domingo, maio 22, 2005

Em vias de extinção

Portugal tem 148 espécies ameaçadas, um panorama mais grave do que o verificado em 1990, data da publicação do Livro Vermelho dos Vertebrados. O que foi feito desde essa altura para inverter o risco de extinção de algumas espécies? "Muito pouco", responde Jorge Palmeirim. O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que participou na elaboração do primeiro livro vermelho e na sua revisão, efectuada recentemente, considera mesmo que "simplesmente andámos para trás".

Embora seja perigoso comparar as classificações de 1990 com as estabelecidas agora, uma vez que os critérios em análise foram alterados de acordo com novas categorias introduzidas pela UICN (International Union for Conservation of Nature, na sigla em inglês), baseados, pela primeira vez, em critérios quantitativos, o investigador conclui que "a conservação da natureza tem sido feita numa perspectiva de sobrevivência das áreas protegidas".

Com duas espécies já extintas no nosso país - o urso pardo e o esturjão - esse poderá ser o destino de outras se a atitude perante a conservação se mantiver. Grandes empreendimentos de construção civil, nomeadamente barragens e auto-estradas, são uma ameaça constante a muitos seres vivos. O caso mais flagrante é o do lince ibérico a sua presença, na zona de Alqueva, comprovada por análises aos excrementos, não foi tida em conta na avaliação da construção da barragem.

Um cenário mais grave pode estar a verificar-se relativamente à flora. Se a fauna está suficientemente conhecida, o que ajuda a preservar, no que respeita às plantas, a falta de conhecimento é enorme, o que na opinião de José Manuel Alho, da Liga para a Protecção da Natureza, pode potenciar a sua destruição.

(DN online)

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(Janet Ingram)

Vôo solitário

Canto final da última águia-real no Gerês

Apenas uma ave desta espécie sobrevive no único Parque Nacional


É uma história de profunda solidão. No Parque Nacional da Penada-Gerês (PNPG) só resta uma águia-real. Todos os anos, por altura da época de acasalamento, faz tudo como se fosse chocar os ovos transporta paus, faz o ninho... só não procria. O macho morreu há pouco mais de dois anos e este exemplar tem também o destino traçado. No dia do seu desaparecimento, os responsáveis do único parque nacional português deverão explicar por que razão nada foi feito para preservar tão nobre espécie.

Miguel Dantas da Gama, do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS) não tem dúvidas. "Estamos perante o desaparecimento de uma espécie emblemática e referencial cujo destino reflecte a evolução do próprio Parque Nacional". Podemos ir um pouco mais longe o abandono a que foi votada a águia-real, que ainda vive na serra da Peneda, ilustra o estado em que se encontra a conservação da natureza em Portugal (hoje comemora-se mais um Dia Mundial da Conservação e Biodiversidade).

Considerada em perigo - é esse o estatuto que lhe é atribuído no Livro Vermelho dos Vertebrados, revisto recentemente - , na área do PNPG a águia-real voa agora para a extinção. O DN tentou obter um comentário a esta situação por parte do director do Parque. Apesar de tentativas insistentes e explicando o que estava em causa, Luís Macedo nunca esteve disponível.

Um projecto, apresentado pelos responsáveis do Parque para tentar salvar a população de águia-real, nunca foi avante. Aparentemente não seria difícil bastaria repovoar a zona com águias juvenis trazidas das arribas do Douro Internacional, área tutelada também pelo Instituto de Conservação da Natureza. Nada foi feito.

Esta medida resolveria dois problemas salvava alguns exemplares, que não conseguiriam sobreviver no local de origem, por escassez de alimento ou por um fenómeno denominado cainismo (o indivíduo, neste caso o irmão mais velho, mata o mais novo) e repovoava-se a Peneda-Gerês - "a jóia da coroa da conservação da natureza", em Portugal noutros tempos.

Miguel Dantas da Gama pode bem dizer que é amigo íntimo da última águia-real do Gerês. Acompanhou o casal de aves de rapina ao longo vinte anos, durante regulares visitas de campo. "Deixei de ver o macho em 2003", mas já antes disso os sinais de perigo para a manutenção da espécie eram evidentes "A águia punha, mas os ovos não desenvolviam".

O membro do Fapas, que tem por hábito passar fins-de-semana embrenhado pelas zonas mais selvagens do Parque, lembra ter avisado várias vezes os técnicos da área protegida para a "existência de ovos abandonados na Peneda". Os exemplares chegaram a ser analisados, sem, no entanto, se ter chegado a resultado conclusivo.

O problema é, contudo, mais vasto. Para o perceber é necessário recuar décadas, ao tempo em que o conceito de conservação era algo quase desconhecido. Nessa altura, sobre a pilhagem de ninhos e o abate de aves a tiro não havia a reprovação e a censura que existem hoje. As águias também foram vítimas do veneno usado contra os lobos, espécie também em perigo.

O dirigente do FAPAS enumera ainda os fogos florestais, a abertura de acessos e a teimosa recusa em encerrar outros como factores que conduziram ao iminente desaparecimento da águia real da Peneda-Gerês. "A tranquilidade é fundamental", refere o ambientalista. Qualquer interferência humana, refere, pode afugentar a ave de rapina. Uma situação que se pode resumir a "falta de ordenamento".

No ano de 1971, o estado de conservação da águia- real já não era tranquilizador. Nesse ano, foi criado o primeiro e até agora único parque nacional português. A situação agravou-se progressivamente no início da década de 90 desapareceu o penúltimo casal de águia-real. Há dois anos a população desta ave de rapina ficou reduzida a um indivíduo. Se se tivesse actuado a tempo teria sido apenas necessário desenvolver medidas de recuperação. "A injecção de juvenis" seria a solução, refere Dantas da Gama. Hoje trata-se, praticamente, de reintroduzir a espécie, o que se torna "muito mais difícil e exigente".

A conservação da águia-real não é caso único. Dantas da Gama aponta o aparecimento pontual da águia perdigueira, provavelmente oriunda da Galiza, bem como a presença de grifos.

Na opinião do ambientalista não seria difícil fixar uma população, desde que fossem criadas condições. Um sonho de difícil concretização os sinais apontam no sentido inverso. O único alimentador, instalado na Portela, "nunca viu uma peça de carne".

