Os bolseiros de investigação científica estão preocupados com o futuro e querem debater publicamente o problema do emprego científico em Portugal. É isso que fazem hoje, na Faculdade de Ciências, a partir das 15 horas, com a apresentação do seu manifesto "Por uma efectiva política nacional de emprego científico uma necessidade inadiável".
O documento, que avança algumas medidas concretas para atacar a questão, foi aprovado em Novembro pela Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) e conta já com quase quatro mil subscritores. Alguns deles, como João Caraça, director Serviço de Ciência da Gulbenkian, João Sentieiro, investigador e secretário do Conselho dos Laboratórios Associados ou Luís Alfaro Cardoso, presidente do conselho científico do Instituto de Investigação Científica Tropical, participam no debate de hoje.
"A questão do emprego científico está exactamente na confluência do que foram duas das bandeiras do actual primeiro-ministro durante a campanha eleitoral: o plano tecnológico e a criação de novos empregos", nota João Ferreira, dirigente da ABIC e um dos promotores da sessão de hoje. "Por isso", sublinha, "pensámos que era uma boa altura para lançar a discussão, até porque é actualmente consensual entre os políticos que o desenvolvimento das sociedades depende do investimento nas áreas da ciência, da tecnologia e da inovação, e portanto de emprego nestas áreas também".
Apesar desse consenso, "não tem havido políticas de fundo concretas para responder a este problema preocupante", nota.
Com quase oito mil bolseiros das mais variadas proveniências e financiados por diferentes instituições, o sistema científico português depende hoje em grande medida desta força de trabalho altamente qualificada , mas precária por natureza. Terminadas as bolsas, a maioria destes jovens não tem perspectivas de inserção no reduzido mercado de trabalho e muitos acabam por sair do País.
Sobre as medidas concretas avançadas no documento da ABIC para resolver a situação, João Ferreira garante "Não inventámos nada. Todas elas constam de relatórios feitos nos últimos anos pelas comissões de avaliação nacionais e internacionais às instituições científicas portuguesas".
(DN online)
quinta-feira, junho 30, 2005
História do PREC - I
Por Luciano Amaral - DN online
Segue longa a discussão que venho mantendo com Manuel de Lucena, a propósito do PS, Soares, e outras personagens do tempo do PREC. Não creio que exista entre nós um desacordo essencial. As diferenças parecem ser sobretudo de nuance. Nessa nuance, porém, talvez se escondam duas leituras daqueles tempos que acabem por ser muito diferentes. Ambos achamos demasiado simples a narrativa predominante segundo a qual a partir de Abril de 74 as forças políticas à esquerda do PC (inclusive) teriam logo tentado instaurar um regime comunista, com o PS e Soares a demonstrarem desde a primeira hora uma determinação resoluta em combatê-las. Ambos concordamos que, numa primeira fase, o PS e Soares participam na radicalização da situação, e, numa segunda, são essenciais para a travar. Onde talvez nos afastemos é nos momentos da passagem de uma para a outra e nas razões por que ambas existiram.
Antes de continuar, vale a pena fazer uma nota estamos aqui a falar do PREC, um processo político tão bizarro que desafia a capacidade para estabelecer uma versão final, até porque a postura de certos actores se altera radicalmente no espaço de um ano, por vezes de meses, por vezes semanas, por vezes (sem exagero) do dia para a noite.
Dito isto, procedo de maneira mais ou menos cronológica. Quando a velha senhora caiu, uma das organizações mais bem posicionadas para ocupar o espaço deixado vazio era o PCP. Eis uma ilustração da ideia de que o PCP era, afinal, mais uma das grandes instituições do Estado Novo, uma espécie de duplo, ou espelho, um contra-Estado Novo, replicando a sua estrutura institucional e tendo-a já colonizado em certa medida (como no caso dos sindicatos). Nem a PIDE escapava a isto o PCP estava de tal maneira infiltrado pela polícia política e os membros do partido passavam tanto tempo nas suas instalações (presos, interrogados e torturados) que não existiria à época ninguém que a conhecesse melhor. Um pouco como n'O Homem que Era Quinta-Feira, de Chesterton, a PIDE justificava-se pela existência do PCP e o PCP pela da PIDE.
Assim, quando o regime tombou, o PCP não teve dificuldade em lançar-se sobre a estrutura institucional deixada oca. É esta substituição que explica um fenómeno nem sempre muito acentuado, a inicial moderação do PCP. O PCP não precisava de nenhuma revolução para conquistar o poder institucional, que lhe caiu (pelo menos em parte) mais ou menos directamente nas mãos. Acresce que esta moderação tem raízes mais fundas. Ela estava inscrita na "Revolução Democrática e Nacional" apresentada e defendida por Cunhal desde 1965, no célebre Rumo à Vitória. Correndo o risco de simplificar, a "Revolução Democrática e Nacional" correspondia ao reconhecimento da autonomia própria de uma institucionalização "capitalista", que mediasse a passagem do "fascismo" para o "socialismo". Segundo essa ideia, o tempo era agora para a instalação em Portugal de uma "democracia burguesa".
O quadro que parece desenhar--se, no período que vai de 25 de Abril a 28 de Setembro, é o de uma nova situação política pluralista, com a direita entregue a Spínola (e Sá Carneiro) e a esquerda ao PCP. Ao PCP interessava, para sobreviver e prosperar, o reconhecimento da direita. À direita interessava um PCP ordeiro, que disciplinasse a previsível convulsão social que viria. A quem parece faltar um papel aqui é ao PS e a Soares. Se a esquerda ordeira era o PCP e a direita democrática a dupla Spínola-Carneiro, que espaço lhe restava? Demonstrando a sua "volubilidade táctica" (palavras de Manuel de Lucena), que depois se viria a tornar famosa, Soares optou inicialmente, para sair da irrelevância, pela radicalização de esquerda. O PCP pedia contenção salarial aos trabalhadores? O PS incitava ao irrealismo. O PCP controlava os sindicatos? O PS tentava o curto-circuito através de comissões de trabalhadores. O PCP propunha (como propôs no I Governo Provisório) uma lei da greve restritiva? O PS opunha-se-lhe (tendo conseguido impedir que fosse aprovada). O PCP era a voz oficializada da esquerda? O PS tentava roubar-lhe o lugar, directamente ou incitando a expansão do esquerdismo, com quem tinha algumas ligações, muitas vezes muito próximas.
Tal como no caso do PCP, não era só a táctica a explicar este movimento. O PS possuía à época um programa político virtualmente indistinguível do PCP de Rumo à Vitória (algo que o próprio Cunhal reconhece). No PS havia de tudo, chegando até aos trotskistas radicais e outros esquerdistas. Convém percebermos que Soares não é um social-democrata à escandinava. Ele é, antes, um republicano radical, que tinha passado pelo PCP e se sente mais próximo da pulsão revolucionária do comunismo do que da pacatez ordeira sueca.
A situação existente entre Abril e Setembro viria a degradar-se progressivamente entre um momento e o outro.
Porquê? Para o percebermos temos de introduzir mais uma personagem crucial o general Spínola. Desenvolvimentos, porém, terão de ficar para o próximo episódio.
PREC - História (1)
Segue longa a discussão que venho mantendo com Manuel de Lucena, a propósito do PS, Soares, e outras personagens do tempo do PREC. Não creio que exista entre nós um desacordo essencial. As diferenças parecem ser sobretudo de nuance. Nessa nuance, porém, talvez se escondam duas leituras daqueles tempos que acabem por ser muito diferentes. Ambos achamos demasiado simples a narrativa predominante segundo a qual a partir de Abril de 74 as forças políticas à esquerda do PC (inclusive) teriam logo tentado instaurar um regime comunista, com o PS e Soares a demonstrarem desde a primeira hora uma determinação resoluta em combatê-las. Ambos concordamos que, numa primeira fase, o PS e Soares participam na radicalização da situação, e, numa segunda, são essenciais para a travar. Onde talvez nos afastemos é nos momentos da passagem de uma para a outra e nas razões por que ambas existiram.
Antes de continuar, vale a pena fazer uma nota estamos aqui a falar do PREC, um processo político tão bizarro que desafia a capacidade para estabelecer uma versão final, até porque a postura de certos actores se altera radicalmente no espaço de um ano, por vezes de meses, por vezes semanas, por vezes (sem exagero) do dia para a noite.
Dito isto, procedo de maneira mais ou menos cronológica. Quando a velha senhora caiu, uma das organizações mais bem posicionadas para ocupar o espaço deixado vazio era o PCP. Eis uma ilustração da ideia de que o PCP era, afinal, mais uma das grandes instituições do Estado Novo, uma espécie de duplo, ou espelho, um contra-Estado Novo, replicando a sua estrutura institucional e tendo-a já colonizado em certa medida (como no caso dos sindicatos). Nem a PIDE escapava a isto o PCP estava de tal maneira infiltrado pela polícia política e os membros do partido passavam tanto tempo nas suas instalações (presos, interrogados e torturados) que não existiria à época ninguém que a conhecesse melhor. Um pouco como n'O Homem que Era Quinta-Feira, de Chesterton, a PIDE justificava-se pela existência do PCP e o PCP pela da PIDE.
Assim, quando o regime tombou, o PCP não teve dificuldade em lançar-se sobre a estrutura institucional deixada oca. É esta substituição que explica um fenómeno nem sempre muito acentuado, a inicial moderação do PCP. O PCP não precisava de nenhuma revolução para conquistar o poder institucional, que lhe caiu (pelo menos em parte) mais ou menos directamente nas mãos. Acresce que esta moderação tem raízes mais fundas. Ela estava inscrita na "Revolução Democrática e Nacional" apresentada e defendida por Cunhal desde 1965, no célebre Rumo à Vitória. Correndo o risco de simplificar, a "Revolução Democrática e Nacional" correspondia ao reconhecimento da autonomia própria de uma institucionalização "capitalista", que mediasse a passagem do "fascismo" para o "socialismo". Segundo essa ideia, o tempo era agora para a instalação em Portugal de uma "democracia burguesa".
O quadro que parece desenhar--se, no período que vai de 25 de Abril a 28 de Setembro, é o de uma nova situação política pluralista, com a direita entregue a Spínola (e Sá Carneiro) e a esquerda ao PCP. Ao PCP interessava, para sobreviver e prosperar, o reconhecimento da direita. À direita interessava um PCP ordeiro, que disciplinasse a previsível convulsão social que viria. A quem parece faltar um papel aqui é ao PS e a Soares. Se a esquerda ordeira era o PCP e a direita democrática a dupla Spínola-Carneiro, que espaço lhe restava? Demonstrando a sua "volubilidade táctica" (palavras de Manuel de Lucena), que depois se viria a tornar famosa, Soares optou inicialmente, para sair da irrelevância, pela radicalização de esquerda. O PCP pedia contenção salarial aos trabalhadores? O PS incitava ao irrealismo. O PCP controlava os sindicatos? O PS tentava o curto-circuito através de comissões de trabalhadores. O PCP propunha (como propôs no I Governo Provisório) uma lei da greve restritiva? O PS opunha-se-lhe (tendo conseguido impedir que fosse aprovada). O PCP era a voz oficializada da esquerda? O PS tentava roubar-lhe o lugar, directamente ou incitando a expansão do esquerdismo, com quem tinha algumas ligações, muitas vezes muito próximas.
Tal como no caso do PCP, não era só a táctica a explicar este movimento. O PS possuía à época um programa político virtualmente indistinguível do PCP de Rumo à Vitória (algo que o próprio Cunhal reconhece). No PS havia de tudo, chegando até aos trotskistas radicais e outros esquerdistas. Convém percebermos que Soares não é um social-democrata à escandinava. Ele é, antes, um republicano radical, que tinha passado pelo PCP e se sente mais próximo da pulsão revolucionária do comunismo do que da pacatez ordeira sueca.
A situação existente entre Abril e Setembro viria a degradar-se progressivamente entre um momento e o outro.
Porquê? Para o percebermos temos de introduzir mais uma personagem crucial o general Spínola. Desenvolvimentos, porém, terão de ficar para o próximo episódio.
PREC - História (1)
Emídio Guerreiro
O mais velho antifascista, o maquis da lendária resistência francesa, o amigo de Humberto Delgado, o fundador da LUAR, o presidente temporário do PPD, o apoiante do PS , após uma vida estendida por três séculos, partiu, ontem, aos 105 anos, para o "Oriente Eterno", como os seus irmãos maçons designam a morte. Emídio Guerreiro foi "uma mistura de Dom Quixote e de Che Guevara", na expressão do advogado conimbricense, fundador do PS e grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), António Arnaut.
O centenário professor de Matemática faleceu no lar de Guimarães que tinha o seu nome, mas o velório será feito, a partir desta manhã, no Palácio Maçónico, em Lisboa. O "Lenine", nome simbólico que escolheu quando foi iniciado, em 1927, na loja Revolta, de Coimbra, era um Príncipe Rosa-Cruz, pois tinha atingido há muito o grau Sete do Rito Francês (que corresponde ao 18 e seguintes do Rito Escocês). Aliás, numa cerimónia em 2003 foi-lhe entregue (e, também, ao seu amigo Fernando Valle, médico de Arganil e fundador do PS) o Grande Colar Maçónico - Ouro, distinção para quem complete 50 anos de vida maçónica "activa, devotada e impoluta".
Na sexta-feira, depois do féretro passar ainda pela Associação 25 de Abril (de que era actualmente o único Sócio de Honra distinguido em vida, uma honra que também partilhou com Fernando Valle), seguirá para a sua cidade natal, onde as suas cinzas serão depositadas no jazigo que a autarquia vimaranense lhe ofereceu no Cemitério da Atouguia.
Filho de uma família republicana, Emídio Guerreiro nasceu em Guimarães, a 6 de Setembro de 1899. Voluntário para combater na I Grande Guerra, acabou por não ser integrado no Corpo Expedicionário Português. A presença em Portugal permitiu-lhe participar numa das revoltas contra a ditadura de Sidónio Pais, o "presidente-rei", em 1917.
Contestatário do Golpe do 28 de Maio, não só seria um dos participantes da Revolta do 7 de Fevereiro de 1927, que podia ter acabado com a recente ditadura militar - se as guarnições de Lisboa se tivessem sublevado, não deixando os sediciosos do Porto isolados -, Emídio Guerreiro nem sequer ligou ao seu estatuto de assistente de Matemática na Faculdade de Ciências e, aquando da visita de Carmona à Invicta, em 1932, imprimiu um panfleto a exortar a população a receber o Presidente da ditadura com "merda, muita merda, merda às mãos-cheias".
Preso e torturado, acabaria por fugir do Aljube e exilar-se em Espanha, onde se envolveria, com o grupo dos "Budas de Madrid" (Jaime Cortesão, Moura Pinto e Jaime de Morais), na fracassada "revolução dos tanques", conforme relatou ao seu biógrafo Encarnação Viegas. Vivendo em Santiago de Compostela, seria surpreendido pelo golpe militar franquista em Vigo, onde se deslocou a pedido do alcaide, ali assistindo, impotente, ao fuzilamento do autarca. Um seu aluno, embora adepto dos falangistas, protegeu o professor, conseguindo-lhe um contacto com o cônsul inglês, que, perante as dificuldades de um irmão maçon, lhe garantiu o embarque num cargueiro para Gibraltar, de onde o português partiria para França.
Logo a seguir, retornava a Espanha, para se bater ao lado dos republicanos contra os falangistas, voltando a passar a mesma fronteira na "leva" dos derrotados. Adoeceu no campo de refugiados, mas conseguiu evadir-se dali, acabando por entrar na clandestinidade e aderir à resistência contra a ocupação nazi. O "capitão Hélio", seu nome de código, foi reconhecido como herói gaulês no fim da II Guerra Mundial, sendo integrado na forças armadas francesas com o posto de capitão e condecorado com a Cruz de Combatente Voluntário na Segunda Guerra Mundial. Desde essa época e até ao fim do Estado Novo, fixou-se em França, onde seria um dos professores que introduziram as matemáticas modernas no ensino liceal.
Mas manteve sempre a sua actividade de oposicionista ao salazarismo. Na Frente Patriótica de Libertação Nacional, criada após a fraude eleitoral de 1958, seria um dos amigos fiéis de Humberto Delgado no exílio do "General sem Medo". E também uma das primeiras vozes a denunciar o seu assassínio pela PIDE. E na Liga de União e Acção Revolucionária (LUAR), que criou para dar legitimidade política à luta interna do grupo de Palma Inácio - com quem, pouco depois, trocaria acusações sobre o destino do dinheiro do assalto da Figueira da Foz.
Regressado a Portugal, foi um dos fundadores do PPD, assumindo mesmo a liderança, em 1975, quando Sá Carneiro se afastou para, depois, regressar em triunfo ao partido - de onde sairia Emídio Guerreiro, que, anos volvidos, dava o seu apoio ao PS. Quando alguém lhe dizia que tinha sido do PSD, lembrava ao DN Vasco Lourenço, nome da Revolução dos Cravos e membro da maçónica Loja 25 de Abril onde ambos pisavam o mesmo "pavimento em mosaico", o velho oposicionista sublinhava "Nunca fui do PSD; fui do PPD."
Agraciado com a Ordem da Liberdade (como comendador, com a faixa entregue por Eanes em 1980, e com a Grã-Cruz, que Sampaio lhe colocou ao pescoço em 2000), manteve até ao fim a mesma jovialidade com que recebeu os convidados que festejaram o seu centenário na Estufa Fria. E depois de se ter uma vida tão longa e de se cumprirem os deveres para com a comunidade - conclui o grão-mestre do GOL, para definir o sentido do luto maçónico -, "tudo está certo e perfeito".
(DN online)
O centenário professor de Matemática faleceu no lar de Guimarães que tinha o seu nome, mas o velório será feito, a partir desta manhã, no Palácio Maçónico, em Lisboa. O "Lenine", nome simbólico que escolheu quando foi iniciado, em 1927, na loja Revolta, de Coimbra, era um Príncipe Rosa-Cruz, pois tinha atingido há muito o grau Sete do Rito Francês (que corresponde ao 18 e seguintes do Rito Escocês). Aliás, numa cerimónia em 2003 foi-lhe entregue (e, também, ao seu amigo Fernando Valle, médico de Arganil e fundador do PS) o Grande Colar Maçónico - Ouro, distinção para quem complete 50 anos de vida maçónica "activa, devotada e impoluta".
Na sexta-feira, depois do féretro passar ainda pela Associação 25 de Abril (de que era actualmente o único Sócio de Honra distinguido em vida, uma honra que também partilhou com Fernando Valle), seguirá para a sua cidade natal, onde as suas cinzas serão depositadas no jazigo que a autarquia vimaranense lhe ofereceu no Cemitério da Atouguia.
