sexta-feira, agosto 26, 2005

Uma imagem que vale por mil palavras


Imagem MERIS obtida a 21 de Agosto"Rastos de fumos provenientes de devastantes e incontroláveis fogos florestais de Portugal Continental espalham-se ao longo do oceano Atlântico nesta imagem do satélite Envisat obtida a 21 de Agosto."

(visto no 'Absorto')

http://absorto.blogspot.com/

Calamidade

"O problema é localizado. Repare-se que a dimensão da área ardida não chega a 3 por cento do território nacional. Não há que confundir o que são hectares ardidos com uma calamidade."[Jaime Silva, Ministro da Agricultura, sobre a possibilidade de accionar o Plano Nacional de Emergência, no Público de hoje]

"Uff, são só 3% e não 10% ou 100%", deve pensar o leitor de jornais e revistas, "afinal não é uma calamidade."Claro que 3% é uma calamidade. Mas a calamidade maior é termos gente tão cega a governar este país.

(visto no 'Aba de Heisenberg')

http://www.abaheisenberg.blogspot.com/

Quando leio coisas destas, fico tão furiosa, que só me imagino a dar um par de lambadas no ministro.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Costa, "O Grande"
Por: Daniel Arruda

Fogos ficam nas mãos de Costa


É uma decisão sábia. Até agora Costa tem lidado bem com a situação. Tem deixado arder em lume brando, sem levantar ondas, distribuindo umas culpas por aqui, outras por ali, sempre sem se chamuscar muito. Soube impedir o 1º Ministro de voltar de férias, manter o seu "status".....
Ainda para mais Costa tem mostrado uma capacidade invulgar para liderar com o disparate, os dele entenda-se. Eu não tenho dúvidas que no governo não haja mais ninguém que consiga dizer e fazer tantos disparates sem se rir dele próprio. Ninguém com uma ambição tão cega que o faça fazer figuras tão tristes com a cara mais séria possível.
Por outro lado, entendo a posição de Sócrates. Sendo o país o menos importante (o que importa realmente é a imagem dele próprio), depois de tanta asneira feita no "capítulo fogos", Sócrates não vai querer pegar nisto. Quem começou que acabe, nem que seja preciso arder o país todo.
Resumindo, esta é a imagem de um governo. Das suas quintas, das suas ambições pessoais e onde os interesses do país não existem, a menos que sirvam os interesses pessoais de alguns.

Daniel Arruda, no 'Troll Urbano'

http://troll-urbano.weblog.com.pt/
A Arder

Sócrates virou costas ao país para fotografar girafas e hipopótamos, e vira-as agora aos jornalistas que o interpelam. Com o habitual ar de enfado blasé que o caracteriza, tolera com esforço os desabafos de meia dúzia de populares que lhe pedem as devidas meças. Com o desplante próprio de quem tem mais em que pensar, explica que apenas "ontem" se verificou uma "ocorrência extraordinária de incêndios", razão pela qual apenas agora foi pedida ajuda à União europeia. Um anónimo, de esgar desesperado, sugere "calamidade", mas Sócrates limita-se a quase sorrir, retorquindo que "calamidade" (enquanto conceito jurídico?), não é aquilo. Ao mesmo tempo, insta a população civil a voluntariar-se, para ajudar no combate às chamas.
Já Jorge Sampaio, um outro quido preocupado com os destinos chamuscados da nação (de férias desde o início de Julho) interrompeu finalmente os banhos frescos para se "inteirar" da situação. Reunido com meia dúzia de "operacionais" num "centro de decisão" qualquer, acaba por, mais uma vez, se limitar a proferir meia dúzia de banalidades que, de tão banais (passe o pleonasmo), são quase ofensivas para os ouvidos de quem combate os fogos e a exaustão há já vários dias.
Noutro canal, um presidente, penso que da associação de bombeiros profissionais (ou coisa parecida), diz algo que só pode ser mentira (só pode): que estes continuam disponíveis nos quartéis e à espera de serem chamados. Parece que são cerca de 800. O ministro da Administração Interna (que tem o mérito de se mostrar preocupado), diz que não pode fazer nada porque aqueles profissionais são da competência dos municípios. Mas confirma: faltam meios e gente para combater os fogos... E pronto, mais uma aberração que fica aparentemente sem explicação, neste país que verga sob o peso das cinzas.
Entretanto, e enquanto as gentes apagam fogos a braçadas de balde, que das torneiras nem um fio, o mesmo ministro anuncia em triunfo que o mais importante, agora, é criar um consórcio europeu que construa aviões de combate aos incêndios, para acabar com a dependência dos canadairs. O mais importante. Ai. Na mesma linha insana de actuação, um outro ministro (o do ambiente?), prometeu há uns dias ceder àgua do Alqueva a Espanha, pois parece que temos que chegue e que tal não comprometerá as nossas reservas. Duplo ai.
Enquanto ardem mais uns milhares de hectares, o primeiro-ministro aquieta as hostes, desvendando que estão para chegar mais meios aéreos, emprestados, esquecendo-se de acrescentar que serão sempre insuficientes e que chegarão sempre tarde de mais. Por momentos, proponho-me a um simples e breve exercício de demagogia e relembro o ministro Portas de má memória e os milhões gastos em submarinos inúteis, permitindo-me supor que três destes talvez dessem para seis ou sete Canadairs, e que talvez (só talvez, quiçá, quem sabe...) estes dessem mais jeito a Portugal do que aqueles.
Por fim, cansada, constato que, seguramente engasgados com o fumo e subjugados à canícula estival que lhes terá derretido os cérebros e a vergonha, esta gente que nos governa enlouqueceu de vez.
As imagens televisivas que se sucedem, dia após dia, lembram um retorno à tevê a preto e branco dos idos de setenta. Pelo ecrã passeiam-se jornalistas afogueados, com o cansaço e os nervos na voz; atrás destes, bombeiros barrigudos, carregados de boas intenções, correm que nem baratas tontas, dão e recebem ordens gritadas que ninguém cumpre, esticam mangueiras que se partem, abrem torneiras que não deitam água, fogem com o fogo a lamber-lhes os traseiros e carregam velhinhos que se negam a aceitar a tragédia; as mulheres choram e os homens apagam as labaredas, que lhes comem os jardins e as hortas, a baldes de água meio vazios. Nos olhos raiados de sangue dos bombeiros, lê-se o desespero e, nos gestos, vê-se o atordoamento de quem não está preparado, nem física nem estrategicamente, para vencer o cabrão deste inimigo que é o fogo.
Em artigos de opinião, em entrevistas, nos blogues, em conversas de café, as nossas existências pequenas e mesquinhas digladiam-se em picardias intelectuais e perdemos tempo a discutir se o fogo é ou não bom para a regeneração cíclica da vegetação autóctone, como se estivéssemos numa qualquer era glaciar ou no início da formação do mundo, e como se o facto de arderem eucaliptos (esses invasores malvados que tudo secam ao redor) fosse, no fundo, uma coisa boa, porque depois cresceria a vegetação natural da zona ( como se a vegetação natural que entretanto despontasse não fosse imediatamente engolida pelas chamas no ano seguinte...).
E quase ninguém fala nos animais que morrem asfixiados e carbonizados, o que me aflige especialmente, pois imagino-os encurralados pelas várias frentes de fogo que os filhos da puta dos incendiários ateiam em simultâneo, sem fuga possível. Ninguém se lembra dos pássaros nos ninhos, das raposas, texugos, doninhas, aves de rapina, lagartos, cobras, coelhos e das muitas outras espécies, algumas delas raras, outras que se extinguem para sempre, designadamente quando o fogo atinge ecossistemas particulares e únicos como os que existem em parques naturais e em áreas protegidas.
E os juízes de turno, fartinhos de julgarem onde fica a extrema do terreno e quem desferiu a sacholada na cabeça de quem, enjoados que estão até à medula da mancha verde que vêm da janela do seu gabinete, isolados no longínquo tribunal de província onde aterraram e sonhando com a promoção que finalmente os trará para os confortos betonados da cidade grande, sujeitam a apresentações periódicas, presumíveis incendiários (não obstante a pena para o crime de incêndio ir de 3 a 10 anos e a prisão preventiva ter, aqui, todo o cabimento, como única medida passível de afastar o perigo de continuação da actividade criminosa).
E eu, interrogo-me: será que as pessoas que vêem a tragédia filtrada pelo conforto inodoro dos ecrãs, à temperatura ambiente das suas salas de estar, se apercebem de como a mesma as afecta, a uma e cada uma delas, pessoalmente? Será que os pais, por exemplo, realizam que, a cada mancha verde que desaparece, explode exponencialmente o risco de as suas crianças padecerem de toda a espécie de insuficiências respiratórias e alergias? Será que não percebem que os fogos não são uma coisa que acontece lá longe (e cujo único resquício é esta mancha negra horizontal que paira no céus), mas que, quando ardem as plantas e os bichos, somos todos nós que ardemos?, nós, que também somos feitos de terra, nós, cujo sangue que nos corre nas veias é seiva que corre nas árvores?
Às vezes apetece-me gritar (até para mim própria, notem) Abri os olhos!, gente que passais a vida enfornados nos vossos assépticos apartamentos citadinos, cubículos de vaidade onde mal cabem os vossos egos insuflados. Abri os olhos, gente que se enoja ao primeiro salpico de lama e rebenta em erupções cutâneas à mera ideia do despontar da verdura primaveril. Acordai!, que a Natureza está a desaparecer e o futuro dos vossos filhos está a arder. Convencei-vos de uma coisa: sem Ela por perto, nós somos nada - e não há cá plasmas, nem ipodes, nem pecês xispeteó, nem playstations, nem turbos último modelo que nos salvem, se teimarmos em renegá-la e em empurrá-la para o quintal do vizinho ou para aquela abstracção longínqua a que convencionámos chamar de campo.
Dá-me ganas, isto tudo. Alguém tem que pagar por esta desgraça. Não, não falo do retorno aos obscuros meandros medievais da vindicta privada (embora...) , mas sim da responsabilização efectiva. A responsabilização política de quem vem permitindo esta catástrofe, descurando a prevenção e desprezando as suas consequências (tratando com laxismo quem a provoca); e a responsabilização criminal de quem larga o lastro do fogo por este país fora. Cá para mim, era prisão com eles: preventiva, primeiro e, depois, efectiva, por muito anos e bons. E, se possível fosse, umas horitas na frigideira, à moda do Tarrafal - facto que talvez os dissuadisse de voltarem a pegar num fósforo nos tempos mais próximos. Mas pronto, já sei: isto é um país democrático. Não há quem o governe, já lá dizia o Júlio César, mas não deixa de ser uma democracia, que não andámos a enfiar cravos nos canos das espingardas para nada.Por isso (infelizmente), os incendiários têm direitos, os madeireiros e os patos-bravos, também, e os políticos, então, esses, nem se fala: têm todos os direitos, incluindo o direito às chamadas férias-avestruz (em que, enquanto descansam lá longe e no fresquinho, enfiam as cabecinhas na areia e fingem que não vêem) e o direito de gozarem indecentemente com a nossa miséria ano após ano e de (não obstante) ninguém lhes partir as caras-de-pau, em directo e no prime time.O que é pena.