(DN online)


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(Krista Elrick)

sexta-feira, maio 20, 2005

Exotismo marroquino no coração do Alentejo

Jogos de panos e cores, de música e teatro, de gastronomia e fantoches, transformam as ruas numa verdadeira cidade do mundo.

O 3.º Festival Islâmico de Mértola está de "portas abertas", com um programa recheado até domingo. O souk (mercado de rua) exibe um mundo diferente em pleno Alentejo profundo, confrontando as gentes de cá com outros cheiros, sabores e melodias, e obrigando a vila, banhada pelo Guadiana, a viajar até um passado bem distante.

O centro histórico está "invadido" por 150 expositores. O núcleo duro pertence à comunidade islâmica espanhola. E ambos justificam que o festival de Mértola, que se realiza de dois em dois anos, "já seja um marco" pela projecção alcançada nas primeiras edições, "pelo que vamos querer estar sempre presentes", garante um dos comerciantes, para quem o maior encanto são as ruas estreitas e íngremes.

"É algo de extraordinário que faz mesmo parte da nossa cultura e das nossas gentes", sustenta, enquanto tira roupas de um saco para venda. "São kamiss e djellaba", explica, garantindo que há mais países representados no certame.

Duas tendas ao lado, apresenta um vizinho marroquino virado para as tatuagens e caligrafia. Mais abaixo, um expositor turco exibe artesanato e peças ligadas aos rituais talismânicos. Não sabe se o tema é apreciado em Portugal, porque é a primeira vez que se desloca a estas paragens, mas assume que o seu intuito está mais virado para a vertente promocional.

Olhando para o cimo da rua, salta à vista o jogo de cores proporcionado pelos panos com que os comerciantes filtram o sol. Um cenário deslumbrante, mesmo ao meio-dia, que faz com que a ala antiga de Mértola se confunda com uma autêntica cidade do Norte de África, carregada de exotismo e animação. Durante a noite, o encanto prossegue.

Aliás, hoje, o programa promete ao pôr-do-sol começa a "Noite de Dikra", estando agendado um espectáculo de música e dança oriental com os Oojami. Mas a festa, porque é disso que se trata, não pára, com recurso a animação de rua em locais estratégicos, dia e noite. Música, poesia, teatro ou fantoches vão estar em permanente actividade.

É claro que também a gastronomia marca uma presença de vulto, tendo os cozinheiros dos restaurantes locais investido em cursos de cozinha marroquina, para que nada falhe. De resto, não foi tempo perdido apenas para o festival, porque esta gastronomia é muito apreciada na região e pode vigorar em qualquer época do ano.

(DN online)











MARROCOS - FOTOS DE BRUNO BARBEY

Música para os meus ouvidos

Perry Blake apresenta hoje o seu novo álbum em Lisboa



O cantor e compositor irlandês Perry Blake apresenta hoje o seu mais recente disco, The Crying Room, no Café-Teatro Santiago Alquimista, em Lisboa, pelas 22.00 horas (a primeira parte do concerto estará a cargo de Rui Gaio).

Perry Blake é o nome artístico de Kieran Gorman, nascido em 1971 em Sligo, na Irlanda. Aos 17 anos mudou-se para Londres, começando aí a trabalhar mais a sério na música. O resultado desse trabalho só conheceu visibilidade (ou audibilidade) pública em 1998, quando se estreou com o seu álbum homónimo. Editou no ano seguinte Still Life (pela Naïve), acrescentando à sua ainda curta discografia, um ano depois, a banda sonora para o filme francês Presque Rien, de Sébastien Lifshitz, e Broken Statues (um disco gravado ao vivo no Cirque Royal, em Bruxelas). Antes deste seu novo álbum, The Crying Room, a editar brevemente, havia lançado, em 2002, California.

Delicada e melancólica (sem no entanto ser depressiva), a música de Perry Blake colhe influências em nomes como Leonard Cohen, Scott Walker, Nick Drake ou David Sylvian (Blake afirma que o disco da sua vida é Secrets of the Beehive, deste último). Ao mesmo tempo vulnerável e tranquila, a sua voz funciona, em todos os seus discos, e sobretudo neste último (mais acústico), como um instrumento profundamente atmosférico.

(DN online)

Os jornais e a blogosfera

(...)O que perdem os jornais de referência com o fim da gratuitidade? Perdem em acessos o que ganham em dinheiro. E perdem, como tem sido dito, um universo importante que é o universo dos blogues. Nove décimos dos blogues portugueses (há cerca de 40 mil) citavam e lincavam sobretudo o Público. Agora, pelo que se vê, quem ganha é o DN e sobretudo o Diário Digital. Acontece que o Público tem os colunistas mais influentes, e os textos desses colunistas deixaram de ser directamente discutidos pelos bloguistas, excepto se estes se derem ao trabalho de transcrever. Esse impacto mais directo está agora reduzido a quem compra o jornal em papel e aos assinantes (não serão ainda muitos). O mesmo se passa na América, com a diferença de que na América há uma vintena de jornais de referência.

Menosprezar o mundo dos blogues é, como se sabe, um erro comum. O acesso pago aos jornais é provavelmente outro.

(Pedro Mexia - DN Online)

Amazónia

A floresta amazónica está a desaparecer a um ritmo cada vez mais veloz. Só entre Agosto de 2003 e Agosto de 2004, a desflorestação atingiu o segundo valor mais alto de sempre, afectando mais de 26 mil quilómetros quadrados no espaço de um ano, o equivalente a um terço da superfície de Portugal. O balanço foi avançado pelo governo brasileiro, a quem os ambientalistas pedem mais acção.

De acordo com a BBC, a desflorestação da Amazónia ao longo destes 12 meses representa um aumento de 6% em relação ao ano anterior. Na origem do abate de milhares de árvores está, entre outros factores, o objectivo de aumentar a área de plantação de colheitas. No Estado de Mato Grosso, - onde ocorreu quase metade desta desflorestação -, a exótica vegetação amazónica deu lugar a campos de soja. Uma cultura que, em 2004, atingiu recordes nas exportações brasileiras para a China e a Europa.

O novo balanço oficial surpreendeu, no entanto, o próprio governo brasileiro, cujas estimativas apontavam para um aumento na desflorestação da Amazónia de cerca de 2%. Em vez disso, a área desflorestada entre o Verão de 2003 e 2004 atingiu os 26 130 quilómetros quadrados. O valor mais alto de destruição da floresta - desde que o Brasil iniciou o estudo do problema, em 1988 - remonta ao período entre Agosto de 1994 e Agosto de 1995 29 059 quilómetros quadrados.