Filho de uma família republicana, Emídio Guerreiro nasceu em Guimarães, a 6 de Setembro de 1899. Voluntário para combater na I Grande Guerra, acabou por não ser integrado no Corpo Expedicionário Português. A presença em Portugal permitiu-lhe participar numa das revoltas contra a ditadura de Sidónio Pais, o "presidente-rei", em 1917.
Contestatário do Golpe do 28 de Maio, não só seria um dos participantes da Revolta do 7 de Fevereiro de 1927, que podia ter acabado com a recente ditadura militar - se as guarnições de Lisboa se tivessem sublevado, não deixando os sediciosos do Porto isolados -, Emídio Guerreiro nem sequer ligou ao seu estatuto de assistente de Matemática na Faculdade de Ciências e, aquando da visita de Carmona à Invicta, em 1932, imprimiu um panfleto a exortar a população a receber o Presidente da ditadura com "merda, muita merda, merda às mãos-cheias".
Preso e torturado, acabaria por fugir do Aljube e exilar-se em Espanha, onde se envolveria, com o grupo dos "Budas de Madrid" (Jaime Cortesão, Moura Pinto e Jaime de Morais), na fracassada "revolução dos tanques", conforme relatou ao seu biógrafo Encarnação Viegas. Vivendo em Santiago de Compostela, seria surpreendido pelo golpe militar franquista em Vigo, onde se deslocou a pedido do alcaide, ali assistindo, impotente, ao fuzilamento do autarca. Um seu aluno, embora adepto dos falangistas, protegeu o professor, conseguindo-lhe um contacto com o cônsul inglês, que, perante as dificuldades de um irmão maçon, lhe garantiu o embarque num cargueiro para Gibraltar, de onde o português partiria para França.
Logo a seguir, retornava a Espanha, para se bater ao lado dos republicanos contra os falangistas, voltando a passar a mesma fronteira na "leva" dos derrotados. Adoeceu no campo de refugiados, mas conseguiu evadir-se dali, acabando por entrar na clandestinidade e aderir à resistência contra a ocupação nazi. O "capitão Hélio", seu nome de código, foi reconhecido como herói gaulês no fim da II Guerra Mundial, sendo integrado na forças armadas francesas com o posto de capitão e condecorado com a Cruz de Combatente Voluntário na Segunda Guerra Mundial. Desde essa época e até ao fim do Estado Novo, fixou-se em França, onde seria um dos professores que introduziram as matemáticas modernas no ensino liceal.
Mas manteve sempre a sua actividade de oposicionista ao salazarismo. Na Frente Patriótica de Libertação Nacional, criada após a fraude eleitoral de 1958, seria um dos amigos fiéis de Humberto Delgado no exílio do "General sem Medo". E também uma das primeiras vozes a denunciar o seu assassínio pela PIDE. E na Liga de União e Acção Revolucionária (LUAR), que criou para dar legitimidade política à luta interna do grupo de Palma Inácio - com quem, pouco depois, trocaria acusações sobre o destino do dinheiro do assalto da Figueira da Foz.
Regressado a Portugal, foi um dos fundadores do PPD, assumindo mesmo a liderança, em 1975, quando Sá Carneiro se afastou para, depois, regressar em triunfo ao partido - de onde sairia Emídio Guerreiro, que, anos volvidos, dava o seu apoio ao PS. Quando alguém lhe dizia que tinha sido do PSD, lembrava ao DN Vasco Lourenço, nome da Revolução dos Cravos e membro da maçónica Loja 25 de Abril onde ambos pisavam o mesmo "pavimento em mosaico", o velho oposicionista sublinhava "Nunca fui do PSD; fui do PPD."
Agraciado com a Ordem da Liberdade (como comendador, com a faixa entregue por Eanes em 1980, e com a Grã-Cruz, que Sampaio lhe colocou ao pescoço em 2000), manteve até ao fim a mesma jovialidade com que recebeu os convidados que festejaram o seu centenário na Estufa Fria. E depois de se ter uma vida tão longa e de se cumprirem os deveres para com a comunidade - conclui o grão-mestre do GOL, para definir o sentido do luto maçónico -, "tudo está certo e perfeito".
(DN online)
Espelho meu
Olhares reflectidos:
CCB inaugura hoje 'Espelho Meu'. Com imagens do Portugal existente nos arquivos da magnum e captado agora por três dos seus maiores fotógrafos
Este é agora o Portugal dos imigrantes que Susan Meiselas conheceu no bairro da Cova da Moura, o Portugal onde Miguel Rio Branco procurou as suas raízes familiares, o Portugal das paisagens enigmáticas que Josef Koudelka enquadrou com a sua panorâmica. E este é também o país onde Martin Parr encontrou "nucas fabulosas" e Jean Gaumy fotografou punhos erguidos e um vitorioso beliscão nas bochechas de Mário Soares. O mesmo país onde Thomas Hoepker registou a saudação fascista da Mocidade Portuguesa e Henri Cartier-Bresson retratou um povo triste e temente a Deus. Pela lente de 13 fotógrafos da Magnum, estes reflexos dos últimos 50 anos da nossa História são devolvidos em Espelho Meu, a exposição que o CCB inaugura hoje em Lisboa.
Como disse ontem, na apresentação à imprensa, Andrea Holzherr - que comissaria a exposição com Alexandra Fonseca Pinho -, esta é uma "viagem no tempo" cujo conceito, como sugere o título, joga com o duplo sentido da palavra reflexão. Um desafio feito a partir de "13 pequenos contos sobre Portugal", três dos quais fruto de missões encomendadas para a mostra. A não perder, até 28 de Agosto.
Quando, há quatro anos, Alexandra Fonseca Pinho introduziu a palavra Portugal no motor de busca do site da Magnum, estava longe de imaginar que o computador não lhe poderia mostrar tudo. Havia mais de mil imagens, desde os primeiros trabalhos de Cartier-Bresson e Inge Morath em meados nos anos 50. Entusiasmada com a descoberta e com o interesse manifestado pelos próprios fotógrafos depois de lhes dizer que gostaria de mostrar esses registos a outras pessoas, resolveu propor a organização de uma exposição ao CCB.
Perante um espólio que, como recordou Diane Dufour, directora da Magnum Paris, ultrapassa 1,5 milhões de documentos, foi preciso "escavar nos arquivos" - o que, a par das mudanças na estrutura administrativa e directiva do CCB, atrasou um projecto que entretanto acabou por chegar a bom termo com o apoio mecenático do BES.
"O arquivo era riquíssimo mas, ao virar do século, não havia mais nada", recordou a comissária portuguesa, a propósito do que encontrou na mais lendária e reputada das agências de fotojornalismo, fundada em 1947 por Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, David "Chim" Seymour e George Rodger. Assim se justifica o convite feito a Meiselas, Koudelka e Rio Branco.
"Isto só se poderia conseguir com fotógrafos cuja maturidade fosse inquestionável", afirmou Alexandra Pinho, que dessas visões pessoais tentou excluir os clichés de postal ilustrado. "Havia uma certa ideia [do Portugal] das casinhas brancas e das mulheres de negro, e de repente houve certas coisas que os prenderam."
Neste "Portugal visto sob o olhar de outrém", como lhe chamou Delfim Sardo, director do Centro de Exposições do CCB, cruzam-se perspectivas que, na sua diversidade de abordagens temáticas e formais, se completam. Algumas, resultantes de várias viagens.
Organizada em flashback, Espelho Meu dedica os núcleos iniciais aos trabalhos realizados recentemente, incluindo as séries de Martin Parr datadas de 1998-2000 Ooh la la, com as tais nucas que o fascinaram em Braga, e Auto-retratos, homenagem em forma de calendário ou postal colorido às técnicas e recursos dos estúdios fotográficos populares. Não falta sequer o cavalinho de madeira. Seguem-se as calçadas e volumes de cor descobertos por Gueorgui Pinkhassov. E os ciganos fotografados em 1998 por Bruce Gilden.
Com um "salto" de duas décadas pelo meio, o tempo continua a recuar. Surge então o olhar poeticamente desassombrado de Koudelka, numa praia, na planície, na taberna onde a mesa aguarda clientela. Suspendem-se os rostos e corpos tensos que Gilles Peress viu durante o período revolucionário. O contraste, captado por Jean Gaumy, entre o sorriso de Mário Soares e o olhar derrotado de Álvaro Cunhal após as legislativas de 1975. Os plenários e o 1º de Maio de 1974 segundo Guy Le Querrec. Ainda mais atrás, o dia- -a-dia provinciano que Thomas Hoepker observou em Trás-os-Montes durante a ditadura de Salazar. As elegantes personagens citadinas de Bruno Barbey. A Alfama que Inge Morath encontrou em 1956. E as cinco imagens que Cartier-Bresson fixou de um Portugal que já não existe mas continua vivo na memória nacional.
(DN online)
CCB inaugura hoje 'Espelho Meu'. Com imagens do Portugal existente nos arquivos da magnum e captado agora por três dos seus maiores fotógrafos
Este é agora o Portugal dos imigrantes que Susan Meiselas conheceu no bairro da Cova da Moura, o Portugal onde Miguel Rio Branco procurou as suas raízes familiares, o Portugal das paisagens enigmáticas que Josef Koudelka enquadrou com a sua panorâmica. E este é também o país onde Martin Parr encontrou "nucas fabulosas" e Jean Gaumy fotografou punhos erguidos e um vitorioso beliscão nas bochechas de Mário Soares. O mesmo país onde Thomas Hoepker registou a saudação fascista da Mocidade Portuguesa e Henri Cartier-Bresson retratou um povo triste e temente a Deus. Pela lente de 13 fotógrafos da Magnum, estes reflexos dos últimos 50 anos da nossa História são devolvidos em Espelho Meu, a exposição que o CCB inaugura hoje em Lisboa.
Como disse ontem, na apresentação à imprensa, Andrea Holzherr - que comissaria a exposição com Alexandra Fonseca Pinho -, esta é uma "viagem no tempo" cujo conceito, como sugere o título, joga com o duplo sentido da palavra reflexão. Um desafio feito a partir de "13 pequenos contos sobre Portugal", três dos quais fruto de missões encomendadas para a mostra. A não perder, até 28 de Agosto.
Quando, há quatro anos, Alexandra Fonseca Pinho introduziu a palavra Portugal no motor de busca do site da Magnum, estava longe de imaginar que o computador não lhe poderia mostrar tudo. Havia mais de mil imagens, desde os primeiros trabalhos de Cartier-Bresson e Inge Morath em meados nos anos 50. Entusiasmada com a descoberta e com o interesse manifestado pelos próprios fotógrafos depois de lhes dizer que gostaria de mostrar esses registos a outras pessoas, resolveu propor a organização de uma exposição ao CCB.
Perante um espólio que, como recordou Diane Dufour, directora da Magnum Paris, ultrapassa 1,5 milhões de documentos, foi preciso "escavar nos arquivos" - o que, a par das mudanças na estrutura administrativa e directiva do CCB, atrasou um projecto que entretanto acabou por chegar a bom termo com o apoio mecenático do BES.
"O arquivo era riquíssimo mas, ao virar do século, não havia mais nada", recordou a comissária portuguesa, a propósito do que encontrou na mais lendária e reputada das agências de fotojornalismo, fundada em 1947 por Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, David "Chim" Seymour e George Rodger. Assim se justifica o convite feito a Meiselas, Koudelka e Rio Branco.
"Isto só se poderia conseguir com fotógrafos cuja maturidade fosse inquestionável", afirmou Alexandra Pinho, que dessas visões pessoais tentou excluir os clichés de postal ilustrado. "Havia uma certa ideia [do Portugal] das casinhas brancas e das mulheres de negro, e de repente houve certas coisas que os prenderam."
Neste "Portugal visto sob o olhar de outrém", como lhe chamou Delfim Sardo, director do Centro de Exposições do CCB, cruzam-se perspectivas que, na sua diversidade de abordagens temáticas e formais, se completam. Algumas, resultantes de várias viagens.
Organizada em flashback, Espelho Meu dedica os núcleos iniciais aos trabalhos realizados recentemente, incluindo as séries de Martin Parr datadas de 1998-2000 Ooh la la, com as tais nucas que o fascinaram em Braga, e Auto-retratos, homenagem em forma de calendário ou postal colorido às técnicas e recursos dos estúdios fotográficos populares. Não falta sequer o cavalinho de madeira. Seguem-se as calçadas e volumes de cor descobertos por Gueorgui Pinkhassov. E os ciganos fotografados em 1998 por Bruce Gilden.
Com um "salto" de duas décadas pelo meio, o tempo continua a recuar. Surge então o olhar poeticamente desassombrado de Koudelka, numa praia, na planície, na taberna onde a mesa aguarda clientela. Suspendem-se os rostos e corpos tensos que Gilles Peress viu durante o período revolucionário. O contraste, captado por Jean Gaumy, entre o sorriso de Mário Soares e o olhar derrotado de Álvaro Cunhal após as legislativas de 1975. Os plenários e o 1º de Maio de 1974 segundo Guy Le Querrec. Ainda mais atrás, o dia- -a-dia provinciano que Thomas Hoepker observou em Trás-os-Montes durante a ditadura de Salazar. As elegantes personagens citadinas de Bruno Barbey. A Alfama que Inge Morath encontrou em 1956. E as cinco imagens que Cartier-Bresson fixou de um Portugal que já não existe mas continua vivo na memória nacional.
(DN online)
Portugal pelas objectivas da MagnumPhotos
Para a norte-americana Susan Meiselas, este "era um país pequeno que era enorme". Por ser desconhecido. Para o checo Josef Koudelka, que em 1971 foi detido quando acompanhava uma peregrinação de ciganos a Fátima, regressar foi uma "grande oportunidade para redescobrir Portugal e ver o quanto mudou". Para o brasileiro Miguel Rio Branco, que fez por cá a escola primária, o convite foi uma motivação para procurar as raízes que perdeu. Três fotógrafos da Magnum com olhares distintos sobre a mesma realidade aceitaram o desafio feito, em 2004, pelo CCB. Eis o que viram.
Susan Meiselas: Três semanas na Cova da Moura revelaram a Susan Meiselas (Maryland, 1948) que há muito mais naquele bairro do que a má fama associada à criminalidade e tráfico de droga. "Colaboração é a palavra certa", resumiu ontem a fotógrafa na conferência de imprensa. Os habitantes deixaram-na ver como vivem. Fotografar um beijo, um encontro nocturno na esquina do costume, as tralhas que se amontoam numa existência de precariedade. Retratos de cores vivas que, no CCB, não dissimulam o que encontrou.
Com o apoio no terreno da associação Moinho da Juventude, Meiselas quis retribuir a dádiva. E das polaroids que foi fazendo com quem estabeleceu relações resolveu organizar uma exposição. No bairro. Chamou-lhe Nós Kasa e mostra em cordas de roupa, até 17 de Julho, rostos de quem ali mora.
Josef Koudelka: Os portugueses "são mais ricos do que eram antes. E muitas das paisagens têm sido destruídas, como em todo o lado", concluiu o fotógrafo checo (Morávia, 1938), após seis semanas que se saldaram em 12 mil quilómetros percorridos de Norte a Sul. Para «P.P» -o célebre Prague Photographer, que assim assinou e deu a conhecer ao mundo a invasão de Praga pelos tanques soviéticos, em 1968 -, este regresso soube a surpresa mas também ao reencontro com o "prazer" de voltar a fotografar "com a luz que aqui existe".
No Porto, captou uma das mais belas imagens jamais feitas sobre a Ponte D. Luíz I. Um olhar mágico sobre o monumento em obras que emerge da bruma do Douro. Na Granja captou a textura das ondas e nas areias do Guincho os "esqueletos" das passadeiras de madeira no Inverno. Ainda fotografa gente, mas só as grandes panorâmicas de paisagem o levam já a imprimir. Sempre a preto e branco.
Miguel Rio Branco: Vidros embaciados, bancos de igreja, o coração que a pedra parece ter dado a si própria, as castanhas assadas a saltar da casca. Santos de altar e personagens de pintura, calçadas e portas, paredes de cal comida e roupa estendida ao vento. Assim são os polípticos de Miguel Rio Branco (Las Palmas, 1946), o único dos três fotógrafos que não pode estar presente na apresentação. É o Portugal que emocionadamente reencontrou, com a paleta sépia das imagens que se confundem na (e com a) memória.
(DN online)
Susan Meiselas: Três semanas na Cova da Moura revelaram a Susan Meiselas (Maryland, 1948) que há muito mais naquele bairro do que a má fama associada à criminalidade e tráfico de droga. "Colaboração é a palavra certa", resumiu ontem a fotógrafa na conferência de imprensa. Os habitantes deixaram-na ver como vivem. Fotografar um beijo, um encontro nocturno na esquina do costume, as tralhas que se amontoam numa existência de precariedade. Retratos de cores vivas que, no CCB, não dissimulam o que encontrou.
Com o apoio no terreno da associação Moinho da Juventude, Meiselas quis retribuir a dádiva. E das polaroids que foi fazendo com quem estabeleceu relações resolveu organizar uma exposição. No bairro. Chamou-lhe Nós Kasa e mostra em cordas de roupa, até 17 de Julho, rostos de quem ali mora.
Josef Koudelka: Os portugueses "são mais ricos do que eram antes. E muitas das paisagens têm sido destruídas, como em todo o lado", concluiu o fotógrafo checo (Morávia, 1938), após seis semanas que se saldaram em 12 mil quilómetros percorridos de Norte a Sul. Para «P.P» -o célebre Prague Photographer, que assim assinou e deu a conhecer ao mundo a invasão de Praga pelos tanques soviéticos, em 1968 -, este regresso soube a surpresa mas também ao reencontro com o "prazer" de voltar a fotografar "com a luz que aqui existe".
No Porto, captou uma das mais belas imagens jamais feitas sobre a Ponte D. Luíz I. Um olhar mágico sobre o monumento em obras que emerge da bruma do Douro. Na Granja captou a textura das ondas e nas areias do Guincho os "esqueletos" das passadeiras de madeira no Inverno. Ainda fotografa gente, mas só as grandes panorâmicas de paisagem o levam já a imprimir. Sempre a preto e branco.
Miguel Rio Branco: Vidros embaciados, bancos de igreja, o coração que a pedra parece ter dado a si própria, as castanhas assadas a saltar da casca. Santos de altar e personagens de pintura, calçadas e portas, paredes de cal comida e roupa estendida ao vento. Assim são os polípticos de Miguel Rio Branco (Las Palmas, 1946), o único dos três fotógrafos que não pode estar presente na apresentação. É o Portugal que emocionadamente reencontrou, com a paleta sépia das imagens que se confundem na (e com a) memória.
