos da América para além da propaganda e do irrealismo das luzes cinemáticas e televisivas. Este país tem uma taxa de pobreza na ordem dos 25% (superior, imagine-se, a Portugal); este país tem uma educação e serviço de saúde públicos miseráveis, enquanto quem pode pagar tem acesso ao que de melhor existe no mundo; este país não tem qualquer tradição de assistencialismo social, o que se reflecte em todo o processo pré e pós passagem do Katrina. E este é o país que uns querem tomar como modelo, inebriados pela força, pelo poder, pela opulência, pela aparência, esquecendo-se que não há sociedade sem pessoas e que estas deveriam ser a razão de ser daquela, e não o contrário.
visto no 2+2=5
visto no 2+2=5
E tudo o vento levou
Num excelente editorial no PÚBLICO, Nuno Pacheco diz tudo: "A destruição de Nova Orleães começou antes de o Katrina chegar (...) A falta de investimento no reforço dos diques (...), as políticas urbanísticas expansionistas à custa da destruição de zonas húmidas e do litoral, a extracção sistemática de gás e de petróleo, a contrução, em parte desordenada, de sucessivos nós de transportes ferroviários, rodoviários, marítimos, fluviais e aéreos muito fizeram para que se viva o drama presente (...) O Mississipi (...) viu o seu delta afundar-se cerca de 90 centimetros em 100 anos". Eis algo que intuitivamente reconhecemos: falta de investimento; destruição da zona costeira; extracção de matérias-primas; construção desenfreada- não vos lembra algo muito próximo? Não admira, o projecto é o mesmo em todo o lado, só mudando a graduação, que obviamente tem o seu auge nos Estados Unidos. Eis a realização do sonho capitalista, eis o projecto ultraliberal, eis o mito de que o mercado se auto-regula destruidos de um ápice por um vendaval de verdade.
visto no 2+2=5
visto no 2+2=5
Divisões raciais e de classe em Nova Orleães postas a nú pelo Katrina
Um excelente artigo do José Pestana, da Agência Lusa, sobre o caos em Nova Orleães e as questões de raça e classe.
A calamidade causada pelo furacão Katrina trouxe à superfície as divisões raciais e de classe que continuam a ser uma característica da sociedade norte-americana.
Se é verdade que as câmaras de televisão podem distorcer a verdade ao concentrarem-se num aspecto de uma realidade mais vasta, em Nova Orleães não se pode contornar o facto de serem negros e pobres a esmagadora maioria dos deslocados que não têm para onde ir. Centenas, senão milhares, de norte-americanos de todas as raças perderam os seus haveres e familiares em várias zonas do Alabama e Mississipi, mas são as imagens da cidade de Nova Orleães com milhares de negros isolados, desesperados e em alguns casos a pilharem lojas, farmácias e lojas de armas de fogo que têm enchido os noticiários das cadeias de televisão, fazendo lembrar cenas até agora vistas em locais distantes como a Libéria.
*
Isto reflecte claramente a pobreza da população negra nas grandes zonas urbanas dos Estados Unidos, tornada mais visível em Nova Orleães por ser uma das cidades norte-americanas onde a maioria da população é negra e onde 33 por cento da população total vive na pobreza. "Nova Orleães é uma cidade dividida em duas: uma relativamente rica, pequena, e bonita, que é predominantemente branca, e outra que é pobre, grande e feia e é quase totalmente negra", escreveu o comentarista Eugene Robinson.
*
Dados estatísticos indicam, com efeito, que 67 por cento por cento da população de Nova Orleães é de raça negra. Das sete zonas mais afectadas pelas inundações, cinco são de maioria negra e a pobreza, aí, abrange 34,6% da população, segundo as estatísticas oficiais. Estes números, no entanto, não reflectem os altos níveis de pobreza em certos "bairros negros" da cidade afectados pelas cheias. Na zona central da cidade (Central City) que está debaixo de água, 87 por cento da população é de raça negra e 50 por cento vive na pobreza. Na zona de "Lower Ninth Ward" 98 por cento da população é negra e 36 por cento vive na pobreza. Em "Bywater" 61 por cento da população é negra e 39 por cento é pobre.
*
A única excepção nesta tendência é o bairro de Gentilly Terrace onde 70 por cento da população é negra e o nível de pobreza é de 16%, um nível muito abaixo do dos outros bairros de maioria negra mas mesmo assim acima da média nacional de pobreza de 12,4 por cento.