Numa reacção aos números divulgados, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, citada pela Lusa, destacou o elevado crescimento económico do país em 2004 como um dos factores que contribuíram para o aumento da desflorestação. No entanto, a governante considerou o cenário "indesejável" e admitiu que as medidas adoptadas por Brasília para inverter a situação não produziram efeito.

Entre as acções realizadas pelo Executivo de Lula da Silva destacam-se a criação de áreas protegidas e o reforço da vigilância via satélite sobre as zonas mais ameaçadas. No entanto, embora consi- deradas "positivas", estas medidas não satisfazem os ambientalistas, que desafiam as autoridades locais a ir muito mais além.

"Para que se consiga marcar a diferença no terreno, o governo precisa de restringir a plantação de soja a áreas já desflorestadas, combater o abate ilegal de árvores e implementar, de forma efectiva, o seu próprio plano anti-desflorestação", afirmou Paulo Adario, coordenador da campanha da Greenpeace.

Também para o Fundo Mundial para a Conservação da Natureza (WWF, sigla em inglês), o governo de Lula da Silva tem "falhado" o cumprimento dos objectivos a que se propôs em 2003. Em comunicado, a organização alerta para os efeitos desta devastação a nível ambiental e social, numa altura em que 18% da floresta já foi destruída.

(DN online)














AMAZONAS - FOTOS DE ALEX WEBB

As mulheres e a Ciência

Cientistas portuguesas unem-se: Associação pioneira quer combater fraca presença de mulheres no topo das carreiras


Em 2002, 58% dos diplomados na UE eram mulheres, mas só 14% estavam no topo da carreira
Portugal tem uma das mais elevadas taxas europeias de mulheres diplomadas em áreas científicas. Ainda assim, são muito poucas as que atingem lugares de topo na progressão da carreira. Para inverter o cenário, um grupo de especialistas das mais diversas áreas apresentou ontem, em Lisboa, a primeira Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas, a Amonet - o nome da deusa do Baixo Egipto, que soprava sabedoria aos governantes.

Como explicou ao DN Lídia Ferreira, professora de Física Nuclear no Instituto Superior Técnico e uma das sócias fundadoras, Portugal era, até agora, um dos poucos países da Europa sem uma associação deste género. Para colmatar a "lacuna" e dar visibilidade ao que de melhor se faz em ciência a nível nacional, o grupo de cientistas portuguesas uniu forças e criou a associação, que conta já com 62 membros - alguns deles homens -, vindos "um pouco de todo o País".

"Há um fraco aproveitamento de pessoas qualificadas em Portugal. Não se percebe como, dos 40 mil licenciados no desemprego, 24 mil são mulheres", comentou Lídia Ferreira, explicando que o problema não está na falta de competências, mas antes na "mentalidade", que é urgente mudar. Sobretudo numa altura em que é Bruxelas a chamar a atenção para o fenómeno.

Segundo Marina Marchetti, da Unidade de Mulheres e Ciência da Direcção-geral da Investigação da Comissão Europeia (CE), em 2002 -e no sector público -, 58% dos licenciados eram mulheres, mas apenas 14% ocupavam lugares de topo na carreira científica. "Em Portugal, como na Finlândia, essa percentagem atinge já os 20%, mas isso é ainda muito pouco", afirmou ao DN a representante europeia, explicando aquilo a que chama o "tecto de vidro" "todas conseguem entrar, mas há algo que as impede de chegar ao topo". Um efeito que a CE pretende combater, começando por fazer subir até aos 40% a presença feminina nos comités de avaliação. "Um alvo ainda longe de alcançar".

As discrepâncias entre os géneros são também visíveis a nível do financiamento de projectos, no âmbito do Sexto Programa-Quadro da CE. Segundo Marina Marichetti, presente na cerimónia de apresentação da Amonet, apenas 15% dos coordenadores dos projectos financiados são mulheres.

Elaborar estudos que contribuam para a concretização da igualdade entre os géneros, promover o debate sobre os direitos das mulheres cientistas e incentivar os jovens a optar por cursos da área científica são algumas das propostas da nova associação. Aberta a ambos os sexos e a todas as nacionalidades, a Amonet prevê várias categorias de membros, estando os efectivos reservados a mulheres cientistas, "com grau académico superior" e experiência há mais de cinco anos. Porque, como lembrou Lígia Amâncio, outra das fundadoras, "mais mulheres para a ciência significa mais ciência para o País".

(DN online)


As Mulheres e a política

Deputadas discutiram ontem o relatório no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

O inquérito do ISCSP diz que as mulheres são usadas nas listas por mera estratégia eleitoralista
O protagonismo das mulheres na vida política portuguesa é muito inferior ao alcançado noutros contextos, como o mercado de trabalho, o ensino ou a família. Isto deve-se à dominação masculina que se verifica nos partidos políticos e nas práticas discriminatórias que dificultam o acesso das mulheres ao topo das hierarquias partidárias e, em consequência, ao Parlamento e ao Governo.

Estas são as principais conclusões do estudo "O modo de funcionamento dos partidos e o seu reflexo na participação das mulheres na vida partidária", elaborado por uma equipa do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) formada por Manuel Meirinho Martins, o coordenador, Maria da Conceição Teixeira e Jorge de Sá. O estudo foi encomendado pela presidente da Comissão para a Igualdade e para os Direitos da Mulher, Maria Amélia Paiva, e foi ontem apresentado publicamente uma conferência no ISCSP.

Segundo os dados recolhidos e um inquérito promovido no âmbito do estudo, os investigadores concluem que partidos promovem e mantêm uma "democracia excludente". Ou seja "Sendo maioritariamente dominados por homens, ou excluem e discriminam as mulheres no acesso aos órgãos directivos internos e aos cargos públicos electivos, ou incluem-nas nas listas de candidatura como mera estratégia eleitoralista, reduzindo assim a participação política das mulheres ao apelo ao voto junto do eleitorado feminino".

Sem paridade. São vários os indicadores que suportam esta conclusão. A participação das mulheres nas listas de deputados é muito inferior à masculina e, para além disso, as mulheres são colocadas em poucos lugares elegíveis. No que respeita aos órgãos partidários isso também é visível no CDS, por exemplo, em que as mulheres são 41% dos militantes, a sua presença no órgão executivo nacional não ultrapassa os 6%.