(escrito na areia por vieira do mar no 'controversa maresia')

http://controversamaresia.blogspot.com/

Credibilidade

A credibilidade é como a virgindade: quando se perde, não mais se recupera. Foi o que aconteceu com a polícia britânica. Em cinco minutos perdeu toda a credibilidade, que lhe custou um século a granjear. A Scotland Yard mentiu após ter assassinado a sangue frio o brasileiro Jean-Charles de Menezes. Mesmo com a atenuante de que mentiu no contexto da febre antiterrorista dos atentados de Julho, a mentira é inadmissível quando vem da polícia, que deveria estar vacinada contra a histeria colectiva. Mentiram todos os chefes, que justificaram os sete tiros na cabeça do brasileiro afirmando que vestia um sobretudo, que podia muito bem servir para esconder a bomba que, de acordo com as conjecturas policiais, podia explodir no metro de um momento para o outro. E que, para além disso, levava uma mochila, o que constituía um sinal evidente das suas criminosas intenções. Nem sobretudo, nem mochila, nem bomba. Tudo não passou duma sequência de mentiras para ocultar o embaraço da morte de um inocente. Aquele que mente uma vez não se livra da suspeita de que pode mentir um milhão de vezes. E, para os cidadãos do chapéu de coco, a polícia britânica é mentirosa, como as dos outros países do outro lado do canal. Que vergonha!

(visto no 'Briteiros')

http://briteiros.blogspot.com/

terça-feira, agosto 23, 2005

Gaza

Dó de quem?
(Alexandra Lucas Coelho, JerusalémPublico, 20 de Agosto de 2005)

Dó dos colonos.A mulher a imolar-se pelo fogo, os velhos rabis a correrem com a Tora nos braços, os ortodoxos a rezarem a última oração, as mães a apertarem bebés ao colo, os jovens a serem arrastados por braços e pernas, o soldado a chorar amparado à sua irmã, os tanques, os gritos, as chamas, a guerra.Dó?Perguntem a Mohammad.Quando os seus foram expulsos não ocupavam terra alheia. Não receberam compensações financeiras. Não tiveram caravillas, moshav, kibbutz, cidades que os acolhessem. Não causaram dó em directo. Eram centenas de milhares e não tinham um país seu.Até agora não têm.Ou como Mohammad diz: "Tenho 18 anos e ainda não vivi um dia bonito."Os colonos viveram muitos dias bonitos, nas suas casas bonitas, com jardins bonitos, à beira de praias bonitas. Gush Katif era o paraíso que Deus prometeu, Israel alimentou e os homens fizeram, a partir dos anos 1970. Sharon lá estava, soprando para que crescessem. Seculares e religiosos, funcionários e agricultores, nascidos em Israel ou recém-chegados. Por que não? Se o lugar era tão fértil. Se o clima era tão bom. Se o governo pagava.Assim foi, em Gaza. Quase 9000 colonos para os dias bonitos. Quase um milhão e meio de palestinianos para os dias feios.Um dia de Mohammed Abu Adel, por exemplo. "Acordo com os tiros israelitas e durmo com os tiros israelitas." Entre os dois tiroteios, tenta ir às aulas, subindo todos os dias os 40 quilómetros que vão de Rafah, no Sul, onde mora, à Cidade de Gaza, no Norte, onde estuda. Fica preso nos checkpoints, às vezes horas, às vezes dias.Não sabe o que é um espaço aberto a perder de vista. Porque em Gaza não há espaço e Mohammad nunca saiu de Gaza.Tudo o que conhece são estes 40 e tantos quilómetros de comprimento por uma dezena de largura onde se apertaram os palestinianos expulsos por Israel em 1948, se voltaram a apertar ainda mais quando Israel ocupou Gaza em 1967, e ainda mais quando os colonos chegaram.Dó dos colonos?Não perguntem a Mohammed.Ele só quer acreditar que a retirada israelita vai mesmo mudar os seus dias. Os tiros de manhã, os tiros à noite, a demolição das casas, a humilhação dos checkpoints, a claustrofobia de quem não pode passar a fronteira e estar no Egipto, passar a fronteira e ir a Jerusalém, à Cisjordânia, aos países árabes, à Europa. "Gostava muito de ir a Paris, a Londres, a qualquer outro país..."Anda na universidade a estudar Comércio com uma ideia fixa metida na cabeça, entrar na Polícia, para poder circular livremente. Sair daqui.E não o demovem as palavras do homem que, nesta praça da Cidade de Gaza, em plena retirada israelita, espera como ele que o checkpoint abra para poder descer a Rafah, e se mete na conversa.- Todos os muçulmanos têm que estar aqui - protesta o homem, inflamado.- A Palestina será sempre a Palestina nos nossos corações. Mas a situação pede-nos para sair - responde Mohammed.Mohammed gostava de estar mesmo feliz, mas sabe que "a situação" não acaba aqui. Que o céu por cima da sua cabeça continuará a ser domínio de Israel. Que o mar lá ao fundo continuará a ser patrulhado por Israel. Que tudo o que entra e sai de Gaza continuará a estar nas mãos de Israel. Tudo o que se mexe, tudo o que se come, tudo o que se usa.Dó de quem?

(visto no 'a outra face do espelho')


http://www.outrafacespelho.blogspot.com/

Centrão

A direita, em Portugal, não suporta ser oposição e a esquerda não é capaz de assumir, em pleno, o governo. Duas razões empíricas: o centro político que domina o poder, desde o 25 de Abril, está enleado em negócios cinzentos (ou negros) e em cruzamentos de fretes, na atribuição de lugares e prebendas, além daquilo que a minha imaginação não alcança; por outro lado a tradição política portuguesa, dos últimos 80 anos, está marcada pela ditadura, com um cortejo inenarrável de limitações às liberdades cidadãs.O pensamento político em Portugal oscila entre a tentação populista, fascinante para as grandes massas, e a resignação elitista, comprazida na mobilização em torno de “causas” e “valores” (sejam de “esquerda ou de “direita”).Quem for capaz de fazer obra (pequena, média ou grande) associando realismo, iniciativa e ambição é, pura e simplesmente, eliminado. O centro político, que distribui as benesses, não admite “faltas de respeito” às regras do jogo que tudo sacrifica à defesa dos negócios que aproveitam sempre aos mesmos. Por isso não admira que os políticos “possíveis”, pois o centro não admite senão políticos “possíveis”, vacilem e caiam rapidamente às mãos daqueles que os manipulam nos bastidores com, ou sem, a sua aquiescência.Fica assim dada uma hipótese de explicação para a insignificância aparente de Marques Mendes, para a provável disputa presidencial entre Cavaco e Soares, para a derrota (previsível) de Carrilho, para o “exílio” de Ferro na OCDE, em Paris, para as dificuldades (precoces) do governo de Sócrates, para as opções evasivas de Freitas e para o estrebuchar desesperado de Alegre. O centro está cheio de vazio, mas é quem manda. O resto vegeta, seca ou morre à sua volta.

(visto no 'absorto')

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Lisboa

Rossio, final de uma tarde de Agosto. Turistas melancólicos, possivelmente arrependidos de não terem ido antes passar férias à faixa de Gaza, deambulam entre mendigos dementes que exibem os seus aleijões. Abundam os pontos de interesse para o visitante curioso: a estação do Rossio fechada sem explicações; a fonte do Rossio pichada com letras cirílicas; o entulho e o lixo acumulados nas ruas circundantes; as igrejas fechadas; as duas enormes barracas de lona ponteagudas, eventualmente recuperadas do cerco turco a Viena; o chulo que conduz um Mercedes descapotável exibindo os decibéis da sua aparelhagem.Não me lembro de uma Lisboa tão imunda, desmazelada e caótica como esta de Carmona e Santana.

(visto no 'blogoexisto')

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sexta-feira, agosto 19, 2005

A origem do mal

COMO NASCE O TERRORISMO


Os israelitas estão agora a descobrir como também os seus podem sucumbir à raiva e ao desespero depois de se verem expulsos de terras que consideram suas. Ontem, um segundo atacante israelita alvejou palestinianos desarmados. Morreram quatro. De acordo com a polícia, estes ataques já eram esperados.
Agora, talvez os israelitas comecem a entender melhor como é que a expulsão de milhares e milhares de famílias palestinianas na década de 40 e atrocidades como Deir Yassin geraram multidões de fanáticos dispostos a matar e morrer como vingança.


visto no BdE

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sexta-feira, agosto 12, 2005

Clima

O maior reservatório subterrâneo de metano do planeta, que permanecia congelado há 11.000 anos, está a começar a derreter. Trata-se do pântano gigante de alcatrão da Sibéria ocidental, um milhão de quilómetros quadrados de uma espécie de lago de alcatrão congelado desde a última idade glaciar.

Cientistas russos e britânicos alertaram ontem na revista de divulgação científica New Scientist para este problema e dizem temer que o metano agora libertado possa contribuir para acelerar o aquecimento global do planeta.

O metano é um gás com um efeito de estufa 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono e o pântano na tundra siberiana, do tamanho de França e Alemanha juntos, acumulou durante milhares de anos 70 mil milhões de toneladas de metano, um quarto de todo o metano aprisionado no solo do planeta.

Trata-se de uma área inóspita, uma das menos visitadas do planeta, mas que tem sido uma das maiores vítimas do aquecimento global. Estima-se que na Sibéria ocidental as temperaturas médias tenham subido três graus nos últimos 40 anos. O aquecimento deverá ser causado por uma mistura de factores, que incluem alterações causadas pelo homem, uma mudança cíclica na circulação atmosférica conhecida como circulação do Árctico e as consequências do derreter dos gelos, que deixa oceanos expostos à luz do Sol, que produzem mais calor.