(DN online)
sábado, junho 25, 2005
Contra a Homofobia
A origem do 'gay pride'
(...)Há uns anos atrás - no dia 28 de Junho de 1969, mal se pensava na defesa de direitos gay. Era até perigoso. Nessa noite, a polícia de New York City decide fazer rusga a bares que vendiam ilegalmente alcool. Com especial, se não exclusiva, incidência nos bares homosexuais da altura. A rusga ao bar Stonewall já era a segunda na mesma semana. E lá dentro, gays, lésbicas e drags foram "chamados à atenção", não pela venda do alcool, mas sim por aquilo que eram. Anyway. To make a story short (ou uma short story long...), a polícia pediu aos presentes que abandonassem o bar. A primeira carrinha que levou alguns detidos saiu sem problemas. Mas foi quando a polícia começou a mudar de atitude física e a agredir os implicados, empurrando-os para as carinhas a pontapés e chamando-lhes aquilo que eles eram, que uma multidão "alternativa" se começou a juntar, a protestar e a atirar moedas contra a políca. Estão a imaginar uma rua cheia de ab fab drags, lesbian chicks e tuxedo queens a protestar? Continuem. Cedo as moedas passaram a garrafas, e pela altura em que todos os clientes do bar estavam fora (out?) a polícia teve de se refugiar dentro do dito bar (into the closet?). Ficaram barricados durante bastante tempo, destruiram todo o interior do bar e os protestos na queer Christopher Street continuaram. O episódio teve o seu fim, com o resultado da rua vir a ficar bastante tensa e com uma mudança de atitude radical. Passou a haver mais confiança e resposta dos homosexuais daquelas ruas, aos ataques homofóbicos diários da zona. Tod@s queriam respeito.
O episódio parece parco e tolo. E é.
Mas o que Stonewall nos mostra e é isso que muitas vezes é esquecido, é que foi ali, naquele momento que, pela primeira vez em muito tempo, houve uma revolta contra uma discriminação. E uma discriminação não de um cidadão. Mas de um cidadão discriminado pela sua orientação sexual. E que foi a partir daí que as associações de defesa se começaram a desenvolver e a unir (e, mais tarde a separar criando ghettos dentro da própria comunidade - mas isso é outra história), até ao grande colectivo que os anos Regan da sida trouxeram, e obrigaram.
(texto do blog 'all of me')
quinta-feira, junho 23, 2005
No DNA da democracia
No DNA da democracia
Texto publicado no "Expresso", no último fim-de-semana.
As mortes de Álvaro Cunhal e de Vasco Gonçalves serviram, nestes
dias, para um ajuste de contas com a história. E ele foi especialmente excitado nos que vivem com a má consciência do seu papel antes do 25 de Abril. Dizem que a liberdade teria nascido a 25 de Novembro. Mas a verdade é que o PREC está no DNA da nossa democracia.
Já nem relembro que as primeiras eleições livres foram antes de Novembro. Já nem relembro que a censura acabou ali mesmo, com a revolução. Vou mais longe do que isso. A democracia social, sem a qual a democracia política não sobrevive, foi conquistada nesses meses quentes. O divórcio, uma mais justa redistribuição da riqueza, os direitos no trabalho, a greve, a adaptação (violenta) de um tecido empresarial intimamente ligado ao antigo regime a uma sociedade democrática, o acesso generalizado ao ensino, uma segurança social digna desse nome, o serviço nacional de saúde, tudo precisou desse período para se impor. Foi o salto histórico português. E por ter acontecido na rua teve muitos actores. Contraditórios e muitas vezes irresponsáveis. Mas foram tantos que demasiados sentiram como seu aquele momento. Por isso é tão difícil voltar atrás.
Tivesse sido a nossa revolução uma suave transição e a sociedade portuguesa seria muito diferente. Teríamos ficado economicamente mais saudáveis, até posso conceder. Mas guardaríamos muito mais do provincianismo, atraso e rigidez social que nos dominou durante meio século. Ao contrário do que muitos pensam à direita e à esquerda, a revolução nunca foi derrotada. Foi o que tinha de ser. Antes e depois de Novembro.
Daniel Oliveira - Blog do Barnabé
Texto publicado no "Expresso", no último fim-de-semana.
As mortes de Álvaro Cunhal e de Vasco Gonçalves serviram, nestes
dias, para um ajuste de contas com a história. E ele foi especialmente excitado nos que vivem com a má consciência do seu papel antes do 25 de Abril. Dizem que a liberdade teria nascido a 25 de Novembro. Mas a verdade é que o PREC está no DNA da nossa democracia.
Já nem relembro que as primeiras eleições livres foram antes de Novembro. Já nem relembro que a censura acabou ali mesmo, com a revolução. Vou mais longe do que isso. A democracia social, sem a qual a democracia política não sobrevive, foi conquistada nesses meses quentes. O divórcio, uma mais justa redistribuição da riqueza, os direitos no trabalho, a greve, a adaptação (violenta) de um tecido empresarial intimamente ligado ao antigo regime a uma sociedade democrática, o acesso generalizado ao ensino, uma segurança social digna desse nome, o serviço nacional de saúde, tudo precisou desse período para se impor. Foi o salto histórico português. E por ter acontecido na rua teve muitos actores. Contraditórios e muitas vezes irresponsáveis. Mas foram tantos que demasiados sentiram como seu aquele momento. Por isso é tão difícil voltar atrás.
Tivesse sido a nossa revolução uma suave transição e a sociedade portuguesa seria muito diferente. Teríamos ficado economicamente mais saudáveis, até posso conceder. Mas guardaríamos muito mais do provincianismo, atraso e rigidez social que nos dominou durante meio século. Ao contrário do que muitos pensam à direita e à esquerda, a revolução nunca foi derrotada. Foi o que tinha de ser. Antes e depois de Novembro.
Daniel Oliveira - Blog do Barnabé
Não há heróis perfeitos
Não há heróis perfeitos
Texto publicado no "Expresso", no último fim-de-semana.
Álvaro Cunhal não era coerente e não tinha uma fé. O elogio recorrente esconde, de facto, uma enorme desconsideração. Cunhal era absolutamente político. Não queria apenas ser respeitado. Queria vencer. Com inteligência, mudou sempre que sentiu que tinha de mudar. Maldisse a China, abraçou a China. Combateu Soares, deu a vitória a Soares. Fez a revolução, travou a revolução. Escondeu a sua vida privada, exibiu fotografias da neta quando o partido precisou de aparecer doce e de rosto humano. Contrariou o culto da personalidade, alimentou o mito do segredo. Cunhal, como qualquer génio político, era um táctico. Tão brilhante que nem se dava por isso.
Cunhal não esteve no lado errado da história. Bateu-se contra o fascismo – que alguns, como Maria José Nogueira Pinto e Ribeiro e Castro, toleraram – e o fascismo foi derrotado. Bateu-se pela conquista de direitos sociais e eles foram absorvidos pelo sistema. Bateu-se pela existência de um movimento organizado de trabalhadores – por vezes sufocando-o – e os sindicatos são hoje a força social organizada mais relevante no nosso país. Os comunistas não estiveram do lado errado da história. Marcaram o século XX e, depois dele, qualquer assalariado vive infinitamente melhor do que vivia. Na política e na história, a derrota é só o epílogo de muitas vitórias.
Quem esperava que Álvaro Cunhal mudasse de posição, aos 80 ou 90 anos, não percebe nada da natureza humana. No fim da vida somos fiéis à nossa vida. É isso que temos de ser. Cabe a outras gerações destruir o que se construiu. E aí está a grande fraqueza de Álvaro Cunhal. Apesar da sua absoluta superioridade intelectual, cercou-se de mediocridade. Para desgraça do PCP, o seu génio foi maior do que a sua generosidade. Deixa um enorme passado aos comunistas. Não lhes deixa grande futuro.
Daniel Oliveira - Blog Barnabé
Texto publicado no "Expresso", no último fim-de-semana.
Álvaro Cunhal não era coerente e não tinha uma fé. O elogio recorrente esconde, de facto, uma enorme desconsideração. Cunhal era absolutamente político. Não queria apenas ser respeitado. Queria vencer. Com inteligência, mudou sempre que sentiu que tinha de mudar. Maldisse a China, abraçou a China. Combateu Soares, deu a vitória a Soares. Fez a revolução, travou a revolução. Escondeu a sua vida privada, exibiu fotografias da neta quando o partido precisou de aparecer doce e de rosto humano. Contrariou o culto da personalidade, alimentou o mito do segredo. Cunhal, como qualquer génio político, era um táctico. Tão brilhante que nem se dava por isso.
Cunhal não esteve no lado errado da história. Bateu-se contra o fascismo – que alguns, como Maria José Nogueira Pinto e Ribeiro e Castro, toleraram – e o fascismo foi derrotado. Bateu-se pela conquista de direitos sociais e eles foram absorvidos pelo sistema. Bateu-se pela existência de um movimento organizado de trabalhadores – por vezes sufocando-o – e os sindicatos são hoje a força social organizada mais relevante no nosso país. Os comunistas não estiveram do lado errado da história. Marcaram o século XX e, depois dele, qualquer assalariado vive infinitamente melhor do que vivia. Na política e na história, a derrota é só o epílogo de muitas vitórias.
Quem esperava que Álvaro Cunhal mudasse de posição, aos 80 ou 90 anos, não percebe nada da natureza humana. No fim da vida somos fiéis à nossa vida. É isso que temos de ser. Cabe a outras gerações destruir o que se construiu. E aí está a grande fraqueza de Álvaro Cunhal. Apesar da sua absoluta superioridade intelectual, cercou-se de mediocridade. Para desgraça do PCP, o seu génio foi maior do que a sua generosidade. Deixa um enorme passado aos comunistas. Não lhes deixa grande futuro.
Daniel Oliveira - Blog Barnabé
Morrer da cura
Grau zero
A criação de um clima de confrontação social é o pior caminho para resolver a crise económica e financeira
A onda de contestação não é uma surpresa, 100 dias depois de José Sócrates ter assumido a liderança do governo. O que surpreende é a actual dimensão da contestação social.
A reunião de várias centenas de magistrados, em Coimbra, que ameaçam com uma greve, e a manifestação de dezenas de milhar de funcionários públicos, à porta da sede do PS e da Assembleia da República, são dois casos que impressionam pela violência do discurso e pela capacidade de mobilização.
A reacção governamental, numa lógica de braço-de-ferro, não se fez esperar: Alberto Costa, ministro da Justiça, já fala em outsorcing ; e Maria João Rodrigues, ministra da Educação, abriu uma guerra jurídica com os sindicatos, impondo serviços mínimos para o período de greve dos professores, que coincide com a data dos exames nacionais.
A tentativa de limitar o direito à greve, ainda que encapotada, não resolve nada. Certamente, José Sócrates não vai querer ficar para a história como o primeiro-ministro socialista que deu o primeiro passo para tentar rever um direito inalienável dos trabalhadores.
Se é verdade que as verdadeiras medidas duras ainda estão para vir, como atestam os últimos números das finanças públicas, que revelam uma ligeira subida da despesa pública, então só resta esperar o aumento da onda de contestação.
Face a esta situação previsível, que a partir de Setembro se vai tornar uma evidência ainda maior, o governo socialista, que lidera um Estado falido, está à beira de cair na tentação de optar pelas soluções mais fáceis, apesar de dispor de uma ampla maioria absoluta.
Os estrangulamentos de décadas não se resolvem com medidas avulsas, que chegam a parecer persecutórias, mas com reformas de fundo justas e competentes que os cidadãos possam compreender.
Para fazer face aos desafios da modernização e da competitividade, o país precisa de um governo com autoridade, não precisa de um governo autoritário.
A fragmentação de sectores vitais, o ataque a direitos fundamentais e a destruição de alguns dos principais sectores de actividade não resolvem a grave crise económica e financeira.
No momento em que o cheque dos fundos europeus é incerto e o preço do petróleo continua a subir, só faltava uma espécie de governação com tiques moralistas para agravar ainda mais os problemas estruturais.
Os portugueses já perceberam que o país está doente. Mas José Sócrates tem de compreender que Portugal não quer morrer da cura.
(Rui Costa Pinto - Visaoonline)
A criação de um clima de confrontação social é o pior caminho para resolver a crise económica e financeira
A onda de contestação não é uma surpresa, 100 dias depois de José Sócrates ter assumido a liderança do governo. O que surpreende é a actual dimensão da contestação social.
A reunião de várias centenas de magistrados, em Coimbra, que ameaçam com uma greve, e a manifestação de dezenas de milhar de funcionários públicos, à porta da sede do PS e da Assembleia da República, são dois casos que impressionam pela violência do discurso e pela capacidade de mobilização.
A reacção governamental, numa lógica de braço-de-ferro, não se fez esperar: Alberto Costa, ministro da Justiça, já fala em outsorcing ; e Maria João Rodrigues, ministra da Educação, abriu uma guerra jurídica com os sindicatos, impondo serviços mínimos para o período de greve dos professores, que coincide com a data dos exames nacionais.
A tentativa de limitar o direito à greve, ainda que encapotada, não resolve nada. Certamente, José Sócrates não vai querer ficar para a história como o primeiro-ministro socialista que deu o primeiro passo para tentar rever um direito inalienável dos trabalhadores.
Se é verdade que as verdadeiras medidas duras ainda estão para vir, como atestam os últimos números das finanças públicas, que revelam uma ligeira subida da despesa pública, então só resta esperar o aumento da onda de contestação.
Face a esta situação previsível, que a partir de Setembro se vai tornar uma evidência ainda maior, o governo socialista, que lidera um Estado falido, está à beira de cair na tentação de optar pelas soluções mais fáceis, apesar de dispor de uma ampla maioria absoluta.
Os estrangulamentos de décadas não se resolvem com medidas avulsas, que chegam a parecer persecutórias, mas com reformas de fundo justas e competentes que os cidadãos possam compreender.
Para fazer face aos desafios da modernização e da competitividade, o país precisa de um governo com autoridade, não precisa de um governo autoritário.
A fragmentação de sectores vitais, o ataque a direitos fundamentais e a destruição de alguns dos principais sectores de actividade não resolvem a grave crise económica e financeira.
No momento em que o cheque dos fundos europeus é incerto e o preço do petróleo continua a subir, só faltava uma espécie de governação com tiques moralistas para agravar ainda mais os problemas estruturais.
Os portugueses já perceberam que o país está doente. Mas José Sócrates tem de compreender que Portugal não quer morrer da cura.
(Rui Costa Pinto - Visaoonline)
Reescrever a história
Nos últimos dias, a propósito das mortes de Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves, não faltaram oportunidades para ler algumas coisas estupidamente inteligentes.
Comparou-se Cunhal a Hitler e a Estaline.
Escreveu-se que a resistência comunista à ditadura em nada contribuiu para o fim da dita e pôs-se até em dúvida se a dita era tão dura como se dizia.
Também li que Cunhal tinha ódio aos ricos.E que Vasco Gonçalves era o Lenine português.
De caminho, e a propósito da morte de um certo Portugal, fez-se a separação do lixo bom e do lixo mau, partindo do princípio de que todos somos lixo quando morremos.
De um lado, Cunhal e Vasco, atirados para o comum contentor da história.
Do outro, a irmã Lúcia e Champallimaud , esses sim, lixo do bom, passível de reciclagem e branqueamento.
Importa alguma coisa dizer que a vidente de Fátima e o empresário foram duas figuras com relevantes serviços prestados ao fascismo se a própria democracia já os santificou em devido tempo? Basta ler um cronista domingueiro para perceber que Champallimaud passa a história como pioneiro, cavaleiro da indústria e patriota perseguido pela revolução. O homem até deixou uma fundação, coisa que nem Cunhal nem Vasco conseguiram, vejam lá.
Haverá em Portugal algumas bolsas de resistência inteligente a estes conceitos e teses. Mas a memória, a inteligência e o raciocínio são um bem escasso num país onde de há muito se percebeu que a estupidez escreve, edita, governa e manda. Pior: branqueia.
Discordar é uma coisa. Outra, bem mais grave, é reescrever a passagem do tempo. E os factos.
Há quem passe a vida a lutar, a trabalhar e a tentar que disso fiquem marcas positivas na vida colectiva. Em vão. Dificilmente evitará ser atirado para a fogueira, repudiado e enxovalhado.
A estupidez, essa, desenvolve-se em campo aberto e tem reconhecimento público. Sectária, arrogante e mentirosa, a estupidez mantém a memória, a inteligência e o raciocínio a larga distância. E com inegável sucesso.
A estupidez não é inteligente, o que seria irónico. Mas é esperta. E Portugal é seguramente um país de espertalhões onde os inteligentes têm pouco ou nenhum futuro. Não é sequer preciso ser inteligente para percebê-lo. Basta ser estúpido.
(Miguel Carvalho - palavrasdeparede.pt - Visaoonline)
Comparou-se Cunhal a Hitler e a Estaline.
Escreveu-se que a resistência comunista à ditadura em nada contribuiu para o fim da dita e pôs-se até em dúvida se a dita era tão dura como se dizia.
Também li que Cunhal tinha ódio aos ricos.E que Vasco Gonçalves era o Lenine português.
De caminho, e a propósito da morte de um certo Portugal, fez-se a separação do lixo bom e do lixo mau, partindo do princípio de que todos somos lixo quando morremos.
De um lado, Cunhal e Vasco, atirados para o comum contentor da história.
Do outro, a irmã Lúcia e Champallimaud , esses sim, lixo do bom, passível de reciclagem e branqueamento.
Importa alguma coisa dizer que a vidente de Fátima e o empresário foram duas figuras com relevantes serviços prestados ao fascismo se a própria democracia já os santificou em devido tempo? Basta ler um cronista domingueiro para perceber que Champallimaud passa a história como pioneiro, cavaleiro da indústria e patriota perseguido pela revolução. O homem até deixou uma fundação, coisa que nem Cunhal nem Vasco conseguiram, vejam lá.
Haverá em Portugal algumas bolsas de resistência inteligente a estes conceitos e teses. Mas a memória, a inteligência e o raciocínio são um bem escasso num país onde de há muito se percebeu que a estupidez escreve, edita, governa e manda. Pior: branqueia.
Discordar é uma coisa. Outra, bem mais grave, é reescrever a passagem do tempo. E os factos.
Há quem passe a vida a lutar, a trabalhar e a tentar que disso fiquem marcas positivas na vida colectiva. Em vão. Dificilmente evitará ser atirado para a fogueira, repudiado e enxovalhado.