O PSD e o PS -- cujas percentagens de militantes femininos são de 37% e 33% - apresentam taxas de feminização das sua direcções de 16,7% e 16,3%, respectivamente. Um pouco pior está o PCP, onde, com 29% dos militantes, as mulheres alcançam apenas 6,2% da direcção. O Bloco de Esquerda, com os seus 50%, é a única força que inclui nos estatutos o princípio da paridade entre sexos nas listas de candidatura aos órgãos nacionais.

Questão de democracia. "Tomáramos nós que não houvesse necessidade de fazer este encontro", suspirou Teresa Caeiro, deputada do CDS/PP e ex-secretária de Estado, no debate que, à tarde, discutiu o papel condicionador dos partidos. Mas, como não tinha lido o estudo sobre o qual era suposto falar, pouco mais disse. Também Sónia Fertuzinhos, do PS, não tinha dedicado ao estudo mais do que uma olhadela pelas conclusões, pelo que se limitou a contar experiências pessoais da sua vida partidária.

Foi Helena Pinto, do Bloco de Esquerda, a colocar a discussão noutro nível. "Não acho essencial discutir se as mulheres fazem política de forma diferente", disse a deputada. "A questão fundamental é que a humanidade é composta por dois sexos portanto, a questão é de democracia, de direitos humanos se neles incluirmos a participação cívica". E realçou a "invisibilidade" a que muitas mulheres que se envolvem na política estão ainda hoje votadas.

Regina Bastos, do PSD, avançou uma explicação para esse facto. "Todos os partidos, ao nível dos seus dirigentes nacionais, recomendam sempre uma participação elevada das mulheres, nomedamente nas listas de candidatos a deputados". O que sucede, porém, é que "a lógica organizativa dos partidos, que é gerada em patamares intermédios, favorece a lógica masculinizadora que as listas acabam por assumir".

A deputada reconheceu que o que se passou com o PSD na elaboração de listas para as últimas eleições não foi brilhante - apenas seis mulheres em 75 deputados eleitos. "Foi um retrocesso quanto ao que o partido tinha feito em 30 anos de democracia". E acrescentou que "é hoje consensual que um dos indicadores de desenvolvimento de uma sociedade é o nível de participação das mulheres na vida política e em lugares de decisão".

Se houve partido português que teve isso em atenção no passado foi o PCP, que já em 1952, numa nota do Comité Central, criticava militantes e órgãos do partido por "substimarem o papel das mulheres na sua própria emancipação". Quem o recordou foi Fernanda Mateus, deputada comunista, que frisou depois os actuais constrangimentos económicos, sociais e familiares à participação feminina.

quinta-feira, maio 19, 2005

BD

6.º SALÃO LISBOA DE ILUSTRAÇÃO E BANDA DESENHADA

Local. Estufa Fria, Parque Eduardo VII, em Lisboa, até 5 de Junho

Animação Infanto-Juvenil. A partir de As Minhas Primeiras 80 mil Palavras. De segunda a sexta, 10.30. Sábado e domingo, 15.30

Presença de autores. Amanhã e sábado, às 15.00

'Worshop' de Serigrafia. Com o colectivo Le Dernier Cri, no próximo fim-de-semana

Feira de Fanzines. Dias 28 e 29


(Aventuras de um fotógrago - Didier Levévre no Afeganistão - de Emanuel Guibert)

Primeiros Europeus

Segundo um estudo feito por investigadores austro-americanos, os primeiros europeus conhecidos viveram há 31 000 anos, onde é actualmente a República Checa. Os investigadores basearam-se nas primeiras ossadas com data precisa provenientes das grutas de Mladec, descobertas em 1826. De acordo com um artigo publicado na revista científica Nature, as ossadas, encontradas no jazigo mineiro situado no centro da Morávia, 200 quilómetros a leste de Praga, pertencem a homens que viveram no período do paleolítico superior.

DN online


(Grutas de Mladec)


(PRAGA É SEMPRE LINDA!)

terça-feira, maio 17, 2005

Cinemateca

Truffaut

Desaparecido em 1984, aos 52 anos, o cineasta François Truffaut é homenageado em Lisboa, com uma retrospectiva integral da obra na Cinemateca. A partir de hoje e até 17 de Junho.


Genes II

Os três genes do sistema HLA que serviram ao grupo de investigação da Universidade da Madeira para traçar o perfil genético da população portuguesa do continente desempenham um papel fundamental na resposta do sistema imunitário contra as agressões de agentes patogénicos ou outros.

São esses genes que codificam - ou seja, dão a instrução para a produção - um grupo de proteínas muito particular que tem por missão reconhecer os elementos estranhos ao organismo, ou seja, os potenciais agressores. Essas pequenas estruturas proteicas implantam-se depois na parte externa das membranas das células e funcionam como sensores.

"É por isso que a caracterização destes três genes na população é importante para a área dos transplantes de órgãos ou tecidos", diz o investigador Hélder Spínola do Laboratório de Genética Humana da Universidade da Madeira e principal autor do estudo. E explica "Quando um doente de leucemia, por exemplo, precisa de um transplante de medula óssea, só pode recebê-lo de alguém compatível a esse nível, para que não haja rejeição e o tratamento possa ter o efeito desejado, que é a cura".

O conhecimento sobre as diferentes formas que cada um destes os genes assume (e são muitas possíveis) permite, justamente, perceber essa compatibilidade.

"Com esta nova caracterização da população portuguesa no território continental, dá-se mais um passo nesta área", explica o investigador, sublinhando que isso "torna possível calcular com mais rigor quais os tecidos ou órgãos compatíveis que são mais fáceis ou mais difíceis de encontrar para um determinado doente".

Não se encerra aqui, no entanto, o capítulo das repercussões destes três genes na saúde. "Há determinadas formas destes genes HLA que estão ligadas a certas doenças, como algumas doenças auto-imunes [em que o sistema imunitário se volta contra o próprio organismo, porque não o reconhece como tal], como algumas afecções reumatóides", nota o investigador.

Uma dessas doenças é a espondilite anquilosante, uma doença inflamatória de tipo reumatóide, que está associada a uma forma específica do gene HLA-B, que é a B27, embora haja também outros genes envolvidos. Para avaliar melhor esta relação, o grupo da Madeira está a desenvolver um estudo genético com pessoas que têm esta doença na Ilha Terceira, nos Açores, em colaboração com o hospital de Angra. Outro projecto em perspectiva, depois da caracterização genética da população da Madeira, é estabelecer ali um registo regional de dadores para transplantes.