Apesar de este perigo ser conhecido pela comunidade científica internacional, o aviso de que algo de novo se estava a passar partiu de um botânico russo, Serguei Kirpotin, da Universidade Estadual de Tomsk, juntamente com Judith Marquand, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

"É um desastre ecológico, provavelmente é irreversível e está sem dúvida ligado ao aquecimento global. Toda a região subárctica da Sibéria ocidental está a derreter-se, e tudo começou a acontecer nos últimos três ou quatro anos", disse Kirpotin à New Scientist. O que o que era uma imensa extensão de alcatrão congelado já apresenta lagos, alguns com um quilómetro de diâmetro.

Este aviso surge dois meses após um outro relatório que dizia que milhares de lagos na Sibéria oriental desapareceram nos últimos 30 anos. E nos territórios gelados do Alasca (no Norte da América), e do lado de lá do oceano Pacífico, está a acontecer algo semelhante.

"Este era um fenómeno esperado", diz Filipe Duarte Santos, físico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, especialista em alterações climáticas e modelos de estudo do clima. "Estes fenómenos vêm confirmar que os modelos do sistema climático que defendem que o aquecimento global será maior nas latitudes elevadas, como o Árctico, estão certos."

O permafrost absorve mais calor do que o gelo de superfície ou a neve, ao contrário do que se possa pensar, e é mais afectado pelo aumento da temperatura.

Já no início deste ano uma equipa australiana, que coordena um projecto chamado Global Carbon Project, tinha dito que o permafrost é uma das principais causas de agravamento das alterações climáticas, precisamente pelos gases de efeito de estufa que pode libertar para a atmosfera ao derreter.

Filipe Duarte Santos explica ainda que a matéria orgânica presa durante milénios no permafrost, o solo gelado da tundra siberiana, entrará agora em contacto com o ar.

Se os pântanos secarem, à medida que forem derretendo, o metano vai reagir com o oxigénio do ar e escapar-se para a atmosfera como dióxido de carbono. Mas, se estas zonas pantanosas continuarem húmidas, como acontece hoje na Sibéria ocidental, o metano será directamente libertado para a atmosfera, onde terá efeitos mais potenciadores do efeito de estuda, sublinhou Karei Frei, da Universidade da Califórnia, citada pela New Scientist.

(Público on-line)

terça-feira, agosto 09, 2005

Às vezes penso que nunca mais vou escrever sobre a política. Que Sócrates e Vara, Santana e Guedes, o emperuado à espera de nova oportunidade, o lado esquerdo da bancada, são um problema vosso.Mas há dias em que não se pode. Eu sei que isto onde escrevo não é nada. Uma passagem para lado nenhum de alguns amigos que provavelmente pensam o mesmo. Mas houve sempre demasiado silêncio neste mundo. E escrever é refazer o mundo, fazer de conta, opor à força a resistência da reflexão. Como a esquerda não pensa ou não tem onde, tem vergonha ou está de férias, os amigos da bomba atómica andam aí à solta. Ontem o Fernandes, hoje o Pulido Valente. Compreende-se o à vontade. Sessenta anos é muito ano. Sobretudo se não há sobreviventes. Ou se falam japonês. Asseguro-vos: debaixo dos destroços de Hiroshima que as fotografias a sépia repetem, há corpos irreconhecíveis. São os corpos dos que tiveram a felicidade de morrer no primeiro minuto. Porque à medida que nos afastamos do epicentro, aumentam as penas de ter escapado. O Japão era um país feudal, governado por uma oligarquia despótica e que dera provas de imensa ferocidade em todos os países ocupados. Okinawa tinha sido terrível. Mas o Japão estava sozinho quando na Europa já se tinha festejado a libertação. Hitler, Mussolini e os seus cúmplices mortos, em fuga, ou a branquearem os alinhamentos anteriores, sem iniciativa. A arma atómica era uma coisa nova. Não se conheciam os efeitos, diz-se. Mas os cientistas que nela trabalharam- e que devem ser considerados criminosos de guerra, conjuntamente com os políticos e militares que deram a ordem da sua utilização - sabiam com que materiais trabalhavam. A radioactividade era conhecida, bem como a existência de efeitos a médio e longo prazo. O alvo e o ponto de deflagração das bombas foram escolhidos em função da maximização dos efeitos letais na população. Não apenas os objectivos eram civis como estava a ser utilizada uma arma sem paralelo nem correspondência histórica. Não que a história abunde de ética. Mas os fins não justificam os meios. E se sessenta anos não ensinaram nada aos nossos historiadores e líderes de opinião temos que tirar conclusões. Eles hoje não se opõem ao terrorismo islâmico por ser terrorista mas por ser islâmico. Fosse ele em favor dos sagrados objectivos do livre comércio e da democracia e seria justificado, pelos vistos. Os neo cons teorizaram assim quando propuseram a guerra preventiva. Os panfletos das escolas corânicas não devem dizer coisa muito diferente.No fim da segunda guerra mundial o campo aliado lutava contra o Eixo e lutava entre si para assegurar posições no futuro. Os golpes que vibravam à Alemanha e ao Japão tinham sempre um segundo objectivo estratético. Os soviéticos entraram na Alemanha com a bandeira vermelha e na caminhada de Berlim não se distinguiram muito das hordas nazis no seu solo, uns anos antes. O bombardeamento de Dresden pela RAF foi um crime. Mas usavam as mesmas armas dos inimigos. No Japão, há sessenta anos cometeu-se a outra face do Holocausto. A incineração dos amarelos. Lamento ter mostrado as cinzas. Não é coisa que se faça. Estes debates devem ser limpos, como as acções de formação nas universidades americanas, para ex- esquerdistas convertidos ao escutismo. Acontece que ter estado do lado vencedor não significa que deixe de se considerar a vida de Suzikura Aboe, uma rapariga de dezasseis anos que morreu no Hospital Central de Hiroshima (escolhido para o epicentro da deflagração), tão digna de apreço, tão barbaramente ceifada, como a de Anne Frank morta de exaustão e desgosto num campo perto de nós.

Em 'A natureza do mal'

http://anaturezadomal.blogspot.com/

Prato típico

visto no 'agrafo'

Incêndio florestal à portuguesa (versão curta, escrita ao som de uma sirene que não pára de tocar)
Escolha árvores de lucro rápido que larguem grandes quantidades de matéria altamente combustível durante todo o ano, por forma a tornar economicamente inviável a limpeza da «floresta». O pinheiro e o eucalipto têm sido as mais bem sucedidas, mas há outras igualmente desadequadas à formação de «floresta» no nosso clima que também podem, quem sabe, produzir bons resultados. Investigue, descubra. Por melhor que a festa esteja, a sua criatividade é sempre bem vinda. Plante as árvores ao molho, de preferência em grandes extensões de terreno sem grandes acessibilidades. Polvilhe com casario disperso. Se gostar da coisa mais condimentada, acrescente alguns interesses económicos pouco claros, meia dúzia de pirómanos e uns milhares de labregos de sortes variadas. Espere pelo calor e indigne-se com a ineficácia dos meios de combate perante o resultado obtido. Chore, berre, insulte. Veja as notícias tolhido/a pelo horror. Acima de tudo, não se esqueça de ficar espantado/a: é aí que reside o sentido do momento. Como já deve ter percebido, o incêndio florestal, mais que um prato típico, é um ritual.

http://agrafo.net/blog/

segunda-feira, agosto 08, 2005

Coincidências

visto no 'blogue de esquerda':

OS TERRENOS, OS ESTUDOS
Ah, e ainda mais isto:
O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, foi sócio de uma das empresas que está a realizar estudos de consultoria técnica para o aeroporto da Ota. De acordo com o semanário O Independente, a Consulmar foi sócia de Mário Lino na Impacte-Ambiente e Desenvolvimento, uma outra empresa de consultadoria ambiental, entre 1991 e 1996. Mário Lino tinha uma quota de 20 por cento na Impacte e ocupou os cargos de sócio-gerente e director.
Ou Portugal é um bidé, em que é impossível toda a gente não estar ligada a tudo, ou...


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Relatividades

Não me lembro com precisão do ano, mas como nessa altura ainda vivia em Cascais, terá sido no Verão de 1996 ou 97. Um incêndio de grandes proporções na Quinta da Marinha, quem diria! As labaredas viam-se na Gandarinha e no Rosário, a um quilómetro de distância. O sobressalto foi medonho. Mobilizou-se este mundo e o outro, a tv interrompeu a novela para dar reportagem em directo, puseram-se a salvo os cavalos do centro hípico, uma famosa empresa de transportes retirou em tempo recorde valiosíssimas obras de arte de alguns residentes, a casa de um conhecido CEO (várias vezes ministro) foi pasto das chamas, mas felizmente foi só uma, rolos de fumo negro interditaram a marginal do Guincho, o parque de campismo da Areia teve de ser evacuado, mas como eram só freaks e casais soixante-huitard ninguém se preocupou, embora os respeitáveis moradores do Birre, entre eles um tonitruante general, assustados com a proximidade do fogo, tivessem apelado aos poderes fáticos. Uma noite de pesadelo. Um porta-voz de Champallimaud lembrou ao governo que «um desastre» teria consequências. A imprensa registou que as casas de Balsemão e Freitas do Amaral continuavam intactas. Comparado com a devastação sistemática dos últimos anos, o incêncio «da Quinta» foi uma brincadeira. Agora o país arde de Norte a Sul. Dois terços, ou coisa que o valha, da floresta, foram pró caneco. Em Ourém parece que arderam vinte casas. Noutro sítio qualquer, mais oito (porém desabitadas). Em qualquer dos casos, casas e haveres de gente pobre. Um amigo cínico diz-me que não é o país que arde, «são as traseiras do país». É por ser assim que ninguém se rala. É por ser assim que o ministro Costa tem o desplante de pedir aos empregadores que dêem folga aos «seus» bombeiros, como se o exercício da profissão de bombeiro pudesse ser um part-time, como se a extensão da calamidade pudesse resolver-se com o concurso de indivíduos decerto bem intencionados mas que devem perceber tanto de combate ao fogo como eu percebo de renda de bilros. No dia em que arder uma casa, uma só, e não é preciso que seja num resort da alta-sociedade, basta que seja numa «urbanização» de classe média, e os repórteres da televisão encontrarem pela frente, não, como tem acontecido, «Esta gente cujo rosto / Às vezes luminoso / e outras vezes tosco / / Ora me lembra escravos / Ora me lembra reis [...] a gente que tem / O rosto desenhado / Por paciência e fome...» (Sophia, Geografia, 1967), no dia em que os interlocutores desapossados forem gente das corporações estabelecidas, nesse dia, o enfado do ministro Costa encontra resposta à altura. Até lá, como me diz esse amigo cínico, «o fogo sempre ajuda a limpar a porcaria». Ou muito me engano, ou vai ser essa a conclusão do tal relatório previsto para 31 de Outubro.