A estupidez, essa, desenvolve-se em campo aberto e tem reconhecimento público. Sectária, arrogante e mentirosa, a estupidez mantém a memória, a inteligência e o raciocínio a larga distância. E com inegável sucesso.
A estupidez não é inteligente, o que seria irónico. Mas é esperta. E Portugal é seguramente um país de espertalhões onde os inteligentes têm pouco ou nenhum futuro. Não é sequer preciso ser inteligente para percebê-lo. Basta ser estúpido.
(Miguel Carvalho - palavrasdeparede.pt - Visaoonline)
'Stem Cells'
Estudo publicado na revista "Stem Cells and Development"
Células estaminais da pele podem converter-se em outros tecidos
23.06.2005 - 12h21
Uma equipa de investigadores norte-americanos isolou células estaminais da pele humana, cultivou-as em laboratório e induziu a sua conversão em células de gordura, musculares e ósseas, indica um estudo divulgado hoje nos Estados Unidos.
O trabalho, realizado por cientistas da Universidade de Wake Forest e do Hospital Baptista, da Carolina do Norte, é um dos primeiros a demonstrar a capacidade que uma única célula estaminal de um adulto tem de se converter em diversos tipos de tecidos.
Os cientistas consideram que as células estaminais, com o seu potencial para se desenvolverem como parte de tecidos diferentes do corpo, podem servir para tratar e porventura curar doenças como as de Parkinson e Alzheimer.
A investigação com células estaminais é muito controversa nos Estados Unidos. Enquanto que alguns cientistas julgam que o maior potencial se encontra nas células estaminais dos embriões, outros consideram imoral a "colheita de embriões" para o seu uso na medicina.
Na óptica de Anthony Atala, director de Medicina Regenerativa na Universidade de Wake Forest e chefe da equipa de investigadores, "estas células deviam proporcionar um recurso valioso para a reparação de tecidos e órgãos".
E, por terem sido colhidas na própria pele do paciente adulto, "não deverá haver problemas com a rejeição de tecidos ou órgãos".
Os investigadores cultivaram células mesenquimais - um tipo de células estaminais que se encontra habitualmente na medula óssea - a partir de amostras de tecido de 15 dadores, refere o estudo hoje publicado na revista "Stem Cells and Development".
Os cientistas isolaram células estaminais individuais e cultivaram-nas em laboratório, recorrendo a hormonas e factores de crescimento para induzir a sua transformação em células de gordura, musculares e ósseas.
Quando as células diferenciadas foram "semeadas" em moldes tridimensionais e implantadas em ratinhos, mantiveram as características correspondentes a tecido ósseo, muscular e gordo.
"O nosso estudo mostra que é possível obter células estaminais a partir de uma simples biopsia da pele e obter delas três tecidos vitais", afirmou Shay Soker, professor de cirurgia na Universidade de Wake Forest.
(Público online)
Células estaminais da pele podem converter-se em outros tecidos
23.06.2005 - 12h21
Uma equipa de investigadores norte-americanos isolou células estaminais da pele humana, cultivou-as em laboratório e induziu a sua conversão em células de gordura, musculares e ósseas, indica um estudo divulgado hoje nos Estados Unidos.
O trabalho, realizado por cientistas da Universidade de Wake Forest e do Hospital Baptista, da Carolina do Norte, é um dos primeiros a demonstrar a capacidade que uma única célula estaminal de um adulto tem de se converter em diversos tipos de tecidos.
Os cientistas consideram que as células estaminais, com o seu potencial para se desenvolverem como parte de tecidos diferentes do corpo, podem servir para tratar e porventura curar doenças como as de Parkinson e Alzheimer.
A investigação com células estaminais é muito controversa nos Estados Unidos. Enquanto que alguns cientistas julgam que o maior potencial se encontra nas células estaminais dos embriões, outros consideram imoral a "colheita de embriões" para o seu uso na medicina.
Na óptica de Anthony Atala, director de Medicina Regenerativa na Universidade de Wake Forest e chefe da equipa de investigadores, "estas células deviam proporcionar um recurso valioso para a reparação de tecidos e órgãos".
E, por terem sido colhidas na própria pele do paciente adulto, "não deverá haver problemas com a rejeição de tecidos ou órgãos".
Os investigadores cultivaram células mesenquimais - um tipo de células estaminais que se encontra habitualmente na medula óssea - a partir de amostras de tecido de 15 dadores, refere o estudo hoje publicado na revista "Stem Cells and Development".
Os cientistas isolaram células estaminais individuais e cultivaram-nas em laboratório, recorrendo a hormonas e factores de crescimento para induzir a sua transformação em células de gordura, musculares e ósseas.
Quando as células diferenciadas foram "semeadas" em moldes tridimensionais e implantadas em ratinhos, mantiveram as características correspondentes a tecido ósseo, muscular e gordo.
"O nosso estudo mostra que é possível obter células estaminais a partir de uma simples biopsia da pele e obter delas três tecidos vitais", afirmou Shay Soker, professor de cirurgia na Universidade de Wake Forest.
(Público online)
Lapsos...ou a 'Independência dos Açores'
A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, considerou um "pequeno lapso" ter qualificado ontem a decisão de um tribunal açoriano sobre os serviços mínimos como "um pronunciamento que não é de Lisboa nem respeita à República Portuguesa".
"Os ministros são pessoas normais e cometem lapsos e só são diferentes porque têm mais responsabilidades", esclareceu a governante, referindo que a expressão "saiu um pouco atrapalhada".
Em declarações ontem à SIC Notícias, ao ser confrontada com um despacho do Tribunal Administrativo de Ponta Delgada sobre uma providência cautelar apresentada por sindicatos para evitar os serviços mínimos na realização dos exames nacionais, a ministra disse tratar-se de "um pronunciamento sobre um despacho do Governo Regional de um Tribunal dos Açores, que não é de Lisboa nem respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema".
(Público online)
Atrapalhada ainda é pouco. Tanto querem desvalorizar o que se opõe à sua política que se esquecem das tais responsabilidades...
"Os ministros são pessoas normais e cometem lapsos e só são diferentes porque têm mais responsabilidades", esclareceu a governante, referindo que a expressão "saiu um pouco atrapalhada".
Em declarações ontem à SIC Notícias, ao ser confrontada com um despacho do Tribunal Administrativo de Ponta Delgada sobre uma providência cautelar apresentada por sindicatos para evitar os serviços mínimos na realização dos exames nacionais, a ministra disse tratar-se de "um pronunciamento sobre um despacho do Governo Regional de um Tribunal dos Açores, que não é de Lisboa nem respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema".
(Público online)
Atrapalhada ainda é pouco. Tanto querem desvalorizar o que se opõe à sua política que se esquecem das tais responsabilidades...
Damásio e as Neurociências
António Damásio, neurologista português e um dos maiores especialistas mundiais nos mecanismos de funcionamento do cérebro, foi ontem galardoado com o Prémio Príncipe das Astúrias da Investigação Científica e Técnica 2005. A distinção, anunciada ontem, em Oviedo, pelo júri, visa reconhecer a contribuição dos estudos do especialista na luta contra "doenças como Parkinson e Alzheimer que, pela sua gravidade e extensão, tanto preocupam a humanidade".
Considerado um dos pais das teorias sobre o "cérebro emocional" - com recurso a técnicas de imagem que revelaram novos aspectos sobre o papel das emoções nas diferentes funções cognitivas -, Damásio foi escolhido entre 58 candidaturas de 23 países diferentes, entre os quais a Espanha, a Alemanha, os EUA, a Suécia ou o Reino Unido. Outro dos nomeados era o físico espanhol Juan Ignacio Santurian, e havia ainda uma candidatura conjunta dos biólogos Peter Lawrence e Ginés Morata.
O nome do neurologista português, cuja candidatura teve o apoio da Sociedade Espanhola de Neurologia, foi escolhido tendo em conta os seus estudos "essenciais" para a "compreensão do funcionamento das áreas cerebrais onde estão envolvidas a tomada de decisões e a conduta". Investigações vistas como "decisivas para o conhecimento das bases cerebrais da linguagem e da memória" e da influência do cérebro na "elaboração dos sentimentos". A pesar na decisão do júri, presidido por Rodriguez- -Villanueva, está ainda o trabalho de divulgação de Damásio, que tem contribuído para aproximar "as neurociências à sociedade".
Actualmente director do Departamento de Neurologia da Universidade de Iowa, nos EUA -onde criou, com a sua mulher, Hanna Damásio, um laboratório de investigação cognitiva - o cientista nasceu na capital portuguesa, em 1944. Doutorado em Medicina pela Universidade de Lisboa, passou pelo Aphasia Research Center de Boston, nos EUA, antes de regressar ao Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Lisboa. Hoje, é também professor no Instituto Salk de La Jolla, na Califórnia.
Além de inúmeros artigos científicos, o neurologista é autor de obras como O Erro de Descartes Emoção, Razão e o Cérebro Humano, Ao Encontro de Espinosa ou ainda The Person within the mental self. Membro do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências (EUA) e da Academia Americana das Artes e Ciências, o investigador pertence ainda à Academia Europeia das Artes e Ciências e à Real Academia de Medicina da Bélgica.
Segundo o comunicado da Fundação Príncipe das Astúrias, responsável pela atribuição do galardão, o prémio consiste na atribuição de 50 mil euros, assim como na oferta da reprodução de uma estatueta desenhada por Joan Miró.
Considerado um dos pais das teorias sobre o "cérebro emocional" - com recurso a técnicas de imagem que revelaram novos aspectos sobre o papel das emoções nas diferentes funções cognitivas -, Damásio foi escolhido entre 58 candidaturas de 23 países diferentes, entre os quais a Espanha, a Alemanha, os EUA, a Suécia ou o Reino Unido. Outro dos nomeados era o físico espanhol Juan Ignacio Santurian, e havia ainda uma candidatura conjunta dos biólogos Peter Lawrence e Ginés Morata.
O nome do neurologista português, cuja candidatura teve o apoio da Sociedade Espanhola de Neurologia, foi escolhido tendo em conta os seus estudos "essenciais" para a "compreensão do funcionamento das áreas cerebrais onde estão envolvidas a tomada de decisões e a conduta". Investigações vistas como "decisivas para o conhecimento das bases cerebrais da linguagem e da memória" e da influência do cérebro na "elaboração dos sentimentos". A pesar na decisão do júri, presidido por Rodriguez- -Villanueva, está ainda o trabalho de divulgação de Damásio, que tem contribuído para aproximar "as neurociências à sociedade".
Actualmente director do Departamento de Neurologia da Universidade de Iowa, nos EUA -onde criou, com a sua mulher, Hanna Damásio, um laboratório de investigação cognitiva - o cientista nasceu na capital portuguesa, em 1944. Doutorado em Medicina pela Universidade de Lisboa, passou pelo Aphasia Research Center de Boston, nos EUA, antes de regressar ao Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Lisboa. Hoje, é também professor no Instituto Salk de La Jolla, na Califórnia.
Além de inúmeros artigos científicos, o neurologista é autor de obras como O Erro de Descartes Emoção, Razão e o Cérebro Humano, Ao Encontro de Espinosa ou ainda The Person within the mental self. Membro do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências (EUA) e da Academia Americana das Artes e Ciências, o investigador pertence ainda à Academia Europeia das Artes e Ciências e à Real Academia de Medicina da Bélgica.
Segundo o comunicado da Fundação Príncipe das Astúrias, responsável pela atribuição do galardão, o prémio consiste na atribuição de 50 mil euros, assim como na oferta da reprodução de uma estatueta desenhada por Joan Miró.
Arquitectura
O arquitecto Eduardo Souto de Moura conquistou terça-feira, com o Estádio Municipal de Braga, o 47.º Prémio FAD de Arquitectura 2005, distinção feita desde 1958 ao melhor projecto ibérico pela Associação Interdisciplinar de Desenho do Espaço, da Catalunha.
A esta edição concorreram 453 obras de Portugal e Espanha, em quatro categorias. A de Arquitectura teve 43 seleccionados e 20 finalistas, incluindo o Centro de Artes da Calheta (Madeira), de Paulo David - que, com o Estádio de Braga, foi finalista do último prémio europeu Mies van der Rohe. O galardão para Espaços Exteriores foi para a Esplanada e Placa Fotovoltaica do Fórum de Barcelona, de Martínez Lapeña e Elías Torres. A Sala de Actos do ITEC, em Barcelona, deu a Lluís Clotet e Ignacio Paricio o prémio de Interiores. E Javier Castellano e Rubens Cortés venceram em Espaços Efémeros, com um andaime em Granada.
Recorde-se que Souto de Moura foi já distinguido com o Prémio Secil 2004 por esta obra inovadora, edificada no local de uma antiga pedreira do Monte Crasto. "Não é frequente que um estádio tenha tanta qualidade arquitectónica", referiu ao La Vanguardia fonte do júri, classificando a obra de "espectacular". A arquitectura portuguesa "está em boas mãos e tem uma capacidade de internacionalização muito grande", afirmou à Lusa Helena Roseta, presidente da Ordem dos Arquitectos.
(DN online)
A esta edição concorreram 453 obras de Portugal e Espanha, em quatro categorias. A de Arquitectura teve 43 seleccionados e 20 finalistas, incluindo o Centro de Artes da Calheta (Madeira), de Paulo David - que, com o Estádio de Braga, foi finalista do último prémio europeu Mies van der Rohe. O galardão para Espaços Exteriores foi para a Esplanada e Placa Fotovoltaica do Fórum de Barcelona, de Martínez Lapeña e Elías Torres. A Sala de Actos do ITEC, em Barcelona, deu a Lluís Clotet e Ignacio Paricio o prémio de Interiores. E Javier Castellano e Rubens Cortés venceram em Espaços Efémeros, com um andaime em Granada.
Recorde-se que Souto de Moura foi já distinguido com o Prémio Secil 2004 por esta obra inovadora, edificada no local de uma antiga pedreira do Monte Crasto. "Não é frequente que um estádio tenha tanta qualidade arquitectónica", referiu ao La Vanguardia fonte do júri, classificando a obra de "espectacular". A arquitectura portuguesa "está em boas mãos e tem uma capacidade de internacionalização muito grande", afirmou à Lusa Helena Roseta, presidente da Ordem dos Arquitectos.
(DN online)
terça-feira, junho 21, 2005
Solstíscio de Verão
O solstício de Verão ocorre hoje, às 07.46, marcando o início de uma nova estação. Solstício deriva do latim e significa paragem do sol. Designa o momento em que o Sol, no seu movimento aparente em relação ao eixo da Terra, se detém, para iniciar o movimento contrário. Ligados desde tempos ancestrais aos ciclos agrícolas, os solstícios (de Verão e Inverno) são há muito festejados de várias formas pelas comunidades. Sobreviveu até hoje a festa dos druidas, ligada à cultura céltica, que é sobretudo uma concorrida curiosidade folclórica nas ilhas britânicas.
(Fonte: DN online)
(John Claridge)
(Fonte: DN online)
(John Claridge)
Células germinais 'in vitro'
Cientistas britânicos da universidade de Sheffield anunciaram ontem um novo passo na investigação em células estaminais embrionárias o da possibilidade de se produzirem células germinais humanas (ou reprodutoras) - os óvulos e os espermatozóides - a partir dessas primeiras células do embrião.
O trabalho permite perspectivar a possibilidade de se produzirem células reprodutoras humanas em laboratório, dentro de uma década, o que poderá revolucionar completamente o tratamento contra a infertilidade e a própria reprodução medicamente assistida. Mas este novo avanço vai com certeza levantar também novas questões do foro ético, que os diferentes grupos sociais não deixarão de transformar em novas e acesas polémicas.
Behrouz Aflatoonian e Harry Morre, da universidade de Sheffield, no centro de Inglaterra, comunicaram ontem os promissores resultados do seus trabalhos, em Copenhaga, na conferência da Sociedade Europeia de Embriologia e Reprodução Humana.
A investigação foi realizada a partir de células estaminais (que dão origem a todas as outras dos diferentes tecidos) colhidas em embriões humanos doados para pesquisa por casais que fizeram tratamentos para reprodução medicamente assistida.
Algumas das células estaminais embrionárias, depois de duas semanas em cultura, expressavam genes que se encontram nas células germinais primordiais - as que vão, por sua vez, dar origem às células reprodutoras maduras, tanto óvulos como espermatozóides.
Além disso, algumas dessas células geminais primordiais continham ainda proteínas que só se encontram nos espermatozóides.
Em Copenhaga, Behrouz Alfatoonian, um dos autores do estudo, explicou que "isso sugere que as células estaminais [embrionárias] podem evoluir para células germinais primordiais e depois para gâmetas [células reprodutoras] na sua fase precoce de desenvolvimento, como já foi demonstrado em ratinhos".
A questão, segundo o mesmo cientista, é agora perceber quais são as células estaminais embrionárias que dão origem às que irão produzir mais tarde os gâmetas e perceber que mecanismos estão na origem dessa diferenciação.
"Estamos ainda a 10 anos da possibilidade de aplicação clínica, há ainda muito trabalho pela frente", disse por seu turno Harry Moore, o outro autor principal do trabalho, sublinhando que "ainda é preciso provar que esta técnica não tem qualquer risco".
A produção de gâmetas funcionais "é mais difícil do que todo o trabalho realizado até agora, já que é necessário recriar o ambiente dos folículos para os óvulos e o tecido testicular, no caso dos espermatozóides, de forma que as células germinais possam sofrer o amadurecimento necessário", notou ainda Alfatoonian.
Se as pesquisas foram bem sucedidas, vão certamente levantar mais uma série de questões éticas novas, já que essa possibilidade de produzir células reprodutoras humanas introduz novas possibilidades que alterarão completamente a noção clássica de paternidade.
"Esta técnica, a concretizar-se, abre caminho a novos desafios e, nomeadamente, a fertilidade das mulheres já não estaria limitada pela menopausa", disse, a propósito, Anna Smajdor, especialista em ética do Imperial College, de Londres.
Para os autores do estudo, esta técnica teria sobretudo impacto na reprodução medicamente assistida, deixando a doação de gâmetas aos casais inférteis de ser necessária, já que eles poderiam passar a ser produzidos in vitro.
(Filomena Nava - DN online)
O trabalho permite perspectivar a possibilidade de se produzirem células reprodutoras humanas em laboratório, dentro de uma década, o que poderá revolucionar completamente o tratamento contra a infertilidade e a própria reprodução medicamente assistida. Mas este novo avanço vai com certeza levantar também novas questões do foro ético, que os diferentes grupos sociais não deixarão de transformar em novas e acesas polémicas.