(DN Online)

segunda-feira, maio 16, 2005

Genes

Foi sem surpresa que os cientistas confirmaram em estudos de genética populacional que os portugueses têm uma influência africana clara no seu património genético. A História já o contava noutra linguagem. Um dado intrigante emergiu, porém, das observações o de uma concentração da influência africana no Norte do País, sem aparente explicação. Um estudo da Universidade da Madeira veio agora esclarecer o mistério, ao estabelecer duas migrações africanas distintas para a Península, com milhares de anos de intervalo.

Que a influência genética de África exista no Sul do País, como de facto acontece, não surpreende ninguém. Estiveram ali estabelecidas durante vários séculos populações muçulmanas oriundas do Norte de África. Mas uma evidência tão marcada em terras nortenhas sempre pareceu estranha. O estudo internacional "HLA genes in Portugal inferred from sequence-based Typing in the crossroad between Europe and Africa", liderado pelo investigador Hélder Spínola, do Laboratório de Genética Humana da Universidade da Madeira, caracteriza pela primeira vez a população portuguesa para três genes que estão associados ao sistema imunitário: o chamado sistema HLA. Ao fazê-lo, lança uma nova luz sobre esta realidade. E também sobre a própria História.

De acordo com os resultados da pesquisa, que serão em breve publicados na revista científica "Tissue Antigens", as influências africanas identificadas a Norte e a Sul não são as mesmas, e correspondem, afinal, "a movimentos populacionais diferentes, com quatro a cinco mil anos de diferença entre si, e com origem em zonas distintas daquele continente", explica Hélder Spínola. E sublinha "Esta diferença entre as características de origem africana encontradas a Norte e a Sul do País era completamente desconhecida até agora".

Antepassados. A história poderia contar-se desta maneira. Há seis mil anos, quando a região fértil que então era a do Sahara entrou em processo de desertificação (que ainda hoje não terminou), as populações que ali residiam foram forçadas a iniciar um movimento migratório. Muitas dessas pessoas viajaram para norte e uma parte atravessou o oceano no estreito de Gibraltar, para se instalar na Península Ibérica, e no território que hoje é Portugal.

Passados mais de 4500 anos, chegou uma nova vaga africana, esta berbere e muçulmana, que hoje diríamos magrebina, e que é a marca africana, em termos genéticos, que caracteriza os portugueses no Sul do País.

Além da clarificação histórica, e deste novo "retrato bipolar", a pesquisa dos "detectives" genéticos trouxe outra novidade. A de que na região centro, aquelas características se diluem (tanto as do sul, como as do norte) sobressaindo, por outro lado, as marcas genéticas trazidas pelas migrações e invasões europeias (que a História conhece por bárbaras) e que ocorreram entre a primeira e a segunda vagas africanas.

"Isto não significa que a população portuguesa não seja toda a mesma", nota Hélder Spínola. "A base genética é a mesma, só que as diferenças agora encontradas permitem traçar as suas origens até muito longe no passado", diz. De resto, era este estudo antropológico, que não estava ainda feito, o primeiro objectivo do trabalho.

A interpretação para esta espécie de "enclave europeu" ao Centro é que ainda não é clara. "Pode ser que na mistura de populações as características africanas se tenham ali diluído porque as europeias eram mais fortes, ou as africanas eram mais fracas, ou ambas as coisas".

Não acabam aqui as novidades. Recorrendo ao estudo dos três genes ligados ao sistema imunitário, a pesquisa é mais um passo também para os transplantes, já que, ao caracterizar a população portuguesa para estes genes, ajudará a calcular com uma aproximação maior a probabilidade de dadores compatíveis (ver texto em baixo).

Variedade. Ao contrário de muitos outros genes, que são razoavelmente idênticos para a generalidade da espécie humana, os do sistema HLA, que se situam no cromossoma seis, possuem uma particularidade têm muitas variações possíveis (a que os geneticistas chamam polimorfismos), consoante as populações e as suas geografias.

"São estes polimorfismos, ou a enorme variedade de formas que podem apresentar, que fazem destes três genes um instrumento precioso para estes estudos antropológicos, ou de genética populacional", esclarece Hélder Spínola.

A investigação, que contou com a colaboração do Laboratório de Histocompatibilidade e Imunogenética do Hospital da Universidade do Ulster, em Belfast, Irlanda do Norte, avaliou um total de 145 pessoas das três regiões do Continente - Norte, Centro e Sul. "É uma amostra adequada para este tipo de pesquisas", diz o investigador. Uma das condições de participação era que a família dos indivíduos seleccionados em cada região aí vivesse há, pelo menos, três gerações, para "eliminar a possibilidade de desvio nos resultados".

E se o perfil genético da população continental está finalmente traçado para estes três genes, Madeira, Açores, Cabo Verde e Guiné, são as regiões e países que se seguem. "Já temos os dados tratados e estamos a ultimar a redacção dos artigos científicos", revela Hélder Spínola, que é também um dos co-autores.

Para os que ficam cheios de curiosidade, aqui se levanta uma pontinha do véu de todas as regiões portuguesas, sabe-se já que a Madeira é a que tem mais influências africanas, com 10 a 15% de características genéticas oriundas daquele continente. Uma herança dos tempos da escravatura que, no território do Continente, é aliás difícil de traçar em termos genéticos.


(Bruno Barbey)

Estaline

A réplica vermelha de Hitler



Iosif Vissarionovitch Estaline (1879-1953) é considerado, pela esmagadora maioria dos historiadores isentos, um ditador sanguinário - réplica vermelha de Adolf Hitler. Assim que ascendeu ao poder em Moscovo após a morte de Lenine, em 1924, fez sair de cena os principais rivais políticos, ordenando a eliminação física de alguns (incluindo Trotsky, assassinado no exílio em 1940).

O seu mandato como líder supremo da União Soviética, que se prolongou por três décadas, ficou assinalado por um rasto de terror a que não escapou a hierarquia política e militar do regime durante a "grande purga" de 1936/39, o ditador moscovita ordenou a execução de dezenas de membros do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e de generais que se haviam distinguido no combate a Franco, nas fileiras republicanas, durante a guerra civil espanhola.