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Quando Freitas do Amaral deu aquela controvertida entrevista ao DN, a tal do «Never say never», ficou toda a gente escandalizada com as afirmações do ministro acerca dos níveis de corrupção em Portugal, os quais poderiam aferir-se pelo padrão angolano. Muito inconveniente, de facto. Agora que o mensalão brasileiro tresanda, e não tarda temos aí uma delegação da CPI a fazer perguntas pouco próprias a uns senhores que não estão habituados ao crivo da opinião pública e às regras de transparência das sociedades evoluídas, tais afirmações começam a fazer sentido. Não é preciso fazer parte do inner circle de Freitas para perceber que não é pessoa de mandar bocas à toa, ainda para mais na qualidade de MNE. Só ainda não se percebeu o timing. Lá chegaremos. Ou muito me engano, ou a CPI é capaz de dar uma ajudinha. Se vier a saber-se que não houve um, mas vários jantares (e almoços) ao mais alto nível, a coisa fica preta. Em tudo isto, uma lição: o desassombro dos media brasileiros. A coisa é com eles, a gente sabe. Mas a conexão portuguesa é bem cabeluda. Talvez fosse altura de puxar uns cordelinhos. O problema é que isso não faz parte da «nossa» tradição jornalística. Quando as Polícias e o MP dão uma mãozinha, há manchetes e sangue. Caso contrário, faz-se edit às «notícias» de agência. O Brasil foi capaz de impugnar um Presidente. Lembram-se? Collor de Mello foi destituído, impedido de concorrer a cargos elegíveis e de exercer cargos públicos durante oito anos, tendo sido acusado de formação de quadrilha e corrupção. Por este andar, o Brasil prepara-se para repetir a dose. Certo, nós por cá ainda não chegámos... ao Brasil. De todo. Mas era bom ver os media com outra genica.

(Eduardo Pitta em 'Da Literatura')

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Comparar alhos e bugalhos

Terrorismo Cristão

No programa de rádio da organização «Focus on the Family» do passado dia 3 de Agosto, dedicado à discussão da blasfema investigação em células estaminais, James C. Dobson, fundador e presidente da maior organização teocrata americana e uma das mais radicais, comparou a investigação em células estaminais embrionárias com as experiências nazis conduzidas com pacientes vivos, durante e antes do Holocausto. Dobson sugeriu ainda que as experiências nazis também poderiam resultar em descobertas que «beneficiariam a humanidade» quando igualou os defensores da investigação a médicos nazis:«Sabe, aquilo que significa tanto para mim neste assunto é que as pessoas falam no potencial para o bem que vem da destruição destes pequenos embriões e como poderemos resolver o problema da diabetes juvenil (...) Mas eu tenho de perguntar: Na Segunda Guerra Mundial os nazis fizeram experiências em seres humanos de formas terríveis nos campos de concentração, e eu imagino, se quiser dispender o tempo para ler sobre isso, que poderiam ter ocorrido experiências que beneficiariam a humanidade».Como é óbvio, as reacções de indignação pública às observações de puro terrorismo psicológico do «piedoso» pastor, ouvidas por cerca de 220 milhões de pessoas no mundo inteiro, não se fizeram esperar. Nomeadamente exigindo um pedido de desculpas público pela enormidade de comparar investigação numa célula, obtida a partir da junção de duas células, com experiências que torturaram e mataram de forma ignóbil incontáveis pessoas! Mais concretamente um pedido de desculpa aos sobreviventes do Holocausto, suas famílias e todos os que sintam ofendidos pela ignóbil comparação. Pedido de desculpas que Dobson se recusou a pronunciar, uma vez que para a «Focus on the Family», como diz a respectiva analista de assuntos éticos, Carrie Gordon Earll:«A analogia com as experiências Nazis é correcta e apropriada. Se algumas desculpas são devidas, são os advogados da destruição de seres humanos embrionários que as deviam fazer».Quanto a Dobson, depois de disponível para comentar as inúmeras críticas, tentou menorizar as suas afirmações, dizendo que tinham sido «exageradas pelos ultra-liberais que não se importam com a vida humana». Mas reafirmou os supostos «exageros» quando, embora concedendo que os embriões, ao contrário das vítimas nazis não sentem dor ou sofrimento, concluiu que as macabras experiências nazis e a investigação em células estaminais são «moralmente equivalentes uma à outra»! E continuou atacando especialmente o Senador Bill Frist, o líder da bancada Republicana no Senado, que num volte face inesperado para os teocratas que se consideram atraiçoados, se declarou a favor de um reforço no financiamento federal para a investigação em células estaminais.Assim Dobson negou-se categoricamente a pedir quaisquer desculpas à comunidade judaica pelas suas afirmações. E Carrie Gordon Earll justificou esta recusa do seu presidente afirmando que a comunidade judaica «deveria ser sensível» às «atrocidades» da investigação.Para azar dos piedosos cristãos, a religião judaica é a única das religiões do livro completamente a favor deste tipo de investigação. Pelo menos os judeus americanos, já que longe de se oporem, a Union of Orthodox Jewish Congregations of America assegurou o reforço do seu apoio à investigação em células estaminais embrionárias. Aliás uma carta da organização endereçada ao Senado assevera isso mesmo.

no 'Diário Ateísta'

http://www.ateismo.net/diario/

E que tal uma queixa por descriminação?

No hospital de Santa Maria, internamento das urgências obstétricas, estão muito avançados para a época: as grávidas têm direito a apoio do marido, parceiro, namorado, em horário de visita muito alargado, caso tenham marido, parceiro, namorado. Se forem grávidas em produção independente, lésbicas com inseminação artificial, se o marido estiver em missão no Iraque, se o parceiro trabalhar em Inglaterra na apanha do morango, se o namorado tiver dado de frosques, já não precisam de apoio algum e, portanto, nada de irmãs, mães, amigas. Desenrasquem-se sozinhas, porque passarinha não entra.
Irmãos, primos, tios, avós, se assumirem o papel do macho responsável pela obra, podem permanecer. Ninguém confirma identidades. Interessa é ser homem. Até pode ser travesti
. Se tem o selo, pertence ao clube dos eleitos.
E que bom é estar na enfermaria, de perna aberta, respondendo às questões íntimas postas pela senhora enfermeira, que depois efectua a muda dos pensos e nos mostra a arrastadeira, e tudo e mais alguma coisa - isto, para poupar pormenores - enquanto os marmanjos amolecidos, em "apoio" às camas do lado, os quais não conhecemos de lado nenhum, e pedimos a Deus que nunca no-los dê a conhecer!, ouvem a data da nossa última menstruação, ficam a saber se somos certas, quantas vezes por dia vamos à casa-de-banho, e tudo e mais alguma coisa - isto, para poupar pormenores.
Este é o mundo que observo: perfeito!

visto em 'O mundo perfeito'

http://omundoperfeito.blogspot.com/

Lê-se e custa a acreditar. Quero dizer, custaria a acreditar se não estivessemos em Portugal. Um país em que, há poucos anos, duas irmãs se viram 'em palpos de aranha' para comprarem casa juntas. Parece que por serem duas mulheres, não podiam...
Quando é que estes casos começam a chegar às instâncias competentes, nacionais e europeias, acompanhados das respectivas queixas de descriminação?

Os filhos...

O filho de Teixeira dos Santos; a filha de Edite Estrela; o irmão de Santana Lopes; o filho de Jorge Sampaio; o filho de Guterres; o filho de Marcelo Rebelo de Sousa; o filho de Otelo; e, e, e... trabalham na PT.

visto no 'Os tempos que correm'

http://valedealmeida.blogspot.com/
Do mal o menos

A sondagem publicada no Expresso sobre os actuais índices de popularidade dos orgãos de soberania e líderes partidários demonstra que muito embora as pessoas estejam desapontadas com o curso de eventos, com as incogruências que vêm do governo e com o estado geral das coisas, acham que Sócrates é o menor dos males, especialmente, quando comparado com o líder do PPD/PSD e respectiva clique. A interrogação que fica é: quanto tempo pode um país, que não crê nos seus políticos, subsistir, pacificamente, com base no raciocínio do menor dos males?

http://paraladebagdade.blogspot.com/

Isto anda tudo ligado

visto no 'Para lá de Bagdade':

Ler os outros: No Bloguítica uma série de posts especulando sobre as possíveis

ligações entre a saída de Campos e Cunha, a entrada do novo Ministro, as suas ligações a Macau e a Stanley Ho, o qual por sua vez está a desenvolver um mega projecto junto à Portela (o qual muito beneficiaria em ter uma melhor ligação ao resto da cidade) e as nomeações para a Caixa, organismo fundamental, enquanto financiador de tudo isto e mais alguma coisa...

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(lembram-se da canção do Sérgio Godinho?)

Desenrasquem-se

visto no 'Plasticina'

Parece que há uma associação de agricultores franceses que ofereceu 4 toneladas de palha para a alimentação do nosso gado.

Parece que a nossa associação de agricultores pediu ao governo para disponibilizar meios para o transporte da dita oferta.

Parece que o nosso governo se descartou desse serviço e propôs aos agricultores usarem os meios de crédito bancário para o efeito.


Nem vou comentar, pois não conseguiria fazê-lo sem ser num tom demasiado desagradável.


http://plasticinina.blogspot.com/

deixa arder...

A indústria dos incêndios

visto no 'Chuinga.i'

A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada.
Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas. Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:


1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica? Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências? Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair? Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis? Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?

2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...

3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.

4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.

5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.
Há cerca de um ano e meio, o então ministro da Agricultura quis fazer um acordo com as direcções das três televisões generalistas em Portugal, no sentido de ser evitada a transmissão de muitas imagens de incêndios durante o Verão. O argumento era que, quanto mais fogo viam no ecrã, mais os incendiários se sentiam motivados a praticar o crime... Participei nessa reunião. Claro que o acordo não foi aceite, mas pessoalmente senti-me indignado. Como era possível que houvesse tantos cidadãos deste país a perder o rendimento da floresta - e até as habitações - e o poder político estivesse preocupado apenas com um aspecto perfeitamente marginal?
Estranhamente, voltamos a ser confrontados com sugestões de responsáveis da administração pública no sentido de se evitar a exibição de imagens de todos os incêndios que assolam o país.

Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime. Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:

1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.

2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).

3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores.

4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.

5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.

6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios. Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.

José Gomes Ferreira - Sub-director de Informação SIC

http://sic.sapo.pt/online/noticias/opiniao/20050804+-+A+industria+dos+incendios.htm

A oportunidade à ignorância

W. Bush acha que a América deve dar, nas escolas, tanta oportunidade à ciência como à ignorância.
Foi no Texas que o presidente, reacendendo a polémica, voltou a defender que nas escolas oficiais se deve pôr o ensino da teoria científica da evolução das espécies a par do ensino da doutrina religiosa do criacionismo: Deus Nosso Senhor criou os homens e, suponho que as mulheres, tal como hoje por aí andam. Umas revelando uma nesga da barriguinha outras de burca até aos pés.
Fred Spilhaus, director da União Geofísica Americana acha que o presidente está a colocar as crianças norte-americanas em risco (de comerem gato por lebre - resumo eu).
O conselheiro científico da Casa Branca John Marburger bem pode declarar ao NYT que o criacionismo não tem base científica e que pelo contrário a teoria da evolução é a pedra angular do biologia moderna. W. Bush faz orelhas moucas e parece-lhe que não tem mais razão do que os pregadores evangélicos que o rodeiam e lhe angariaram boa parte dos dinheiros da campanha eleitoral. [aqui no NYT]ou [aqui no Público]

no 'Puxapalavra'

http://puxapalavra.blogspot.com/

Ensaios Clínicos

Ensaios clínicos efectuados com a utilização do ácido acetilsalisílico na prevenção de doenças cardíacas, demonstrou que esta substância administrada em pequenas quantidades mostra-se ineficaz em utentes do sexo feminino ao contrário do que aconteçe em relação aos utentes masculinos. Agora, segundo um artigo da European Heart Journal, é lançado um alerta aos responsáveis pela programação dos ensaios clínicos destinados a testar substâncias para o tratamento de doenças do coração, sobre a necessidade de incluirem mais mulheres (uma vez que a sua participação nestes ensaios é, normalmente, muito reduzida) para que seja possível apurar a diferença de actuação destas substâncias (eficácia, efeitos adversos) nos homens e nas mulheres.

http://saudesa.blogspot.com/

Votos

Visto no 'Saúde S.A.':

A situação está feia. Apesar da Maioria Absoluta, surgem sintomas preocupantes de que o Governo de José Sócrates poderá deixar de ter condições de governar a curto prazo. O que se seguirá?
Saldanha Sanches interroga-se sobre o futuro do XVII Governo Constitucional num artigo publicado no no Semanário Expresso n.º 1710 de 06.08.05. :
O engenheiro Sócrates começou o seu mandato com medidas impopulares e corajosas..Um largo leque de economistas aplaudiu as suas medidas.A OTA e o TGV alteraram tudo. A mesma coligação que tinha justificado o aumento do IVA e aplaudido os primeiros passos de Sócrates voltou a falar para condenar sem apelo nem agravo os novos investimentos públicos.Só com uma fé ilimitada na intervenção do Estado na economia se pode aplaudir o investimento público português.Quando o pobre eleitor vê que um investimento de milhões e milhões como o Metro do Porto continua a ter à sua frente o major Valentim “batatas” Loureiro.O PS tem a maioria absoluta, mas está a perder de dia para dia aquele mínimo de legitimidade que poderia permitir-lhe fazer as reformas a que não tem maneira de escapar.Vai encontrar em Outubro uma situação social degradada e um sector privado exangue e incapaz de continuar a sustentar o sector público com os seus direitos adquiridos e inviáveis.Crise económica, crise política. Se a perda do ministro das finanças for apenas a primeira perda de um ministro das Finanças e tivermos aquela tão sul-americana dança de cadeiras nas pastas económicas, saberemos também que, com ou sem maioria, o Governo está a prazo.Mas depois de Sócrates o quê ? Um outro governo PS? Não se vê qual. Novas eleições e governo PSD? Sabe-se lá como reagiriam os eleitores e qual seria o nível de abstenção.Seja como for as perspectivas são todas más. Que PSD poderia ser alternativa a este se o Governo deixar de conseguir governar ?Sintomas de que isso pode acontecer não faltam.A OTA e o TGV são a busca desesperada de alternativas. É uma mudança de rumo que pode ser o fim do Governo.Se o fizer perder o único crédito que tinha -a coragem de tomar medidas difíceis – sem que desapareça a necessidade de as tomar, como vai conseguir governar ?

(Saldanha Sanches)

O colapso prematuro do XVII Governo Constitucional constituirá, qualquer que seja a solução seguinte, um sério revés para o país e para a Saúde em particular.
Se imaginarmos o cenário: um novo governo de maioria PSD, Cavaco Silva, presidente da República, e Luís Filipe Pereira, ministro da Saúde, podemos facilmente antever o que acontecerá ao SNS.
Mas o pior cenário possível será o da sucessão de Governos minoritários sem capacidade de manobra a tentarem fazer o que podem.
A coisa está feia e o futuro incerto. Fazemos votos para que o primeiro ministro, José Sócrates, regressado das férias no Quénia, abandone o seu ar empertigado de prima dona, ponha por algum tempo de lado os fatinhos novinhos em folha, irritantemente engomados, as gravatinhas sempre a condizer, como os delegados dos laboratórios farmacêuticos, arregaçe as mangas, vista o fato de trabalho e faça as reformas díficeis a que não podemos fugir para equilibrar esta geringonça.

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Pouco provável, infelizmente

A eventual candidatura [embora pouco provável] de Manuel Alegre seria um bom modo de desmascarar a partidarização obscena da República e para dar expressão a quem não se identifica com o cinismo de Cavaco Silva nem como o oportunismo de Mário Soares, e muito menos aceita as manobras fraudulentas de um líder socialista que quer, a todo custo, calar a ala esquerda do PS.
Se se candidatar, votarei em Manuel Alegre. Até porque acredito que, como em muitas outras coisas da vida, a reciclagem também tem limites.

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E (digo eu) quem garante que Soares seja mais capaz de congregar a esquerda do que Manuel Alegre?
O pior é que, se lhe saír o tiro pela culatra, quem se lixa somos nós. Como já aqui referi anteriormente, antes Soares que Cavaco.

O preço da dança das cadeiras

Dúvida

Quanto custou aos cofres do Estado a remodelação da administração da CGD, ou será que querem que acreditemos que os mandatos foram interrompidos sem serem pagas quaisquer indemnizações?

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Terrorismo e Liberdade

O fim das teses multiculturalistas

A tese do multiculturalismo, em voga na última década e meia no Ocidente, parece estar a chegar ao fim. A posição assumida por britânicos e franceses, de repatriar todos aqueles que incitam o terrorismo e a defesa dos diversos actos perpetrados pelas redes terroristas, tem a sua validade.As sociedades, mesmo as democráticas, não podem ser excessivamente flexíveis e permitir que no seu seio existam defensores da destruição dessa mesma sociedade.No entanto, e a propósito das medidas britânicas e gaulesas, de expulsão de vários imigrantes ou descendentes de imigrantes por causa de palavras de ordem expressas em público, como referiu correctamente o Mayor de Londres, Ken Livingstone, deve ter-se em consideração que as medidas agora anunciadas se tivessem entrado em vigor há duas décadas, todos aqueles que defendiam o preso Nelson Mandela estavam sujeitos a ser deportados.É uma faca de dois gumes. Reconheça-se. Não é fácil. E, ao mínimo golpe, a ferida é profunda. Tanto no seio da sociedade, fazendo virar os nativos contras os imigrantes, qualquer que seja a comunidade; como nas sociedades dos países árabes, onde o extremismo procurará fazer valer o ponto de vista de que os ocidentais estão contra o islamismo. As sociedades democráticas devem prevenir e saber proibir, dentro das regras estritamente democráticas, todo e qualquer estímulo ao ódio.Não podem, porém, engalfinhar a sociedade num colete-de-forças, sob pena de a Liberdade, apanágio de qualquer país livre, ser cerceada. A grande diferença entre sociedades continua a residir na existência ou não de Liberdade.

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clientelismo

De cada vez que o Governo toma uma medida para aumentar as receitas do Estado, pela via da sobrecarga dos impostos e de outras prestações dos contribuintes, está a recusar-se a fazê-lo funcionar de forma eficiente (a fiscalização é uma das suas funções) e a reduzir a sua despesa. Porque não interessa às suas clientelas que o Estado funcione bem.— Caros amigos e camaradas — foi assim que Sócrates iniciou o seu primeiro discurso de vitória nas últimas eleições legislativas, e logo ali me cheirou a esturro.

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Isenção

Para uns é "rentreé", e para os outros é o quê?
Por: Daniel Arruda

Para alguns a política em Portugal resume-se a PS e PSD. O DN faz um artigo com o facto de PS e PSD anteciparem as suas rentreés políticas para o 1º Fim de Semana de Setembro. Mandava o bom rigor jornalistico que informassem também os seus leitores que o PCP faz a sua rentreé nesse mesmo fim de semana com a Festa do Avante e que o Bloco de Esquerda realiza nos mesmos dias no Porto uma conferência nacional aberta a tod@s que nela queiram participar e que também funcionará como ínicio de mais um ano político.
O país é mais do que alguns gostariam que fosse, por muito que lhes custe
.


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Evolução

Quem é que disse que Portugal não evoluia?

Por: Daniel Arruda

Sabíamos que o governo PPD-PSD/CDS-PP tinha sido muito mau. Sabiamos que tinha governado em larga medida aem favor dos lobbys que o tolhiam.
O que não sabiamos é que esse governo tinha sido conivente e parte activa no maior escândalo de corrupção do Brasil.
Parece que a corrupção em Portugal já se internacionalizou. Estamos no bom caminho para a plena integração na nova ordem mundial.
Quem é que disse que Portugal não evoluia?

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Fogo

Para quê ter exército?
Por: Daniel Arruda

Alguém me explica porque é que temos exército?
Estamos em plena época de fogos e os meios que temos no terreno são claramente insuficientes, pese a boa vontade e o emorme esforço dos bombeiros. No meio deste cenário não será altura de os militares deixarem os quarteis e irem para o mato combater este inimigo da nação chamado fogo.
É para mim mais importante do que irem para o Afeganistão defenderem o cú dos americanos.