Behrouz Aflatoonian e Harry Morre, da universidade de Sheffield, no centro de Inglaterra, comunicaram ontem os promissores resultados do seus trabalhos, em Copenhaga, na conferência da Sociedade Europeia de Embriologia e Reprodução Humana.
A investigação foi realizada a partir de células estaminais (que dão origem a todas as outras dos diferentes tecidos) colhidas em embriões humanos doados para pesquisa por casais que fizeram tratamentos para reprodução medicamente assistida.
Algumas das células estaminais embrionárias, depois de duas semanas em cultura, expressavam genes que se encontram nas células germinais primordiais - as que vão, por sua vez, dar origem às células reprodutoras maduras, tanto óvulos como espermatozóides.
Além disso, algumas dessas células geminais primordiais continham ainda proteínas que só se encontram nos espermatozóides.
Em Copenhaga, Behrouz Alfatoonian, um dos autores do estudo, explicou que "isso sugere que as células estaminais [embrionárias] podem evoluir para células germinais primordiais e depois para gâmetas [células reprodutoras] na sua fase precoce de desenvolvimento, como já foi demonstrado em ratinhos".
A questão, segundo o mesmo cientista, é agora perceber quais são as células estaminais embrionárias que dão origem às que irão produzir mais tarde os gâmetas e perceber que mecanismos estão na origem dessa diferenciação.
"Estamos ainda a 10 anos da possibilidade de aplicação clínica, há ainda muito trabalho pela frente", disse por seu turno Harry Moore, o outro autor principal do trabalho, sublinhando que "ainda é preciso provar que esta técnica não tem qualquer risco".
A produção de gâmetas funcionais "é mais difícil do que todo o trabalho realizado até agora, já que é necessário recriar o ambiente dos folículos para os óvulos e o tecido testicular, no caso dos espermatozóides, de forma que as células germinais possam sofrer o amadurecimento necessário", notou ainda Alfatoonian.
Se as pesquisas foram bem sucedidas, vão certamente levantar mais uma série de questões éticas novas, já que essa possibilidade de produzir células reprodutoras humanas introduz novas possibilidades que alterarão completamente a noção clássica de paternidade.
"Esta técnica, a concretizar-se, abre caminho a novos desafios e, nomeadamente, a fertilidade das mulheres já não estaria limitada pela menopausa", disse, a propósito, Anna Smajdor, especialista em ética do Imperial College, de Londres.
Para os autores do estudo, esta técnica teria sobretudo impacto na reprodução medicamente assistida, deixando a doação de gâmetas aos casais inférteis de ser necessária, já que eles poderiam passar a ser produzidos in vitro.
(Filomena Nava - DN online)
Lisboa sobe na lista das cidades caras
Lisboa subiu cinco posições na lista das cidades com nível de vida mais caro, depois de uma subida de 23 lugares em 2004. A conclusão é do estudo sobre "O custo de vida em 2005 a nível mundial - ranking das cidades", ontem divulgado pela Mercer HRC, que identifica a capital portuguesa como a 66.ª mais cara, entre 144 cidades.
O salto dado no ranking coloca já a capital portuguesa, com 80,2 pontos, à frente de cidades como Melburne, na Austrália, Auckland, na Nova Zelândia, e Washington, a capital dos EUA.
Com nível de vida mais baixo que Lisboa encontram-se também as cidades norte-americanas de Boston, Atlanta, Denver, Detroit e Seattle, bem como as canadianas Vancôver, Otava e Toronto.
O estudo mede o custo de vida comparativo de mais de 200 itens em cada local, entre os quais a habitação, o transporte, a alimentação, o vestuário, bens domésticos e entretenimento. Segundo a Mercer HRC, este é o estudo de custos de vida mais abrangente, sendo utilizado para ajudar as empresas multinacionais e os governos a determinar salários e benefícios para os seus funcionários no estrangeiro. Nova Iorque é a cidade que serve de base, com cem pontos. Acima desta estão 12 cidades.
Tóquio continua a ser a cidade mais cara do mundo, com 134,7 pontos, tendo Osaka subido para segundo lugar. A cidade europeia com o mais elevado custo de vida é Londres, enquanto Copenhaga, a capital da Dinamarca, é a cidade mais cara da zona euro. Assunção, no Paraguai, é a capital mais barata em todo o mundo.
O estudo da Mercer chama a atenção para a subida abrupta do custo de vida nas cidades da Europa de Leste, sendo que algumas delas ultrapassam já Lisboa. Atrás da capital portuguesa encontram-se apenas Liubliana (Eslovénia), Sófia (Bulgária), Leipzig (Alemanha), Vilnius (Lituânia), Limassol (Chipre) e Bucareste (Roménia).
"Apesar do investimento significativo das multinacionais em países de baixo custo, o fosso parece estar a diminuir e os salários locais estão a disparar com resultado do aumento do custo de vida e da exigência crescente em termos de formação", refere Yvonne Sonsino, responsável da Mercer. As mudanças significativas nos rankings deste ano devem-se às flutuações de câmbio, particularmente do dólar americano e do euro.
(DN online)
Estamos sempre na linha da frente daquilo que não interessa.
(foto de lisbon.photos)
O salto dado no ranking coloca já a capital portuguesa, com 80,2 pontos, à frente de cidades como Melburne, na Austrália, Auckland, na Nova Zelândia, e Washington, a capital dos EUA.
Com nível de vida mais baixo que Lisboa encontram-se também as cidades norte-americanas de Boston, Atlanta, Denver, Detroit e Seattle, bem como as canadianas Vancôver, Otava e Toronto.
O estudo mede o custo de vida comparativo de mais de 200 itens em cada local, entre os quais a habitação, o transporte, a alimentação, o vestuário, bens domésticos e entretenimento. Segundo a Mercer HRC, este é o estudo de custos de vida mais abrangente, sendo utilizado para ajudar as empresas multinacionais e os governos a determinar salários e benefícios para os seus funcionários no estrangeiro. Nova Iorque é a cidade que serve de base, com cem pontos. Acima desta estão 12 cidades.
Tóquio continua a ser a cidade mais cara do mundo, com 134,7 pontos, tendo Osaka subido para segundo lugar. A cidade europeia com o mais elevado custo de vida é Londres, enquanto Copenhaga, a capital da Dinamarca, é a cidade mais cara da zona euro. Assunção, no Paraguai, é a capital mais barata em todo o mundo.
O estudo da Mercer chama a atenção para a subida abrupta do custo de vida nas cidades da Europa de Leste, sendo que algumas delas ultrapassam já Lisboa. Atrás da capital portuguesa encontram-se apenas Liubliana (Eslovénia), Sófia (Bulgária), Leipzig (Alemanha), Vilnius (Lituânia), Limassol (Chipre) e Bucareste (Roménia).
"Apesar do investimento significativo das multinacionais em países de baixo custo, o fosso parece estar a diminuir e os salários locais estão a disparar com resultado do aumento do custo de vida e da exigência crescente em termos de formação", refere Yvonne Sonsino, responsável da Mercer. As mudanças significativas nos rankings deste ano devem-se às flutuações de câmbio, particularmente do dólar americano e do euro.
(DN online)
Estamos sempre na linha da frente daquilo que não interessa.
(foto de lisbon.photos)
domingo, junho 19, 2005
Branco é, galinha o põe
Do 'BARNABÉ', não resisto a este 'naco de prosa'
O orgulho que resta à nódoa
Um dos imbecis que está agora no Martim Moniz a manifestar-se contra os imigrantes diz que tem "orgulho em ser branco".
Claro que sim: quando não se pode ter orgulho em ser inteligente, em ter talento, em ter aumentado a sua cultura e educação, em ser boa pessoa, em ter-se aperfeiçoado, em ter ajudado pessoas, em ter feito o mundo melhor ou em ter sido um exemplo para os outros. Quando não se pode ter orgulho em ser apreciado por pessoas de proveniências e culturas diferentes, em ter estado num país estrangeiro, ter feito amigos e ter deixado saudades. Quando não se pode ter orgulho em saber cozinhar, falar, dançar, tocar um instrumento, pintar, amar e ser amado por uma pessoa que admiramos, trabalhar no duro, ter boa caligrafia, aprender um idioma, ser autor de um invento, conhecer a história do seu país, ter criado filhos e netos, ser um bom marceneiro, ou um bom professor, ou um bom servente de pedreiro. Quando não se pode ter orgulho em saber alinhar duas ideias, saber compreender uma única, ou em ter tido nenhuma.
Quando não se pode ter orgulho de nada, tem-se orgulho em "ser branco". É o que sobra ao destituído total. Também a nódoa no pano, coitada, deve ter orgulho em "ser nódoa", o buraco em "ser buraco", a bosta em "ser bosta".
No entanto, o que esse imbecil ainda não entendeu é que ele nem sequer teve responsabilidade em ser branco. É só branco por acaso.
Tem, de facto, muito pouco de que se orgulhar.
(Rui Tavares - http://barnabe.weblog.com.pt)
O orgulho que resta à nódoa
Um dos imbecis que está agora no Martim Moniz a manifestar-se contra os imigrantes diz que tem "orgulho em ser branco".
Claro que sim: quando não se pode ter orgulho em ser inteligente, em ter talento, em ter aumentado a sua cultura e educação, em ser boa pessoa, em ter-se aperfeiçoado, em ter ajudado pessoas, em ter feito o mundo melhor ou em ter sido um exemplo para os outros. Quando não se pode ter orgulho em ser apreciado por pessoas de proveniências e culturas diferentes, em ter estado num país estrangeiro, ter feito amigos e ter deixado saudades. Quando não se pode ter orgulho em saber cozinhar, falar, dançar, tocar um instrumento, pintar, amar e ser amado por uma pessoa que admiramos, trabalhar no duro, ter boa caligrafia, aprender um idioma, ser autor de um invento, conhecer a história do seu país, ter criado filhos e netos, ser um bom marceneiro, ou um bom professor, ou um bom servente de pedreiro. Quando não se pode ter orgulho em saber alinhar duas ideias, saber compreender uma única, ou em ter tido nenhuma.
Quando não se pode ter orgulho de nada, tem-se orgulho em "ser branco". É o que sobra ao destituído total. Também a nódoa no pano, coitada, deve ter orgulho em "ser nódoa", o buraco em "ser buraco", a bosta em "ser bosta".
No entanto, o que esse imbecil ainda não entendeu é que ele nem sequer teve responsabilidade em ser branco. É só branco por acaso.
Tem, de facto, muito pouco de que se orgulhar.
(Rui Tavares - http://barnabe.weblog.com.pt)
Eugénio, ainda e sempre
Lembrei-me nos dias que se seguiram à morte de Eugénio de Andrade do seu sorriso, vaidoso e suave, quando recebeu o Prémio Vida Literária com que a Associação Portuguesa de Escritores o distinguiu. "Aceito", disse ele, "como quem recebe um ramo de flores."
Eugénio sempre gostou muito de flores. Recordo-me dele há 15 anos, fotografado para o Público, a esparramar-se pela verdura da Póvoa da Atalaia, sua terra natal, no concelho do Fundão. Foi assim que apareceu, deitado na erva, de costas, afogado em malmequeres, risonho, a rebolar-se como um gato.
"Sou um homem do Sul, tenho de repeti-lo", escreveu um dia, para que a sua matriz meridional não se diluísse na relação que dedicou ao Porto. Conheceu-o em dois ou três dias distantes em que amigos lhe mostraram o mar da Foz, a Cantareira, o "cabedelo de oiro" que Raul Brandão disse ter conservado sempre na retina. Foi com a Sophia de Mello Breyner que passou uma tarde nos jardins abandonados da Quinta do Campo Alegre. E conheceu o negrilho da Cordoaria, as tílias do Palácio, as magnólias de S. Lázaro, o jacarandá e o cedro glauco do Largo de Viriato. O Porto, portanto "Esta é a luz que gostaria de levar nos olhos quando morrer - a luz do mar da Foz, atravessada por duas ou três gaivotas."
Se há marca que identifica a poesia de Eugénio é o seu intenso lirismo, a forma fluida e cantante como os sentimentos surgem e longamente se espraiam.
"Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor."
Foi um poeta do amor. "Nunca o amor encontrou em Portugal uma voz tão subtil e apaixonadamente imaginativa", disse dele Ramos Rosa. É uma poesia macia, muito doce, coleante, quase táctil
"Vê como o Verão
subitamente
se faz água no teu peito
e a noite se faz barco
e a minha mão marinheiro."
A sua escrita, de tão luminosa, de tão directa, parece fácil. Ou melhor parece que diz pouco, porque se percebe tudo, porque as palavras estão mesmo no sítio onde se espera que estejam, porque encontramos em cada verso exactamente o que o anterior fazia desejar. Não haja ilusões, porém: nada é mais difícil do que atingir os privilégios da simplicidade, do que comunicar em dois versos. É um esforço imenso trabalhar as palavras, escorrê-las, moldar o seu metal.
"As palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror,
são a grande razão, a única razão."
Boa viagem, Eugénio.
(Luís Miguel Viana - DN online)
(Terri Weifenbach)
Eugénio sempre gostou muito de flores. Recordo-me dele há 15 anos, fotografado para o Público, a esparramar-se pela verdura da Póvoa da Atalaia, sua terra natal, no concelho do Fundão. Foi assim que apareceu, deitado na erva, de costas, afogado em malmequeres, risonho, a rebolar-se como um gato.
"Sou um homem do Sul, tenho de repeti-lo", escreveu um dia, para que a sua matriz meridional não se diluísse na relação que dedicou ao Porto. Conheceu-o em dois ou três dias distantes em que amigos lhe mostraram o mar da Foz, a Cantareira, o "cabedelo de oiro" que Raul Brandão disse ter conservado sempre na retina. Foi com a Sophia de Mello Breyner que passou uma tarde nos jardins abandonados da Quinta do Campo Alegre. E conheceu o negrilho da Cordoaria, as tílias do Palácio, as magnólias de S. Lázaro, o jacarandá e o cedro glauco do Largo de Viriato. O Porto, portanto "Esta é a luz que gostaria de levar nos olhos quando morrer - a luz do mar da Foz, atravessada por duas ou três gaivotas."
Se há marca que identifica a poesia de Eugénio é o seu intenso lirismo, a forma fluida e cantante como os sentimentos surgem e longamente se espraiam.
"Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor."
Foi um poeta do amor. "Nunca o amor encontrou em Portugal uma voz tão subtil e apaixonadamente imaginativa", disse dele Ramos Rosa. É uma poesia macia, muito doce, coleante, quase táctil
"Vê como o Verão
subitamente
se faz água no teu peito
e a noite se faz barco
e a minha mão marinheiro."
A sua escrita, de tão luminosa, de tão directa, parece fácil. Ou melhor parece que diz pouco, porque se percebe tudo, porque as palavras estão mesmo no sítio onde se espera que estejam, porque encontramos em cada verso exactamente o que o anterior fazia desejar. Não haja ilusões, porém: nada é mais difícil do que atingir os privilégios da simplicidade, do que comunicar em dois versos. É um esforço imenso trabalhar as palavras, escorrê-las, moldar o seu metal.
"As palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror,
são a grande razão, a única razão."
Boa viagem, Eugénio.
(Luís Miguel Viana - DN online)
(Terri Weifenbach)
As palmeiras e o Turismo
Sob o pó dos milénios, no que resta da mítica fortaleza de Masada, mandada erguer por Herodes junto ao Mar Morto, foram encontradas, nas escavações de há 30 anos, algumas sementes de palmeira, da tribo das tamareiras, a que os especialistas chamam Phoenix dactylifera.
As sementes permaneceram, ao longo destes anos, guardadas numa gaveta, no gabinete de arqueologia botânica de uma universidade israelita. Mas um grupo de cientistas conseguiu que uma delas, já chamada Matusalém, germinasse, depois de ter sido banhada em água quente e submetida a um tratamento com fertilizantes de algas marinhas.
E aí está, tão impressionante como as histórias guardadas no lugar mítico da luta dos judeus pela liberdade, uma palmeira de 30 centímetros, com apenas seis folhas, irrompendo do tempo paradoxal.
A notícia da semente de palmeira mais antiga do mundo, na qual a improvável vida se manifesta passados dois mil anos, ganhou, esta semana, o esplendor efémero dos jornais. Sabe-se que a frágil palmeira, resgatada à desolação do lugar onde quase mil judeus se imolaram para evitar a rendição ao poderoso romano, só daqui a 30 anos dará tâmaras.(...)
Esta palmeira cresce, lentamente, num vaso, justamente quando os grandes palmares do Norte de África são ameaçados por uma devastação silenciosa.
Há poucos meses, o jornal Aujourd'hui le Maroc lançou um apelo pelas palmeiras em perigo. Milhares de marroquinos vivem do palmar, em redor do qual assenta o frágil ecossistema do oásis. Mas o tráfico, em larga escala, de palmeiras para lugares turísticos, a urbanização avassaladora, a salinidade crescente dos terrenos e a progressão do bayoud, a doença das palmeiras, que afectou, num século, dois terços dos palmares marroquinos, vão ditando a lei, no país oitavo produtor mundial de tâmaras.
É por isso que Anas Bennani, o fotógrafo que ama as palmeiras de Marraquexe, não desiste. A exposição a que deu título "Estas Palmeiras que nos Observam" acaba de fazer soar, em Rabat, o grito de alarme já lançado noutras cidades. É um belo gesto de desespero contra a morte das palmeiras de Marrocos. Leio no Liberation, de Casablanca, o lamento de Anas "Temo o dia em que as nossas crianças contem que, em Marraquexe, havia um belo palmar, perto do qual, ao sol-poente, a paisagem era feérica."
Estas fotografias que mostram a agonia do palmar marroquino ardem rente ao dizer do poeta que nos deixou, há dias
"Chegaram tarde à minha vida, as palmeiras.
Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comprado
a Nausica, mas só no Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero."
Anas Bennani, o fotógrafo que ama as palmeiras de Marraquexe, haveria de gostar destes versos de Eugénio. Eles dançaram uma toada berbere dentro do sonho que tive, uma noite destas. No sonho, eu semeava nuvens, para uma chuva futura. Havia uma nesga de vigília nessa construção de uma paisagem. Como se a parte acordada de mim ditasse um texto para dentro do sonho onde a outra parte de mim semeava nuvens. Era um lugar de desolação, havia uma palmeira perto de uma casa em ruínas. (...)