Fontes independentes avaliam em 20 milhões de mortos o número de vítimas dos "anos de chumbo" do estalinismo, marcado por execuções sumárias de opositores, torturas nos cárceres da política política, deportações para os sinistros gulags ("campos de reabilitação" situados nas neves da Sibéria, onde um número incontável de cidadãos soviéticos pereceu) e vagas de fome nas regiões agrícolas, submetidas à colectivização forçada. Em 1956, o próprio sucessor de Estaline, Nikita Krutchov, denunciou a "intolerância, a brutalidade e os abusos de poder" do ditador.

(DN Online)


Um anjo, um herói, o salvador do mundo, em suma...

Passaram-se de vez!

Depois disto, quem é que ainda os pode levar a sério?




Comunistas 'reabilitam' o mandato de Estaline

Ex-ditador soviético descrito como "revolucionário" nas páginas do "Avante!"

"Estaline homenageado" na Sibéria mereceu notícia no "Avante!", entre indisfarçáveis elogios

O Avante!, órgão central do PCP, "reabilitou" nas duas últimas semanas o dirigente comunista mais polémico de sempre. Após um longo período de silêncio, Estaline voltou a estar em foco no semanário comunista a propósito do 60.º aniversário do fim da II Guerra Mundial na Europa. O jornal dedicou mesmo uma notícia, na sua última edição, ao antigo ditador soviético sob o título "Estaline homenageado".

A notícia, ao alto de uma página, sublinha que "milhares de pessoas" assistiram à inauguração de uma estátua do ex-ditador na cidade de Mirni, na Sibéria. "O presidente do município, Anatoli Popov, destacou Estaline como 'um filho ilustre da Rússia que entregou a seu povo tudo o que tinha talento, capacidades de organizador, firmeza e fidelidade, e não pediu nada em troca'."

Nesta mesma edição, em artigo assinado pelo chefe de redacção do Avante!, destaca-se a "figura de Estaline", que "não pode ser isolada dos outros dirigentes" da União Soviética, "tal como o PCUS [Partido Comunista da União Soviética] não podia encontrar-se isolado da vontade dos milhões de soviéticos, comunistas ou não".

Leandro Martins, que é membro do Comité Central do PCP, vai mais longe "Estaline teve o seu papel na vitória ao lado do povo." O chefe de Redacção do Avante! não estranha, por isso, que na Rússia actual "voltem a aparecer cidades em que se dá o nome de Estaline a ruas".

O antigo ditador, responsável por milhões de mortos na extinta URSS, é qualificado de "revolucionário soviético" pelo chefe de Redacção do Avante!. Leandro Martins elogia o regime que vigorou em Moscovo entre 1917 e 1991. Na sua opinião, foi "a mais brilhante conquista da história da humanidade".

Este membro do Comité Central denuncia aqueles que, na Rússia actual, mencionam os "crimes" (escrevendo a palavra deste modo, entre aspas) de Estaline. E contrapõe o antigo ditador soviético ao Prémio Nobel da Paz Mikhail Gorbatchov, último líder da União Soviética, enaltecendo o primeiro e denegrindo o segundo.

"Se Estaline teve o seu papel na vitória ao lado do povo, Gorbatchov teve o papel principal na derrota do socialismo, acompanhanado apenas por arrivistas e traidores de que se rodeou", escreve o chefe de Redacção do Avante!.

A "reabilitação" de Estaline teve início na edição de 5 de Maio do Avante!, que elogiava em manchete "a inteligência, coragem e determinação do Exército Vermelho, dirigido pelo PCUS" [de Estaline] na II Guerra Mundial. Nessa edição, num texto assinado por Luís Carapinha, dizia-se que o regime estalinista "salvou a Europa e o mundo do fascismo e abriu novos horizontes à luta de libertação dos povos".

Também nesse número do jornal comunista, Manuela Bernardino, membro da Comissão Política do PCP, destacava por sua vez o "contributo decisivo da URSS, do seu povo e do Exército Vermelho", em contraponto aos "compromissos, a conciliação e a traição da burguesia e dos seus governos que facilitaram o avanço do fascismo e o desencadeamento" da II Grande Guerra. Sem qualquer referência ao pacto de não-agressão entre a Alemanha nazi e a URSS, assinado em 23 de Agosto de 1939 pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de Hitler e Estaline. Nove dias depois, a 1 de Setembro, começava o conflito mundial.

Ao abrigo desse pacto, enquanto as forças de Hitler atacavam os polacos pelo Ocidente, o Exército Vermelho ocupou o Leste da Polónia. Em 19 de Setembro, um comunicado conjunto germano-soviético assinalava que a tarefa dos dois países era "restaurar a paz e a ordem perturbadas pela desintegração do Estado polaco". Varsóvia cairia dez dias mais tarde.

Estaline é ainda elogiado, no Avante! de 5 de Maio, por ter promovido a liberdade religiosa na URSS "A igreja ortodoxa mantinha abertos ao culto, nessa altura de grandes riscos e sacrifícios, 20 mil templos, 67 mosteiros, oito seminários, três academias teológicas e dispunha de 31 mil sacerdotes ordenados. Quanto à questão polémica de se saber se existia ou não, na URSS, liberdade religiosa, estes números podem falar por si", escreve Jorge Messias, habitual colaborador do jornal.


(DN Online)






sábado, maio 14, 2005

Subscrevo

Manuel Alegre



Manuel Alegre é cada vez mais provável como candidato à Presidência da República. Apesar da vantagem que Cavaco Silva claramente tem sobre qualquer candidato, engana-se quem o dá como simples candidato para marcar presença. Alegre não é apenas um grande tribuno. É um homem com pensamento político estruturado, uma referência do regime democrático, e alguém com espessura cultural bastante para ser levado muito a sério. Hoje, a esquerda não tem melhor.

(DN online)





'Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não'

quarta-feira, maio 11, 2005

Alternativas na noite

No próximo sábado, mais de 1200 museus da Europa abrirão as suas portas à primeira edição da "Noite dos Museus", alargando os seus horários para explorar o tema "Luz(es) na Noite". Entre as mais de três dezenas de museus portugueses que responderam ao convite da Direcção de Museus de França estará o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), com sete propostas trabalhadas em parceria com outros agentes culturais, dirigidas a diversos públicos e também a quantos, por variadas razões, não são frequentadores de museus.