*
Quando se compara este quadro com o dos "bairros brancos" afectados pelas cheias, as diferenças são notórias. Assim, por exemplo, no bairro de Lakeview, submerso pelas águas, 94 por cento da população é branca mas apenas 5 por cento é considerada pobre. Houve destruição nessa zona mas os habitantes há muito que estavam em segurança noutras partes do estado ou do país, beneficiando de uma maior mobilidade dada pela sua maior riqueza e demonstrando que, ao contrário do mito, as tragédias naturais não tratam todos por igual. "Esta catástrofe serviu para deitar luz sobre a miséria e constitui um comentário infeliz sobre raça e classe," escreveu o comentarista Bob Faw
visto no '2+2=5'
Um excelente artigo do José Pestana, da Agência Lusa, sobre o caos em Nova Orleães e as questões de raça e classe.
A calamidade causada pelo furacão Katrina trouxe à superfície as divisões raciais e de classe que continuam a ser uma característica da sociedade norte-americana.
Se é verdade que as câmaras de televisão podem distorcer a verdade ao concentrarem-se num aspecto de uma realidade mais vasta, em Nova Orleães não se pode contornar o facto de serem negros e pobres a esmagadora maioria dos deslocados que não têm para onde ir. Centenas, senão milhares, de norte-americanos de todas as raças perderam os seus haveres e familiares em várias zonas do Alabama e Mississipi, mas são as imagens da cidade de Nova Orleães com milhares de negros isolados, desesperados e em alguns casos a pilharem lojas, farmácias e lojas de armas de fogo que têm enchido os noticiários das cadeias de televisão, fazendo lembrar cenas até agora vistas em locais distantes como a Libéria.
*
Isto reflecte claramente a pobreza da população negra nas grandes zonas urbanas dos Estados Unidos, tornada mais visível em Nova Orleães por ser uma das cidades norte-americanas onde a maioria da população é negra e onde 33 por cento da população total vive na pobreza. "Nova Orleães é uma cidade dividida em duas: uma relativamente rica, pequena, e bonita, que é predominantemente branca, e outra que é pobre, grande e feia e é quase totalmente negra", escreveu o comentarista Eugene Robinson.
*
Dados estatísticos indicam, com efeito, que 67 por cento por cento da população de Nova Orleães é de raça negra. Das sete zonas mais afectadas pelas inundações, cinco são de maioria negra e a pobreza, aí, abrange 34,6% da população, segundo as estatísticas oficiais. Estes números, no entanto, não reflectem os altos níveis de pobreza em certos "bairros negros" da cidade afectados pelas cheias. Na zona central da cidade (Central City) que está debaixo de água, 87 por cento da população é de raça negra e 50 por cento vive na pobreza. Na zona de "Lower Ninth Ward" 98 por cento da população é negra e 36 por cento vive na pobreza. Em "Bywater" 61 por cento da população é negra e 39 por cento é pobre.
*
A única excepção nesta tendência é o bairro de Gentilly Terrace onde 70 por cento da população é negra e o nível de pobreza é de 16%, um nível muito abaixo do dos outros bairros de maioria negra mas mesmo assim acima da média nacional de pobreza de 12,4 por cento.
*
Quando se compara este quadro com o dos "bairros brancos" afectados pelas cheias, as diferenças são notórias. Assim, por exemplo, no bairro de Lakeview, submerso pelas águas, 94 por cento da população é branca mas apenas 5 por cento é considerada pobre. Houve destruição nessa zona mas os habitantes há muito que estavam em segurança noutras partes do estado ou do país, beneficiando de uma maior mobilidade dada pela sua maior riqueza e demonstrando que, ao contrário do mito, as tragédias naturais não tratam todos por igual. "Esta catástrofe serviu para deitar luz sobre a miséria e constitui um comentário infeliz sobre raça e classe," escreveu o comentarista Bob Faw
visto no '2+2=5'
Nos locais atingidos pelo Katrina, no Louisiana, os bandos armados 'organizam' o saque às casas destruídas e pilham os poucos haveres que sobram nos destroços.
Até um helicóptero de salvamento que resgatava sobreviventes dos telhados, foi alvejado a tiro e obrigado a partir, deixando feridos pelo caminho.
Enviados para Biloxi e New Orleans, os soldados acabados de chegar do Iraque, têm ordens para atirar a matar, mesmo que seja contra alguém que apenas tenta sobreviver à custa das prateleiras de um supermercado fechado, sem mais nada para comer ou sarar feridas.
Deve ser a isto que eles chamam civilização.
Até um helicóptero de salvamento que resgatava sobreviventes dos telhados, foi alvejado a tiro e obrigado a partir, deixando feridos pelo caminho.
Enviados para Biloxi e New Orleans, os soldados acabados de chegar do Iraque, têm ordens para atirar a matar, mesmo que seja contra alguém que apenas tenta sobreviver à custa das prateleiras de um supermercado fechado, sem mais nada para comer ou sarar feridas.
Deve ser a isto que eles chamam civilização.
Subscrever:
Mensagens (Atom)