Fonte: DN online
(Anas Bennani)
As sementes permaneceram, ao longo destes anos, guardadas numa gaveta, no gabinete de arqueologia botânica de uma universidade israelita. Mas um grupo de cientistas conseguiu que uma delas, já chamada Matusalém, germinasse, depois de ter sido banhada em água quente e submetida a um tratamento com fertilizantes de algas marinhas.
E aí está, tão impressionante como as histórias guardadas no lugar mítico da luta dos judeus pela liberdade, uma palmeira de 30 centímetros, com apenas seis folhas, irrompendo do tempo paradoxal.
A notícia da semente de palmeira mais antiga do mundo, na qual a improvável vida se manifesta passados dois mil anos, ganhou, esta semana, o esplendor efémero dos jornais. Sabe-se que a frágil palmeira, resgatada à desolação do lugar onde quase mil judeus se imolaram para evitar a rendição ao poderoso romano, só daqui a 30 anos dará tâmaras.(...)
Esta palmeira cresce, lentamente, num vaso, justamente quando os grandes palmares do Norte de África são ameaçados por uma devastação silenciosa.
Há poucos meses, o jornal Aujourd'hui le Maroc lançou um apelo pelas palmeiras em perigo. Milhares de marroquinos vivem do palmar, em redor do qual assenta o frágil ecossistema do oásis. Mas o tráfico, em larga escala, de palmeiras para lugares turísticos, a urbanização avassaladora, a salinidade crescente dos terrenos e a progressão do bayoud, a doença das palmeiras, que afectou, num século, dois terços dos palmares marroquinos, vão ditando a lei, no país oitavo produtor mundial de tâmaras.
É por isso que Anas Bennani, o fotógrafo que ama as palmeiras de Marraquexe, não desiste. A exposição a que deu título "Estas Palmeiras que nos Observam" acaba de fazer soar, em Rabat, o grito de alarme já lançado noutras cidades. É um belo gesto de desespero contra a morte das palmeiras de Marrocos. Leio no Liberation, de Casablanca, o lamento de Anas "Temo o dia em que as nossas crianças contem que, em Marraquexe, havia um belo palmar, perto do qual, ao sol-poente, a paisagem era feérica."
Estas fotografias que mostram a agonia do palmar marroquino ardem rente ao dizer do poeta que nos deixou, há dias
"Chegaram tarde à minha vida, as palmeiras.
Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comprado
a Nausica, mas só no Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero."
Anas Bennani, o fotógrafo que ama as palmeiras de Marraquexe, haveria de gostar destes versos de Eugénio. Eles dançaram uma toada berbere dentro do sonho que tive, uma noite destas. No sonho, eu semeava nuvens, para uma chuva futura. Havia uma nesga de vigília nessa construção de uma paisagem. Como se a parte acordada de mim ditasse um texto para dentro do sonho onde a outra parte de mim semeava nuvens. Era um lugar de desolação, havia uma palmeira perto de uma casa em ruínas. (...)
Fonte: DN online
(Anas Bennani)
Os avisos do PR
Jorge Sampaio lembrou que as leis portuguesas devem ser respeitadas e sublinhou "Não vamos dar guarida à xenofobia, à intolerância e ao racismo".
Ah sim? Quem diria...
E para além de visitar a Cova da Moura e discursar, o que é que o senhor Presidente pretende fazer quanto ao desrespeito pelas leis portuguesas que ocorreu na manifestação do Martim Moniz?
Ah sim? Quem diria...
E para além de visitar a Cova da Moura e discursar, o que é que o senhor Presidente pretende fazer quanto ao desrespeito pelas leis portuguesas que ocorreu na manifestação do Martim Moniz?
Estão satisfeitos de quê?
Bandeiras de Portugal e do Partido Nacional Renovador (PNR), símbolos da Frente Nacional, cabeças rapadas e cartazes apelando ao repatriamento dos imigrantes e ao orgulho nacionalista, saudações nazis e o hino nacional, várias vezes repetidos, marcaram a manifestação de extrema-direita que ontem à tarde se realizou entre a Praça do Martim Moniz e o Rossio.
Com cerca de 300 pessoas, segundo a polícia, e quase mil nas contas do PNR, esta foi, em qualquer dos casos, a maior concentração pública de sempre deste tipo no País. Já na Praça do Rossio, esteve a um passo de degenerar no confronto físico, quando populares gritaram palavras de ordem como "fascistas" e "25 de Abril sempre". A tensão começava a subir, com gritos desencontrados de ambos os lados, e só a actuação do Corpo de Intervenção da PSP e polícias com cães o impediram. Distúrbios houve apenas poucos minutos depois, já na Rua do Carmo. O Corpo de Intervenção actuou para proteger dois indivíduos perseguidos por alguns manifestantes e acabou por agredir um repórter fotográfico, quando dispersava as pessoas que tinham acorrido ao local.
Contradição. Grupos de jovens, alguns apoiantes envergonhados e outros tantos curiosos começaram a concentrar-se no Martim Moniz às 13.30, antes da hora marcada para o início do protesto. Cabeças-rapadas ostentando bandeiras portuguesas e cruzes suásticas tatuadas nos braços começavam já, por essa altura, a estender no chão as primeiras faixas que davam o mote à manifestação "Isto é nosso", "Não existem direitos iguais quando és um alvo por seres branco" e "Imigrantes igual a crime". Palavras de ordem em evidente contradição com as declarações dos dirigentes do PNR, da Causa Identitária e da própria Frente Nacional, presentes na manifestação, que recusaram ser conotados com atitudes racistas e xenófobas.
"Não somos racistas, como andam aí a dizer, mas não aceitamos que haja ruas de Lisboa onde os portugueses não podem estar em segurança porque estão nas mãos de mafias e de traficantes", afirmava José Pinto Coelho, dirigente do PNR. Garantindo que a manifestação não era convocada pelo seu partido, este designer gráfico, de 44 anos, dava no entanto a cara pe- lo protesto. "Estamos aqui para apoiar esta manifestação da Frente Nacional, da qual estamos próximos", explicava Pinto Coelho. E sublinhava ainda "Temos que reagir à criminalidade. Esta é uma manifestação pacífica e é só o começo. É natural que façamos mais manifestações destas no futuro."
Mário Machado, da Frente Nacional, e um dos organizadores da marcha, foi mais longe. Sem meias palavras, mas recusando a classificação de racista, garantia "Imigração e criminalidade andam quase sempre de mãos dadas e não temos de ter medo de chamar as coisas pelos nomes". Para este dirigente, que reclama o orgulho de ser branco, a solução é só uma. "O Governo tem de expatriar os imigrantes. A nacionalidade herda-se, não se compra." Quanto à criminalidade, o seu movimento "espera que o governo passe a considerar imputáveis os menores a partir dos 12 anos, porque há miúdos dessa idade que andam aí a roubar".
Antes de iniciarem a curta marcha até ao Rossio, os manifestantes - "não só skinheads, deve haver apenas 30 ou 40 no meio de 300 pessoas", dizia Mário Machado - fizeram um minuto de silêncio "pelos portugueses mortos na África do Sul e pelos portugueses que sofrem na linha de Sintra e que têm medo de sair de casa".
Faltavam poucos minutos para as 15.00 quando os manifestantes saíram do Martim Moniz, acompanhados de perto pela polícia.
Aos gritos de "Portugal", empunhando cartazes com as palavras de ordem "Imigração igual a colonização" e "Sampaio na Cova da Moura, portugueses no Martim Moniz" e fazendo a espaços saudações de braço estendido, os manifestantes, homens jovens na maioria, percorreram em poucos minutos a distância entre as duas praças. Foi já no Rossio, onde alguns populares os apelidaram de "fascistas" e gritaram "25 de Abril sempre" que os ânimos começaram a aquecer. Um indivíduo cabo-verdiano chegou a envolver-se numa discussão acesa com alguns manifestantes e só a pronta intervenção policial, que formou uma barreira entre opositores, evitou confrontos.
Questionado sobre o gesto de braço estendido feito várias vezes pelos manifestantes, Pinto Coelho recusou que isso fosse uma saudação nazi. "É uma saudação nacionalista, da Mocidade Portuguesa". Reconheceu, porém, "incómodo" pela situação, porque "vai ser aproveitada pela comunicação social".
No final, o comandante Oliveira Pereira, do Comando Metropolitano da PSP, estava satisfeito. "Correu genericamente bem, não fizemos detenções", afirmou. Sobre a agressão ao repórter fotográfico, desvalorizou-a, justificando a situação pela necessidade de actuação da polícia no momento.
Racismo, Xenofobia, Simbolos Nazis e as 'autoridades' satisfeitas. Grande país. Que é feito da Constituição Portuguesa?
Com cerca de 300 pessoas, segundo a polícia, e quase mil nas contas do PNR, esta foi, em qualquer dos casos, a maior concentração pública de sempre deste tipo no País. Já na Praça do Rossio, esteve a um passo de degenerar no confronto físico, quando populares gritaram palavras de ordem como "fascistas" e "25 de Abril sempre". A tensão começava a subir, com gritos desencontrados de ambos os lados, e só a actuação do Corpo de Intervenção da PSP e polícias com cães o impediram. Distúrbios houve apenas poucos minutos depois, já na Rua do Carmo. O Corpo de Intervenção actuou para proteger dois indivíduos perseguidos por alguns manifestantes e acabou por agredir um repórter fotográfico, quando dispersava as pessoas que tinham acorrido ao local.
Contradição. Grupos de jovens, alguns apoiantes envergonhados e outros tantos curiosos começaram a concentrar-se no Martim Moniz às 13.30, antes da hora marcada para o início do protesto. Cabeças-rapadas ostentando bandeiras portuguesas e cruzes suásticas tatuadas nos braços começavam já, por essa altura, a estender no chão as primeiras faixas que davam o mote à manifestação "Isto é nosso", "Não existem direitos iguais quando és um alvo por seres branco" e "Imigrantes igual a crime". Palavras de ordem em evidente contradição com as declarações dos dirigentes do PNR, da Causa Identitária e da própria Frente Nacional, presentes na manifestação, que recusaram ser conotados com atitudes racistas e xenófobas.
"Não somos racistas, como andam aí a dizer, mas não aceitamos que haja ruas de Lisboa onde os portugueses não podem estar em segurança porque estão nas mãos de mafias e de traficantes", afirmava José Pinto Coelho, dirigente do PNR. Garantindo que a manifestação não era convocada pelo seu partido, este designer gráfico, de 44 anos, dava no entanto a cara pe- lo protesto. "Estamos aqui para apoiar esta manifestação da Frente Nacional, da qual estamos próximos", explicava Pinto Coelho. E sublinhava ainda "Temos que reagir à criminalidade. Esta é uma manifestação pacífica e é só o começo. É natural que façamos mais manifestações destas no futuro."
Mário Machado, da Frente Nacional, e um dos organizadores da marcha, foi mais longe. Sem meias palavras, mas recusando a classificação de racista, garantia "Imigração e criminalidade andam quase sempre de mãos dadas e não temos de ter medo de chamar as coisas pelos nomes". Para este dirigente, que reclama o orgulho de ser branco, a solução é só uma. "O Governo tem de expatriar os imigrantes. A nacionalidade herda-se, não se compra." Quanto à criminalidade, o seu movimento "espera que o governo passe a considerar imputáveis os menores a partir dos 12 anos, porque há miúdos dessa idade que andam aí a roubar".
Antes de iniciarem a curta marcha até ao Rossio, os manifestantes - "não só skinheads, deve haver apenas 30 ou 40 no meio de 300 pessoas", dizia Mário Machado - fizeram um minuto de silêncio "pelos portugueses mortos na África do Sul e pelos portugueses que sofrem na linha de Sintra e que têm medo de sair de casa".
Faltavam poucos minutos para as 15.00 quando os manifestantes saíram do Martim Moniz, acompanhados de perto pela polícia.
Aos gritos de "Portugal", empunhando cartazes com as palavras de ordem "Imigração igual a colonização" e "Sampaio na Cova da Moura, portugueses no Martim Moniz" e fazendo a espaços saudações de braço estendido, os manifestantes, homens jovens na maioria, percorreram em poucos minutos a distância entre as duas praças. Foi já no Rossio, onde alguns populares os apelidaram de "fascistas" e gritaram "25 de Abril sempre" que os ânimos começaram a aquecer. Um indivíduo cabo-verdiano chegou a envolver-se numa discussão acesa com alguns manifestantes e só a pronta intervenção policial, que formou uma barreira entre opositores, evitou confrontos.
Questionado sobre o gesto de braço estendido feito várias vezes pelos manifestantes, Pinto Coelho recusou que isso fosse uma saudação nazi. "É uma saudação nacionalista, da Mocidade Portuguesa". Reconheceu, porém, "incómodo" pela situação, porque "vai ser aproveitada pela comunicação social".
No final, o comandante Oliveira Pereira, do Comando Metropolitano da PSP, estava satisfeito. "Correu genericamente bem, não fizemos detenções", afirmou. Sobre a agressão ao repórter fotográfico, desvalorizou-a, justificando a situação pela necessidade de actuação da polícia no momento.
Racismo, Xenofobia, Simbolos Nazis e as 'autoridades' satisfeitas. Grande país. Que é feito da Constituição Portuguesa?
sábado, junho 18, 2005
Fotos da Magnum na Cova da Moura
Fotos da Magnum na Cova da Moura
Bairro exibe projecto 'Nós Kasa', de Susan Meiselas. Exposição da agência será no CCB
A fotógrafa norte-americana fez 'Polaroids' com gente do bairro, em troca da sua hospitalidade. As ampliações estão agora pelas ruas
Com nove netos e tanta roupa para lavar, dona Domingas ainda não tinha percebido bem qual a melhor altura para pendurar na corda o seu retrato com o marido, Aguinaldo. Ontem estava em casa, talvez a tratar do almoço ou das linguiças e torresmos que vai vendendo para ajudar às despesas, quando ouviu o pedido de Susan Meiselas e compreendeu finalmente que a ideia é mostrar o bairro tal como é. Amanhã, quando o Presidente da República for à Cova da Moura inaugurar Nós Kasa, esta será uma das 30 imagens que poderá ver pelas ruas. Depois de 17 de Julho, quando acabar a exposição, dona Domingas vai "arranjar um quadro e ficar com ele para toda a vida". Porque "a gente morre e a fotografia fica. É uma recordação".
Para a fotógrafa norte-americana da Magnum - convidada, tal como Josef Koudelka e Miguel Rio Branco, a fotografar o Portugal de agora para actualizar um arquivo que só chegava aos anos 90 e integrar essas imagens em Espelho Meu, a grande exposição da agência a inaugurar, dia 30, no CCB -, o País (que conhecia pela relação com Moçambique, onde teve uma "experiência muito forte" nos anos 80), era sinónimo de "campo aberto para fazer uma história".
A Magnum fez uma breve pesquisa e o tema das ex-colónias e da imigração na Europa começou a ganhar forma. Em Novembro de 2004, após deambular por Alfama e Martim Moniz com Ivo Cordeiro, seu assistente neste projecto, Susan Meiselas foi parar a um dos bairros da Amadora que só tem sido notícia pelas piores razões. Atraída por uma brochura de "Turismo na Cova da Moura".
O primeiro pensamento foi "não sei se será boa ideia", confessou ontem aos jornalistas e aos responsáveis do CCB, durante a visita a Nós Kasa. Mas desfez as dúvidas quando viu que o terreno a pisar seria mais seguro graças ao apoio da Associação Cultural Moinho da Juventude, um viveiro de boas ideias e acções criado e dinamizado por Lieve Meersschaert, a psicóloga belga ali radicada desde 1978.
Vencidas as primeiras desconfianças mútuas e percebido que, "em certas esquinas, queremos conhecer o rapaz certo", Susan Meiselas deu início ao trabalho. A pensar no CCB, onde as suas fotos vão partilhar as galerias com as de Cartier-Bresson, Inge Morath, Gilles Peress, Guy Le Querrec ou Martin Parr, captadas em Portugal desde os anos 50 anos (o arquivo da Magnum tem cerca de mil registos, mas poucos foram publicados).
Um dia, um rapaz desafiou-a. "Tira-me uma foto". Ela fez-lhe a vontade. Ele, que nunca tinha visto uma Polaroid, ficou fascinado. E ela começou a fazer o mesmo com outros habitantes do bairro, assinando e datando as provas únicas desses "momentos de troca".
"Para mim, a fotografia é uma desculpa para estarmos onde não pertencemos", considera a fotógrafa que vive em Little Italy (Nova Iorque). A meio das três semanas passadas na Cova da Moura, sentiu que deveria retribuir a hospitalidade. Com patrocínio do BES (que promove Espelho Meu, mostra comissariada por Alexandra Fonseca e Andrea Holzherr), assim nasceu Nós Kasa.
Ampliados e impressos em telas plásticas, os sorrisos de pose estendem-se agora pelas ruas, já engalanadas a preceito, com recortes de panfletos publicitários, para a festa de Kola San Jon. Num emaranhado de ladeiras alcatroadas encontram-se as casas erguidas a custo e os rostos que as habitam. Vânia e Vanessa. Dona Idalina, "mãe de todos os que têm situação difícil". A pequena Cátia. Dona Glória, que o sr. Monteiro "prendeu" com uma moldura improvisada de madeira por causa do vento. Ana, a loira de cabelos compridos. Graça e Manuel, à porta do bar onde assam sardinhas. Maria e o mural do jogo da bisca no café ao lado. Basta seguir os graffiti. Ou marcar uma visita guiada pelo telefone 21 4971070.
O projecto de Susan Meiselas incluía ainda um workshop de fotografia, que a ajudou a cimentar relações e conhecer a realidade problemática daquela colina, ocupada por sete mil pessoas, 75% das quais oriundas de Cabo Verde. Metade com menos de 20 anos e muitas delas analfabetas. Com o apoio da Canon e da Embaixada de Portugal em Washington, chegaram ao bairro uma impressora e oito câmaras, agora nas mãos de 15 jovens que descobrem o "poder" da objectiva. A partir de amanhã, as suas fotos vão estar nas cordas em redor do Moinho Velho. E talvez Santinho, um dos que posou para Susan Meiselas, tenha conseguido um bom ângulo dos muitos jornalistas que ontem andavam de nariz no ar à porta de sua casa.