Um dos objectivos será, justamente, o de o "abrir aos públicos que frequentam a zona ribeirinha da Avenida 24 de Julho públicos mais jovens, que porventura ignoram a existência do museu", fisicamente ali tão próximo, "ou não têm como motivação a sua visita", como salientou ontem a sua directora, Dalila Rodrigues, na apresentação do programa do MNAA para esta "Noite dos Museus".

Para o fazer, a equipa estabeleceu pontes com o cinema - em parceria com a Cinemateca Portuguesa -, a música e a moda - com os organizadores das Manobras de Maio -, num programa "diversificado que só foi possível graças à generosidade dos nossos parceiros e patrocinadores, dada a crise financeira que os museus atravessam" em Portugal. Um programa "praticamente sem custos de produção", lembrou Dalila Rodrigues, mas que "não fez cedências em matéria de coerência e de qualidade".

Nas Janelas Verdes, este sábado especial começará às 17.30, com a inauguração de "Desenhos de Domingos Sequeira (1768-1837) 30 anos de aquisições", exposição temporária que simultaneamente prestará um tributo a Maria Alice Beaumont, antiga directora do museu, falecida em 2004, e que, em 1975, reunira em álbum toda a produção de Sequeira no campo do desenho constante do acervo do MNAA.

Às 18.00, o museu será palco de um concerto de guitarras por alunos da Escola Superior de Música de Lisboa e, às 18.30, de uma performance de Miguel Palma. Às 19.30, a edição 2005 das Manobras de Maio tomará conta do Largo Dr. José de Figueiredo, fronteiro à entrada lateral do museu e, entre as 21.30 e a 01.00, serão projectados no seu auditório os filmes Marnie, de Alfred Hitchcock, e El Sol del Membrillo, de Victor Erice. "Sempre com a luz como tema estruturante", seguir-se-ão, entre a meia-noite e a 01.00, visitas guiadas a uma selecção de sete obras de pintura, dos séculos XVI a XIX, e, já no encerramento, jogos de luz em projecção digital.

A "Noite dos Museus", na qual Portugal participará com museus de diferentes tutelas, sucede - recorde-se - à celebrada "Primavera dos Museus", evento anual que a Direcção de Museus de França lançara em 1999 e que rapidamente ganhou expressão europeia.

(DN Online)


Não percebi. Importa-se de repetir?

A CONSTITUIÇÃO EUROPEIA E O CONCEITO 'RATZINGER' DE LIBERDADE

Para Joseph Ratzinger, "o conceito de discriminação está a ampliar-se ao ponto de que a proibição de discriminar pode transformar-se, cada vez mais, numa limitação da liberdade de opinião e da liberdade religiosa".

O modo como o texto (da Constituição Europeia) entende a não discriminação é também limitativo do pensamento da Igreja. O cardeal Joseph Ratzinger exemplificou "Qualquer dia já ninguém poderá afirmar que a homossexualidade constitui, como ensina a Igreja Católica, uma desordem objectiva na estruturação da existência humana". Outro exemplo: "O facto de a Igreja considerar que as mulheres não têm direito à ordenação sacerdotal, começa a ser visto, por alguns, como inconciliável com o espírito da Constituição."


Isto é tão supinamente estúpido que daria vontade de rir, não fosse a nefasta influência da igreja católica em grande parte do mundo.


Maio de 68



"L'agresseur n'est pas celui qui se révolte mais celui qui réprime"

(do blog 'pantanero')


Nostalgia de Maio

Mais uma vez se recorda e celebra em Maio aquele Maio de 68. (...) Os olhos brilham, o pensamento voa e as palavras ganham novo vigor, sim, porque naquele Maio houve ideais, houve a ilusão de um mundo novo. Como não vibrar com aquele realismo estudantil a exigir o impossível?

É esse Maio jovem, rebelde, esse Maio mítico de todas as loucuras, que com tremenda nostalgia recordamos (...). Num tempo dos pequenos egoísmos, de cada um por si – que a vida não está para loucuras! –, em que os estudantes estudam, os trabalhadores trabalham, os governantes governam ou pedem que os deixem governar, celebra-se um tempo em que não foi assim. Como não recordar o Maio da revolução, de entrega pessoal, de todos os empenhamentos, numa época em que ninguém se está para chatear, em que as listas às associações de estudantes são únicas, em que, na grande maioria dos casos, o empenhamento político é nulo ou se limita ao interesse por uma carreira?

As narrativas épicas de 68, Maio, Paris, as contestações estudantis em Coimbra e Lisboa, sobre "aqueles tempos em que era", são atiradas à face desta juventude de agora, da "geração rasca" de um tempo em que nada é. Só que os trinta anos que passaram sobre esse Maio são os mesmos trinta anos que passaram pelos estudantes universitários de então, agora cinquentões instalados e acomodados na vida de empresários de sucesso, de médicos com clínica e de turbo-professores. Os rebeldes de 68 adaptaram-se bem ao realismo do possível.

"Maio morreu, como morrem todas as estações" escrevia já em 1970 António José Saraiva no seu livro Maio e a Crise da Civilização Burguesa, o melhor documento que em Portugal ficou do Maio de 68. (...) Mas o sonho da transformação do mundo, apesar de ser hoje pouco sonhado, não morreu. Como as estações voltará.

António José Saraiva viu no Maio de 68 que a transformação do mundo não é de ordem social ou económica, mas sim de ordem espiritual e cultural. Escreve ele: "Só por outra via se pode esperar uma transformação da civilização e da vida. Só de uma semente nova que os sindicatos, os partidos, as instituições, as ideologias conhecidas, não conhecem. Ela germina na arte, nas formas profundas, intersubjectivas, não racionalizadas das relações entre as pessoas. Não nos traz um melhoramento, um acréscimo, um progresso em relação ao que está, mas outra coisa que ignoramos, ou de que nos tínhamos esquecido. … A semente de que falo é a subjectividade que ficou à margem do Progresso, mas que aflora na história de maneira incompreensível para os historiadores burgueses. É dela que nascem experiências místicas de várias religiões; aventuras absurdas do ponto de vista burguês, como a de Francisco de Assis ou a de Ghandi; revoltas como a de Tolstoi. É por ela que se explica, por exemplo, no seio do Império Romano, a expansão irresistível do Cristianismo primitivo – o que se situava, por princípio, à margem de toda a problemática política, social e científica." (pp. 42 e 43)