O ministro António Costa apela à mobilização dos cidadãos na prevenção de incêndios .
E que tal por o exército na rua. A ajudar as populaçoes e os bombeiros. O povo faz o que pode. Alerta, ajuda mas não se pode pedir que se largue os trabalhos e as familias quando os que são pagos pelo estado, com o dinheiro de todos nós estão refastelados nos quarteis ou então em missão no Iraque ou Afeganistão.
António Costa deveria ser o primeiro a ter vergonha e a dar o exemplo e fazer o que lhe compete. Governar.

no 'Troll Urbano'

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Governar para o 'centrão cinzentão'

Crónica de uma desilusão anunciada

Só se desilude quem acalentou esperanças. A hipótese de ter José Sócrates à frente do PS sempre representou um regresso ao pior do guterrismo. Prognosticava-se que daria, como deu, para ganhar as eleições com larga margem. Todos os outros indicadores, que não prenunciavam nada de bom, foram, por isso, menosprezados. As consequências estão à vista, e nem demoraram muito tempo a fazer-se notar.Não se pode dizer que os sectores do PS que apoiaram Sócrates na sua candidatura à liderança do partido o tenham feito discretamente. Pelo contrário, mostraram a cara e todos puderam ver quem eram. No final de Setembro do ano passado, o Público identificava, na primeira fila da recepção ao novo líder, António Costa, Jorge Coelho, Vitalino Canas, Edite Estrela, Jaime Gama, Sérgio Sousa Pinto, Capoulas Santos, Armando Vara e Miranda Calha. As distritais e os autarcas do PS também apoiaram em peso a sua candidatura. Não havia como ser enganado. De resto, ainda antes das eleições, Miranda Calha escrevia, também no Público, um artigo de opinião a declarar o seu apoio a Sócrates. Miranda Calha prognosticava a vitória de Sócrates e avançava quatro razões para isso, sendo a última delas perfeitamente exemplar do que da sua liderança se poderia esperar em relação ao aparelho partidário. Essa quarta razão consistia, muito resumidamente, no facto de Sócrates ter uma visão para o partido, visão essa que não aviltava o aparelho. Sócrates estava com o aparelho e o aparelho estava com Sócrates. Perante os acontecimentos verificados em menos de meio ano de governo Sócrates, chegou a hora de falar claramente. Esta liderança do PS e este governo não têm o valor que afirmam ter. Não contribuem para a credibilidade da governância, não contribuem para a credibilidade do PS e não contribuem para a credibilidade de uma alternativa política à esquerda.
É verdade que não estamos perante uma reedição dos governos PSD-PP, que ainda podem classificar-se como o pior que nos aconteceu nestas últimas décadas. Mas o rumo do país continua a afastar-se, contra as mais elementares regras do bom senso, do trilho que deveria percorrer. O futuro está longe de corresponder aos legítimos desejos de progresso social e económico de qualquer sociedade.
. E o pior é que a luz ao fundo do túnel parece cada vez mais ténue.

O texto, uma vez mais, do 'viva espanha'; e ainda o comentário do autor:

Quero acreditar que a coligação PSD-PP, ou melhor, Barroso/Santana-Portas, representou um marco especialmente baixo da governação. Quero acreditar que ainda estamos num patamar superior à desgraça em que mergulhámos, especialmente com a segunda versão da coligação. Quero acreditar que, no meio deste governo PS, ainda haja alguém de esquerda com poder e vontade para implementar meia dúzia de medidas positivas. Quero acreditar que, por muito baixo que se venha ainda a andar, e isso vai acontecer, não se atingirá esse limite. Cá estarei para dar o braço a torcer se me enganar.(...) Esta maioria absoluta não contou com o meu voto. Daí que não pertença ao grupo dos desiludidos. Sócrates não me convenceu na altura e não fez nada que alterasse essa situação entretanto. Mas não deixa de ser penoso, para quem se define de esquerda, ver o PS enjeitar as oportunidades douradas que se lhe apresentam.

O Risco

Linha de água

O estado a que está a chegar o exercício da política é preocupante. A prática política, tal como tem vindo a ser feita, ganhou uma conotação extremamente negativa. O descrédito instalou-se e ameaça conduzir a uma perspectiva nihilista generalizada. Para o eleitorado, a classe política, na sua generalidade, deixa de merecer confiança. Por arrasto, todo o sistema político sofre também um descrédito e as instituições deixam de merecer respeito. Perdem-se os pontos de referência e as escalas de valores porque, em última análise, resulta tudo no mesmo, quaisquer que sejam os partidos no poder e os detentores efectivos dos cargos.Esta generalização, como todas as generalizações, não é correcta nem justa. Mas cada nova suspeita, cada caso de negligência ou incompetência, cada caso de favorecimento, contribui para o avolumar desta percepção e essa é uma realidade tão incontornável quanto perigosa.A sombra que paira sobre a classe política tende a afastar os mais competentes e sérios. Por exclusão, sendo estes menos, sobram mais dos outros. Não é justo afirmar que a classe política é, no seu todo, ou sequer na sua maioria, incompetente ou desonesta. Mas pode esperar-se que o estigma que a vai cercando impeça a aproximação de caras e ideias novas. Um fenómeno que tende a agravar-se com as redes de influências e de interesses características dos aparelhos partidários, as quais tendem, naturalmente, a salvaguardar-se e a cristalizar as estruturas vigentes. Existe, neste momento, uma necessidade urgente de transparência e ética na prática política. O fantasma da ingovernabilidade já paira no ar, tal como já se levantam vozes que questionam a legitimidade e a longevidade desta República. Duas visões que são, no mínimo, precipitadas. O problema não está tanto no sistema político quanto nos seus representantes. Encontrem-se formas de responsabilizar e manter afastados os maus exemplos e todo o sistema respirará melhor. Não havendo dúvidas sobre o diagnóstico actual, resta ainda um problema nada negligenciável. Este reside no facto ter de se conseguir impor parâmetros éticos fundamentais sem abrir espaço ao aproveitamento populista e demagógico que o tema facilmente suscita. Ninguém pretende que o remédio saia pior que a doença.

em http://vivaespanha.blogspot.com

Lamentavelmente, é muito ténue a linha que nos separa da procura de um remédio pior que a doença. Estão a criar-se condições para que engrosse o número daqueles que clamam por um 'salvador da pátria'. A memória é curta e o desconhecimento da História leva a que o risco não seja negligenciável. Temo que sejamos poucos a recordar o que estes 'Messias' têm feito pelos 'rebanhos' que por eles anseiam.

(Nota: percebi hoje como se inserem links no texto; é tão fácil que vou ali pintar a minha cara de preto e já volto... :/ )

Rolling Heads

Decapitação

Reconheço em mim, olhando para a política nacional, duas tendências distintas. Uma, a de imaginar com facilidade cenários negros. Outra, a de pensar que deveriam rolar cabeças com muita frequência. Por enquanto, não estão visíveis todas as linhas. Nem sequer todos os pontos que elas unem. Mas não há-de faltar muito. E a continuarmos assim, não parece de todo improvável que se possa vir a pedir a maior cabeça de todas.

(ainda do 'Viva Espanha')

O pior (digo eu...) é o cenário que se nos apresentará na continuidade, depois de rolarem as cabeças.

O descrédito do estado

A utilidade do descrédito

A maior notoriedade que os casos de conflitos de interesses e práticas políticas de ética duvidosa têm registado não expressa, forçosamente, um acréscimo, em frequência ou intensidade, desses mesmos comportamentos. Pelo contrário, é possível fazer uma leitura mais positiva e conceber que a tolerância e o silêncio sobre estes assuntos começam a deixar de ser dominantes. A sociedade começa, finalmente, a perder o receio de manifestar publicamente o seu desconforto.
Este é o lado positivo. O lado negativo é que, não havendo responsabilização de todos os que comprovadamente incorrem nestes actos, generaliza-se um sentimento de impunidade. Nada de novo, aliás. Trata-se de algo que se verifica nos mais variados cenários. Sem determinismos, claro, mas igualmente sem ingenuidades. Generalizando-se esse sentimento de impunidade, duas consequências podem surgir em simultâneo. Desde logo, aí sim, uma tendência para aumentarem esses mesmos comportamentos. Em segundo lugar, fruto do péssimo exemplo, uma tendência para aumentarem os incumprimentos para com o Estado, tantas vezes confundido com os homens que, mal ou bem, o representam. E como o descrédito do Estado serve perfeitamente os interesses dos ultra-liberais, daí a defender-se novamente a alienação das suas funções sociais básicas, quer no campo da prestação de serviços quer no campo da regulação e intervenção na economia, irá um pequeno passo. Um pequeno passo que, bem vistas as coisas, acaba também por não ser propriamente novo.

em http://vivaespanha.blogspot.com

domingo, agosto 07, 2005

Foi há 60 anos. O bombardeiro norte-americano B-29 Enola Gay largava às 8:15 da manhã, sobre a cidade japonesa de Hiroshima, a primeira bomba nuclear utilizada em situação de guerra, baptizada "Little Boy". 80 mil pessoas morreram instantaneamente, 48 mil dos 76 mil edifícios da cidade foram destruídos (incluíndo 52 dos 55 hospitais). Sem palavras ao ver o cogumelo originado pela explosão (que provocou no seu epicentro uma onda de calor 900 vezes superior à da superfície solar), que se elevou a 15 quilómetros de altitude, o piloto do Enola Gay só conseguiu dizer: "My God, what have we done?"
Três dias depois, o cenário apocalíptico de Hiroshima repetia-se em Nagasaki. O Japão capitulava, o fim da Segunda Guerra Mundial aproximava-se, e o mundo acordava para o pavor da era nuclear. Estima-se que perto de meio milhão de pessoas tenha morrido nas duas explosões e nos cancros que se originaram entre a população das duas cidades.

Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
(Vinicius, na voz de Ney Matogrosso)

sábado, agosto 06, 2005

Hiroshima



O Japão assinala hoje os 60 anos da explosão da bomba atómica em Hiroxima, que matou 120 mil pessoas, destruiu esta cidade do Sul do país e levou à capitulação nipónica na II Guerra Mundial. Tóquio aproveitou a data para pedir a eliminação completa das armas nucleares através de um projecto de resolução que irá apresentar na ONU.Para assinalar esta data, o Governo japonês reviu a minuta que entrega anualmente desde 1994, simplificando o texto e sublinhando a prioridade de restabelecer a confiança no Tratado de não Proliferação Nuclear. O céu de Hiroxima encheu-se ontem com dez mil balões em forma de pomba com mensagens de paz de membros do Greenpeace, em homenagem aos que morreram no bombardeamento. Voluntários japoneses e estrangeiros, entre eles familiares das vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos EUA, realizaram a "marcha da pedra". Na sua peregrinação de 600 quilómetros, estes voluntários levaram de Nagasáqui a Hiroxima uma estela em pedra de 700 quilos em homenagem a "todos os civis desconhecidos mortos na guerra"."Nós, americanos, pedimos perdão pelas atrocidades de 6 e 9 de Agosto cometidas contra os habitantes de Hiroxima e Nagasáqui", disse Andrea LeBlanc, cujo marido morreu no segundo avião que explodiu contra as Torres Gémeas.Hoje recorda-se um acontecimento que 60 anos depois "continua a destruir o corpo e o coração das suas vítimas", explicou Sunao Tsuboi, um dos últimos hibakusha, como são conhecidos os sobreviventes de Hiroxima.Muitos deles afirmam ter sido vítimas duplas dos americanos e dos seus próprios compatriotas, pela incompreensão de que foram alvo depois da catástrofe. Naquela altura acreditava-se que a radiação era contagiosa e, por isso, as vítimas da explosão nuclear foram discriminadas. teses. Apesar de terem passado 60 anos, a decisão do presidente Harry Truman de usar bombas atómicas em Hiroxima e Nagasáqui ainda deixa os historiadores divididos entre os que falam de uma genial decisão militar e os que a apelidam de crime contra a humanidade.A tese tradicional defende que Truman, uma vez na posse da bomba nuclear, não tinha outra opção senão usá-la contra os japoneses.Segundo cálculos contemporâneos, perto de 250 mil soldados aliados poderiam ter morrido em caso de invasão do Japão, um número demasiado pesado numa guerra que já durava há seis anos.Mesmo em 1945, os responsáveis americanos estavam divididos sobre o recurso à bomba atómica. Sete cientistas do Projecto Manhattan pediram que fosse dada uma hipótese aos japoneses de capitular.O ex-presidente Herbert Hoover intercedeu junto de Truman para prometer aos japoneses que poderiam manter o imperador se o Japão capitulasse. No entanto, para Peter Kuznick, historiador da American University, em Washington, os bombardeamentos de Hiroxima e Nagasáqui são "crimes contra a humanidade".Segundo Kuznick, a Administração Truman não tomou a decisão em função dos cálculos de baixas numa possível invasão, mas porque queria acabar com a guerra antes que a União Soviética pudesse participar na invasão do Japão, o que teria provocado problemas geopolíticos na Ásia do pós-guerra. O professor Tsuyoshi Hasegawa, da Universidade da Califórnia, defende igualmente esta tese, dizendo que a entrada da URSS na guerra do Pacífico teria sido o factor decisivo para o bombardeamento de Hiroxima e Nagasáqui.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Homenagem

Quino condecorado pelo governo espanhol.O pai da irreverente Mafalda, o humorista argentino Joaquin Salvador Lavado – mais conhecido como Quino – vai ser condecorado este domingo, pelo governo espanhol pelos seus méritos «extraordinários de carácter civil».Quino vai recever a Encomienda de Isabel la Católica das mãos do cônsul-geral de Espanha em Buenos Aires, durante uma cerimónio no âmbito do fim da exposição Quino – 50 anos em Mendonza, que decorre naquela província argentina, de onde é natural.

(visto no 'Lua')

Direitos (des)humanos

Segundo um recente relatório da Amnistia Internacional, os Estados Unidos mantêm 70 000 pessoas presas em diversos países do mundo, sem julgamento, sujeitas a torturas físicas e psicológicas, algumas acorrentadas, vendadas e sem direito a alimentos.

visto no blogue de esquerda

quinta-feira, agosto 04, 2005

Vergonha na cara

56 deputados de todos os partidos com exepção do BE, vão receber 1,350 milhões de euros como subsídio de reintegração, o que dá uma média de 24.100 Euros por deputado afectado.
1,350 milhões de euros como subsídio de reintegração?!?!?!?!
Pode até parecer uma gota de água no Orçamento de Estado, mas que é de uma imoralidade gritante disso não existe a menor dúvida. Reintegração de quê? No seu próprio escritório de advogados que nunca largaram? Nas universidades onde estavam de licença sem vencimento? Das consultadorias que continuaram a dar ao longo dos anos? Dos empregos que não perderam porque estavam requisitados pelo Estado?
Tenham vergonha.

(Daniel Arruda, no Troll Urbano, sobre uma uma notícia do Diário Digital)

Recordações do cavaquismo

O declínio do PSD, em meados da década de 90, que culminou na vitória de Guterres, confunde-se com o declínio do cavaquismo. Não foi tanto Fernando Nogueira que perdeu essas eleições legislativas em 95. Foi Cavaco e o seu modelo de governação, o que viria a confirmar-se, se existissem dúvidas, quando perdeu igualmente as eleições presidenciais. A aura de competência e rigor que Cavaco arrasta não tem equivalência com o que foram os seus governos, muito especialmente o segundo mandato. Um primeiro-ministro é o chefe do governo e o seu responsável último. É ele que responde pela equipa governativa e pelas políticas implementadas. Não se pode, por isso, deixar de associar Cavaco Silva aos muitos e muito maus ministros que teve nos seus governos. Ao nível das políticas por eles seguidas, e tendo presente as entradas significativas de dinheiro proveniente da UE, há muito a criticar. Durante os seus mandatos a aposta centrou-se no betão e no alcatrão. Não houve preocupações ambientais, sociais ou éticas. O interior foi progressivamente abandonado, não se fazendo nada para diminuir a desertificação, o envelhecimento da população e o êxodo rural. O litoral foi deixado aos predadores do sector imobiliário e do (mau) turismo, tendo os autores de toda a espécie de crimes ambientais ficado impunes. A já fraca agricultura foi completamente hipotecada aos interesses dos países do Norte e do centro da Europa. A educação foi deixada para segundo plano e nunca passou de uma pasta para queimar ministros. A qualificação da mão-de-obra foi desleixada praticamente até à obsolescência das competências. Verificaram-se fraudes gigantescas na atribuição dos subsídios à agricultura, à indústria e à formação, o que abalou de tal forma a sua credibilidade que ainda hoje existe esse estigma em relação aos apoios comunitários. Em suma, não ficou um único projecto estruturante digno desse nome, com mais valias a médio e longo prazo. Sobrou uma rede de auto-estradas que permite chegar mais depressa a locais onde não existe nada.Da mesma forma, não se pode esquecer a desconsideração perante o parlamento e as oposições e o sistemático bloqueio às suas iniciativas. Os governos de Cavaco não conviveram bem com a pluralidade, o que, independentemente das putativas capacidades técnicas, é sempre um mau indicador democrático. Ao mesmo tempo, alimentaram-se as clientelas partidárias e o caciquismo autárquico, do qual o cavaquistão foi um dos melhores exemplos.A governação de Cavaco Silva também ficou marcada por um estilo muito particular. Os governos de Cavaco sempre evidenciaram sinais de arrogância e de paternalismo, não só perante a oposição, mas também perante todo o país. Criou-se uma separação entre a elite governativa e os eleitores (“deixem-nos trabalhar”), no que isso pode ter de negativo em transparência e em confiança. Algo que a campanha do PS aproveitou muito bem em 1995 e que foi sintetizado em traços distintivos do guterrismo, como o diálogo e a relação com o eleitorado, se bem que mais tarde tenha tido também o seu lado negativo. A imagem que Cavaco cultivou, mais para si do que para os seus governos, tem muito de bafio salazarista: ascética, sobranceira, moralista e autoritária. Uma imagem que continua a cultivar e que pretende acrescentar valor à sua candidatura presidencial. Em verdade se diga, a crise económica que Portugal atravessa e com a crise de identidade que os países ocidentais experimentam em consequência do contexto internacional favorece este tipo de figura. Nos momentos de aflição surgem sempre figuras dispostas a dar o melhor de si para guiarem de novo as nações até ao bom caminho. Os períodos conturbados e nebulosos são solo fértil para o messianismo político.Tanto as hipotéticas candidaturas de Cavaco e de Soares têm, assim, algo de messiânico. O messianismo não é, de forma alguma, um bom sintoma da saúde democrática. Esta é a maior e mais legítima crítica que se pode fazer às orquestrações postas em movimento para transformar em realidade o confronto que não foi possível fazer em 1996. Outras poderão ser feitas tendo por base a falta de renovação dentro dos partidos. Desde logo, para apurar se estes deixaram de conseguir atrair pessoas com perfil político relevante ou se, por outro lado, passaram a reservar as oportunidades políticas para um grupo muito restrito de militantes. Em qualquer dos casos, uma deficiência a necessitar de urgente correcção.O descrédito da política passa, numa grande parte, pelo desfasamento com a sociedade. Nestas eleições joga-se uma carta importante neste capítulo. Sem comprometimento mútuo entre a política e a sociedade não há estratégia de evolução que medre.

Texto do 'Viva Espanha'

E ainda, no mesmo blogue:

Entre Cavaco e Soares
É provável que a reincidência neste tema me conote com o soarismo, seja lá isso o que for. Não é correcto. Serei, em vez disso, anti-Cavaquista. Convictamente, por princípio e por memória.

Subscrevo. Integralmente.

terça-feira, agosto 02, 2005

Pasmem!

"Neste país cada vez mais seco e queimado, apurámos que nenhuma das pessoas levadas a tribunal entre 1998 e 2003 por suspeitas de fogo posto foi condenada a pena de prisão, já que todos viram essa pena ser trocada por uma multa, e que em alguns casos até esta chegou a ser suspensa. Sabemos que se trata de uma área de dificil investigação já que os eventuais vestígios do crime acabam consumidos pelo fogo, mas não se conhecer nenhum culpado num universo de 28222 crimes é algo um pouco constrangedor para este país à beira mar...queimado."

Texto do Feedback (fidback.blogspot.com)


Cheira a esturro, não é?
Porque será?
Até parece que não se deseja efectivamente punir os culpados...será que 'valores mais altos se levantam'? Por estranha associação de ideias, penso em madeireiros e no lobby da construção...

Será desta?