(DN online)
Bairro exibe projecto 'Nós Kasa', de Susan Meiselas. Exposição da agência será no CCB
A fotógrafa norte-americana fez 'Polaroids' com gente do bairro, em troca da sua hospitalidade. As ampliações estão agora pelas ruas
Com nove netos e tanta roupa para lavar, dona Domingas ainda não tinha percebido bem qual a melhor altura para pendurar na corda o seu retrato com o marido, Aguinaldo. Ontem estava em casa, talvez a tratar do almoço ou das linguiças e torresmos que vai vendendo para ajudar às despesas, quando ouviu o pedido de Susan Meiselas e compreendeu finalmente que a ideia é mostrar o bairro tal como é. Amanhã, quando o Presidente da República for à Cova da Moura inaugurar Nós Kasa, esta será uma das 30 imagens que poderá ver pelas ruas. Depois de 17 de Julho, quando acabar a exposição, dona Domingas vai "arranjar um quadro e ficar com ele para toda a vida". Porque "a gente morre e a fotografia fica. É uma recordação".
Para a fotógrafa norte-americana da Magnum - convidada, tal como Josef Koudelka e Miguel Rio Branco, a fotografar o Portugal de agora para actualizar um arquivo que só chegava aos anos 90 e integrar essas imagens em Espelho Meu, a grande exposição da agência a inaugurar, dia 30, no CCB -, o País (que conhecia pela relação com Moçambique, onde teve uma "experiência muito forte" nos anos 80), era sinónimo de "campo aberto para fazer uma história".
A Magnum fez uma breve pesquisa e o tema das ex-colónias e da imigração na Europa começou a ganhar forma. Em Novembro de 2004, após deambular por Alfama e Martim Moniz com Ivo Cordeiro, seu assistente neste projecto, Susan Meiselas foi parar a um dos bairros da Amadora que só tem sido notícia pelas piores razões. Atraída por uma brochura de "Turismo na Cova da Moura".
O primeiro pensamento foi "não sei se será boa ideia", confessou ontem aos jornalistas e aos responsáveis do CCB, durante a visita a Nós Kasa. Mas desfez as dúvidas quando viu que o terreno a pisar seria mais seguro graças ao apoio da Associação Cultural Moinho da Juventude, um viveiro de boas ideias e acções criado e dinamizado por Lieve Meersschaert, a psicóloga belga ali radicada desde 1978.
Vencidas as primeiras desconfianças mútuas e percebido que, "em certas esquinas, queremos conhecer o rapaz certo", Susan Meiselas deu início ao trabalho. A pensar no CCB, onde as suas fotos vão partilhar as galerias com as de Cartier-Bresson, Inge Morath, Gilles Peress, Guy Le Querrec ou Martin Parr, captadas em Portugal desde os anos 50 anos (o arquivo da Magnum tem cerca de mil registos, mas poucos foram publicados).
Um dia, um rapaz desafiou-a. "Tira-me uma foto". Ela fez-lhe a vontade. Ele, que nunca tinha visto uma Polaroid, ficou fascinado. E ela começou a fazer o mesmo com outros habitantes do bairro, assinando e datando as provas únicas desses "momentos de troca".
"Para mim, a fotografia é uma desculpa para estarmos onde não pertencemos", considera a fotógrafa que vive em Little Italy (Nova Iorque). A meio das três semanas passadas na Cova da Moura, sentiu que deveria retribuir a hospitalidade. Com patrocínio do BES (que promove Espelho Meu, mostra comissariada por Alexandra Fonseca e Andrea Holzherr), assim nasceu Nós Kasa.
Ampliados e impressos em telas plásticas, os sorrisos de pose estendem-se agora pelas ruas, já engalanadas a preceito, com recortes de panfletos publicitários, para a festa de Kola San Jon. Num emaranhado de ladeiras alcatroadas encontram-se as casas erguidas a custo e os rostos que as habitam. Vânia e Vanessa. Dona Idalina, "mãe de todos os que têm situação difícil". A pequena Cátia. Dona Glória, que o sr. Monteiro "prendeu" com uma moldura improvisada de madeira por causa do vento. Ana, a loira de cabelos compridos. Graça e Manuel, à porta do bar onde assam sardinhas. Maria e o mural do jogo da bisca no café ao lado. Basta seguir os graffiti. Ou marcar uma visita guiada pelo telefone 21 4971070.
O projecto de Susan Meiselas incluía ainda um workshop de fotografia, que a ajudou a cimentar relações e conhecer a realidade problemática daquela colina, ocupada por sete mil pessoas, 75% das quais oriundas de Cabo Verde. Metade com menos de 20 anos e muitas delas analfabetas. Com o apoio da Canon e da Embaixada de Portugal em Washington, chegaram ao bairro uma impressora e oito câmaras, agora nas mãos de 15 jovens que descobrem o "poder" da objectiva. A partir de amanhã, as suas fotos vão estar nas cordas em redor do Moinho Velho. E talvez Santinho, um dos que posou para Susan Meiselas, tenha conseguido um bom ângulo dos muitos jornalistas que ontem andavam de nariz no ar à porta de sua casa.
(DN online)
NAZIS
O largo do Martim Moniz, em Lisboa, deverá receber amanhã "cerca de 300 pessoas", numa manifestação "contra o aumento da criminalidade" em Portugal. Esta é, pelo menos, a estimativa avançada pelos organizadores da iniciativa, o movimento de extrema-direita chamado Frente Nacional. O pré-aviso para a manif já deu entrada no Governo Civil e, apesar de "atenta", a PSP prefere não avançar detalhes sobre o dispositivo de segurança.
"De dentro do meio nacionalista estamos a contar pelo menos com 300 pessoas, mas não fazemos qualquer ideia de quantas vão aparecer porque viram as notícias na comunicação social", afirmou Vítor Lima, da Frente Nacional, num mail enviado em resposta ao DN.
Segundo António Sardinha, chefe do gabinete da Governadora Civil de Lisboa, o pré-aviso da manif deu entrada ontem nos serviços, "dentro dos termos legais". Questionado sobre se vão proibir o encontro, o responsável referiu só que o assunto está "em ponderação".
José Pinto Coelho, vice-presidente do PNR, explicou ao DN que o partido também se associa à manif, devido ao aumento da criminalidade. "Não temos que ter esses complexos, porque, colados ao rótulo da xenofobia, acabamos por não agir", afirmou, rejeitando que a associação entre crime e imigração possa ser apelidada de racismo. "Não vale a pena escamotear a verdade", disse. Já o partido "Os Verdes" repudia a manifestação.
Ao DN, a sub-comissária Paula Monteiro, do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, garante que os agentes "estão preparados e atentos", mas não avançou mais detalhes, ao contrário do que o gabinete de relações públicas prometera anteontem.
(DN online)
NÃO ERA SUPOSTO ESTE TIPO DE MANIFESTAÇÕES DE GRUPELHOS NEONAZIS SER PROBIBIDO PELA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA?
"De dentro do meio nacionalista estamos a contar pelo menos com 300 pessoas, mas não fazemos qualquer ideia de quantas vão aparecer porque viram as notícias na comunicação social", afirmou Vítor Lima, da Frente Nacional, num mail enviado em resposta ao DN.
Segundo António Sardinha, chefe do gabinete da Governadora Civil de Lisboa, o pré-aviso da manif deu entrada ontem nos serviços, "dentro dos termos legais". Questionado sobre se vão proibir o encontro, o responsável referiu só que o assunto está "em ponderação".
José Pinto Coelho, vice-presidente do PNR, explicou ao DN que o partido também se associa à manif, devido ao aumento da criminalidade. "Não temos que ter esses complexos, porque, colados ao rótulo da xenofobia, acabamos por não agir", afirmou, rejeitando que a associação entre crime e imigração possa ser apelidada de racismo. "Não vale a pena escamotear a verdade", disse. Já o partido "Os Verdes" repudia a manifestação.
Ao DN, a sub-comissária Paula Monteiro, do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, garante que os agentes "estão preparados e atentos", mas não avançou mais detalhes, ao contrário do que o gabinete de relações públicas prometera anteontem.
(DN online)
NÃO ERA SUPOSTO ESTE TIPO DE MANIFESTAÇÕES DE GRUPELHOS NEONAZIS SER PROBIBIDO PELA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA?
Nunca pensei citar este tipo
Sobre Álvaro Cunhal, nos seus aspectos positivos e negativos, e tudo o que de bom e mau fez, como qualquer pessoa, já tudo foi dito, escrito e relembrado. Só a distância temporal é que ajudará a revelar mais pormenores deste homem misterioso, asceta, de vivência quase clandestina, mas que na sua morte e funeral teve uma impressionante manifestação de pesar de milhares de militantes, simpatizantes e até, eventualmente, de homens e mulheres que nunca partilharam os seus ideais e aspirações.
E tanto mais espantosa é esta idolatria quanto Cunhal era o oposto dessa veneração, e nisso não acompanhou, nunca, a simbologia e o ritualismo dos mais ferozes países comunistas, onde os líderes eram venerados como deuses.
Em qualquer entrevista, Cunhal nunca respondia na primeira pessoa - era sempre no colectivo - e nunca em nenhuma campanha eleitoral a sua cara e fotografia era usada em cartazes. Nisto, reconheça- -se, Cunhal era contido, envergonhado e discreto. Quem não recorda as imagens dos desfiles na URSS, com as imensas fotografias e líderes de então, com especial fanatismo e fervor no tempo de Estaline? Ainda hoje isso acontece em Cuba, na Coreia no Norte, na China e em alguns países de partido único.
Na sua discrição e completa ausência de vida pública conhecida, Cunhal, pelas suas característiscas pessoais, cultivou sempre o secretismo em redor de si e dos seus, e ainda hoje, com toda a franqueza, poucos sabiam onde morava ou outros pormenores vulgares da sua vida como cidadão. Era nesse lado enigmático que muito do seu reconhecido charme residia, e encantava, segundo diz quem com ele lidava mais de perto.
Por tudo isto, não deixam de ser impressionantes a manifestação a que Lisboa e o País, através da TV, rádios e jornais, assistiram no seu cortejo fúnebre e a forma como o percurso teve cenas emocionantes genuínas.
Poucos, na verdade, motivarão essas manifestações na última hora, e isso percebe-se.
A pequena e grande História nacional faz-se destes homens, odiados e amados por milhares, e que marcaram períodos únicos da Nação.
Luís Delgado
(DN online)
E tanto mais espantosa é esta idolatria quanto Cunhal era o oposto dessa veneração, e nisso não acompanhou, nunca, a simbologia e o ritualismo dos mais ferozes países comunistas, onde os líderes eram venerados como deuses.
Em qualquer entrevista, Cunhal nunca respondia na primeira pessoa - era sempre no colectivo - e nunca em nenhuma campanha eleitoral a sua cara e fotografia era usada em cartazes. Nisto, reconheça- -se, Cunhal era contido, envergonhado e discreto. Quem não recorda as imagens dos desfiles na URSS, com as imensas fotografias e líderes de então, com especial fanatismo e fervor no tempo de Estaline? Ainda hoje isso acontece em Cuba, na Coreia no Norte, na China e em alguns países de partido único.
Na sua discrição e completa ausência de vida pública conhecida, Cunhal, pelas suas característiscas pessoais, cultivou sempre o secretismo em redor de si e dos seus, e ainda hoje, com toda a franqueza, poucos sabiam onde morava ou outros pormenores vulgares da sua vida como cidadão. Era nesse lado enigmático que muito do seu reconhecido charme residia, e encantava, segundo diz quem com ele lidava mais de perto.
Por tudo isto, não deixam de ser impressionantes a manifestação a que Lisboa e o País, através da TV, rádios e jornais, assistiram no seu cortejo fúnebre e a forma como o percurso teve cenas emocionantes genuínas.
Poucos, na verdade, motivarão essas manifestações na última hora, e isso percebe-se.
A pequena e grande História nacional faz-se destes homens, odiados e amados por milhares, e que marcaram períodos únicos da Nação.
Luís Delgado
(DN online)
sexta-feira, junho 17, 2005
Também não fizeram falta...
A Assembleia da República aprovou ontem dois votos de pesar pela morte de Álvaro Cunhal e Vasco Gonçalves, mas as bancadas do PSD e do CDS/PP recusaram votar os elogios ao percurso e qualidades políticas do líder histórico do PCP e do antigo primeiro-ministro. PS, PCP, BE e Verdes foram suficientes para aprovar os votos na totalidade, mas aquelas duas bancadas apenas votaram favoravelmente a parte respeitante ao pesar pela morte e envio de condolências às respectivas famílias.
"A luta continua. Cunhal continuará a viver nos nossos corações", afirmou, em tom sentido, Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, cargo que Álvaro Cunhal ocupou durante 31 anos. Jaime Gama, presidente da AR, falou num "referencial de esperança" e o ministro Santos Silva "num dos construtores da democracia portuguesa".
Ainda à esquerda, Alberto Martins sublinhou o facto de ter "morrido um grande português", Louçã prestou homenagem ao homem que deu "um contributo ímpar para a história portuguesa do século XX" e Heloísa Apolónia lembrou a convivência entre PCP e Verdes para salientar o "profundo respeito pelas diferenças" de Álvaro Cunhal.
Miguel Macedo, do PSD, disse que o seu partido "não acompanha os elogios políticos" ao histórico comunista, enquanto Nuno Melo falou em "visão errada do mundo que não era a nossa". No final, as duas bancadas abstiveram-se. Ao lado de PSD e CDS esteve ainda um socialista, Ricardo Gonçalves.
Já o voto de pesar pela morte do general Vasco Gonçalves, primeiro-ministro de quatro dos seis Governos provisórios entre 1974 e 1976, dividiu ainda mais as bancadas parlamentares. Neste caso, PSD e CDS votaram mesmo contra as referências elogiosas ao percurso do general. Do outro lado, uma vez mais, PS, PCP, BE e Verdes.
Marques Júnior, do PS, falou num "grande patriota" e na "generosidade da sua acção política". Agostinho Lopes usou um tom mais sentido "Tu foste homem inteiro. Tu, companheiro Vasco. Não choraremos bastante este homem bom e generoso". Heloísa Apolónia, do PEV, classificou-o como um "engenheiro da justiça social" e Luís Fazenda realçou o "homem frontal e patriota".
Também o Governo, pelo ministro Santos Silva, realçou que "a democracia faz-se da pluralidade de todos nós", para criticar a recusa das bancadas à direita em votar favoravelmente o documento.
"A luta continua. Cunhal continuará a viver nos nossos corações", afirmou, em tom sentido, Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, cargo que Álvaro Cunhal ocupou durante 31 anos. Jaime Gama, presidente da AR, falou num "referencial de esperança" e o ministro Santos Silva "num dos construtores da democracia portuguesa".
Ainda à esquerda, Alberto Martins sublinhou o facto de ter "morrido um grande português", Louçã prestou homenagem ao homem que deu "um contributo ímpar para a história portuguesa do século XX" e Heloísa Apolónia lembrou a convivência entre PCP e Verdes para salientar o "profundo respeito pelas diferenças" de Álvaro Cunhal.
Miguel Macedo, do PSD, disse que o seu partido "não acompanha os elogios políticos" ao histórico comunista, enquanto Nuno Melo falou em "visão errada do mundo que não era a nossa". No final, as duas bancadas abstiveram-se. Ao lado de PSD e CDS esteve ainda um socialista, Ricardo Gonçalves.
Já o voto de pesar pela morte do general Vasco Gonçalves, primeiro-ministro de quatro dos seis Governos provisórios entre 1974 e 1976, dividiu ainda mais as bancadas parlamentares. Neste caso, PSD e CDS votaram mesmo contra as referências elogiosas ao percurso do general. Do outro lado, uma vez mais, PS, PCP, BE e Verdes.
Marques Júnior, do PS, falou num "grande patriota" e na "generosidade da sua acção política". Agostinho Lopes usou um tom mais sentido "Tu foste homem inteiro. Tu, companheiro Vasco. Não choraremos bastante este homem bom e generoso". Heloísa Apolónia, do PEV, classificou-o como um "engenheiro da justiça social" e Luís Fazenda realçou o "homem frontal e patriota".
Também o Governo, pelo ministro Santos Silva, realçou que "a democracia faz-se da pluralidade de todos nós", para criticar a recusa das bancadas à direita em votar favoravelmente o documento.
terça-feira, junho 14, 2005
Álvaro Cunhal, nas palavras de Jorge Amado
No BARNABÉ
junho 13, 2005
À boleia
[recebido num email do Zé Neves, amigo do Barnabé]
Aproveito a boleia do Barnabé para deixar pedaços de uma pequena preciosidade:
um texto de Jorge Amado sobre Álvaro Cunhal que foi publicado no jornal brasileiro «Imprensa Popular» em Outubro de 1953. O texto seria colectado para uma brochura que o PCP editou em 1954, sob o título “Contribuição à luta pela libertação de Álvaro Cunhal”. Nessa brochura encontrava-se ainda o poema de Neruda que Amado refere em baixo. Se entretanto encontrar a cópia da brochura – que está disponível na Fundação Mário Soares – envio-a igualmente.
Essa Vida Preciosa, Salvemo-la
por Jorge Amado
«Tão magro, de magreza impressionante, chupado a face fina e severa, as mãos nervosas, dessas mãos que falam, mal penteado o cabelo, um homem jovem mas fisicamente sofrido, homem de noites mal dormidas, de pouso incerto, de responsabilidades imensas e de trabalho infatigável, eu o vejo, sentado ao outro lado da mesa, diante de mim, falando com a sua voz um pouco rouca, os olhos ardentes no fundo de um longo e sempre vencido cansaço, e o vejo agora como há cinco anos passados, sua impressionante e inesquecível imagem: Álvaro Cunhal, conhecido por Duarte, o revolucionário português. Falava sobre Portugal, sobre que poderia falar?
Sua paixão e sua tarefa: libertar o povo português da humilhação salazarista, libertar Portugal dessa já tão larga noite de desgraça, de silêncios medrosos, de vozes comprimidas, de alastrada e permanente fome do povo, de corvos clericais comendo o estômago do país, de tristes inquisidores saídos dos cantos mal iluminados das sacristias e da História para oprimir o povo e vendê-lo à velha cliente inglesa ou ao novo senhor norte-americano. Sua paixão e sua tarefa: fazer de Portugal outra vez um país independente e do povo português um povo novamente livre e farto e dono da sua natural alegria.
Ah! Aqueles cansados olhos fundos sorriam e a voz estrangulada de cólera se abria em doçura de palavras de amor para falar de Portugal e do povo português. Eu compreendia que aquele homem de magreza impressionante, de físico combalido pela dura ilegalidade perseguida, era o seu próprio país, seu próprio povo e que, com seu cansaço, sua fadiga de anos, sua rouca voz de velho sono, suas mãos ossudas, eles estava construindo a vida, o dia de amanhã, o mundo novo a nascer das ruínas fatais do salazarismo.