António Fidalgo

in 'As barbas de um ministro'

sexta-feira, maio 06, 2005

Lisboa vista por Joshua Benoliel


Praça do Comércio em Setembro de 1918


Rua de S. Roque, 2 de Março de 1910


Praça Marquês de Pombal, 14 de Maio de 1926


Estação de Santa Apolónia, Outubro de 1911


Lisboa. Antiga Casa Havanesa - princípio do séc. XX


Lisboa, rua do Chiado (rua Garrett) – princípios do séc. XX

LISBOA PHOTO

Lisboa vai ser inundada por exposições de fotografia e sobre fotografia, do próximo dia 18 até Junho. É uma aposta da Câmara Municipal de Lisboa para a II Bienal LisboaPhoto, que compreende um núcleo central de 15 exposições produzidas pela organização, além de outros 20 eventos expositivos, que se aglomeram num programa paralelo da responsabilidade de galerias de arte e escolas de fotografia e arte da capital.(...)



fotojornalismo. Uma das "pérolas" do evento que se prolonga por dois meses é a exposição retrospectiva sobre a obra de Joshua Benoliel (1873-1932), considerado como um dos pioneiros do fotojornalismo em Portugal.

O material de uma outra exposição, Corpo Diferenciado, saiu do espólio do Instituto de Medicina Legal , e aborda o uso dado à fotografia pelas instituições médicas e judiciárias em Portugal nas primeiras décadas do século XX.

(in DN ONLINE)

domingo, maio 01, 2005

Domingo de Ramos

(...) A seguir pôs-se a falar do Primeiro de Maio. Aquele. O que teve lugar apenas uma semana depois do 25 de Abril. Aquele em que a cidade toda enlouqueceu e ainda estou para perceber como é que no fim não caímos ao chão para nunca mais nos levantarmos, fulminados por uma descarga de energia colectiva a que não é suposto os seres humanos sobreviverem.
Depois pede à tua mãe que te conte. Eu não sou capaz.
A tua mãe disse que dessa vez andara pelas ruas durante três dias. Nunca se lembrara de telefonar para casa. Não conseguia lembrar-se de grande coisa.
Ou antes, corrigiu logo a seguir. Lembro-me muito bem de uma coisa. (...)
Lembro-me de estar parada no passeio a ver desfilar a multidão, disse a tua mãe. E, de repente, pensei que estava a assistir ao Domingo de Ramos. (...)
Pensei, disse a tua mãe. Pensei que estávamos a coroar um rei que íamos crucificar poucos dias mais tarde.


(Clara Pinto Correia - Domingo de Ramos)

Cantar a Liberdade

Quando o avião aqui chegou
quando o mês de Maio começou
eu olhei para ti
e então eu entendi
foi um sonho mau que já passou
foi um mau bocado que acabou

Tinha esta viola numa mão
uma flor vermelha n'outra mão
tinha um grande amor
marcado pela dor
e quando a fronteira me abraçou
foi esta bagagem que encontrou

Eu vim de longe
de muito longe
o que eu andei p'ra'qui chegar
Eu vou p'ra longe
p'ra muito longe
onde nos vamos encontrar
com o que temos p'ra nos dar

E então olhei à minha volta
vi tanta esperança andar à solta
que não hesitei
e os hinos cantei
foram frutos do meu coração
feitos de alegria e de paixão
(...)

(Eu Vim de Longe - José Mário Branco)

Maio de 74

1º de Maio de 1974 - O Primeiro Comício em Liberdade


(foto de Luís Vasconcelos, in VISAOONLINE)

1º de Maio

Origem do 1º. de Maio

O dia 1º. de Maio está desde o século XIX intimanente ligado à luta dos trabalhadores por melhores condições de vida. Esta dia assinala uma série de greves, realizadas em 1886, nos Estados Unidos, com o objectivo de conquistar o dia de oito horas de trabalho.

A 20 de Agosto de 1866, no Congresso Operário, em Baltimore, fora aprovado um documento que reivindicava a redução dos horário de trabalho. A luta dos trabalhadores americanos culminou nas greves de 1886. Neste ano, em Chicago, as greves foram violentamente reprimidas, tendo no dia 3 de Maio, causado um morto e muitos feridos. A polícia, a soldo do patronato, acusou os trabalhadores pelo sucedido e prendeu os principais dirigentes operários. A 20 de Agosto de 1886, oito militantes operários compareceram ante o tribunal de Cook County, tendo sido julgados e condenados à morte. A dois deles, Fielden e Schward, foi a condenação comutada em prisão perpétua e a um terceiro a 15 anos de prisão. A sentença cumpriu-se a 11 de Novembro de 1887 sobre quatro dos detidos já que o outro, Ling, se suicidou na véspera do enforcamento. Em 1893, e após um longo inquérito, o governador do Estado de Illinois reconheceu a inocência das vítimas de Chicago.

Na cidade de Paris, em 1889, diversas organizações internacionais de operários consagram o dia 1º. de Maio como o dia internacional de solidariedade e luta dos trabalhadores, passando a ser comemorado na Europa no ano seguinte.

Em Portugal, em 1887, o jornal anarquista Revolução Social relatava os acontecimentos de Chicago e iniciava uma campanha de solidariedade com os trabalhadores americanos. Em 1890 o dia 1º. de Maio passa a ser também comemorado em Portugal. Apenas em 1919 foi estabelecida em vários sectores económicos a jornada das oito horas de trabalho.

Pouco depois do derrube da ditadura a 25 de Abril de 1974, o 1º. de Maio foi declarado feriado nacional. Neste mesmo ano assistiu-se em todo o país a impressionantes manifestações. Em Lisboa mais de um milhão de pessoas participaram numa manifestação que percorreu a Av. Almirante Reis e terminou no Estádio da FNAT, que então passou a ser designado Estádio 1º. de Maio.

Vietname

Foi há 30 anos.

Vietname - Os Filmes

APOCALYPSE NOW de Francis Ford Coppolla (1979)










PLATOON de Oliver Stone (1986)










GOOD MORNING, VIETNAM de Barry Levinson (1987)







Vietname

"AS IMAGENS COLAM-SE NA MEMÓRIA" (IAN BERRY, FOTÓGRAFO DA MAGNUM)


















(Fotos de Bruno Barbey)




















(Fotos de Philip Jones Griffiths)

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