Os portugueses concordam com a iniciativa do PS de ver realizado um referendo sobre a despenalização do aborto ainda este ano. De acordo com os dados da sondagem da Marktest para o DN e TSF, 49,2 por cento dos inquiridos estão de acordo com a realização da consulta popular no último trimestre deste ano, entre as autárquicas de Outubro e as presidenciais de Janeiro. Contra estão 36,8 por cento dos portugueses. A sondagem permite verificar que é entre os jovens (60,3 por cento), e nas regiões da Grande Lisboa (53,9) e do Grande Porto (57,6), que mais se apoia a iniciativa socialista. A maior oposição vem do interior norte do País (45,1). A classe média é a maior defensora do referendo e as classes altas quem mais está contra.

O PS defende a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas e prometeu que a questão iria ser levada aos portugueses durante a legislatura. Antes do Verão, os socialistas avançaram com uma proposta, que foi rejeitada pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, por a consulta poder cair em cima dos meses de férias dos portugueses (com a consequência de uma provável elevada abstenção). Agora, o PS promete voltar à carga em meados de Setembro, com a reapresentação de uma resolução para a realização do referendo. Mas conta, desde já, com a firme oposição do PSD e do CDS/PP.

(DN online)

IMPORTANTE É QUE NÃO SE ENCOLHA OS OMBROS E SE VOTE NO REFERENDO PARA ACABAR DE VEZ COM AS DESIGUALDADES E AS HIPOCRISIAS, COM AS MORTES, COM AS MÁS CONDIÇÕES, COM OS JULGAMENTOS...!

Bastidores da politica

A "maior concentração de estadistas jamais realizada na Suécia", resumia o jornal Afton- bladet, conta o antigo dirigente do PS Rui Mateus, entretanto caído em desgraça no interior do seu partido, no livro Contos Proibidos. Memórias de um PS Desconhecido (Dom Quixote), quando relata pormenorizadamente a criação do Comité de Amizade e Solidariedade com a Democracia e o Socialismo em Portugal.

Face à eventualidade de se implantar uma "Cuba europeia" e de se confirmar a tese de Kissinger de que Soares se tornaria num segundo Kerensky - "comentário não muito diplomático", admitirá, mais tarde, o poderoso secretário de Estado americano, na sua obra Anos de Renovação (Gradiva) -, Olof Palme convidou os primeiro-ministros britânico Harold Wilson, alemão Helmudt Schmidt, austríaco Bruno Kreisky, holandês Joop den Uyl, norueguês Trygve Bratteli, dinamarquês Anker Joergensen, israelita Ytzhak Rabin. Mas também se encontravam nessa cimeira de Haga (arredores de Estocolmo), naquele dia 2 de Agosto de 1975, o então presidente da Internacional Socialista (IS), Hans Janitschek, o seu sucessor e ex-chanceler alemão, Willy Brandt, o ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, James Callagham (autor do plano com o seu nome, que deveria ser accionado, com o apoio da CIA e do MI6, no caso de o PCP e seus aliados tentarem tomar, de facto, o poder), os líderes do Partido Socialista Francês, François Mitterrand, e do Partido Socialista Italiano, Bettino Craxi. Além, obviamente, do convidado de honra, Mário Soares.

A reunião, realça Rui Mateus, foi organizada por Rolf Theorin, a quem os camaradas chamavam o "Fellini Sueco", "devido às suas reconhecidas qualidades de realizador de eventos políticos espectaculares". De resto, esse secretário adjunto para a organização do partido sueco, como regista Juliet Antunes Sablosky, no livro PS e a transição para a democracia (Notícias), foi "visita assídua" em Portugal desde 1974 até finais de 1977.

"Logo após a sua chegada à capital da Suécia [ Soares] afirmaria, com a força de quem tem por detrás de si o mundo ocidental, que 'se os militares no poder em Portugal escolherem a violência e introduzirem uma política de repressão, o Povo Português resistirá'", escreve Mateus naquele livro que, a crer na longa entrevista a Maria João Avillez (Soares. Ditadura e Revolução, Público), o (então) secretário-geral do PS nunca terá lido.

Juliet Sablosky frisa que os "estudos já publicados" põem a tónica apenas no apoio financeiro concedido ao partido de Soares. E, no entanto, um "olhar mais atento revela que o aconselhamento técnico, o apoio moral e as iniciativas diplomáticas, conduzidas no sentido de ajudar Portugal em questões bilaterais ou multilaterais, foram tão ou mais importante" para o PS.

A real importância desta cimeira - apesar da projecção deste inequívoco apoio político da Internacional Socialista ao seu filiado português -, foi sendo tratada com pinças nos primeiros tempos, decerto pelos acordos sobre actividades diplomáticas mais discretas e pelos fundos disponibilizados.

Bruno Kreisky, em Liberdade para Portugal (edição portuguesa da Bertrand), escrevia, no início de 1976 "Foi um encontro bastante sério e decisivo e Soares, presente como convidado, deu-nos uma imagem sombria da situação. Ficou então decidido criar um Comité de Amizade, sob a orientação de Willy Brandt. Mas sob esta designação ocultava-se - se assim lhe posso chamar - uma concentração de forças solidárias das sociais-democracias europeias com a democracia em Portugal e o Partido Socialista."

"E esta solidariedade teve grande significado", prosseguia o governante austríaco da época da revolução dos cravos; "significou que os governos democráticos deviam ajudar Portugal sem quaisquer condições políticas, pois não se queria ferir o orgulho do povo Português com a impressão de paternalismo político. Mais significou a intervenção social-democrata junto do Governo dos Estados Unidos, no sentido de estes não intervirem e prestarem a sua ajuda, incondicionalmente; para os países membros da EFTA, a que Portugal pertencia desde o início, ela significou a concessão de um fundo de desenvolvimento industrial para Portugal no valor de cem milhões de dólares."

"Por outro lado", concluía Kreisky, "constituiu também para os extremistas um aviso contra os exageros. Mais ainda, pretendeu demonstrar a muitos elementos do exército que não estariam sozinhos, caso se dispusessem a definir-se politicamente no sentido do socialismo democrático." Afinal, o encontro de Haga foi no dia 2 e o "Documento dos Nove" (a facção moderada do MFA, próxima do PS) seria publicado cinco dias depois.

Também Willy Brandt se mostrou prudente ao abordar, em 1978, este assunto do contrapoder face aos comunistas nas suas memórias (People and Politics The Years 1960-1975, citado por Sablosky). "O esforço de auxílio que ali se seguiu faz parte de uma história que ainda não pode ser completamente revelada. Foi produto da colaboração secreta entre uns quantos dirigentes partidários sociais-democratas. Não inaugurámos novas sedes e evitámos a publicidade. Em seu lugar, empenhámo-nos em oferecer apoio político e moral concreto, em combater o derrotismo que se estava a apoderar de círculos influentes no Ocidente" - numa clara alusão a Kissinger.

Em 1979, numa entrevista colectiva que resultaria no livro O Futuro Será o Socialismo Democrático (Europa-América), Mário Soares retorquia a uma pergunta "Nós somos um partido da Internacional Socialista e aí contamos com bastantes amigos. Evidentemente, eu sou amigo pessoal do Schmidt, do Willy Brandt, do Callaghan, do Olof Palme, do Yoergensen, do Kreisky, do Mitterrand, etc. Posso pegar em qualquer momento no telefone e falar com eles." Pode-se estabelecer um paralelo com a afirmação de Guterres, quando o ainda líder da oposição disse que tratava por "tu" vários primeiro-ministros europeus.

Mas, na época, parece que Soares ainda optava por não revelar toda a importância desse encontro, que estaria na origem, em Março seguinte, do célebre comício no Palácio de Cristal, no Porto, denominado 'Europa connosco', onde se juntaram Brandt e Palme, Kreisky e Uyl, Mitterrand e González.

Em Outubro de 1992, num texto escrito para o Nouvel Observateur sobre a morte de Brandt (incluído em Intervenções/7, Imprensa Nacional), já Soares era mais claro. O comité de auxílio "foi a advertência da Europa democrática à União Soviética para que não estimulasse o PCP, e os militares do MFA por ele instrumentalizados, a persistir na sua política aventureirista de conquista do poder; mas foi também uma tomada de posição clara em direcção a Washington, onde Kissinger desenvolvia a bizarra teoria de que a conquista do poder pelos comunistas, em Portugal, seria uma verdadeira 'vacina anticomunista' para o resto da Europa."

Em síntese no dia seguinte à Acta Final da Conferência de Helsínquia - onde Costa Gomes juntou o seu nome às assinaturas de Ford e Brejnev (a conferência juntou 33 países europeus, os EUA e o Canadá) nesse compromisso de uma détente na Europa -, a Internacional Socialista, não só tomava uma posição de confronto perante Moscovo (o que tinha sido sempre evitado), como disputava a influência com Washington. E, depois da experiência portuguesa, onde teria êxito, a IS seguiria o mesmo modelo para lidar com as transições espanhola e grega e com as tentativas de democratização na América Latina e no Leste da Europa.




(DN online)

'Boas intenções...'

As esmolas dos G8 e as boas intenções "pop"
Em Julho, os gran­des deste mundo –G8 (e Comissão Europeia) - de­clararam querer acabar com a po­breza em Africa. Cantores e gru­pos «pop» juntaram-se à intenção....
As dí­vidas ao Banco Mundial e ao Banco Africano de De­senvolvimento de 15 dos países africanos mais po­bres foram perdoadas .
(Em África) a sida é devastadora ... mas a malária mata ainda mais gen­te. Metade da população vive com menos de 1 dó­lar por dia. Só 58% da população tem acesso a água potável.
A tanta pobreza, porém, juntam-se fabulo­sas riquezas ... de homens de Estado africanos: Abacha (Nigéria) 20 mil milhões de dólares; Houphouet Boigny (Costa do Marfim), 6; Babangida (Ni­géria), 5; Mobutu (Zai­re), 4; Traore (Mali), 2....
Por is­so, antes de dar mais dinheiro a África, conviria interromper a rou­balheira sistemática de fundos até agora consignados ... Conviria também acabar com o subsídio escandaloso de produ­tos agrícolas europeus e nor­te-americanos que põe fora do mercado mundial a produção dos agricultores africanos e que há de­zenas de anos os vem arruinando.
Estas medidas - contra os clepto­cratas africanos por um lado e o proteccionismo euro-americano por outro - ajudariam mais Afri­ca que mais alguns milhões de dólares, pouco e mal usados.

José Cutileiro. Expresso. Internacional 30-7-2005

Visto no 'Alcatruz'

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