Como era terno seu sorriso ao falar das festas populares nas aldeias do Minho ou dos homens rudes de Trás-os-Montes! Conhecia tudo do seu país e do seu povo, tudo o que era autentico de Portugal, desde o mar-oceano com a sua história portuguesa e gloriosa até as vinhas ao sol e as cantigas e os poemas dos poetas reduzidos na sua grandeza pela censura fascista; desde as histórias heróicas dos militantes presos, torturados até à loucura e à morte, as tenebrosas histórias do Tarrafal, o campo de concentração mais antigo e mais cruel da Europa, até às doces histórias de amor da província portuguesa, com um sabor romântico das velhas legendas.
Contou-me coisas de espantar com sua voz ora doce, grávida de ternura, ora violenta de cólera desatada quando falava da fome dos trabalhadores, da opressão salazarista sobre o povo, da opressão imperialista sobre a sua pátria de primavera e mar.
(...)
os comunistas portugueses, heróis anónimos do povo, os invencíveis, os que estão rasgando a noite fascista com a lâmina de sua audácia e de sua certeza para que novamente o sol da liberdade ilumine o país dos pescadores e das uvas. De um me disse: «Esse esteve no Brasil e aprendeu com vocês»
(...)
Falou do campo, dos homens que habitam as montanhas, daqueles que Ferreira de Castro, o grande romancista, descreveu em «Terra Fria» e «A Lã e a Neve». (...) Falou dos operários das cidades daqueles que Alves Redol descreveu em seus magníficos romances e contou da sua irredutível resistência ao regime salazarista. (...)
Naquela tarde como que me apossei por inteiro de Portugal, do melhor Portugal, do Portugal eterno, como se Álvaro Cunhal o trouxesse nas suas mãos ossudas, tão descarnadas e nervosas, como se trouxesse – e o trazia em verdade – no seu coração de revolucionário e patriota.
Voltei a vê-lo ainda uma vez, dias depois, e a longa conversa sobre Portugal continuou. Falou-me dos escritores, dos plásticos, dos pescadores, fadistas, e sobretudo da luta subterrânea, dura e difícil e jamais vencida. (...)
Veio o processo, dentro dos métodos infames dos tribunais fascistas. Ali se ergueu Álvaro Cunhal (Militão morrera de torturas) e não era o réu, era o acusador, a voz de fogo a queimar o vergonhoso rosto dos carrascos do seu povo, dos vendilhões da sua pátria.
(...)
Pretendem matá-lo e nós sabemos que são frios assassinos os que querem matá-lo. É uma vida preciosa, preciosa para Portugal e para o mundo, ajudemos o povo português a salvá-la!
(...)
Há alguns meses eu estava em frente ao mar Pacífico, na costa sul do Chile, em Isla Negra, em casa de Pablo Neruda, meu companheiro de lutas de esperança. Uma figura de proa de barco se elevava em frente ao mar de ondas altas e violentas. Por isso falámos de Portugal e do seu destino marítimo. Contei ao poeta sobre Cunhal e Pablo levantou-se, deixou-me com o pescador que parara para escutar-nos e quando voltou havia escrito esse maravilhoso poema que é «A Lâmpada Marinha» sobre Portugal, seu povo, Álvaro Cunhal e o dia luminoso de amanhã»
(...)
Hoje o mais bravo dos filhos desse povo heróico, aquele que tudo sacrificou para ser fiel à esperança do povo está com sua vida ameaçada.»
(Carola Clift)
junho 13, 2005
À boleia
[recebido num email do Zé Neves, amigo do Barnabé]
Aproveito a boleia do Barnabé para deixar pedaços de uma pequena preciosidade:
um texto de Jorge Amado sobre Álvaro Cunhal que foi publicado no jornal brasileiro «Imprensa Popular» em Outubro de 1953. O texto seria colectado para uma brochura que o PCP editou em 1954, sob o título “Contribuição à luta pela libertação de Álvaro Cunhal”. Nessa brochura encontrava-se ainda o poema de Neruda que Amado refere em baixo. Se entretanto encontrar a cópia da brochura – que está disponível na Fundação Mário Soares – envio-a igualmente.
Essa Vida Preciosa, Salvemo-la
por Jorge Amado
«Tão magro, de magreza impressionante, chupado a face fina e severa, as mãos nervosas, dessas mãos que falam, mal penteado o cabelo, um homem jovem mas fisicamente sofrido, homem de noites mal dormidas, de pouso incerto, de responsabilidades imensas e de trabalho infatigável, eu o vejo, sentado ao outro lado da mesa, diante de mim, falando com a sua voz um pouco rouca, os olhos ardentes no fundo de um longo e sempre vencido cansaço, e o vejo agora como há cinco anos passados, sua impressionante e inesquecível imagem: Álvaro Cunhal, conhecido por Duarte, o revolucionário português. Falava sobre Portugal, sobre que poderia falar?
Sua paixão e sua tarefa: libertar o povo português da humilhação salazarista, libertar Portugal dessa já tão larga noite de desgraça, de silêncios medrosos, de vozes comprimidas, de alastrada e permanente fome do povo, de corvos clericais comendo o estômago do país, de tristes inquisidores saídos dos cantos mal iluminados das sacristias e da História para oprimir o povo e vendê-lo à velha cliente inglesa ou ao novo senhor norte-americano. Sua paixão e sua tarefa: fazer de Portugal outra vez um país independente e do povo português um povo novamente livre e farto e dono da sua natural alegria.
Ah! Aqueles cansados olhos fundos sorriam e a voz estrangulada de cólera se abria em doçura de palavras de amor para falar de Portugal e do povo português. Eu compreendia que aquele homem de magreza impressionante, de físico combalido pela dura ilegalidade perseguida, era o seu próprio país, seu próprio povo e que, com seu cansaço, sua fadiga de anos, sua rouca voz de velho sono, suas mãos ossudas, eles estava construindo a vida, o dia de amanhã, o mundo novo a nascer das ruínas fatais do salazarismo.
Como era terno seu sorriso ao falar das festas populares nas aldeias do Minho ou dos homens rudes de Trás-os-Montes! Conhecia tudo do seu país e do seu povo, tudo o que era autentico de Portugal, desde o mar-oceano com a sua história portuguesa e gloriosa até as vinhas ao sol e as cantigas e os poemas dos poetas reduzidos na sua grandeza pela censura fascista; desde as histórias heróicas dos militantes presos, torturados até à loucura e à morte, as tenebrosas histórias do Tarrafal, o campo de concentração mais antigo e mais cruel da Europa, até às doces histórias de amor da província portuguesa, com um sabor romântico das velhas legendas.
Contou-me coisas de espantar com sua voz ora doce, grávida de ternura, ora violenta de cólera desatada quando falava da fome dos trabalhadores, da opressão salazarista sobre o povo, da opressão imperialista sobre a sua pátria de primavera e mar.
(...)
os comunistas portugueses, heróis anónimos do povo, os invencíveis, os que estão rasgando a noite fascista com a lâmina de sua audácia e de sua certeza para que novamente o sol da liberdade ilumine o país dos pescadores e das uvas. De um me disse: «Esse esteve no Brasil e aprendeu com vocês»
(...)
Falou do campo, dos homens que habitam as montanhas, daqueles que Ferreira de Castro, o grande romancista, descreveu em «Terra Fria» e «A Lã e a Neve». (...) Falou dos operários das cidades daqueles que Alves Redol descreveu em seus magníficos romances e contou da sua irredutível resistência ao regime salazarista. (...)
Naquela tarde como que me apossei por inteiro de Portugal, do melhor Portugal, do Portugal eterno, como se Álvaro Cunhal o trouxesse nas suas mãos ossudas, tão descarnadas e nervosas, como se trouxesse – e o trazia em verdade – no seu coração de revolucionário e patriota.
Voltei a vê-lo ainda uma vez, dias depois, e a longa conversa sobre Portugal continuou. Falou-me dos escritores, dos plásticos, dos pescadores, fadistas, e sobretudo da luta subterrânea, dura e difícil e jamais vencida. (...)
Veio o processo, dentro dos métodos infames dos tribunais fascistas. Ali se ergueu Álvaro Cunhal (Militão morrera de torturas) e não era o réu, era o acusador, a voz de fogo a queimar o vergonhoso rosto dos carrascos do seu povo, dos vendilhões da sua pátria.
(...)
Pretendem matá-lo e nós sabemos que são frios assassinos os que querem matá-lo. É uma vida preciosa, preciosa para Portugal e para o mundo, ajudemos o povo português a salvá-la!
(...)
Há alguns meses eu estava em frente ao mar Pacífico, na costa sul do Chile, em Isla Negra, em casa de Pablo Neruda, meu companheiro de lutas de esperança. Uma figura de proa de barco se elevava em frente ao mar de ondas altas e violentas. Por isso falámos de Portugal e do seu destino marítimo. Contei ao poeta sobre Cunhal e Pablo levantou-se, deixou-me com o pescador que parara para escutar-nos e quando voltou havia escrito esse maravilhoso poema que é «A Lâmpada Marinha» sobre Portugal, seu povo, Álvaro Cunhal e o dia luminoso de amanhã»
(...)
Hoje o mais bravo dos filhos desse povo heróico, aquele que tudo sacrificou para ser fiel à esperança do povo está com sua vida ameaçada.»
(Carola Clift)
segunda-feira, junho 13, 2005
As palavras de Eugénio
Onde me levas, rio que cantei,
esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me leva?, que me custa tanto.
Não quero que conduzas ao silêncio
duma noite maior e mais completa.
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta.
Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos.
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos, com espasmos.
Canção, vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca.
Há outra fase na vida transbordante:
que seja nessa face que me perca.
(Eugénio de Andrade)
(Mauro Fiorese)
esperança destes olhos que molhei
de pura solidão e desencanto?
Onde me leva?, que me custa tanto.
Não quero que conduzas ao silêncio
duma noite maior e mais completa.
com anjos tristes a medir os gestos
da hora mais contrária e mais secreta.
Deixa-me na terra de sabor amargo
como o coração dos frutos bravos.
pátria minha de fundos desenganos,
mas com sonhos, com prantos, com espasmos.
Canção, vai para além de quanto escrevo
e rasga esta sombra que me cerca.
Há outra fase na vida transbordante:
que seja nessa face que me perca.
(Eugénio de Andrade)
(Mauro Fiorese)
O Adeus do Poeta
Eugénio de Andrade faleceu, esta segunda-feira de madrugada, aos 82 anos, na sua casa no Porto.
O poeta, cujo nome verdadeiro era José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa da Atalaia, Fundão, tendo-se mudado para o Porto em 1950, depois de ter fixado residência em Lisboa em 1932.
A sua obra poética e em prosa foi inúmeras vezes premiada e já foi traduzida em diversas línguas, incluindo o chinês e o russo.
O poeta iniciou a sua carreira literária em 1936, quando escreveu os primeiros poemas, o primeiro dos quais intitulado «Narciso» e que foi publicado três anos depois.
A consagração surge em 1948 com a publicação de «As mãos e os frutos», obra que foi sucedida por dezenas de outras obras como «Os amantes sem dinheiro» e «As Palavras Interditas».
Eugénio de Andrade recebeu, entre outros, o Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários (1986) e o Prémio Camões, em 2001.
«É um dia de luto, mas à maneira de Eugénio de Andrade, um luto oriental, um luto branco, mais do que negro, porque ele foi e é nos seus poemas o poeta solar por excelência, que dedicou ao canto de que a vida tem de mais exaltante, toda a sua capacidade de sonhar».
(Eduardo Lourenço)
(TSF online)
Balança
No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
(Eugénio de Andrade)
O poeta, cujo nome verdadeiro era José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa da Atalaia, Fundão, tendo-se mudado para o Porto em 1950, depois de ter fixado residência em Lisboa em 1932.
A sua obra poética e em prosa foi inúmeras vezes premiada e já foi traduzida em diversas línguas, incluindo o chinês e o russo.
O poeta iniciou a sua carreira literária em 1936, quando escreveu os primeiros poemas, o primeiro dos quais intitulado «Narciso» e que foi publicado três anos depois.
A consagração surge em 1948 com a publicação de «As mãos e os frutos», obra que foi sucedida por dezenas de outras obras como «Os amantes sem dinheiro» e «As Palavras Interditas».
Eugénio de Andrade recebeu, entre outros, o Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários (1986) e o Prémio Camões, em 2001.
«É um dia de luto, mas à maneira de Eugénio de Andrade, um luto oriental, um luto branco, mais do que negro, porque ele foi e é nos seus poemas o poeta solar por excelência, que dedicou ao canto de que a vida tem de mais exaltante, toda a sua capacidade de sonhar».
(Eduardo Lourenço)
(TSF online)
Balança
No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.
(Eugénio de Andrade)
ATÉ AMANHÃ, CAMARADAS...
Morreu Álvaro Cunhal
Álvaro Cunhal faleceu esta segunda-feira de madrugada, aos 91 anos. A morte do líder histórico dos comunistas, que liderou o seu partido de 1961 a 1992, foi anunciada pelo PCP «com profunda mágoa e emoção».
Cunhal liderou o Partido Comunista de 1961 a 1992, tendo passado 11 anos na prisão, tendo ficado conhecido pela fuga espectacular do Forte de Peniche a 3 de Janeiro de 1960.
Em comunicado, o Comité Central acrescenta que a melhor maneira de homenagear Cunhal é a de «prosseguir a luta que ele travou até aos últimos dias de vida, sempre com confiança no futuro, pelos interesses e direitos dos trabalhadores, por uma sociedade de liberdade e democracia».
Álvaro Barreirinhas Cunhal nasceu a 10 de Novembro de 1913 tendo, 17 anos depois, decidido que queria ser comunista.
Filiou-se no PCP em 1931, cinco anos mais tarde entrou para o Comité Central do partido, tendo sido preso pela primeira vez em 1937 no Aljube e em Peniche.
Em 1940, foi escoltado pela polícia até à Faculdade onde apresentou uma tese sobre o aborto e a sua despenalização a qual foi classificada com 19 valores.
No ano seguinte, passou à clandestinidade, tendo em 1947 posto novamente o partido de pé. Em 1949, é preso sendo então condenado a quatro anos de prisão a que se seguirão oito anos de degredo.
Depois da fuga da prisão de Peniche, é eleito secretário-geral do partido. Em 1964 publicou «Rumo à Vitória», cujas teses perduram no núcleo duro do PCP.
Regressou a Portugal cinco dias após o 25 de Abril, tendo sido eleito como deputado entre 1975 e 1992. Em 1982, tornou-se membro do Conselho de Estado, abandonando este posto dez anos depois quando saiu da liderança do PCP.
Para além da sua vida, que se confundiu com o PCP, Álvaro Cunhal notabilizou-se ainda pelos desenhos que fez na prisão, bem como pela sua obra literária, quase toda sob o pseudónimo de Manuel Tiago.
Sob este pseudónimo, escreveu entre outros «Até Amanhã Camaradas», «Cinco Dias e Cinco Noites», «Estela de Seis Pontas» e «A Casa de Eulália».
(desenho de Álvaro Cunhal)
Álvaro Cunhal faleceu esta segunda-feira de madrugada, aos 91 anos. A morte do líder histórico dos comunistas, que liderou o seu partido de 1961 a 1992, foi anunciada pelo PCP «com profunda mágoa e emoção».
Cunhal liderou o Partido Comunista de 1961 a 1992, tendo passado 11 anos na prisão, tendo ficado conhecido pela fuga espectacular do Forte de Peniche a 3 de Janeiro de 1960.
Em comunicado, o Comité Central acrescenta que a melhor maneira de homenagear Cunhal é a de «prosseguir a luta que ele travou até aos últimos dias de vida, sempre com confiança no futuro, pelos interesses e direitos dos trabalhadores, por uma sociedade de liberdade e democracia».
Álvaro Barreirinhas Cunhal nasceu a 10 de Novembro de 1913 tendo, 17 anos depois, decidido que queria ser comunista.
Filiou-se no PCP em 1931, cinco anos mais tarde entrou para o Comité Central do partido, tendo sido preso pela primeira vez em 1937 no Aljube e em Peniche.
Em 1940, foi escoltado pela polícia até à Faculdade onde apresentou uma tese sobre o aborto e a sua despenalização a qual foi classificada com 19 valores.
No ano seguinte, passou à clandestinidade, tendo em 1947 posto novamente o partido de pé. Em 1949, é preso sendo então condenado a quatro anos de prisão a que se seguirão oito anos de degredo.
Depois da fuga da prisão de Peniche, é eleito secretário-geral do partido. Em 1964 publicou «Rumo à Vitória», cujas teses perduram no núcleo duro do PCP.
Regressou a Portugal cinco dias após o 25 de Abril, tendo sido eleito como deputado entre 1975 e 1992. Em 1982, tornou-se membro do Conselho de Estado, abandonando este posto dez anos depois quando saiu da liderança do PCP.
Para além da sua vida, que se confundiu com o PCP, Álvaro Cunhal notabilizou-se ainda pelos desenhos que fez na prisão, bem como pela sua obra literária, quase toda sob o pseudónimo de Manuel Tiago.
Sob este pseudónimo, escreveu entre outros «Até Amanhã Camaradas», «Cinco Dias e Cinco Noites», «Estela de Seis Pontas» e «A Casa de Eulália».
(desenho de Álvaro Cunhal)
Zé Povinho
130 anos depois sem perder a actualidade
A figura do Zé Povinho foi criada nas páginas de um dos primeiros jornais de Bordalo, o Lanterna Mágica. Surgiu pela primeira vez em 12 de Junho de 1875, e permanceu activo, crítico, atento à realidade, durante quase três décadas.
Na mais de meia centena de desenhos de Bordalo agora expostos - no Museu da Imprensa, no Porto - publicados em diversos jornais portugueses da época, o Zé Povinho faz um retrato mordaz da situação política e social do reino. Em várias situações, fica-se até com a impressão de que o humorista, desaparecido há cem anos, satirizou o seu tempo... e o nosso tempo. O actualíssimo problema das contas públicas, por exemplo, emerge nesta obra de outros tempos.
A figura do Zé Povinho foi criada nas páginas de um dos primeiros jornais de Bordalo, o Lanterna Mágica. Surgiu pela primeira vez em 12 de Junho de 1875, e permanceu activo, crítico, atento à realidade, durante quase três décadas.
Na mais de meia centena de desenhos de Bordalo agora expostos - no Museu da Imprensa, no Porto - publicados em diversos jornais portugueses da época, o Zé Povinho faz um retrato mordaz da situação política e social do reino. Em várias situações, fica-se até com a impressão de que o humorista, desaparecido há cem anos, satirizou o seu tempo... e o nosso tempo. O actualíssimo problema das contas públicas, por exemplo, emerge nesta obra de outros tempos.
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